26/06/08

Hiperactividade, proactividade, vivacidade

Em 1975, João dos Santos dizia o seguinte no livro A Higiene Mental na Escola [1]:
" No campo da Saúde Escolar devemos combater:
... O uso da droga propagada de forma abusiva pelas empresas de produtos farmacêuticos com vista à resolução dos mais variados problemas escolares: de aprendizagem, comportamento, memória, atenção e inteligência".
É um tema de absoluta actualidade.
Relativamente a esta situação, não só não foram ouvidas as palavras de João dos Santos, como tomou proporções alarmantes no dizer de Eduardo Sá.
Eduardo Sá defendeu recentemente [2] que actualmente se vive uma progressiva medicação das crianças que são supostamente hiperactivas. As crianças excessivamente medicadas estão em perigo e deveriam ser protegidas pelas Comissões de Protecção tal como as outras.
Confundir vivacidade com hiperactividade é cada vez mais um hábito na sociedade actual. É necessário estudar este assunto porque o número de crianças que está a ser medicado com ritalina [3]começa a ser alarmante.
Alertou ainda para os possíveis problemas psicológicos que uma criança que tome este medicamento possa vir futuramente a sofrer. Uma criança que tome em doses excessivas Ritalina pode no futuro vir a transformar-se num psicopata.

Temos chamado a atenção para o risco da subjectividade, no diagnóstico de uma perturbação de hiperactividade com défice de atenção (PHDA) ainda que baseado no questionário de Conners. Além disso, temos defendido as estratégias educativas e a psicoterapia em detrimento da medicação.

Se as palavras de João dos Santos não foram ouvidas, hoje, não podemos ignorar as consequências para a saúde física e mental do uso a curto e longo prazo de medicamentos como a ritalina. A lista de problemas é suficientemente grande e assustadora para pensarmos duas vezes antes de nos decidirmos pela medicação.
Se assim não for, há que pensar se não deverá ser considerado um mau trato essa excessiva medicação, como defende Eduardo Sá.

Mas as medidas que têm sido tomadas pela educação também não vieram contribuir para que a situação mude. A este propósito podemos referir as aulas de 90 minutos, o tempo excessivo de permanência na escola e na sala de aula com a chamada escola a tempo inteiro, em que a preocupação foi arranjar às crianças um currículo que os ocupe todo o dia com mais disciplinas, mais tempos de concentração, mesmo que se chamem actividades de enriquecimento curricular (AECs).

A chamada escola a tempo inteiro vista supostamente como uma conquista social, veio introduzir factores perversos, em nosso entender, de que a pouco e pouco vamos percebendo melhor as consequências negativas.

[1] Berge, André e Santos, João dos (1976) – A Higiene Mental na Escola, Livros Horizonte.[2] Jornal do Fundão, 12/6/2008[3] metilfenidato

CIF

Cotinuo a transcrever do Blog Incluso http://inclusaoaquilino.blogspot.com/
Quinta-feira, 26 de Junho de 2008

UTILIZAÇÃO DA C.I.F. PARA A ELEGIBILIDADE DE N.E.E. SERÁ FACTOR DE DISCRIMINAÇÃO, PONDO EM CAUSA A ESCOLA INCLUSIVA

Dr. Luís Borges Presidente da Sociedade Portuguesa Neuropediatria e do Colégio de Neuropediatria – ex-Director do Centro de Desenvolvimento da Criança do Hospital Pediátrico de Coimbra
"Esta Classificação é aplicada com intuito economicista"
"A classificação CIF é abusiva porque é para adultos e com intuitos de saúde e funcionalidade, mas não de Educação"
"É uma classificação que os técnicos não conhecem e que os médicos não utilizam"
"É tão complexa que não vejo como é que alguma vez possa ser utilizada em Educação"
"Só se vai usar para reduzir o número de apoios, para poupar"
"Há crianças que tiveram apoio durante 6 - 7 anos e que agora vão perdê-lo"
"Quando se esperava uma melhoria, acompanhando o que há de melhor no mundo, faz-se uma alteração sem ouvir ninguém, sem consultar ninguém, passando a utilizar-se outra classificação que, ainda por cima, não serve"
"As crianças vão deixar de ser apoiadas nas suas avenidas de aprendizagem, para serem apoiadas nas suas incapacidades. É uma mudança sem senso!"

Dr. Boavida
Centro de Desenvolvimento da Criança do Hospital Pediátrico de Coimbra
"Quem trabalha num Centro de Desenvolvimento da Criança, como eu, sente o desespero dos pais e vive atolado em relatórios e numa imensidão de check lists"
"Esta classificação não tem qualquer relevância para fins educativos, pois não foi construída para esse fim"
"Para que esta intenção do Governo pudesse vir a ser de alguma forma utilizada, para a prática da Educação, só poderia acontecer depois de um longo e aprofundado processo de discussão."
"A aplicação da CIF, neste contexto, é de duvidosa dimensão ética"

Matos de AlmeidaMembro da Direcção da Associação Portuguesa de Deficientes
"Não prescindimos de uma educação inclusiva nas áreas de residência das crianças e jovens alunos"
"As escolas de referência vão ser guetos educativos, com turmas de cegos, com turmas de surdos… etc"
"Com a aplicação desta classificação pretende-se regressar atrás, a um conceito médico de deficiência e não aprofundar aquele era um avanço civilizacional — o conceito social de deficiência"
"Tudo vai contra a Declaração de Salamanca e a Convenção das Nações Unidas para a Igualdade e a Pessoa com Deficiência"

18/06/08

CIF

Transcrevo do Blog INCLUSO que pode consultar em http://inclusaoaquilino.blogspot.com/
Quinta-feira, 5 de Junho de 2008

A Sociedade Portuguesa de Neuropediatria e o Colégio de Neuropediatria já tomaram posição conjunta de rejeição da utilização do instrumento Classificação Internacional de Funcionalidade para fins educativos; o Centro de Desenvolvimento da Criança do Centro Hospitalar de Coimbra, sedeado no Hospital Pediátrico de Coimbra, considerou também inadequado e um equívoco o uso da CIF para fins educativos; médicos neuropediatras recusam a responsabilidade de decidir quem ficará excluído dos serviços de educação especial, considerando que a CIF "não foi criada com o objectivo de definir critérios de elegibilidade para fins educativos".
Mas o Ministério da Educação não hesita e, na sua ânsia de reduzir para 1.8% a taxa de incidência de alunos considerados com NEE, impõe a utilização da CIF, pressiona as escolas e prepara-se para deixar milhares de crianças com NEE sem os apoios adequados. A política de educação especial do ME tem sido uma trapalhada e uma confusão, deixando milhares de pais à beira de um ataque de nervos por verem faltar os apoios especializados aos filhos. Foi mesmo necessário que a Assembleia da República emendasse um decreto-lei (decreto-lei n.º 3/2008) mal feito. A escola inclusiva não é "meter todos os alunos na mesma turma e sujeitá-los ao mesmo programa educativo". É muito mais exigente: pressupõe que o ME coloque nas escolas professores e técnicos especializados nas diversas disfunções, sejam elas de natureza cognitiva, sensorial ou física. E para além dos técnicos, é preciso que as escolas tenham o equipamento e os materiais necessários ao apoio à aprendizagem das crianças com NEE.

10/06/08

Educação Especial: back to basics

Voltar a João dos Santos que em 1975 dizia :
" No campo da Saúde Escolar devemos combater:
1. O falso critério da criança inadaptada, desligada do da escola inadaptada à criança e à comunidade a que se dirige.
2. O preconceito da preguiça e da má vontade ou da perturbação caracterial das crianças, para explicar os seus insucessos escolares.
3. O uso e abuso da psicometria como meio de avaliar as capacidades dos alunos, em vez da apreciação permanente dos seus problemas através da relação: criança-professor, professor-família, família-criança.
4. Os critérios simplistas ou cientificamente sofisticados da classificação de atrasados e débeis mentais.
5. O mito dislexia como explicação para certo tipo de problemas de adaptação da criança à escola, os que dizem respeito à aprendizagem da leitura e escrita.
6. O uso da droga propagada de forma abusiva pelas empresas de produtos farmacêuticos com vista à resolução dos mais variados problemas escolares: de aprendizagem, comportamento, memória, atenção e inteligência". (1)

"Descobriu-se" agora uma forma inequívoca de avaliar as crianças que entram, ficam ou saem da Educação Especial! Chama-se CIF - Classificação Internacional de Funcionalidade.

Vale a pena voltar atrás que é o local do progresso.

Carlos Teixeira

(1) Berge, André e Santos, João dos (1976) - A Higiene Mental na Escola, Livros Horizonte.

06/06/08

Educação Especial

O que está a acontecer na Educação Especial é verdadeiramente...espantoso.

Algumas informações em http://inclusaoaquilino.blogspot.com/.

Carlos Teixeira