26/08/19

"... em vez de sonhos e esperanças, o mundo que deixo será um de medos e imposições."


Está aqui ao lado o link para o blogue de J. Rentes de Carvalho de que sou leitor assíduo, mas este bilhete foi particularmente impressivo para a minha sensibilidade. Também já não sou um optimista mas, até ao fim, havemos de lutar pelo sonho e esperança.



"Bilhetes (74)


Nasci, criei-me e vivi num mundo pobre, de fomes, de guerras e grandes diferenças, mas também de esperança, de sonhos e avanços espectaculares. Até há uns dez anos sentia-me bem nele, ainda sonhava, mantinha a ilusão de que à minha maneira e nos limites do que era capaz, contribuíra para justificar o ter vindo ao mundo: criei filhos, escrevi livros, plantei árvores.
Agora, todavia, a poucos meses de fazer noventa anos e na certeza de que a morte não demorará, olho com melancolia para o passado, porque este presente parece querer negar tudo o que foi sonho, destruir o que pareceu valioso, substituir a precisão de liberdade por todo um sistema arbitrário e refinado de censuras, ukases, proibições, imposições, mandamentos, justificando-se como todas as ditaduras e todas as tiranias com o argumento do bem comum, da felicidade universal, e a conhecida promessa de um futuro com o sol a brilhar para todos.
E assim o verde, que era a cor da alegria e da esperança, se mudou no vermelho do passado: a cor da repressão, do extermínio dos opositores, do Gulag, dos campos de concentração. É agora a bandeira da sociedade que se anuncia: dividida em bons e maus, os que seguem e os que se opõem, todos espiados e controlados por um governo que tudo pode, em tudo manda, tudo determina.
De modo que sei que não vou morrer em paz, porque mesmo que haja uma vida eterna levarei comigo a pena de que por muito tempo, quem sabe se para sempre, em vez de sonhos e esperanças, o mundo que deixo será um de medos e imposições."

23/08/19

José Cid

A lenda de El-Rei D. Sebastião - Quarteto 1111

Em Agosto de 1967, o "Em Órbita" passou pela primeira vez um tema português, "A Lenda de El-Rei D. Sebastião", pelo Quarteto 1111. O que provocou divergências entre Jorge Gil que não queria e João Manuel Alexandre e José Luiz Magalhães que queriam. (Wikipédia)
Parabéns!

01/08/19

Z. Kodály - Na aflição...

Zoltán Kodály: Psalmus Hungaricus, Op. 13

Na aflição David queixa-se da malícia dos seus inimigos (SALMO  55)

  1. Inclina, ó Deus, os teus ouvidos à minha oração, e não te escondas da minha súplica.
  2. Atende-me, e ouve-me; lamento na minha queixa, e faço ruído.
  3. Pelo clamor do inimigo e por causa da opressão do ímpio; pois lançam sobre mim a iniquidade, e com furor me odeiam.
  4. O meu coração está dolorido dentro de mim, e terrores da morte caíram sobre mim.
  5. Temor e tremor vieram sobre mim; e o horror me cobriu.
  6. Assim eu disse: Oh! quem me dera asas como de pomba! Então voaria, e estaria em descanso.
  7. Eis que fugiria para longe, e pernoitaria no deserto.
  8. Apressar-me-ia a escapar da fúria do vento e da tempestade.
  9. Despedaça, Senhor, e divide as suas línguas, pois tenho visto violência e contenda na cidade.
  10. De dia e de noite a cercam sobre os seus muros; iniquidade e malícia estão no meio dela.
  ...

O carácter dramático da obra manifesta bem o sofrimento do povo húngaro, após o tratado de Trianon, como, aliás, ao longo da sua história.