29/09/15

Marshmallow, austeridade e eleições



Talvez aqui!

No final dos anos 60 e início dos anos 70, foi realizada uma experiência famosa, em psicologia, conhecida como Experiência Marshmallow de Stanford, liderada pelo psicólogo Walter Mischel, da Universidade de Stanford. Pretendia-se saber como era a capacidade das crianças se controlarem e de resistirem às suas invejas. 
Resumidamente, a experiência consistia no seguinte: Era oferecido às crianças da experiência, com média de idades de 4 anos e meio, a escolha entre uma recompensa (normalmente um marshmallow) entregue imediatamente ou duas recompensas (dois marsmalows) se esperassem até que o investigador voltasse cerca de 15 minutos depois.
A verdade é que algumas crianças eram capazes de esperar esse tempo para receberem a segunda recompensa.
Em estudos de seguimento (follow-up) os investigadores descobriram que as crianças que foram capazes de esperar mais tempo pela possível recompensa apresentaram tendência de ter melhor êxito na vida: vistos pelos pais como adolescentes mais competentes, obtinham melhores resultados em testes padronizados, e tinham melhor tempo de reacção na realização das tarefas. *

Esta capacidade poderia vir da perspectiva temporal de cada um. As nossas decisões, juízos e comportamentos são fortemente afectados pela nossa maneira de ver o tempo. Esta perspectiva temporal seria construída num processo de representação, havendo uma origem social e cultural desta variável psicológica individual…
A perspectiva temporal passado, presente e futuro da criança que tem capacidade para esperar ou não define tipos de personalidade diferentes. **
Outras pesquisas (Zimbardo) mostraram também que o perfil temporal do indivíduo podia ajudar a fazer boas ou más escolhas na nossa vida.  Uma perspectiva baseada num passado positivo, um forte élan para o futuro e uma ligação para viver o presente, pode ser uma combinação vencedora na nossa vida.

Podemos dizer que na nossa vida colectiva se passa a mesma situação, quando os partidos fazem promessas que se traduzem por recompensas imediatas, as pessoas , dada a sua experiência do passado, não acreditam.
Algumas governações desastrosas e temerárias levaram os respectivos países a programas de resgate dolorosos para alguns sectores da população, principalmente para  a classe média.
Claro que muitos cidadãos perceberam e também ficaram com memória dessa situação. Uma cidadã  grega, numa entrevista de rua, era questionada pela jornalista sobre o que pensava do situação no seu país (novo resgate). A sua resposta foi mais ou menos a de que deviam fazer alguns sacrifícios durante algum tempo para, no futuro, a vida do dia a dia ficar mais equilibrada.
Em particular, em Portugal, as pessoas também perceberam isso: Uma perspectiva de futuro melhor. Basicamente, trata-se de fazer alguns sacrifícios agora para depois os nosso filhos e os nossos netos, como costumamos dizer, poderem ter uma vida melhor ou sem sobressaltos como actualmente.
A passividade que alguns atribuem aos portugueses, devia antes ser vista como a sua grande capacidade de espera em tempos melhores e de entender a vida como uma perspectiva temporal global. E, acima de tudo, significa a sabedoria das pessoas de que é sempre preferível ter  algum tempo de espera agora para poder ter, no futuro, um tempo melhor.
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* Foram também encontrados correlatos biológicos: Um estudo de imagens cerebrais de uma amostra de participantes da experiência original de Stanford, realizado quando eles alcançaram a meia idade mostrou diferenças fundamentais entre os que manifestaram alto ou baixo tempo de espera pela recompensa, em duas áreas: o córtex prefrontal (mais ativo nos grandes retardadores) e o striatum ventral (área relacionada a dependência de drogas) quando tentavam controlar suas respostas a sedutoras tentações.

**Morsa, Maxime, "Quelques choses à retenir du temps qui passe", le cercle psy, nº 15, Dec 2014, Jan/Fev 2015, pag. 84-87.

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