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11/12/24
Um hino à alegria
02/06/24
Activas, proactivas, hiperactivas
27/09/23
Memória e internet - o "efeito google" *
28/08/23
A lei da saúde mental – justiça e segurança
06/07/23
Construir boas memórias
Nós somos PrimaveraGostamos de cantar!Nos somos juventudeNascemos para amar!Nós queremos AmarToda a gente da terra!Não queremos mais fomeNão queremos mais guerra!
26/06/23
Terapia da natureza
Parque da Cidade - Mata dos Loureiros - Castelo Branco
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26/01/23
A dor humana e a saúde emocional

Vivemos numa permanente crise das instituições de saúde (1) a par da nossa própria fragilidade resultante da idade, da doença, das preocupações próprias das várias etapas da vida.
Esta incerteza acrescenta ansiedade às nossas actividades, emoções, sentimentos... Adoecer é, verdadeiramente, ansiogénico. E não me refiro à nosofobia ou à hipocondria.
Obter um diagnóstico reduz a ansiedade a menos que o prognóstico seja pessimista. A tranquilidade que pode vir de um diagnóstico ou da compreensão dos nossos sintomas, do nosso sofrimento, pode ser libertadora e tranquilizadora. (2)
A dor no peito é das mais ansiogénicas por ter origens muito diversas e ser um sinal de maior ou menor perigo para a saúde e para a vida. Pode ser, por exemplo, de causa cardíaca, resultar de refluxo gastroesofágico... ou resultar de ansiedade. Pode acontecer que ao fim de muito tempo e de muitas dores, consiga perceber o que se passa consigo e obter um diagnóstico correcto.
Entretanto, viverá em grande ansiedade, passará, eventualmente, por situações de pânico (DSM), até que seja feita a compreensão do seu problema e a origem do seu sofrimento.
Tal como acontece com o rendimento escolar, a ansiedade afecta o rendimento escolar e, por sua vez, a falta de rendimento provoca ansiedade. (Ansiosa-mente, Pilar Varela)
Sabermos lidar com a nossa dor depende muito da compreensão do que lhe dá origem, do diagnóstico clínico e, se necessário, de uma segunda opinião. (3) É isso que os doentes procuram nos serviços de saúde: uma explicação para o que se passa com a sua saúde/doença. Muitas vezes não obtêm resposta. Mas, como disse Galileu, "E pur si muove". Ou seja, a dor está lá.
Às vezes, os comentários de pessoas, familiares e de profissionais de saúde não são razoáveis: “Pois você nao tem nada”, “isso é psicológico” ou, traduzido em termos populares, "isso são manias"... que são outras tantas maneiras de ser insensível a quem sofre.
Mesmo que o problema seja psicológico, o sofrimento psicológico é real e as pessoas têm que ser compreendidas e respeitadas no seu sofrimento.
Se a pessoa toma a decisão de arriscar ir às urgências, ainda menos razoável é a culpabilização de estar a atrapalhar o serviço com uma “falsa urgência”. (4)
Haverá alguém que tenha prazer em ir à urgência, passar uma tarde, uma noite, uma manhã no hospital, ser picado para análises, colocar um catéter... ver o sofrimento, o choro, os gritos, os gemidos dos outros doentes... no fundo o ser humano em sofrimento que é o que para mim se passa numa urgência ?
Na realidade, estas pessoas não têm alternativa, não têm médico de família, não têm consulta nos Centros de Saúde ou USF, ou nos médicos particulares, vivem momentos de dúvida sobre o que fazer... não têm quem as ajude a suportar a sua dor física ou psíquica... (5)
A dor é uma experiência sensorial e emocional extremamente desagradável e perturbadora do equilíbrio pessoal e social. (6)
Pode ser evitada e ultrapassada em muitas situações e, por isso, Já era tempo de criar as condições técnicas, financeiras e humanas para cumprir o direito à saúde previsto na Constituição. (Artº 64.º )
Até para a semana.
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(1) Todos os dias há notícias (por ex.) sobre o encerramento de maternidades, a falta de médicos ginecologistas, as listas de espera para exames e cirurgias, a falta de profissionais nas equipas, das imensas horas de espera para marcação de consultas nos Centros de Saúde...
(2) Um exemplo pessoal. Eu não sabia o que é uma aura visual. Foi assustador até ao dia em que percebi que havia enxaquecas sem dor. Como é o caso da aura visual que de vez em quando, nos momentos mais díspares, me assustava e assusta, não me deixa ver com nitidez e ler fica difícil, durante 15-30 minutos.
(3) Este direito está descrito no Código Deontológico dos Médicos assim como na Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes. Contudo, um circuito de segundas opiniões não está ainda totalmente definido, como tem vindo a tentar fazer o Ministério da Saúde.
(4) O sistema de triagem de Manchester nao poderá ser alterado e ou melhorado? É o que parece indicar a investigação do Hospital de S. João que desenvolve protótipo de monitorização de dados vitais dos utentes em espera na Urgência.
Ou não será possível melhorar a organização do sistema de saúde ? Pelos vistos é: O Diretor da urgência do Santa Maria alerta para falhas no encaminhamento de doentes. Claro que a montante o funcionamento deveria ter outra eficiência...(5) Um Centro de Saúde que obriga um doente a deslocar-se para a bicha, às 5 ou 6 horas da manhã, para marcação de uma consulta não é concebível nos dias de hoje. Para além de desumano é o cúmulo da incompetência... Até para fazer a inspecção de um carro se é mais bem atendido. Para marcar uma inspecção de um carro basta telefonar ou com dois ou três cliques fazer a marcação pela internet. Tenham dó!
(6) A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde emocional como “um estado de bem-estar onde o indivíduo realiza suas próprias habilidades, lida com os fatores estressantes normais da vida, trabalha produtivamente e é capaz de contribuir com a sociedade”.
23/11/22
O reflexo de liberdade
Os seres humanos vivem condicionados por comportamentos inatos e por comportamentos aprendidos.
Como sabemos, a investigação de Pavlov (1849-1936), com cães, ficou conhecida como uma forma de aprendizagem - o condicionamento clássico.
Pavlov observou que os cães salivavam perante um estímulo incondicionado, a carne, isto é, provocava uma resposta incondicionada.
Quando associou uma estímulo sensorial neutro, o som de uma campainha, que não provocava qualquer resposta, com um estímulo incondicionado (a carne, que provocava a resposta incondicionada da salivação), verificou que, após algumas associações, o som da campainha se tornou num estímulo condicionado, pois à sua presença, os cães reagiam com a salivação, agora resposta condicionada.
O condicionamento clássico é um tipo de aprendizagem em que um organismo aprende a transferir uma resposta natural perante um estímulo, para outro estímulo inicialmente neutro, que depois se transforma em condicionado. Este processo dá-se através da associação entre os dois estímulos (incondicionado e neutro).
Sabemos bem as consequências desta descoberta para a nossa vida.
Pavlov verificou também, já na parte final da sua vida, tanto no homem como no animal a existência de dois importantes reflexos inatos: o reflexo de finalidade e o reflexo de liberdade.
O reflexo de finalidade verifica-se quando somos atraídos por certos estímulos que se tornam importantes na nossa vida, somos atraídos por fenómenos novos, novas experiências mesmo que aparentemente sem qualquer utilidade... que se traduzem em equilíbrio do nosso organismo, nos acalmam e por isso, desejamos repetir.
Para Pavlov a vida deixava de ser atraente desde que não tivesse finalidade.
“O reflexo da liberdade, diz Pavlov, é uma reacção geral dos animais. É um dos reflexos inatos mais importantes. Sem ele, o menor obstáculo encontrado pelo animal bastaria para modificar completamente a sua vida.
A existência deste reflexo de liberdade tinha-lhe sido demonstrada por um cão, que, mal fosse colocado nas condições de trabalho experimental, apresentava uma salivação espontânea, contínua, que o tornava "inutilizável"."
Pavlov descobriu então que “o cão não suportava qualquer entrave quer dizer que se mantinha calmo e sem salivação apenas em liberdade total: podia-se mesmo nestas condições condicioná-lo eficazmente." *
"Pavlov respondia pela afirmativa, declarando que este reflexo protegia o fraco contra o forte, isto é, que um gesto de submissão tinha por resultado fazer cessar um gesto de agressão (o cachorro, apontava ele como exemplo, deita-se de costas perante um canzarrão). Pavlov pensava que este reflexo podia existir no homem, e tentou defini-lo ... como 'reflexo de escravidão'." *
"Pavlov deplorava que o 'reflexo de escravidão' se manifestasse tão frequentemente na Rússia 'sob os aspectos mais variados'. Ele pedia que se tomasse consciência desse facto a fim de melhor lutar no sentido da sua anulação, porque o reflexo de escravidão provocava por sua vez a inibição do reflexo de finalidade: A servidão fez do servo um ser passivo, sem qualquer desejo, sendo as suas aspirações, as mais legítimas, continuamente entravadas pelas vontades e os caprichos dos senhores." *
Até para a semana
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* H. Cuny, (1976), Pavlov, Círculo de Leitores, (Capítulo quarto, 1 - Condicionamento e evolução do Homem),
21/10/21
Em busca do tempo perdido
Cheek to Cheek: Um dos duetos de Tony Bennett e Lady Gaga. É muito bonita esta relação, quando, a partir de 2014, juntos gravaram um álbum de standards com o nome de Cheeck to Cheeck numa altura em que Bennett já revelava sintomas da doença de Alzheimer com todas as dúvidas que se colocavam em relação ao resultado do projecto.
Segundo a sua neurologista (Gayatri Devi, neurologista no Lenox Hill Hospital em Manhattan responsável pelo diagnóstico de Tony), “aos 94 anos, ele está a fazer muitas coisas que várias pessoas com demência não conseguem fazer”. “Ele é mesmo um símbolo de esperança para alguém que sofre de uma perturbação cognitiva”, continua a médica, que nos últimos anos encorajou Bennett a manter-se "ativo, cantando e atuando ao vivo até que tal fosse possível, “uma vez que estimulava o seu cérebro de uma forma significativa”...” (Observador)
T. Bennett pode ser um exemplo de como a música tem um papel fundamental na vida das pessoas mesmo quando se é atingido por uma doença tão complicada como a Alzheimer.
Sabemos que um dos sintomas principais da doença é a perda progressiva da memória. Mas até onde? Há um apagamento completo da memória a ponto de podermos falar de perda do self?
Sem dúvida que "É verdade que uma pessoa com Alzheimer perde muitas das suas capacidades e faculdades à medida que a doença progride...
Mas a perda de consciência de si poderá significar uma perda do Self, enquanto unidade e totalidade do sujeito?"
Pode haver uma regressão mas “alguns aspectos do seu carácter essencial, da sua personalidade e realidade pessoal, do seu self, sobrevivem – a par, sem dúvida, de certas formas quase indestrutíveis de memória - até mesmo na demência avançada.”
“É como se a identidade tivesse uma base neural tão robusta e por toda a parte presente, como se o estilo pessoal estivesse tão profundamente incorporado no sistema nervoso que nunca se perdesse por completo, pelo menos enquanto houver vida mental."
“Em particular a resposta à música é preservada até mesmo numa fase muito avançada da demência.“
Até para a semana.
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* Oliver Sacks, Musicofilia, Relógio d'Água Editores, 2008
26/06/20
O homem e a Natureza

Desde a criação da bomba atómica, de Hiroshima e Nagasaki, que o mundo vive com o medo de se autodestruir de uma vez só, ou de ir morrendo lentamente, principalmente a partir de 2001, com o derrube das torres gémeas e os sobressaltos terroristas que se seguiram, que vieram trazer novas fontes de apreensão aos países e às pessoas, inocentes, vítimas do ódio, da inveja, da ambição de poder.
A desadaptação provoca reacção mais violenta sobre nós próprios ou sobre os bens públicos ou privados.
Embora nós saibamos como deve ser: “não matarás", está inscrito na nossa mente... também sabemos que o nosso cérebro funciona de forma irregular ("avaria") quando estamos nestas situações de grande angústia.
Neste tempo em que se tenta descobrir heróis em todo o lado, como faz o presidente Marcelo, com o seu optimismo, embora mereça crítica na cobertura que dá ao governo (3) em muitas medidas e em que tudo se resolve com dinheiro e quanto mais melhor, o seu papel tem sido extremamente importante no apoio que dá a cada cidadão, fazendo-o sentir-se alguém com algum valor.

13/06/19
Drogas de sempre
Em primeiro lugar, é de saudar que se apresente e debata um tema que tem andado esquecido da comunicação social e da informação/prevenção das actividades das escolas e organizações juvenis.
Ainda focado pelo programa, é chocante a complacência com que se encaram os festivais de verão, (também podia falar-se das viagens de finalistas, das festas académicas), quando sabemos pelas apreensões que são feitas nesses festivais e eventos, a grande quantidade de droga que circula. Em alguns casos, mesmo quando os organizadores o negam, são implicitamente incentivadores do consumo. E, claro, se há consumo é porque há tráfico.
É chocante que seja necessário fazer legislação na Assembleia da República, para tratamento médico com derivados da canábis, quando isso não é necessário para outras substâncias para fins medicinais. Mas, claro, baralhar as situações tinha em vista que a justaposição ou associação dessas situações em que o auto-cultivo e consumo para fins chamados recreativos, fosse permitido.


Por outro lado, é importante esclarecer que com o Decreto-Lei n.º 130-A/2001, de 23 de Abril, houve descriminalização mas não houve despenalização. Deixou de se considerar crime o consumo de droga, a aquisição e a posse para consumo próprio, dentro de determinadas quantidades. No entanto, isso não significa despenalização.
As Comissões para a Dissuasão da Toxicodependência (CDT), que vieram substituir os tribunais criminais como resposta do Estado ao consumo de drogas, constituídas por técnicos da área da saúde e da justiça, procuram informar as pessoas e dissuadi-las de consumir drogas, e têm, também, o poder de aplicar sanções administrativas e de encaminhar pessoas para tratamento, sempre com o seu consentimento.
A “encenação” da iniciação da entrada das pessoas na "cena" da droga mostra, assim, facilitada, sem reacção dos que assistem, a porta de entrada, quando se junta a falta de informação, a necessidade de ter comportamentos miméticos ao grupo e a auto-avaliação da posse de uma personalidade suficientemente "forte" para saberem aquilo que querem e como e quando terminar. Nada mais falso.
É necessário explicar-lhes que há ideias erradas sobre a canábis, e outras substâncias psicoactivas, os riscos para a saúde e, em consequência, os efeitos nefastos para a vida.