27/05/16

As minhas serigrafias: Marta Anahory

Marta Anahory - Escada Amarela


Técnica: Serigrafia
Suporte: Papel Fabriano D5 GF 300g; Dimensão da Mancha: 35x50 cm; Dimensão do Suporte: 50x70 cm
N.º de cores: 21
Data: 1998
Nº de Exemplar: 81/200

As minhas serigrafias: Pinho Dinis

Pinho Dinis - Duas Camponesas

Técnica: Serigrafia
Suporte: Papel Fabriano D5 GF 210g; Dimensão da Mancha: 45x31,5 cm; Dimensão do Suporte: 70x50 cm
N.º de cores: 59
Data: 1996
Nº de Exemplar: 96/200


Biografia
"Nasceu em Coimbra no ano 1921, cidade onde faleceu em 2007.
Formou-se na Sociedade Nacional de Belas Artes, tendo como Mestre o pintor Domingos Rebelo; de seguida continuou os estudos no círculo artístico Mário Augusto.
Durante o ano de 1950 viajou para conhecer os principais museus de Espanha, França e Itália. Regressado ao país fixou-se em Coimbra, fazendo pesquisa de cerâmica na companhia do seu amigo Américo Dinis. Em 1954 mudou-se para o Porto, encaminhado por Luís Reis Santos e com o intuito de estudar ‘o fresco’ com o pintor Dórdio Gomes, na Escola de Belas Artes da cidade.
Entre 1957 e 1975 viveu no Brasil, mas viajando periodicamente à Europa com o desejo de contactar com os mais recentes movimentos da Arte Moderna. Expôs individualmente a partir de 1951, tendo a sua última exposição sido: “Desenhos e Guaches" na Galeria Minerva, Coimbra em 2005. Participou regularmente em mostras colectivas. Foi distinguido com diversos prémios, nomeadamente o prémio monetário do Salão Anual de Arte Moderna no Rio de Janeiro (1959), uma menção honrosa no Salão de Arte Moderna de Curitiba (1960), uma medalha de bronze no Salão Paulista de Arte Moderna (1961) e outra de prata no Salão Anual de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1963). Em 2001 recebeu a medalha de Mérito Cultural da Câmara Municipal de Coimbra."

Blog de Pinho Dinis.

As minhas serigrafias: Gracinda Candeias

Gracinda Candeias - S/ Título

Técnica: Serigrafia
Suporte: Papel Fabriano D5 GF 210g; Dimensão da Mancha: 28x48 cm; Dimensão do Suporte: 50x70 cm
Data: 1996
Nº de Exemplar:168/200


Biografia
"Gracinda Candeias nasceu em Luanda em 1947, filha de um pai também pintor, José Marques Candeias. Aos 18 anos parte para o Porto com o objetivo de realizar o Curso Geral de Pintura na Escola de Belas Artes, tendo tido como professor o Pintor Júlio Resende, entre outros. Entre 1972 e 1973, realizou os cursos de Pintura e de Têxteis na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. No ano de 1973 foi Assistente na Sociedade Nacional de Belas Artes e em 1984 foi subsidiada pela Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa. Entre 1986 e 1988, viveu em Paris, como bolseira da mesma fundação, tendo tido como tutores Júlio Pomar e Eduardo Luís. Figura incontornável do panorama cultural português. Artista de múltiplos interesses: pintura, performance, cenografia, moda, rádio, dedica-se também a projetos de investigação de temas tão diferentes como a arte rupestre africana ou as novas tecnologias de imagem. É autora de diversos painéis de azulejos em espaços públicos, sendo o mais conhecido o Metro do Martim Moniz, em Lisboa. Ao longo da sua carreira participou em mais de 500 exposições nomeadamente em cidades como Paris, Lisboa, Bruxelas, Madrid, Macau, Luanda, Brasília e Pequim. Na sua carreira conta com várias distinções, entre elas o Prémio Pintora do Ano, Lisboa (1982) e o Prémio Carreira “Mac/99”, Lisboa (1999). O seu trabalho encontra-se representado em diversos Museus e coleções privadas, em Portugal e no estrangeiro."

As minhas serigrafias: Guillermo Velez

Guillermo Velez - Paisagem com Sonho

Técnica: Serigrafia;
Suporte: Papel Fabriano D5 GF 300g; Dimensão da Mancha: 36x49 cm; Dimensão do Suporte: 50x70 cm
N.º de cores: 20;
Data: 1999
Nº de Exemplar: 51/200

"Nasceu em Armenia, Colômbia em 1955. Tem realizado exposições individuais e coletivas, desde 1977, por todo o mundo nomeadamente em: Colômbia, Brasil, Perú, Portugal, Costa Rica, Polónia, Bélgica, Alemanha, Cuba, Coreia, Irlanda, Jugoslávia, Porto Rico, Estados Unidos, Espanha, Japão, Chile, Itália e Noruega. Recebe também alguns prémios: 1981 e 1983 - Prémio no VI e VIII Salón de Artistas del Viejo Caldas, Manizales, Colômbia; 1981 - Prémio no I Salón de Artistas de Occidente, Arménia; 1984 - Prémio do Júri, VII Bienal de Noruega, Fredrikstad, Noruega; 1990 - Prémio Trienal Intergrafik, Berlim, Alemanha."

25/05/16

Liberdade de escol(h)a

1. O mais possível. Na administração pública, na educação, na saúde, na TV ou no supermercado. Poder escolher o notário onde quero fazer uma escritura, tratar da documentação na loja do cidadão que me interessa, pagar facturas da forma que me convém ... são indícios de uma administração avançada e do bom funcionamento da democracia.
A liberdade de escolha deve poder ser feita, desde logo, entre os vários serviços dos estado.
O recente despacho sobre a liberdade de escolha na saúde, de poder ir ao Hospital que acho que responde melhor ao que eu pretendo, felizmente, mostra um grande progresso no acesso à saúde e mostra que é possível a liberdade de escolha entre serviços de saúde.
Mostra também que há um país e dois sistemas administrativos: um centralizado e burocrático, como a educação e outro que respeita a liberdade de escolha do cidadão. Vale a pena ver a diferença de linguagem dos fundamentos do despacho que permite a liberdade de opção na saúde:
"...O poder do cidadão só será efetivo se este tiver acesso a informação relevante para a sua tomada de decisão e se o Livre Acesso e Circulação (LAC), nos diversos níveis do sistema, ocorrer de forma transparente e responsável, com a efetiva possibilidade de o utente poder optar pela instituição do SNS onde pretende ser assistido, com respeito pela hierarquia técnica, pelas regras de referenciação em vigor e pelas preferências dos utentes, baseadas em critérios de conveniência pessoal e da natureza da resposta das instituições. (Despacho n.º 5911-B/2016)
2. No campo da educação estamos noutro país. A educação é o sector mais centralizado do estado. É o único sector onde os profissionais são colocados em concurso nacional pelos serviços centrais. As tímidas tentativas da contratação a nível de escola, são postas em questão.

3. A liberdade de escolha é um critério que dá qualidade aos serviços. As escolas do estado vão perdendo alunos porque pais e alunos, quando podem, preferem outras escolas, como, e é apenas um exemplo, as escolas com contrato de associação.
A questão da liberdade de escolha coloca-se entre escolas estatais: Por que motivo, os pais e os alunos não podem escolher uma escola fora da sua área de residência ou, então, têm que utilizar subterfúgios para poderem fazer essa escolha ? O que se passa para haver escolas estatais lotadas e outras que perdem alunos ?

4. Todas as escolas são públicas. A diferença está na gestão estatal ou particular e cooperativa. É mesmo dificil saber onde acaba o estatal e onde começa o privado. Por exemplo, essa "instituição" nacional chamada explicações é privada mas faz um grande trabalho para o estado, sem a qual os níveis de insucesso seriam bem mais elevados. De facto os pais pagam duas vezes a escola dos filhos: quando pagam os impostos e quando pagam as explicações. Esta é que é a dupla tributação. Apesar disso, os pais fazem esta opção porque a escola do estado deixa muito a desejar. O estado gosta de apresentar bons resultados mas em troca ajuda pouco os alunos.

5. Entretanto, o ministério descobriu a pólvora. Vai criar tutorias. Criar? Como muito bem aqui se diz («novidades» ressequidas?, 20 MAIO, 2016, Gabriel Silva)
«Governo cria figura de professor-tutor para ajudar alunos com dois chumbos
O projecto, orçado em 15 milhões de euros, começa a ser aplicado no próximo ano lectivo.»*

A sério que «cria»? Eu diria que está em vigor ainda uma série de decretos-lei e portarias que regulam precisamente a tarefa e papel do professor-tutor. Mas pode ter sucedido que o novo ministro, no seu afã de tudo mudar, tenha extinto tal figura e agora a torne a criar., anunciando-a como uma «novidade». E assim se entretém na arte da propaganda.
De facto é o Dec.lei nº115 A/98: artigo nº36, ponto 4, que cria a possibilidade das escolas designarem professores tutores.
O Dec. Regulamentar nº10/99, no artº 10º, prevê a designação de professores tutores responsáveis pelo acompanhamento, de forma individualizada, do processo educativo de um grupo de alunos, de preferência ao longo do seu percurso escolar.
O Despacho Normativo n.º 50/2005, 9 Novembro: Artigo 2.º – Plano de recuperação, Ponto 3 – O plano de recuperação pode integrar, entre outras, as seguintes modalidades: b) Programas de tutoria para apoio a estratégias de estudo, orientação e aconselhamento do aluno.
O Decreto-Lei n.º 75/2008, 22 de Abril, (que revoga os dois primeiros diplomas), Artigo 44.º – Organização das actividades de turma, Ponto 4 – No desenvolvimento da sua autonomia, o agrupamento de escolas ou escola não agrupada pode ainda designar professores tutores para acompanhamento em particular do processo educativo de um grupo de alunos.

6. E a seguir vai cometer um grave erro : termina com o chamado "ensino vocacional".
O problema da retenção dos alunos e, mais do que isso, o problema da desmotivação dos alunos e do desinteresse pela (e da) escola, não se resolve, com excepções, com tutorias ...
Foram dadas algumas respostas: CEF, PCA... que "safaram" alguns alunos da desmotivação, do insucesso escolar e não só...
A resposta "ensino vocacional" ia nesse caminho, como uma forma mais estruturada de responder às aspirações dos alunos e à liberdade de escolha. 
Com as respectivas diferenças, já tinha acontecido depois do 25 de Abril com a extinção do ensino industrial e comercial. Aí estamos de novo.

7. Já agora, o ME não seria mais coerente se acabasse com os contratos de autonomia e revertesse os existentes?

8. De facto, também foram socialistas que fizeram o Dec.lei nº115 A/98 (Regime de autonomia das escolas). Mas não era a mesma coisa: Ou eram outros tempos e "mudam-se os tempos mudam-se as vontades" ou era outra gente.

11/05/16

Peregrinar

Dizem as notícias que mais de 500 mil pessoas deverão fazer, nestes dias próximos do 13 de Maio, a peregrinação a Fátima.
Que fenómeno extraordinário é este que leva estas pessoas, com fé e sem fé, que acreditam ou não acreditam em Fátima, a quererem fazer esta experiência? 
Cada pessoa terá os seus motivos. Em todo caso, a pessoa que faz uma peregrinação a pé tem um princípio e um fim, um destino, uma meta. Peregrinar é, certamente, a expressão de uma intenção, de um propósito, pensado, desejado e amado, que a leva a tomar esta decisão.
Peregrinar é também o caminho para la chegar, e o tempo para fazer a caminhada que aumenta ou diminui o esforço de acordo com a distância a percorrer. 
Também é diferente se neste tempo da caminhada ela é feita em grupo que dá apoio e interajuda, ou de forma individual.
Peregrinar é um tempo de reflexão, de introspecção ou seja de peregrinação interior, e de contacto com o exterior, com a natureza e com a realidade do caminho…
Mas voltemos ao princípio: o que leva uma pessoa a tomar a decisão de peregrinar a pé? O que faz com que pessoas mesmo com problemas de saúde arrisquem fazer o grande esforço da peregrinação?
Se há pessoas que o fazem por motivos religiosos, como o pagamento de uma promessa, há outras para quem o objectivo é diferente, provavelmente também espiritual, mas mais para testarem as suas capacidades físicas e mentais, e de viverem uma experiência diferente.
Pode haver peregrinação sem caminhar, que será viajar, e caminhar sem peregrinar, que será mero exercício físico, ou as duas em simultâneo.
No entanto, nesta experiência, caminhar é fundamental. Como refere Gonçalo Cadilhe no livro “A lua pode esperar”: "Preparo-me para repetir uma das actividades mais intensas e emocionantes que conheço: caminhar.
Quem dera não viajar de nenhuma outra maneira. Quem dera não ter que desperdiçar horas preciosas, desta breve coisa que é a vida, a ser transportado por comboios, autocarros e aviões, ou encolhido o automóvel - o símbolo do movimento, mas que afinal, nos conduz à mais ridícula forma de imobilidade: a posição sentada.
A melhor percepção do mundo é-nos dada pelo ritmo dos nossos passos. Só que o mundo é demasiado grande, e tentar percorrê-lo a pé não passa de pura utopia. Guardo as pernas para uma selecção pessoal do melhor do mundo" (pag. 38)
Para peregrinar é então fundamental o caminho. Embora seja importante a chegada como sucesso de uma experiência conseguida, o mais importante não é a chegada mas viver o caminho.
O caminho da peregrinação é, só por si, um universo com facetas espirituais, humanas, relacionais e físicas, que cada um vive de acordo com a sua personalidade, as suas circunstâncias e a capacidade para se superar.
É uma experiência inesquecível e é, certamente, por isso, que tantos a repetem e guardam recordações vívidas do sofrimento e da alegria que sentiram.

Poesia para uma vida

O Senhor é meu pastor
O Senhor é o meu pastor, nada me falta,
Em verdes prados me faz recostar.
Conduz-me junto às águas refrescantes para repousar,
Reconforta a minha alma,
E guia-me pelos caminhos rectos,
Por amor do seu nome.
Ainda que eu atravesse o vale tenebroso,
Nada temerei, porque estais comigo.
O Vosso cajado e o Vosso báculo
São o meu amparo.
Preparais a mesa para mim
À vista dos meus inimigos.
Ungis com óleo a minha cabeça,
e o meu cálice transborda.
Graça e misericórdia hão-de acompanhar-me
Todos os dias de minha vida.
Habitarei na casa do Senhor,
Duante larguíssimos tempos.
Salmo de David, Bíblia, Salmo 22

10/05/16

Poesia para uma vida

Havia uma criança que saía.

Havia uma criança que saía todos os dias,
E o primeiro objecto que olhava transformava-se nela,
E esse objecto tornava-se parte dela durante o dia ou uma parte do dia,
Ou por muitos anos ou por dilatados ciclos de anos.
Os primeiros lilases faziam parte desta criança,
E a erva e as campainhas brancas e vermelhas,
e o trevo branco e vermelho e a canção do papa-moscas-febo,
E, em Março, os cordeiros e a rosada ninhada da porca, e o potro da égua e o vitelo da vaca,
E a ruidosa ninhada na capoeira ou no lamaçal junto ao tanque,
E os peixes tão curiosamente suspensos lá em baixo, e o belo e curioso líquido,
E as plantas aquáticas com as suas graciosas cabeças horizontais, tudo fazia parte dela.
Os rebentos de Abril e Maio tornavam-se parte dela,
Os rebentos do grão de Inverno e os do milho amarelo-claro e as raízes comestíveis do jardim,
E as macieiras cobertas de flores e mais tarde o fruto, e as bagas silvestres e a mais vulgar das ervas à beira da estrada,
E o velho ébrio a cambalear para casa vindo do alpendre da taberna que acabara de deixar,
E a professora que seguia o seu caminho para a escola,
E os rapazes amigos que passavam e os rapazes brigões,
E as raparigas bem arranjadas de rostos frescos e a rapariga ou rapaz negro descalços,
E tudo o que acontecia na cidade e no campo para onde quer que ela fosse.
Os seus próprios pais, o que a tinha gerado e a que a tinha concebido no seu útero e a dera à luz,
Deram a esta criança mais deles próprios do que tudo isto,
Todos os dias lhe deram e tornaram-se parte dela.
A mãe, em casa, colocando tranquilamente os pratos da ceia na mesa,
A mãe com doces palavras, com o seu chapéu e vestido limpos, um odor sadio desprendendo-se da sua pessoa e da roupa quando passava,
O pai, robusto, auto-suficiente, viril, mesquinho, colérico, injusto,
O soco, a palavra desabrida e gritada, a avareza, a negaça astuciosa,
Os costumes familiares, a linguagem, a companhia, a mobília, o coração ansioso e orgulhoso,
O afecto que não há-de ser contrariado, o sentido do real, a ideia de que, apesar de tudo, isso poderia ser irreal,
As dúvidas do dia e as dúvidas da noite, os interrogativos se e como,
Se o que assim parece ser o é ou tudo não passa de um clarão ou uma mancha?
Os homens e as mulheres apinham-se apressados nas ruas, se não são clarões e manchas, que são eles?
As próprias ruas e as fachadas das casas e as mercadorias nas montras,
Os veículos, as parelhas, os molhes de pesadas pranchas, as grandes travessias nos barcos,
A aldeia nas terras altas vista de longe ao pôr do Sol, o rio no meio,
As sombras, a auréola e a neblina, a luz que cai sobre os telhados e as empenas, brancas ou castanhas, a duas milhas de distância,
A escuna perto que desce sonolenta com a maré, o pequeno barco na sua esteira a ser rebocado,
As ondas que se precipitam e revolvem com cristas que rapidamente se desfazem e se lançam com força,
Os estratos de nuvens coloridas, a longa barra solitária de tonalidade castanho-avermelhada, a extensão da pureza, na qual ela jaz imóvel,
A linha do horizonte, o corvo-marinho que voa, a fragrância do pântano salgado e do limo na praia,
Tudo isto se tornou parte daquela criança que saía todos os dias, que continua e há-de sempre continuar a sair todos os dias.

Walt Whitman, Folhas de Erva, pag.326-327

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Foi em A. Gesell, A Criança dos 5 aos 10 Anos, pag 245-246, que li, pela primeira vez, este poema de Walt Whitman. Estudava Psicologia, no ISPA. Então percebi que este poema era um verdadeiro compêndio de psicologia do desenvolvimento.
Não mais deixei Gesell, nem Whitman, nem a psicologia do desenvolvimento, que me têm acompanhado desde então.
Passou a ser de leitura (quase) obrigatória dos meus alunos da ESE, na sala de aula, e dos cursos de formação sobre educação em que participei.  E, sempre que o leio, por ter sido escrito, dou graças à vida.

              


08/05/16

Poesia para uma vida

Os dias contigo

Os dias contigo são dias inteiros que passam num instante. Tenho saudades de ti quando acordo, antes de perceber que já estás ali ao meu lado. Tenho saudades de ti de manhã enquanto espero que desças do banho. Fico bem a ler enquanto te espero, mas leio melhor quando estás ao pé de mim, quando já não me apetece ler. 
Hoje foi mais um dia contigo e, mais uma vez, dou comigo aqui à noite, separado de ti, para escrever sobre o dia que se passou. E a coisa principal que aconteceu foi ter saudades de ti outra vez. Bem sei que sei onde estás e que eu estou aqui a cinco passos de ti. Mas a maior certeza que tenho é que, apesar disso tudo, não estou contigo nem tu estás comigo. É o que me basta para ter saudades de ti. Não preciso de mais: se mais tivesse, morreria.
É verdade que estive contigo durante uma pequena parte do dia: aquela a que as pessoas tristes e habituadas chamam vida. Mas estava tão apaixonado e tão feliz que nem dei por isso.
Pensei apenas: "Conseguimos! Conseguimos estar juntos! Nem acredito!" E o tempo nunca é suficiente para me convencer que conseguimos mesmo estarmos juntos e, ao mesmo tempo, estarmos juntos o tempo suficiente para deixarmos de nos preocuparmos (e sofrermos) com isso. 
Continuo a sofrer, todos os dias, às mesmas horas em que não estou contigo, da saudade de quando estive. Os dias contigo são os bocadinhos de manhã, tarde e noite que são avaramente permitidos aos mais felizes. 
E apaixonados. E ingratos.

Miguel Esteves Cardoso
(Público)

Poesia para uma vida


Cantiga sua partindo-se

Senhora partem tão tristes
Meus olhos por vós, meu bem
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém

Tão tristes, tão saudosos,
Tão doentes da partida,
Tão cansados, tão chorosos,
Da morte mais desejosos
Cem mil vezes que da vida.

Partem tão tristes os tristes,
Tão fora de esperar bem,
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém

João Roíz de Castelo Branco





05/05/16

Dizer ainda mais alto



"Como é que esta dívida brutal nasceu? O problema é que, em 2005, a dívida pública portuguesa atingiu os 96 mil milhões de euros" e "isto obrigava Portugal a travar o endividamento. Em vez de travar, Portugal fez exatamente o contrário. Como consequência, em 2011, a dívida pública já estava nos 185 mil milhões de euros. Para agravar as coisas, o Eurostat descobriu que vários países, incluindo Portugal, estavam a esconder a dívida em empresas públicas."

Merece bem o prémio que lhe foi atribuído.

04/05/16

Avaliação de desempenho para ministro & compª

1. Finalmente, a avaliação de desempenho "democratizou-se". O ministro da educação, e o resto dos dirigentes, espero, também vai ser avaliado, trimestralmente, pelos sindicatos do sector!
"A parque escolar foi uma grande festa para o país". Na continuidade, de que Crato não fez parte,  a educação vai passar a ser um grande convívio entre avaliadores e avaliados. Tudo a bem do país e dos trabalhadores!
Estamos de volta à NEP (Nova Política Económica) em que o papel dos sindicatos passou a ser outro. Só que agora, em sentido inverso. Então era a cedência ao capitalismo, agora é a cedência ao "socialismo".
Afinal, o "compromisso histórico" (Valter Lemos), agora sim, vai mesmo acontecer mas com o actual governo e os actuais sindicatos da educação.
E os outros parceiros sociais? A começar pelas Associações de pais, Associações de professores, Sindicatos e associações de outros profissionais de educação como auxiliares de acção educativa, psicólogos, terapeutas, Associações de pais de crianças portadoras de deficiências, Centros de Recursos para a Inclusão, Associação de ensino particular e cooperativo, Autarquias locais, Associação de directores das escolas, Associações de estudantes... E, sendo assim, para que servirá o Conselho Nacional de Educação ?
A governação em educação significa consensos e ou compromissos, conflitos e discussão, acordos e desacordos, cedências que podem ser positivas, retrocessos que podem ser progressos, imposição pelo governo da sua política educativa contra a vontade dos sindicatos... a menos que seja a mesma dos sindicatos, como era na NEP.
A política da NEP era esta: "Um dos critérios mais importantes e infalíveis da justeza e do êxito do trabalho dos sindicatos é levar em conta o grau de sua eficiência para evitar os conflitos das massas nas empresas do Estado mediante uma política previdente, encaminhada no sentido da verdadeira e completa salvaguarda dos interesses da massa operária e da eliminação oportuna das causas dos conflitos."

2. Ao invés dos critérios da NEP, era necessário que na educação não houvesse medo de governar, que fossem tomadas as medidas necessárias para que este país tivesse de facto a geração mais qualificada da sua história, contra ou com a vontade dos sindicatos. 
Era necessário ter a coragem de desenvolver um sistema educativo onde público e privado tivessem o seu lugar como está escrito na Constituição. 
Nos termos constitucionais, o subsistema particular tem sempre que ser visto como um subsistema que se articula e concorre para atingir as metas do sistema educativo, mas que sendo diferente na organização, gestão e dministração, nos projectos educativos, pode contribuir para a liberdade de escolha dos cidadãos, pode ser vantajoso economicamente para o estado, leia-se os contribuintes, e  pode trazer mais qualidade ao sistema educativo.
Há muitas tonalidades de "particular" que vão do estritamente particular, mesmo assim com projectos diferentes, até ao associativo e cooperativo e, veja-se, por exemplo, o que foi feito no pós 25 de Abril nesta área na educação de crianças com necessidades educativas especiais. 
Veja-se o que foi feito, e continua, na área infantil, onde os pais por completa ausência de oferta pública, têm o particular como único recurso. 
Veja-se o que foi feito com as escolas profissionais que resultaram da associação de várias entidades em que o estado através das autarquias muitas vezes também está integrado. 
Ou o que foi feito no campo das artes, como a música, nos conservatórios. Foram precisos muitos anos até haver música com alguma qualidade nas escolas. Felizmente, houve e há conservatórios para desempenharam esse papel de que o estado só a custo vai dando o contributo que lhe compete.
Ou mesmo as escolas com contrato de associação que podem ser boas alternativas educativas para alunos, pais e professores.
Privado ou público, os subsistemas deviam funcionar de forma a que o país pudesse educar as futuras gerações com a qualidade que todos os alunos merecem. 

3. Em Público e privado: mais calor do que luz, escrevi sobre este assunto. As variantes permitidas pela combinação público-privado são imensas.
A sombra das PPP, mal contratadas, mal geridas, em que apenas o estado sai a perder, mal vistas por quase todos, onde me incluo, e modelo de negociatas estado-privados, vieram enviesar ainda mais esta análise. Ao contrário, as PPP deviam ser alternativas, necessárias e rentáveis, em que ambos fossem ganhadores.