26/12/16

Hoje apetece-me ouvir: Уральская рябинушка e...

Уральская рябинушка (tramazeira dos Urais)

Выхожу один я на дорогу

No dia 25 de Dezembro de 2016, o avião Tupolev Tu-154 da Força Aérea Russa, que voava de Sochi com destino à Síria, caiu no Mar Negro, após a descolagem. Entre as 92 pessoas que faleceram, 64 pertenciam ao Ensemble Alexandrov e iriam participar numa celebração de final de ano na base síria de Khmeimim.
A música coral russa que ouvia com frequência na infância sempre me interessou. Das canções da música folclórica russa, Уральская рябинушка, nesta versão, era a minha preferida, mais do que Калинка ou Катюша.
Mais tarde, Выхожу один я на дорогу, com música de Е.Шашина e texto do poeta  М. Лермонтов (Lermontov), passou para primeiro plano.
A música dos grandes coros sempre me fascinou, como a nostálgica canção dos barqueiros do Volga (Эй, ухнем! Οι λεμβούχοι του Βόλγα).
O coro do exército russo - Ensemble Alexandrov - é um símbolo do que foi e é a Rússia, a "arma cantante do seu exército" mas não deixa de ser interessante ouvir o coro cantar a Ave Maria, de Schubert ou o concerto que deram no Vaticano
O coro é muito mais do que essa "arma". A cultura da Europa não termina nos Urais. O povo russo é muito mais do que povo soviético e a música popular russa é universal. Como se pode ouvir nesta extraordinária interpretação de "olhos negros" (Очи чёрные) de Louis Armstrong.

  


22/12/16

A primeira vez

First Time Ever I Saw Your Face - Ewan McColl
Johnny Cash


The first time ever I saw your face,
I thought the sun rose in your eyes.
And the moon and stars were the gifts you gave,
To the dark and the endless sky, my love.
And the first time ever I kissed your mouth,
I felt the earth move through my hands.
Like the trembling heart of a captive bird
That was there at my command.
And the first time ever I lay with you,
I felt your heart so close to mine.
And I know our joy would fill the earth,
And last till the end of time, my love.
The first time ever I saw your face.


21/12/16

Hoje apetece-me ouvir: Vivaldi

 Vivaldi -  As quatro estações - O Inverno

Milagre do Natal

O Natal é uma época festiva com grande expressão para a família. Sendo diferente do passado na sua estrutura, nas suas funções, nem tudo gira à volta dela como então, a família, actualmente, é feita sobretudo da partilha de sentimentos e emoções, de laços que ligam as várias gerações, mesmo que a presença física dos seus elementos nem sempre aconteça. 
Para as crianças continua a ser o tempo de magia que sempre foi. Um tempo carregado de símbolos, onde se reforçam os laços de pertença, se sente a segurança de “tomar conta” em relação aos mais frágeis como as crianças ou os mais velhos. 
Apesar de em muitos locais continuar a haver guerra, insegurança e incerteza, problemas nas famílias – não há famílias perfeitas nem famílias sem problemas - as condições económicas e sociais melhoraram significativamente. 
A nível da saúde  e educação houve melhorias enormes em relação ao passado. A esperança de vida aumentou de tal forma que hoje se encontram ainda vivas, em muitas famílias, várias gerações. “Há apenas duzentos anos, a esperança de vida no mundo ocidental era de cerca de trinta anos” (Bruno Bettelheim, Bons Pais - o sucesso na educação dos filhos, p.516 ) O mito de que “antigamente era tudo muito melhor” não corresponde à realidade. A vida das famílias era bem mais dura do que é hoje. 

Por outro lado, a família teve que se adaptar à mudança das condições sociais, obrigando-a a um esforço maior no cuidado a dispensar aos seus vários elementos. 
Creio que foi nesse sentido, que o Papa Francisco pediu que “esta alegria (do Natal) deve ser partilhada com todos, mas de modo especial com os avós. Conversem muito com os vossos avós, também eles têm esta alegria contagiosa”, 
Pediu que os mais jovens saibam ouvir os idosos, que têm a “memória da história, a experiência da vida. Mas “Eles também precisam de vos ouvir, de entender as vossas aspirações e esperanças. Portanto, eis o trabalho de casa: conversar com os avós, ouvir os avós.” (Recepção no Vaticano a jovens da Acção Católica Italiana, em 19 dez 2016

Esta visão questiona alguns mitos como o de que “os pais educam e os avós estragam”. Claro que há excepções, mas os avós podem ajudar a estabelecer algum equilíbrio na família face à vida activa e agitada dos pais, aos seus padrões educativos muito exigentes ou demasiado laxistas. 
Os avós podem sentir-se úteis ao colaborarem na educação dos filhos. Este papel dos avós na educação e transmissão cultural ganha assim um relevo insubstituível nas interacções familiares. 
Em troca, eles apenas ficam reconhecidos pelo milagre da vida que continua nos filhos dos seus filhos: 

"Quando se olham os seus olhos, quando se escuta a sua voz 
É mais linda a manhã, alumia mais o sol 
Quando nos brindam com o seu sorriso quando nos dão a sua candura 
Jorra uma nascente de água fresca no coração 
Eles são o tesouro, eles são a alegria 
É por eles que a vida se torna mais doce, se vive melhor 

Os filhos são a bênção, o milagre do nosso amor 
ensinam-nos como amar, como abrir o nosso coração. 
são a essência do lar, um presente de Deus 

Eles são a esperança, eles são a ilusão 

Seu olhar sereno, a sua inocente verdade 
é um calor que enche de alegria a solidão 
Mensageiros da alma, semeadores de paz 
de um amanhã cheio de respeito e de liberdade."



15/12/16

Natal positivo


Para António Damásio, “as emoções são conjuntos complicados de respostas químicas e neurais que formam um padrão…são processos biologicamente determinados, dependentes de dispositivos cerebrais estabelecidos de forma inata e sedimentados por uma longa história evolucionária…” (O sentimento de si, p 72)
Podemos falar da existência de emoções primárias, básicas ou universais, de carácter inato, e de emoções secundárias ou sociais, resultantes de aprendizagem, sendo que cada emoção contribui para a adaptação do indivíduo ao ambiente em que vive.
Para Paul Ekman existem seis emoções básicas que todos os seres humanos são capazes de expressar na sua cara, bem como todos nós somos capazes de entender o que significam: tristeza, medo, surpresa, repulsa, raiva, alegria e emoções sociais ou secundárias (vergonha, inveja, ciúme, empatia, embaraço, orgulho e culpa).
Daniel Goleman refere as emoções destrutivas descritas pelo budismo, ou seja, as “seis angústias mentais principais”: o apego ou desejo, a ira (que inclui a hostilidade e o ódio), a soberba, a ignorância e a ilusão, a dúvida angustiante e as opiniões angustiantes. (Emoções destrutivas e como dominá-las, p. 139) 
As emoções são de cada pessoa. Podemos pensar que elas podem ser desencadeadas por causas externas mas as emoções estão dentro de nós, isto é, somos nós, o nosso pensamento e a nossa imaginação que as torna mais ou menos importantes para nossa vida.
O poder das emoções na nossa vida é imenso, para não dizer que são elas que comandam a nossa vida e nos fazem tomar decisões. Sermos felizes ou não depende delas. As emoções podem dar qualidade de vida ou tirá-la.
O medo, por exemplo, é importante porque ajuda na nossa sobrevivência. Por outro lado, pode deixar-nos pouca qualidade de vida quando nos invade a ponto de deixarmos de ser capazes de fazer a nossa vida social. O medo faz-nos sofrer por antecipação e vivenciar situações desagradáveis que nunca vão acontecer. 

O Natal é tempo de emoções fortes porque está mais presente a força dos laços familiares. A solidão e a tristeza são mais fortes. A recordação de momentos felizes e de momentos infelizes (lembrança encobridora) é mais profunda. Os símbolos de Natal estão por todo o lado e a mesa de Natal concentra todas as emoções deste tempo. Como no poema de David Mourão-Ferreira, "Ladainha dos póstumos Natais"(Cancioneiro de Natal): 
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido
… 
O Natal é uma óptima oportunidade para mudar alguma coisa na nossa vida. É um bom momento para deixarmos de expressar as emoções negativas e destrutivas, em nós próprios, no nosso corpo e com os que nos são próximos, os filhos, os amigos, os colegas de trabalho... 
Mudar, dando relevo às emoções positivas e em especial à alegria e à gratidão. 
A alegria é uma emoção positiva que provoca bem-estar, satisfação e sentimentos positivos. A alegria vem da satisfação das necessidades do ser humano (Maslow) desde as necessidades mais básicas até à auto-realização. 
A gratidão, é uma força de carácter (Seligman), é uma sensação de agradecimento, relacionada com a alegria, em resposta ao recebimento de um presente tangível ou a um momento de bem-estar e de paz que estamos a viver. 

Desejo a todos um bom Natal. 

07/12/16

Atitudes políticas

“Atitude. maneira de estar numa situação.”* “A atitude (é) uma disposição relativamente persistente em apresentar uma reacção organizada de certa forma perante um dado objecto ou uma dada situação” (p. 9-10)
“Atitudes políticas são atitudes sociais formadas de acordo com as situações políticas que constituem situações sociais consideradas sob o ângulo do poder, isto é, do governo ou da sobrevivência da sociedade.” (p. 10) 
Assim, espera-se que uma pessoa reaja de uma determinada maneira, pró ou contra, mais hostil ou mais favorável a um acontecimento familiar ou social.
Por vezes, atitudes e comportamentos ultrapassam as expectativas que tínhamos das pessoas, seja na perspectiva positiva seja negativa, o que até pode fazer-nos mudar a opinião acerca delas. “Não esperava isso de ti” ou “esperava isso de toda a gente, menos de ti .”

Nas relações sociais e políticas estamos sempre a surpreender-nos com as atitudes políticas. O que faz com que, numa situação de cortesia mais do que de política partidária, os deputados de um partido (BE) fiquem sentados quando todos os outros se levantam ? O que faz votar ou mesmo abster-se **, uma moção de pesar pelo falecimento de um ditador?
No fundo, o que nos leva a ter uma determinada atitude política e não outra? Há vários factores que podem explicar as atitudes, como: o peso da experiência: o autoritarismo parece resultar da experiência individual das relações de autoridade; a influência de factores socioeconómicos, pertença a grupos organizados, clube, sindicato, igreja… ; influência de factores biológicos como a a idade ou o sexo…
No entanto, o processo de socialização e as aprendizagens que o envolvem são fundamentais para a aquisição de atitudes sociais e políticas futuras: Há famílias onde os filhos podem ou não seguir as atitudes políticas dos pais. Os irmãos Portas estiveram em campos diversos, as irmãs Mortágua estão no mesmo.
Pode-se seguir um conjunto de atitudes estereotipadas de determinada sociedade (cassete) mas essas formas de estar podem ser exacerbadas ou mitigadas pelo grupo de referência e, felizmente, pela diversidade das posições de cada indivíduo na sociedade. 
Costumamos dizer que as atitudes, ou as acções, ficam com quem as toma, isto é, cada um é responsável por elas. Ficam, de facto, com quem as toma mas isso não significa que se seja responsabilizado por elas, como acontece com as atitudes e comportamentos dos ditadores.
Não deixa de ser interessante, constatar que se quer legislar no sentido de desresponsabilizar os autarcas que tomem decisões que envolvam actos financeiros ilegais …
A atitude dos cidadãos não deixa de ser curiosa, tendo em conta a autoestima e heteroestima. Os equipamentos sociais e culturais, como monumentos, estações de caminhos de ferro, parques infantis, sinais de trânsito, e outros equipamentos públicos, são os que mais estão sujeitos à destruição... dos próprios cidadãos!
A parte boa é que também as boas atitudes e acções ficam com quem as pratica mesmo que não haja, quase sempre, qualquer reconhecimento por parte da sociedade ou das pessoas a quem se fez bem. 
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* “Designa a orientação do pensamento, as disposições profundas do nosso ser, o nosso estado de espírito perante certos valores (esforço, dinheiro…), etc. Existem atitudes pessoais, em que está em causa apenas o individuo (as preferências estéticas, por exemplo) , e atitudes sociais ( as escolhas políticas), que têm incidência nos grupos. Mas o que caracteriza umas e outras é o facto de se tratar, sempre, de um conjunto de reacções pessoais a um determinado objecto: animal, pessoa, ideia ou coisa. O próprio sujeito aceita-as como fazendo parte integrante da sua personalidade, os que as tornam muito próximas dos traços de carácter. Quanto mais forte for o eu, mais as atitudes serão independentes, abertas e flexíveis; quanto mais frágil ele for, mais rígidas serão essas atitudes.” (Larousse - Dicionário temático - Psicologia, p. 33)

** O voto de pesar da autoria do PCP acabaria por ser aprovado com votos a favor de PCP, Bloco de Esquerda e PEV, votos contra de CDS e abstenção de PSD, PS e PAN. No entanto, mesmo entre a bancada socialista houve quem votasse contra este voto de pesar, como o deputado Ascenso Simões, e quem votasse a favor, como foi o caso do deputado Renato Sampaio. Na bancada social-democrata, apesar da abstenção generalizada, houve alguns votos contra.
No segundo voto de pesar, da autoria do PS, os deputados socialistas lamentavam o desaparecimento de um “estadista e dirigente histórico de Cuba, cujo percurso político alterou de forma decisiva o curso da vida do seu país”. (Observador, 29/11/2016)


03/12/16

Pelas crianças *



SEXTA ORAÇÃO: OS FILHOS

Senhor!
Tu separaste os sexos para que, ao buscarem-se mutuamente, 
Eles possam fazer vibrar nas maiores harmonias as mais profundas cordas das nossas almas. 
Dessa busca jorram os nossos filhos, amorosas crianças 
Que vêm a nós com espíritos limpos e vazios.

E eu encho esses espíritos com os meus ódios, medos e preconceitos; 
Os meus abrigos contra bombas apontam-lhes a escuridão da vida e a futilidade dos empreendimentos; 
E quando crescem, prontos para nobres feitos, 
Obrigo-os a aprender homicídio organizado, 
Desperdiçando os seus melhores anos em estagnação moral. 

Meu Deus! Salva os meus filhos, 
Salva os seus espíritos, 
Para que a minha podridão não os corrompa. 
Salva as suas vidas, 
Para que as armas que eu forjo contra outros não os destruam, 
Para que possam ser melhores que os mais velhos, 
Para que possam construir um mundo para eles, 
Um mundo de beleza, decência, harmonia, boa vontade e justiça, 
Para que a paz e o amor possam reinar 
Para sempre.

Albert Szent-Györgyi**, O macaco louco, Europa-América, p.151-152

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* O sofrimento causado pelas guerras é particularmente doloroso quando se trata de crianças. Como no caso de Aleppo onde há mais de 100 mil crianças como Omran.
"Omran, com seus cinco anos de idade, o mesmo tempo de duração da guerra civil no país, simboliza toda uma geração de crianças que nunca conheceram o que é viver em tempos de paz."

**Albert Szent-Györgyi nasceu em Budapeste (Hungria), em 1893. Em 1937, foi laureado com o Prémio Nobel pela descoberta da vitamina C. Em 1947, descontente com o comunismo no seu país, foi para os Estados Unidos para dirigir a pesquisa no Instituto de Pesquisa Muscular, em Massachusetts. Em 1956, obteve a cidadania norte-americana. (Biografia)