23/06/15

Vendido ou...



Isto nunca existiu (MEMORANDO DE ENTENDIMENTO SOBRE AS CONDICIONALIDADES DE POLÍTICA ECONÓMICA), o governo não resultou de eleições democráticas, legitimamente não pode governar, nem sequer teve que executar o que outros assinaram a 17 de Maio de 2011?

Privatizações 
3.31. O Governo acelerará o programa de privatizações. O plano existente para o período que decorre até 2013 abrange transportes (Aeroportos de Portugal, TAP, e a CP Carga), energia (GALP, EDP, e REN), comunicações (Correios de Portugal), e seguros (Caixa Seguros), bem como uma série de empresas de menor dimensão. O plano tem como objectivo uma antecipação de receitas de cerca de 5,5 mil milhões de euros até ao final do programa, apenas com alienação parcial prevista para todas as empresas de maior dimensão. O Governo compromete‐se a ir ainda mais longe, prosseguindo uma alienação acelerada da totalidade das acções na EDP e na REN, e tem a expectativa que as condições do mercado venham a permitir a venda destas duas empresas, bem como da TAP, até ao final de 2011. O Governo identificará, na altura da segunda avaliação trimestral, duas grandes empresas adicionais para serem privatizadas até ao final de 2012. Será elaborado um plano actualizado de privatizações até Março de 2012. 3.32. Elaborar um inventário de bens, incluindo imóveis, detidos pelos municípios e pela administração regional, analisando a possibilidade da sua privatização. [T2‐2012]

- A faceta imobiliária da política, enquanto campanha eleitoral, talvez venda melhor que uma agência agitprop, talvez porque tenha direitos que os outros não têm para usar espaços onde pode afixar a sua propaganda, talvez porque são tanto ou mais arrojados que as Femen ou o Greenpeace, talvez...

Agir ou agitar? Gosto de agir, para agitar prefiro a culinária. Gera a maior confusão política quando não se distinguem. Porque do agir ao agitar fica a racionalidade. Sem ela, agir vira agitação.
É o "mestre" Mao Tse Tung que "ensina". No "livro vermelho", "Sobre a prática, sobre a relação entre o conhecimento e  prática -  a relação entre conhecer e agir", escreve assim:
A unidade de conhecimento e acção levarão “à transformação do mundo objectivo e também do mundo subjectivo de cada um”.
“O mundo objectivo a transformar inclui igualmente todos os adversários dessa etapa da transformação; eles devem no início passar pela etapa da transformação, pela coacção, depois do que poderão abordar a etapa da reeducação consciente”. (pag 25)
Sabemos o que aconteceu a seguir: a revolução cultural.

- "A acção, a única actividade que se exerce directamente entre os homens sem a mediação das coisas ou da matéria, corresponde à condição humana da pluralidade, ao facto de que homens e não o Homem, vivem na Terra e habitam o mundo. Todos os aspectos da condição humana têm alguma relação com a política; mas esta pluralidade é especificamente a condição - não apenas a conditio sine qua non, mas a conditio per quam - de toda a vida política. Assim, o idioma dos romanos - talvez o povo mais político que conhecemos - empregava como sinónimas as expressões «viver» e «estar entre os homens» (inter homines esse), ou «morrer» e «deixar de estar entre os homens» (inter homines esse desinere). Mas, na sua forma mais elementar, a condição humana da acção está implícita até mesmo no Génesis («macho e fêmea Ele criou-os), se entendermos que esta criação do homem diverge, em princípio, da outra segundo a qual Deus originalmente criou o Homem (adam), e não eles, de modo que a pluralidade dos seres humanos vem a ser o resultado da multiplicação. A acção seria um luxo desnecessário, uma caprichosa interferência com as leis gerais do comportamento, se os homens não passassem de repetições interminavelmente reproduzíveis do mesmo modelo, todas dotadas da mesma natureza e essência, tão previsíveis como a natureza e a essência de qualquer outra coisa. A pluralidade é a condição da acção humana pelo facto de sermos todos os mesmos, isto é, humanos, sem que ninguém seja exactamente igual a qualquer pessoa que tenha existido, exista ou venha a existir".
Hannah Arendt, A condição humana, pag. 20

Nesta entrevista (Maria Flor Pedroso a Joana Amaral Dias, 14-6-2015) discordo de quase tudo, principalmente das ideias económicas, da visão daquilo que é público ou privado, da leitura sobre a presidência da república, da estratégia do medo, das loas aos sirizas, podemos... mas esta entrevista merece  atenção do poder actual ou futuro, em termos estratégicos: luta contra a corrupção; aprofundamento da democracia (inclui a revisão constitucional: redução dos deputados da assembleia da república, revisão da lei eleitoral ?);  necessidade de compromissos políticos; identificação do responsável da crise; sem clivagem esquerda/direita...
Lamentavelmente a agitação ("eu não me vendo") não deu lugar à possibilidade de se confirmar uma atitude anti-populista e anti-demagógica.
Mas ainda assim, "agir" tem particularidades que outras (ditas) esquerdas estão longe de entenderem.
(19/7/2015)


(Continua)

Férias e afectos


Aproximam-se as férias do Verão. Não tenho a pretensão de dar orientações aos pais sobre as suas férias. No entanto, pela experiência adquirida na consulta de psicologia, ou na organização e realização deste tipo de actividades *, permitam-me uma reflexão sobre comportamentos e situações de risco que podem surgir nestas actividades.

1. É necessário que no planeamento do tempo de férias sejam incluídos os filhos, ou seja, deve haver tempo de férias para a família. Planear férias em que os filhos não estejam incluídos porque ficam com os avós, vão para campos de férias, ou outra situação, ficando todo o verão afastados dos pais, não é ajustado. Também não é ajustado ficarem sozinhos em casa, com televisão, computador e videojogos, ou andarem todos os dias por aí com os amigos ou com quem aparece... 
Férias em família devem ser um tempo informal e flexível mas, sobretudo, um tempo de qualidade afectiva nas relações pais e filhos.
Mesmo que, em alguns casos, não seja fácil planear as férias, dada a complexidade das estruturas familiares actuais, como no caso de pais separados com fil­hos menores.
Quando há regulação do poder parental, a organização das férias deve respeitar essa regulação.
Em geral, os pais devem estar de acordo em relação às férias com os filhos e procurar que cada um tenha férias em datas diferentes, de forma a poderem estar com os filhos mesmo que em tempo mais reduzido.
Como em todo o processo educativo, os pais dev­erão colo­car sempre os inter­esses dos filhos acima dos seus inter­esses par­tic­u­lares. Mesmo quando passaram por um (ou mais) divórcio conflituoso e violento. 
Neste processo educativo, as férias não podem ser do tipo autoritário ou laissez-faire para que um dos pais apareça aos olhos filhos como mais “fixe” do que o outro.
As férias são também um tempo de “dar férias” à competição entre os pais, à “compra” do afecto dos filhos, à chantagem de uns e de outros. 

2. Depois,  a organização das férias dos filhos deve ser feita de acordo com eles: a escolha do campo de férias, as actividades de férias, os calendários, não podem ser um tempo e espaço impostos. Não são um castigo para os filhos. Os campos de férias não servem para os pais se verem livres dos filhos e vice-versa.
Os filhos devem ter a possibilidade de escolher actividades com uma vertente mais cultural ou mais desportiva, de praia ou de montanha, actividades mais estruturadas ou actividades com mais flexibilidade e, até, em que haja momentos de não fazer nada, isto é, em que predomine a flexibilidade com responsabilidade. 

3. As actividades de férias são um tempo de carácter fundamentalmente pedagógico e terapêutico. Brincar é o objectivo fundamental das actividades de férias. É um tempo de fazer experiências novas, de aprender a gostar ou não, de fazer novos relacionamentos e de perder outros, de fazer novos amigos, de conhecer outras culturas, aprender novos maneiras de ser e estar…

4. Outro aspecto fundamental das actividades de férias é o da segurança.* Os pais devem certificar-se de todos os aspectos de segurança que é possível controlar:
Se está garantida a segurança nos transportes.
Se a segurança na piscina, no rio ou no mar faz parte das metodologias das actividades e são realizadas com rigor. 
Se são calculados os riscos que envolvem determinadas actividades mais radicais.
Se estas actividades estão cobertas por seguros e têm apoio a nível da saúde.
Se os monitores são seleccionados, se são competentes e de confiança para trabalharem com crianças e adolescentes. 
E, como também tenho férias destas crónicas, desejo a todos os ouvintes e famílias umas óptimas férias, certamente desejadas e merecidas.
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*No âmbito dos fringe benefits, há serviços que desenvolvem actividades de férias para famílias e para vários grupos etários, como é o caso dos Serviços Sociais da Administração Pública.

20/06/15

Seasons in the sun











A história da canção.
A vida de algumas pessoas  muda e fazem uma canção. Outras fazem uma canção (ou uma versão - Rod McKuen) que lhes  vai mudar a vida.
A vida faz e a vida desfaz.
Para se ser feliz é preciso estar na estação certa e acreditar em outras estrelas que não são do mar nem vêm dar à praia já sem vida.
A tristeza faz parte da vida como a alegria de um Verão em que fomos felizes e ficámos cheios de saudades.
"A Menina pôs a sua cabeça dentro do cálice da rosa e respirou longamente. Depois levantou a cabeça e disse suspirando:
- É um perfume maravilhoso. No mar não há nenhum perfume assim. Mas estou tonta e um bocadinho triste. As coisas da terra são esquisitas. São diferentes das coisas do mar. No mar há monstros e perigos, mas as coisas bonitas são alegres. Na terra há tristeza dentro das coisas bonitas. 
- Isso é por causa da saudade - disse o rapaz. 
- Mas o que é a saudade? - perguntou a Menina do Mar. 
- A saudade é a tristeza que fica em nós quando as coisas de que gostamos se vão embora."
(A Menina do Mar, de Sophia de Mello Breyner Andresen)
Amanhã começa o Verão.

16/06/15

Pares e pais, ajuda e conflito

Georges Brassens - Les copains d'abord * (1964) 

O grupo de pares é um dos contextos mais importantes para os adolescentes. Fazer parte dum grupo, ser aceite e reconhecido, ser parecido com os elementos do grupo é um processo fundamental na adolescência
A influência dos pares resulta da informação e serve como fonte de conhecimento dos padrões de comportamento, atitudes, valores e suas consequências em diferentes situações e da influência normativa , ou seja, da pressão exercida pelos pares ** para que se comporte com os outros.
Esta influência resulta de processos psicossociais como a comparação social e o conformismo. Particularmente nesta idade os outros são o espelho, os modelos de funcionamento; os mesmos padrões de comportamento: vestir, falar, comportar-se, regras, hábitos… "Enfim, nada é mais incontestável do que os mentores: os «copains d'abord» tão queridos a Brassens. É imperativo que nos assemelhemos a eles, sejamos como eles". (Yvonnne  Poncet-Bonissol, Adolescentes -  Crises, revoltas, fracturas, pag 17)
O início da adolescência parece constituir o período em que o conformismo aos pares é máximo e vai atenuando à medida que evolui a autonomia e as diferenças no pensamento, atitudes e comportamentos.

Certamente, uma das preocupações dos pais e da sociedade são os comportamentos de risco e de saúde dos adolescentes e da influência que os pares podem exercer.
Estudos *** com alunos dos 6º, 8º e 10º anos, revelaram o seguinte:
- o grupo de pares influencia o envolvimento em comportamentos de risco e de saúde dos adolescentes, mas os pais surgem como mais protectores para a saúde dos adolescentes.
- a falta de amigos pode agir como risco para o maior envolvimento em comportamentos relacionados ao consumo de tabaco, álcool ou substâncias ilícitas. Os adolescentes com menos amigos são mais infelizes, estão menos satisfeitos com a vida e têm menor bem-estar.
- os adolescentes com mais amigos com qualidade, dentro ou fora da escola, têm menor envolvimento em comportamentos de risco (consumo de tabaco, álcool e substâncias ilícitas), têm menor envolvimento em comportamentos de bullying, enquanto vítimas e provocadores, gostam mais da escola, são mais felizes, estão mais satisfeitos com a vida e têm maiores níveis de bem-estar.
- a variável com maior impacto para o menor envolvimento em comportamentos de risco é ter menos amigos com comportamentos de risco. Ter amigos com comportamentos de protecção surge com maior impacto no menor envolvimento em comportamentos de violência.
A comunicação com os pais tem efeito importante para o menor envolvimento em comportamentos de violência e efeitos positivos para o bem-estar.
Pode-se concluir que os pares têm grande impacto nos comportamentos de risco e de saúde dos adolescentes portugueses. Que a sua influência surge como protectora para o envolvimento em comportamentos de risco quando os amigos têm menor envolvimento nesses comportamentos ou maior envolvimento em comportamentos de protecção e que potenciam o bem-estar e a saúde quando a comunicação com os amigos é fácil e a amizade é considerada como de qualidade e os amigos têm mais comportamentos de protecção.

Contrariamente às concepções mais tradicionais que viam nesta interacção dos pais e dos pares como um conflito de gerações, os pares têm influência nos comportamentos dos adolescentes e o tipo de monitorização dos pais também influencia como os pares. Quando os sentimentos do adolescente em relação à família não são positivos então os pares são potencialmente mais influentes do que os pais. Mas o contrário também é verdadeiro.
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15/06/15

"Não me abandones"



Dia Internacional de Sensibilização sobre a Prevenção da Violência Contra as Pessoas Idosas.

"Os casos de violência contra idosos que chegam à associação cresceram de 774 em 2013 para 852 no ano passado, mas a APAV tem a noção que estes "dados podem não espelhar a realidade", adiantou. Para apurar esta realidade, a APAV colaborou num estudo realizado entre 2011 e 2014 que "demonstra que há uma prevalência de pessoas idosas vítimas de crime muito elevada [em Portugal] em comparação aos outros países europeus", adiantou a técnica. Segundo o estudo, em cada mil portugueses com 60 ou mais anos, 123 podem ser alvo de algum tipo de violência por parte de familiares, amigo, vizinho ou profissional remunerado, quando a média nos outros países da União Europeia é de 21 a 22 em cada mil pessoas."
...
O CRIME DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA É PÚBLICO, OU SEJA, QUALQUER PESSOA QUE SAIBA OU SUSPEITE QUE UMA PESSOA IDOSA ESTÁ A SER VITIMA DESTE CRIME TEM A OBRIGAÇÃO DE DENUNCIAR. A VIOLÊNCIA MAGOA. O SEU SILÊNCIO PODE MAGOAR AINDA MAIS.

12/06/15

Lisboa, Lisboa...

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Loja de cerâmica com 99 anos despejada do Chiado para dar lugar a hotel. Instalada na Rua do Alecrim, em Lisboa, há 99 anos, a loja da Fábrica Sant'Anna recebeu ordem de despejo do proprietário, que ali quer construir um hotel. (Inês Boaventura, 12/06/2015)

Em noite de Santo António, de marchas e casamentos, a tradição ainda é o que era. Por isso, aí vai:

                                                               Santo António de Lisboa
                                                               Foi um grande pregador.
                                                               Já ninguém lhe dá ouvidos:
                                                               Presidente ou vereador.

                                                               Se a isto chamam progresso,
                                                               o que virá a seguir
                                                               se o camartelo é rei
                                                               na cidade a destruir ?

                                                               Santo António de Lisboa
                                                               dá-nos um presidente eleito
                                                               Se o povo é tolerante,
                                                               a democracia é desse jeito.

11/06/15

Quando o melhor amigo deixa de ser amigo

Clã - Amigo do peito (Disco voador)

Há duas semanas que vimos falando da amizade, principalmente da amizade na adolescência.
Todos sabemos a importância que tem o amigo, o melhor amigo, o amigo preferido, o amigo do coração, o amigo do peito, o amigo incondicional…
O que leva duas pessoas a serem amigas? Como se constitui e se desenvolve a amizade ?
Ter amigos é benéfico para o desenvolvimento mas pode ser prejudicial e pode influenciar os nossos comportamentos negativamente. De uma forma mais vulgar, pode levar-nos por maus caminhos. Ou como os pais dizem : foram os “amigos” que o desviaram.
Ora bem, “A amizade pode ser entendida como um processo de interacção interpessoal através do qual os indivíduos se sentem inclinados a associar-se com outros, nos quais antecipam maior aceitação, apoio emocional ou identidade de características de personalidade, capacidades, interesses e valores. (Isabel Soares, «O grupo de pares e a amizade», in Psicologia do desenvolvimento e educação de jovens, coord. B. Paiva Campos, vol. II Universidade aberta, pag. 118)
Há nas interacções interpessoais ligadas ao desenvolvimento da amizade três dimensões importantes:
conhecimento íntimo do amigo, semelhança, complementaridade e diferenças entre amigos e estabilidade na relação de amizade
1. Quanto ao conhecimento íntimo do amigo, é uma das caraterísticas mais referidas sobre a relação de amizade entre os adolescentes.
Só por volta do 6º ano de escolaridade ou mais tarde os jovens falam da amizade em termos de partilha de sentimentos e pensamentos íntimos;
entre o 5º e 11º ano de escolaridade fazem cada vez mais auto-revelações íntimas e conhecimento íntimo mútuo.
Há alguns estudos que referem que as raparigas mostram mais intimidade do que os rapazes. No entanto há consistência sobre isso.
2. A semelhança e complementaridade entre amigos, são principalmente dependentes dos contextos socais e escolares.
Há semelhança entre amigos no que diz respeito à idade, sexo, raça, estatuto pubertário, atitudes e aspirações escolares, rendimento escolar, atitudes face ao processo educativo e participação nas actividades escolares
A organização escolar é baseada em grande parte nestas semelhanças: organização das turmas, organização de actividades, inclusão...
No entanto os resultados da investigação são mais controversos no que respeita à semelhança e complementaridade dos traços de personalidade , valores e interesses.
Podemos concluir que a amizade é sempre uma mistura de semelhanças e de diferenças.
Por outro lado, na adolescência, a consciência das diferenças de personalidade influencia a selecção dos amigos.  Se a amizade é baseada nas semelhanças, os ritmos de crescimento vão acentuar as diferenças e vão surgindo mais conflitos. A integração de semelhanças e diferenças através de um processo de negociação e resolução do conflito acaba por reforçar e enriquecer a amizade.
3. A estabilidade da relação de amizaade parece ser maior à medida que se dá o desenvolvimento, a maturidade cognitiva e socio-emocional.
as mudanças físicas e as mudanças nos contextos sociais são factores que podem levar à instabilidade da amizade e a conflitos nas relações de amizade
Pode até ocorrer a ruptura e o fim da amizade o que nem sempre é negativo já que pode activar o surgimento de novas amizades e a construção de relações mais adequadas e competências sociais mais complexas. 
Os pais gostarão deste desfecho quando os filhos abandonam comportamentos inadequados e devem apoiar a ultrapassar esta instabilidade.
Em alguns casos, neste processo de desenvolvimento a amizade pode não ser para sempre. Talvez porque não era amizade. Ou como disse Séneca: “Quem deixou de ser amigo nunca foi amigo”.


"Sinto-me grato..."


A gratidão é uma das vinte e quatro forças de assinatura de que fala Seligman. A partir de Felicidade autêntica,  venho utilizando este modelo que me ajudava a ajudar os meus alunos e a mim próprio: todos os dias tento avaliar as situações, atitudes e comportamentos dos outros em relação aos quais me sinto grato. 
É uma tarefa que não é fácil de praticar quando o tempo se vai reduzindo... Como no poema de David Mourão-Ferreira: "Há-de vir um Natal e será o primeiro/em que não viva já ninguém meu conhecido."

Aos 81 anos, Sacks tem vindo a assistir ao desaparecimento da sua geração. A cada morte, uma pequena parte dele também desaparece. “Não irá existir ninguém como nós quando desaparecermos”, escreveu para o jornal norte-americano. “Quando as pessoas morrem, não podem ser substituídas”. São como “buracos que não podem ser preenchidos”, acredita. Mas esse é o destino de todos os homens, e Sacks tem consciência disso.
Admite ter medo, mas acima de tudo diz-se grato. “Amei e fui amado. Recebi muito e dei alguma coisa. Li, viajei, pensei e escrevi”.

Leio Musicofilia. Fascinado e grato.
"A espécie humana tem tanto de musical como de verbal. E essa predisposição para a música pode assumir muitas e diferentes formas. Todos nós, (com raras excepções) somos capazes de apreender a música, de apreender os sons, timbres, distância entre tons, contornos melódicos, harmonias e, (talvez de forma elementar) ritmos. Integramos todos esses elementos e «construímos» mentalmente a música, usando para isso diferentes partes do cérebro. E a esta capacidade estrutural – em grande parte inconsciente -  para apreciar a música acrescenta-se amiúde uma profunda e intensa reacção emocional à música." (pag.13)

Partilha


Economia da Partilha em Portugal e no Mundo.

Creio que não se ensina nas Universidades nem dá Nobel da economia ou  daqueles doutoramentos honoris causa à duzia.
A diversidade de caminhos que se abrem ao ser humano aumenta a esperança de um mundo melhor.
As coisas vão acontecendo e mudando, como neste caso: banco de partilha social.

09/06/15

Felicidade

Felicidade foi tema do Prós e Contras. Painel de luxo. Ouvir estes profissionais extraordinários faz-nos bem. Talvez gente do governo e da oposição, principalmente aquela mais infeliz, aprendesse alguma coisa, se é que já não sabe tudo. Sem esquecer os comentadores especialistas em economia e finanças, crescimentistas mágicos e indignados com a crise.

Sobre a felicidade um bom exemplo a seguir: 
Dan Price, fundador da Gravity Payments, deixou loucos os funcionários da empresa quando lhes comunicou a alteração na política de pagamentos da empresa. Anunciou, numa reunião, que os trabalhadores vão receber, nos próximos 3 anos, um aumento de salário para um mínimo de 63 mil dólares anuais.
A iniciativa de Dan Price aconteceu depois de ter lido um estudo* que compara o ordenado que temos com a felicidade. O trabalho levanta a questão: “O dinheiro compra felicidade?”
Os resultados indicam que o bem-estar emocional aumenta substancialmente até aos 68 mil euros anuais. A partir daí, é verdade que o dinheiro compra satisfação na vida, mas não felicidade.

Por cá, também temos exemplos:
"Paga salários acima da média, ginásio e férias para ver trabalhadores felizes."
__________
* Daniel Kahneman and Angus Deaton, «High income improves evaluation of life but not emotional well-being»

03/06/15

Amizade e intimidade

Na adolescência, uma característica diferenciadora na interacção é a intimidade interpessoal, isto é, a sensibilidade pelo outro e a consciência do "nós" (Sullivan, referido por Isabel Soares, «O grupo de pares e a amizade», in Psicologia do desenvolvimento e educação de jovens, coord. B. Paiva Campos, vol. II Universidade aberta).
Esta relação vai para além da cooperação que é característica das interacções da escola primária, em dar e receber, em hábitos e ocupações comuns, competição e compromissos com objectivos materiais e concretos.
Esta nova interacção é o inicio de um envolvimento íntimo com o outro, algo muito semelhante ao amor, carregado de emoções, exclusividade e susceptibilidade.
O amigo desempenha o papel de suporte do EU e muitas vezes funciona como espelho que reenvia uma imagem que lhe dá segurança, fazendo aumentar a confiança em si próprio e favorecendo a coesão e a unidade da personalidade, que se procura através do outro.

 Para os adultos a amizade é apenas uma das formas de relacionamento íntimo: “Quando duas pessoas se envolvem numa relação mais íntima: interagem mais vezes e por maiores períodos de tempo e num mais amplo conjunto de contextos; tentam restabelecer a proximidade quando separadas e sentem-se confortáveis quando a proximidade é restabelecida; abrem-se uma à outra no sentido em que partilham pensamentos e sentimentos secretos; tornam-se menos inibidas, mais desejosas de partilhar experiências positivas e negativas elogios e criticas uma à outra; desenvolvem o seu próprio sistema de comunicação e tornam-se mais eficientes na sua utilização; aumentam a sua capacidade para coordenar e antecipar o ponto de vista do outro sobre a realidade social; começam a sincronizar os seus objectivos e comportamentos e desenvolvem padrões de interacção subtis" (Huston e Burgess, idem, pág. 114)
A amizade na infância pode ter algumas destas características mas é na adolescência que começam a assemelhar-se às características da amizade do adulto.
A amizade, na adolescência, assume agora outro significado interpessoal: é uma relação mais exigente, põe em jogo competência emocionais, cognitivas e comportamentais, exige competências novas, isto é, capacidade para entender o outro como entidade psicológica.
Passa por vários estádios no desenvolvimento das expectativas da amizade (Bigelow, idem, pag 118):
1. recompensa-custo (interacções momentâneas): amizade considerada como uma relação comportamental superficial baseada na proximidade espacial e na realização conjunta de actividades. .
2. estádio-normativo (orientação egocêntrica): são valorizados os aspectos sociais e contratuais como fidelidade, ajuda mútua. É também identificada a dimensão de admiração de carácter. .
3. psicológico-interno (interacções recíprocas): os valores dominantes são a empatia, compreensão e auto-revelação e as dimensões: aceitação, lealdade, comprometimento, sinceridade, interesses comuns e potencial de intimidade..
A intimidade vai tendo maior ênfase à medida que se desenvolve a adolescência.
A escola mantém uma grande influência na vida dos jovens e sabemos até que ponto as relações entre pares são influenciadas pela circunstância escolar e de que de forma afecta a selecção das amizades e a organização dos grupos de jovens das mais variadas índoles. Ou então levam ao isolamento, ao sentimento de ninguém gostar de nós, da agressividade em relação aos colegas e aos outros…
Como numa velha canção de Françoise Hardy...
Mas o tempo extra escolar exerce um fascínio cada vez maior nos jovens. As crises, revoltas e fracturas da juventude (Yvonne Poncet-Bonissol, Adolescentes) também começam neste tempo de fazer amizades a sério. 
Então, também prevenir os problemas e dificuldades devia começar agora e não quando surgem mais tarde.

                                    Todos os rapazes e raparigas da minha idade
                                    Passeiam nas ruas dois a dois
                                    Todos os rapazes e raparigas da minha idade
                                    Sabem muito bem o que é ser feliz
                                    E os olhos nos olhos e a mão na mão
                                    vão apaixonados sem medo do dia seguinte
                                    sim mas eu vou sozinha pelas ruas, a alma sofrendo
                                    sim mas eu vou sozinha, porque ninguém me ama.

 Talvez aqui!

Amizade

Sagres: Gaivota 3

«Pode a distância separar-te
dos teus amigos?
Se queres estar junto
de alguém que amas,
não te parece que
já lá estarás?»
...
«Voa, livre e feliz, para além dos aniversários,
através da eternidade e encontrar-nos-emos
de vez em quando, sempre que quisermos,
no meio da única festa que nunca poderá terminar.»

Richard Bach, Não há longe nem distância.