21/02/13

Comunicação assimétrica



A comunicação interpessoal apesar de toda a evolução verificada e das metodologias de análise que continuamos a estudar, continua a ser uma das actividades humanas mais difícil de entender. 
Basta analisarmos algumas dessas actividades humanas para verificarmos que assim é: 
Os tribunais com tanta e tão demorada investigação não chegam muitas vezes a conclusões satisfatórias para as partes e para o público.
No futebol, das discussões raramente nasce  a luz...
O que dizer da política ? Não  há qualquer  consenso entre a dita esquerda e  dita direita, cada uma viu a luz da verdade à sua maneira e ficaram iluminadas para sempre. Não há aproximações ideológicas ou pragmáticas de qualquer espécie. E qualquer lapsus linguae ou lapso curricular, que possam existir servem para carrear mais argumentos a favor e contra as partes envolvidas. 
Apesar da evolução das tecnologias ao nível dos contentores da comunicação não é por isso que os conteúdos se tornam menos equívocos. Os contentores só por si já correspondem a determinados critérios de avaliação e inquinam toda a discussão seguinte. No fundo, não se trata de melhorar o estado social mas de deitar abaixo o governo !
Se a comunicação é considerada sinónimo da busca de entendimento (Habermas), para outros ela é sinónimo de disputa (Bourdieu), as ideias dos teóricos têm certamente correspondências nas metáforas que representam comunicação como um acontecimento simétrico.
A comunicação é difícil porque o locutor, na verdade, é influenciado pela presença do ouvinte. O efeito  feed-back pode controlar a qualidade da transmissão. Mas os homens que comunicam são homens modulares. De facto, nenhum ouvinte tem acesso à mente do locutor e vice-versa. Num diálogo, o que o ouvinte entende são de facto meros "módulos da vida do outro".
Na simetria tanto conjunção quanto disjunção entre os participantes faz parte do diálogo  (Peirce ).
A comunicação simétrica acontece quando um de nós se queixa de uma dor de cabeça e o nosso interlocutor considera que também tem dor de cabeça, até pior. 
Entre um professor e um aluno a simetria é muitas vezes a forma de comunicação. O professor é um adulto que perante uma criança não pode ter uma comunicação simétrica. Pelo contrário, a comunicação entre professor e aluno é assimétrica. Os interlocutores não têm o mesmo estatuto, não têm o mesmo papel, não têm o mesmo nível de informação e de conteúdos, não têm as mesmas funções na escola nem na sociedade.
É por isso que estranho que haja tanta controvérsia na escola sobre as dificuldades de comunicação entre alunos, professores e famílias.
A comunicação do professor não está ao mesmo nível da comunicação do aluno. Se um aluno é mal criado para um professor, o professor certamente não lhe poderá responder simetricamente.
Se um aluno agride um professor a resposta não deve ser simétrica. E é por isso que tantas vezes aparece o conflito entre alunos e professores.
Esta resposta pode ainda ser mais brutal quando reponsabilizamos o outro pela situação ou quando gozamos com a sua situação através de injunções de desvalorização e invalidação.
Então, nós os adultos podemos melhorar a comunicação com as crianças.
Basta para isso pensar que somos adultos e elas crianças e não devemos responder na mesma moeda.



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