23/06/15

Férias e afectos


Aproximam-se as férias do Verão. Não tenho a pretensão de dar orientações aos pais sobre as suas férias. No entanto, pela experiência adquirida na consulta de psicologia, ou na organização e realização deste tipo de actividades *, permitam-me uma reflexão sobre comportamentos e situações de risco que podem surgir nestas actividades.

1. É necessário que no planeamento do tempo de férias sejam incluídos os filhos, ou seja, deve haver tempo de férias para a família. Planear férias em que os filhos não estejam incluídos porque ficam com os avós, vão para campos de férias, ou outra situação, ficando todo o verão afastados dos pais, não é ajustado. Também não é ajustado ficarem sozinhos em casa, com televisão, computador e videojogos, ou andarem todos os dias por aí com os amigos ou com quem aparece... 
Férias em família devem ser um tempo informal e flexível mas, sobretudo, um tempo de qualidade afectiva nas relações pais e filhos.
Mesmo que, em alguns casos, não seja fácil planear as férias, dada a complexidade das estruturas familiares actuais, como no caso de pais separados com fil­hos menores.
Quando há regulação do poder parental, a organização das férias deve respeitar essa regulação.
Em geral, os pais devem estar de acordo em relação às férias com os filhos e procurar que cada um tenha férias em datas diferentes, de forma a poderem estar com os filhos mesmo que em tempo mais reduzido.
Como em todo o processo educativo, os pais dev­erão colo­car sempre os inter­esses dos filhos acima dos seus inter­esses par­tic­u­lares. Mesmo quando passaram por um (ou mais) divórcio conflituoso e violento. 
Neste processo educativo, as férias não podem ser do tipo autoritário ou laissez-faire para que um dos pais apareça aos olhos filhos como mais “fixe” do que o outro.
As férias são também um tempo de “dar férias” à competição entre os pais, à “compra” do afecto dos filhos, à chantagem de uns e de outros. 

2. Depois,  a organização das férias dos filhos deve ser feita de acordo com eles: a escolha do campo de férias, as actividades de férias, os calendários, não podem ser um tempo e espaço impostos. Não são um castigo para os filhos. Os campos de férias não servem para os pais se verem livres dos filhos e vice-versa.
Os filhos devem ter a possibilidade de escolher actividades com uma vertente mais cultural ou mais desportiva, de praia ou de montanha, actividades mais estruturadas ou actividades com mais flexibilidade e, até, em que haja momentos de não fazer nada, isto é, em que predomine a flexibilidade com responsabilidade. 

3. As actividades de férias são um tempo de carácter fundamentalmente pedagógico e terapêutico. Brincar é o objectivo fundamental das actividades de férias. É um tempo de fazer experiências novas, de aprender a gostar ou não, de fazer novos relacionamentos e de perder outros, de fazer novos amigos, de conhecer outras culturas, aprender novos maneiras de ser e estar…

4. Outro aspecto fundamental das actividades de férias é o da segurança.* Os pais devem certificar-se de todos os aspectos de segurança que é possível controlar:
Se está garantida a segurança nos transportes.
Se a segurança na piscina, no rio ou no mar faz parte das metodologias das actividades e são realizadas com rigor. 
Se são calculados os riscos que envolvem determinadas actividades mais radicais.
Se estas actividades estão cobertas por seguros e têm apoio a nível da saúde.
Se os monitores são seleccionados, se são competentes e de confiança para trabalharem com crianças e adolescentes. 
E, como também tenho férias destas crónicas, desejo a todos os ouvintes e famílias umas óptimas férias, certamente desejadas e merecidas.
___________________________
*No âmbito dos fringe benefits, há serviços que desenvolvem actividades de férias para famílias e para vários grupos etários, como é o caso dos Serviços Sociais da Administração Pública.

Sem comentários:

Enviar um comentário