03/06/15

Amizade e intimidade

Na adolescência, uma característica diferenciadora na interacção é a intimidade interpessoal, isto é, a sensibilidade pelo outro e a consciência do "nós" (Sullivan, referido por Isabel Soares, «O grupo de pares e a amizade», in Psicologia do desenvolvimento e educação de jovens, coord. B. Paiva Campos, vol. II Universidade aberta).
Esta relação vai para além da cooperação que é característica das interacções da escola primária, em dar e receber, em hábitos e ocupações comuns, competição e compromissos com objectivos materiais e concretos.
Esta nova interacção é o inicio de um envolvimento íntimo com o outro, algo muito semelhante ao amor, carregado de emoções, exclusividade e susceptibilidade.
O amigo desempenha o papel de suporte do EU e muitas vezes funciona como espelho que reenvia uma imagem que lhe dá segurança, fazendo aumentar a confiança em si próprio e favorecendo a coesão e a unidade da personalidade, que se procura através do outro.

 Para os adultos a amizade é apenas uma das formas de relacionamento íntimo: “Quando duas pessoas se envolvem numa relação mais íntima: interagem mais vezes e por maiores períodos de tempo e num mais amplo conjunto de contextos; tentam restabelecer a proximidade quando separadas e sentem-se confortáveis quando a proximidade é restabelecida; abrem-se uma à outra no sentido em que partilham pensamentos e sentimentos secretos; tornam-se menos inibidas, mais desejosas de partilhar experiências positivas e negativas elogios e criticas uma à outra; desenvolvem o seu próprio sistema de comunicação e tornam-se mais eficientes na sua utilização; aumentam a sua capacidade para coordenar e antecipar o ponto de vista do outro sobre a realidade social; começam a sincronizar os seus objectivos e comportamentos e desenvolvem padrões de interacção subtis" (Huston e Burgess, idem, pág. 114)

A amizade na infância pode ter algumas destas características mas é na adolescência que começam a assemelhar-se às características da amizade do adulto.
A amizade, na adolescência, assume agora outro significado interpessoal: é uma relação mais exigente, põe em jogo competência emocionais, cognitivas e comportamentais, exige competências novas, isto é, capacidade para entender o outro como entidade psicológica.
Passa por vários estádios no desenvolvimento das expectativas da amizade (Bigelow, idem, pag 118):
1. recompensa-custo (interacções momentâneas): amizade considerada como uma relação comportamental superficial baseada na proximidade espacial e na realização conjunta de actividades.
2. estádio-normativo (orientação egocêntrica): são valorizados os aspectos sociais e contratuais como fidelidade, ajuda mútua. É também identificada a dimensão de admiração de carácter.
3. psicológico-interno (interacções recíprocas): os valores dominantes são a empatia, compreensão e auto-revelação e as dimensões: aceitação, lealdade, comprometimento, sinceridade, interesses comuns e potencial de intimidade.
A intimidade vai tendo maior ênfase à medida que se desenvolve a adolescência.
A escola mantém uma grande influência na vida dos jovens e sabemos até que ponto as relações entre pares são influenciadas pela circunstância escolar e de que forma afecta a selecção das amizades e a organização dos grupos de jovens das mais variadas índoles. Ou então levam ao isolamento, ao sentimento de ninguém gostar de nós, da agressividade em relação aos colegas e aos outros…
Como numa velha canção de Françoise Hardy...
Mas o tempo extra escolar exerce um fascínio cada vez maior nos jovens. As crises, revoltas e fracturas da juventude (Yvonne Poncet-Bonissol, Adolescentes) também começam neste tempo de fazer amizades a sério. 
Então, também prevenir os problemas e dificuldades devia começar agora e não quando surgem mais tarde.


                    
Todos os rapazes e raparigas da minha idade 
Passeiam nas ruas dois a dois
Todos os rapazes e raparigas da minha idade
Sabem muito bem o que é ser feliz
E os olhos nos olhos e a mão na mão
vão apaixonados sem medo do dia seguinte
sim mas eu vou sozinha pelas ruas, a alma sofrendo
sim mas eu vou sozinha, porque ninguém me ama.



 Talvez aqui!





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