28/04/16

Muitas revoluções

O discurso do Sr. Presidente da República, Marcelo R. de Sousa, no dia 25 e Abril, na Assembleia da República, referia que:
A Revolução de 1974 e 1975 foi, também ela, feita de muitas revoluções. Olhando para os projetos das forças partidárias com assento na Assembleia Constituinte, é possível deparar com várias revoluções, a que se somaram as sonhadas por outras forças sem tal representação. E, como acontece sempre nos processos revolucionários, houve momentos em que a primazia parecia pender para um ou alguns desses projetos, para, logo a seguir, a correlação de forças favorecer projetos diversos. A Constituição da República Portuguesa, promulgada em 2 de abril de 1976, acolheu o compromisso possível entre diversas revoluções, depois de 25 de novembro de 1975. Esse compromisso viria a ser reformulado em sucessivas revisões, com especial relevo para as de 1982, quanto ao regime político e ao sistema de governo, de 1989, quanto ao regime económico, e de 1997, quanto a vertentes políticas e sociais.Mas, como um todo, a Revolução de 25 de Abril de 1974, na versão compromissória do constitucionalismo de 1976, acabou por abrir a Portugal o horizonte para quatro desafios cimeiros, que dominaram as décadas que se lhe seguiram.Descolonização, Democratização, integração europeia e construção de uma nova economia.
Este processo teve o seguinte saldo:
É injusto negar o que todos devemos ao 25 de Abril de 1974. É, no entanto, míope negar as desilusões, as indignações, as frustrações com a qualidade da Democracia, a debilidade do crescimento, a insuficiência do emprego, o aumento das desigualdades, a persistência significativa da pobreza. O saldo é claramente positivo, para quem tiver a memória dos anos 70. Mas pode começar a ser preocupantemente descoroçoante para quem só se lembrar dos anos 90 e da viragem do século. 
No entanto, há aspectos da vida que o 25 de Abril não mudou nem podia mudar quando as pessoas não querem mudar .
Vasco Lourenço define como bom tudo o que "cheira" a 25 de Abril,  como tal, acha que a associação a que pertence deve ir ao Parlamento, quando "não cheira", acha que deve ir para a rua… A falha da presença dos “militares de Abril" nas cerimónias oficiais do 25 de Abril, nos quatro anos anteriores, mostra o contrário da visão pluralista e consensual do Sr. Presidente da República sobre as várias revoluções presentes na revolução do 25 de Abril. E pede:
“Unamo-nos no essencial. Sem com isso minimamente negarmos a riqueza do confronto democrático, em que Governos aplicam as suas ideias e oposições robustecem as suas alternativas.”
E o que é o essencial ? O 25 de Abril como data histórica da unidade dos portugueses, sem excepção, onde caibam os partidos votados democraticamente. Ao contrário, a Associação 25 de Abril manifesta o caminho único, o do “cheiro" a Abril, porque lhes interessa uma história oficial do 25 de Abril, a dos donos, a deles. Tal como nos venderam a história oficial da 1ª república, de grande generosidade, de só querer o bem do povo, e assim é ensinada nas escolas, querem vender-nos a mesma receita para um único 25 de Abril: o "25 de Abril sempre".


As revoluções não mudam as pessoas, nem trazem o "homem novo". Trazem, na maioria dos casos, piores ditadores. Tão pouco mudam a vida das famílias. Basta recordar o que se passa na vida real: os problemas económicos, as dificuldades de emprego, a violência doméstica principalmente contra as mulheres, a falta de protecção de crianças e idosos, a insegurança, o crime,  o roubo, a falta de respeito pelas instituições democráticas, políticas, económicas e sociais, a corrupção atingiu níveis nunca vistos…

Para a mudança, é necessário trocar a falta de senso pelo bom senso, não "as emoções pelo bom senso",  e é necessária mais emoção na vida política, mas mais emoção positiva, tão importante para uma vida saudável.

24/04/16

Spitz na actualidade


A fotógrafa norte-americana Dayna Mager partilhou esta história: "Quando entrou numa enfermaria com mais de 100 berços, ficou chocado com o silêncio e perguntou a quem o acompanhava como era possível que um espaço com tantos bebés estivesse tão silencioso. "Depois de estarem cá há uma semana e de chorarem durante horas incontáveis, acabam por parar de chorar quando percebem que ninguém vem".
Há outros países onde a infância está em idênticas condições. Basta pesquisar "crianças orfãs" ou "orfanatos"...
Em 1951, René Spitz, publicou The Psychogenic Diseases in Infancy - An Attempt at their Etiologic Classification. Psychoanalytic Study of the Child.
Em 1952, registou a sua pesquisa em filme.


Spitz usa o termo "depressão anaclítica" para se referir a privação emocional parcial (a perda do objecto amado). Quando a criança volta a essa relação dentro de um período de três a cinco meses, a recuperação é rápida. 
Quando a criança é privada mais de cinco meses, os sintomas de deterioração são cada vez mais graves. Ele chamou isso de privação total de "hospitalismo ."
Neste estudo sobre "carência afectiva total", Spitz verificou que a separação traz sempre consequências funestas quaisquer que tenham sido as relações anteriores entre a mãe e a criança.
O estudo foi realizado com 91 crianças internadas num orfanato desde os 3 meses de idade,
- entregues aos cuidados de enfermeiras que tinham a seu cargo 10 ou mais crianças,
- do ponto de vista físico os cuidados dispensados às crianças eram perfeitos: habitação, higiene corporal e alimentos iguais ou melhores do que em outras instituições onde Spitz fazia outras observações,
- mas Spitz considera que cada uma delas recebia apenas a décima parte das “provisões afectivas maternas” que para Spitz significava uma carência afectiva total.
- O “sindroma do hospitalismo” seguia os mesmos estádios dos casos de “privação afectiva parcial”, agravando-se a partir do 4º, 5º mês após a separação. As crianças apresentavam as seguintes características:
-Letargia e descoordenação motora acentuam-se progressivamente,
- aparecem, em alguns casos, deficiências de coorenação ocular e posturas similares à catatonia,
- 37% das 91 crianças atinge o estado de apatia total ou de marasmo,
- Este estado conduziu à morte de 27 crianças no decurso do 1º ano de vida,
- Mais 7 no decurso do 2º ano.
A continuação do estudo manifestou o seguinte: 
- 4 crianças - não foi possível continuar a recolher informações,
- 32 foram colocadas em famílias adoptivas e instituições,
- 21 continuaram a viver ou sobreviver no orfanato;  continuaram a ser observadas por Spitz até aos 4 anos de idade.
Nível de desenvolvimento global, avaliado por diversos testes manifestou:
- atraso generalizado, em alguns casos nível de idiotia.
- Indicadores de desenvolvimento global com perturbações:
. desenvolvimento corporal,
. actividade de manipulação ou coordenação de movimentos,
. adaptação ao meio (domínio dos esfíncteres e correlativa aquisição de hábitos de limpeza),
. domínio da linguagem.
- Grupo de controlo
. Spitz observou crianças de outra instituição de natureza mais familiar e em que as crianças eram educadas pelas próprias mães
. Durante 4 anos, em 220 crianças não se registou nenhum caso de mortalidade.
Conclusão
a) A carência afectiva completa conduz à deterioração progressiva do desenvolvimento e que esta é directamente proporcional à duração da carência.
b) “A carência do afecto provoca uma paragem no desenvolvimento de todos os sectores de personalidade”.
c) “Tanto o sindroma do hospitalismo como a depressão anaclítica constituem prova irrefutável do papel fundamental que as relações objectais desempenham no desenvolvimento psicológico global”.

Graças, também, ao trabalho de Spitz foi possível registar grandes mudanças no acolhimento dado às crianças em todo o mundo mas 65 anos depois ainda há muito por fazer...


Minha doce criança (Sweet child o' mine)

Ela tem um sorriso que me parece
Trazer recordações da infância
Onde tudo era
Fresco como o límpido céu azul

Às vezes quando olho seu rosto
Ela leva-me para aquele lugar especial
E se eu fixasse meu olhar por muito tempo
Provavelmente perderia o controle e começaria a chorar

Oh, oh, oh
Minha doce criança
Oh, oh, oh, oh
Meu doce amor

Ela tem os olhos como os céus mais azuis
Como se eles pensassem em chuva
Detesto olhar para dentro daqueles olhos
E enxergar o mínimo que seja de dor

Seu cabelo me lembra um lugar quente e seguro
Onde, quando criança, eu me esconderia
E rezaria para que o trovão e a chuva
Passassem quietos por mim

Para onde vamos
Para onde vamos agora



20/04/16

"O meu melhor amigo é um cão" ?

Na infância praticamente todos temos um melhor amigo e essa amizade pode durar anos, às vezes toda a vida. Às vezes o melhor amigo pode ser um cão.
Winston Churchill tinha os seus cachorros Rufus.
Freud era acompanhado nas consultas pela sua cadela Jofie, da raça chow-chow. Freud dizia “Eu prefiro a companhia dos animais à companhia humana. (Porquê?) Porque são tão mais simples! Não sofrem de uma personalidade dividida, da desintegração do ego, que resulta da tentativa do homem de se adaptar a padrões de civilização demasiado elevados para o seu mecanismo intelectual e psíquico. O selvagem, como o animal, é cruel, mas não tem a maldade do homem civilizado. A maldade é a vingança do homem contra a sociedade, pelas restrições que ela impõe. As mais desagradáveis características do homem são geradas por esse ajustamento precário a uma civilização complicada. É o resultado do conflito entre nossos instintos e nossa cultura. Muito mais agradáveis são as emoções simples e diretas de um cão, ao balançar a cauda, ou ao latir expressando seu desprazer…" (Entrevista a George Sylvester Viereck).

Grouxo Marx em “Memórias de um pinga-amor” também escreve "o meu melhor amigo é um cão". E escreve isto por causa das más línguas que inventam histórias sobre ele. “ E agora inventaram que não gosto de cães. Pois quê, se tenho um amigo no mundo, é a minha cadela "Grand Danois” Zsa-Zsa. Há anos que somos absolutamente inseparáveis. Nos oito anos que temos estado juntos, Zsa-Zsa e eu nunca brigámos. É certo que de quando em vez ela me morde mas quando isso acontece eu mordo-a logo a seguir. Hei-de ensinar-lhe quem manda.
“Não gasto mais com o guarda roupa da Zsa-Zsa do que alguma vez gastei com qualquer garota e nem uma só vez ela me pediu uma coleira nova só porque o cão do outro lado da rua apareceu com uma coleira nova..." 
É de facto muito vantajoso ter um cão como melhor amigo. Ou pelo menos era assim até há pouco tempo. Parece que as coisas mudaram. Nos dias que correm os melhores amigos são ainda as pessoas, como é o caso dos políticos em que os melhores amigos são empresários. Isto é muito mais vantajoso do que um cão. O cão não tem interesses financeiros como os amigos humanos.
Os casos Panama Papers, Marquês, Lava Jato, assessorias especiais e muitos outros, revelam-nos que os melhores amigos estão dispostos a dar a camisola e também a terem uma conta bancária em nosso nome, muitas empresas em nosso nome e não ganham nada com isso. O nosso melhor amigo empresário ou político está para tudo e por tudo.  Os melhores amigos sabem tudo da nossa vida, têm procurações nossas, levam e trazem dinheiro vivo nosso ou deles, tanto faz. É a pessoa em quem nós mais confiamos, mais do que na própria família. O nosso melhor amigo sabe os nossos segredos mais íntimos e que segredo mais íntimo pode haver do que aquele que tem a ver com o "nosso" dinheiro?
Que saudades do tempo em que a moral andava pelos "amigos, amigos, negócios à parte!"

14/04/16

"Envelhecimento e violência"

Teresa Abecasis , Rodrigo Machado (ilustrações e gráficos), "Violência contra idosos. Quando a solidão é não poder dizê-la", 05 Abr, 2016:
"...
Não há muitos dados sobre a violência contra idosos em Portugal. Os dados da APAV relativos a 2015, recentemente divulgados, mostram uma subida no número de denúncias: no ano passado registaram-se mais de dois casos por dia contra vítimas com mais de 65 anos (977 no ano inteiro, mais 125 do que em 2014). Números alarmantes, que a associação acredita estarem ainda aquém da realidade.
...
O único estudo feito em Portugal sobre o tema também aponta para valores mais significativos: estima que um em cada dez idosos com mais de 60 anos seja vítima de violência por parte de pessoas conhecidas (12,6%, de acordo com o projecto “Envelhecimento e Violência”, coordenado pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, publicado em 2014).De acordo com estes dados, mais de 300 mil idosos foram vítimas de violência no espaço de um ano, entre Outubro de 2011 e Outubro de 2012.
Entre as vítimas, outro número salta à vista: mais de metade não falou sobre o caso nem apresentou queixa (64,9% das vítimas). E é aqui que a situação fica mais complicada."
...
As violências financeira e psicológica são as mais frequentes em Portugal e estima-se que afecte 6,3% da população com mais de 60 anos (relatório “Envelhecimento e Violência, 2014). Nas pessoas com idade superior a 76 anos, o risco de ser vítima aumenta 10% por cada ano de idade.
Estes são também os tipos de violência que são mais difíceis de identificar porque não deixam marcas visíveis, ao contrário da violência física.
..."

13/04/16

Alter ego

Moldura oval bronze
Há vários tipos e formas de contratação de pessoal na função pública. Fiquei a saber que pode haver mais uma: a contratação alter ego.
11/4/2016 - Gabinete de Costa garante que direção-geral aprovou contratação de Lacerda Machado. Trata-se de um pró-forma para verificar que nenhum funcionário público pode fazer o trabalho do conselheiro especial.
11/4/2016 - Começou por “colaborar” com Costa ou “dar uma ajuda” ao amigo. Tudo informal, mas, para o primeiro-ministro, tudo normal. Agora, já com um contrato escrito, Diogo Lacerda Machado é o representante do Estado em vários dossiês em que o Governo negoceia ou dialoga com privados.
Esteve na negociação com a TAP para renegociar a privatização, no BES para mediar as conversações com os lesados e no BPI para fazer a ponte entre os espanhóis do CaixaBank e dos angolanos da Santoro.

Para que serve o Ministério da Economia, para não falar no das Finanças ? Então não há lá quem faça este trabalho ?

Mas há mais e mais grave.

E também "falta de transparência e rigor na gestão da coisa pública".



"A idade é uma escolha"

Jane Fonda veio falar do envelhecimento activo e saudável, numa conferência designada “A idade é uma escolha”. Embora se trate de  uma campanha publicitária e de marketing - Age perfect - o que é importante é a oportunidade para falar do envelhecimento activo.
Todos admiramos as pessoas que como ela, com o decorrer da idade, mantêm uma vida activa muito relevante, mais social, como é o caso, ou mais escondida como é o da maioria dos cidadãos.
A Organização Mundial da Saúde define Envelhecimento Activo como o processo de optimização das oportunidades para a saúde, participação e segurança, para melhorar a qualidade de vida das pessoas que envelhecem. (WHO, citado por Francisco George, D-G da Saúde).
Neste âmbito, é incentivada a criação de projectos a nível das comunidades locais. Efectivamente, podemos criar muitos projectos para melhorar a vida activa das pessoas idosas mas, acima de tudo, há uma maneira de ver que tem de ser mudada para passar a ser uma maneira de ver os idosos como parte de um mundo inclusivo.


Escreve Maria Filomena Mónica que “A ideia de que apenas nos “lares” são os velhos maltratados é errada. A maior parte da violência passa-se, como sempre se passou, no interior da família: o número de crimes denunciados em que a vitima tem mais de 65 anos aumentou em anos recentes. São pessoas como nós, com vidas «normais», que espancam os pais e os avós… “ (A morte, pag. 50)
Vivemos num mundo globalizado, como mostra a conferência de Jane Fonda, mas importante é que esse mundo globalizado seja um a mundo inclusivo, um mundo amigo das pessoas idosas. Ora um mundo amigo das pessoas idosas “É um lugar que permite que as pessoas de todas as idades participem activamente nas actividades da comunidade. É um lugar que trata todos com respeito, independentemente da sua idade. É um lugar que torna mais fácil manter-se ligado às pessoas que estão à sua volta e àqueles que amamos. É um lugar que ajuda as pessoas a manterem-se saudáveis e activas mesmo nas idades mais avançadas. E é um lugar que ajuda aqueles que já não podem cuidar de si mesmos a viverem com dignidade e prazer.” (WHO)
Passei a minha vida profissional a defender um mundo amigo das crianças: Sempre percebi que a qualidade da infância significava também a qualidade da vida em todas as idades. O currículo universal de aprendizagem (UDL) é isso mesmo (David Rose): criar todas as condições para a inclusão de todas as crianças na escola.
Uma cidade amiga das pessoas idosas significa que eliminamos as barreiras físicas, arquitectónicas, para todos: crianças, pessoas com deficiência, grávidas, idosos, pessoas com saúde mais frágil ou doentes.
É uma cidade que cria percursos pedonais, ciclovias, paragens de autocarro sem barreiras, assim como autocarros com segurança para todas as pessoas: para os alunos que vão para a escola, para as mães que vão ao centro de saúde ou para os idosos que vão ao centro ao dia...
Mas muitas barreiras resultam simplesmente da maneira como pensamos o envelhecimento e da nossa forma de ver e tratar as pessoas mais velhas. A eliminação destas barreiras sociais e psicológicas é mais difícil mas não custa um cêntimo.

11/04/16

As minhas serigrafias: Eurico Gonçalves


Eurico Gonçalves - Luz Oblíqua

Técnica: Serigrafia
Suporte: Papel Fabriano D5 GF 210g; Dimensão da Mancha: 41,7x31 cm ; Dimensão do Suporte: 70x50 cm
N.º de cores: 10
Data: 1995
Nº de Exemplar: 43/200


Biografia
Nasceu em 1932, em Abragão, Penafiel. Exercendo a sua actividade sobretudo na área da pintura, é também professor e crítico de arte, membro da A.I.C.A.. Neste âmbito, tem publicado vários artigos que versam sobre temáticas como a Expressão Plástica das Crianças, o Dadaísmo, a Filosofia Zen ou a Escrita. Em Paris, foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, entre 1966 e 1969. Em 1971 recebeu uma Menção Honrosa do Prémio Crítica de Arte Portuguesa, pela Soquil. Entre 1972 e 1992, foi membro dos Corpos Directivos da S.N.B.A (Sociedade Nacional de Belas Artes) e actualmente é membro da A.I.C.A. (Associação Internacional de Críticos de Arte). Em 1998 recebeu o Prémio Almada Negreiros e, em 2005, o Grande Prémio da Bienal de Vila Nova de Cerveira. Autor dos livros: Narrativas de Sonhos e Textos Automáticos (1950-51), editado pelo CPS, 1995; A Pintura das Crianças e Nós - Pais, Professores e Educadores, 1978; A Arte Descobre a Criança e a Criança Descobre a Arte (4 volumes); e Dádá-Zen/Pintura-Escrita, 2005. No seu percurso artístico, conta com uma fase inicial surrealista, originária das teorias freudianas na vertente do fantástico, evoluindo depois para um asbtraccionismo não-geométrico e gestual, que valoriza, portanto, a mancha e o traço livre e impulsivo. Esta pintura tem o intuito, como o próprio artista disse em 2003 de “reduzir-se a pouca coisa ou quase nada, em função do vazio libertador”.

 Eurico Gonçalves
Um blog sobre Eurico Gonçalves.
Eurico Gonçaves dá o seu nome a uma escola básica, merecidamente.



Foi com Eurico Gonçalves que aprendi muito sobre a expressão gráfica na infância. Com os seus livros: A arte descobre a criança  e A pintura das crianças e nós - pais, professores e educadores mas também com a sua capacidade de formador na área da expressão gráfica.
Em determinada altura da minha vida profissional, como psicólogo nos Serviços Sociais da Presidência do Conselho de Ministros (SSPCM), uma das tarefas que me competiam era a participação no projecto de organização e gestão de campos de férias e actividades de férias e, especificamente, no recrutamento e selecção de monitores de campos de férias  e na formação desses monitores. EG foi escolhido para formador da área de expressão plástica. Era deslumbrante a sua comunicação sobre a pintura moderna e a arte infantil. Era exigente com os formandos que nem sempre se esforçavam o que deviam sobre as composições que lhes eram propostas.
Foi, para mim,  um privilégio ter tido a oportunidade de ver de perto a sua forma de trabalhar como pedagogo. Estivemos no seu atelier nos Coruchéus e não me esqueço da sua empatia.

09/04/16

A construção da memória da família

As férias, os aniversários e outras datas relevantes, são a oportunidade para reunir a família numa maior proximidade, em que estão presentes boas e más recordações. É nessas alturas que revivemos memórias familiares, especialmente as mais profundas que vêm da infância e da adolescência e os esquecimentos que de alguma forma se podem tornar conscientes pela interacção da comunicação intrafamiliar.
É fácil verificarmos como nos esquecemos de acontecimentos e de vivências familiares. Muitas histórias passadas há anos são agora apenas uma lembrança desfocada daquilo que na realidade aconteceu, uma lembrança optimista ou pessimista do que se passou. O tempo desfez os pormenores mais dolorosos os mais difíceis de suportar, ou não, tornando-os em ressentimentos sem fim ou tornando-os em memórias felizes e de grande euforia. A interpretação desses episódios é ainda mais interessante: muitas vezes não há coincidência entre a interpretação dada pelos pais e pelos filhos.
Por outro lado, temos a lembrança encobridora (Freud): recordamo-nos de algo aparentemente irrelevante mas que nos permite compreender outras experiências mais profundas.
A forma como os pais educaram é muitas vezes vista pelos filhos como não sendo assim, na sua realidade, dado que as emoções que estiveram associadas às acções praticadas não foram valorizadas da mesma forma, nem podiam ser, uma vez que os estatutos e papéis de pais e filhos na relação educativa são diferentes e, assim, desvalorizamos uns factos e relevamos outros.
A memória da família é constituída pelas memórias de cada pessoa que a integra no contexto conhecido e partilhado por todos mas ficamos surpreendidos quando sobre a mesma história não há coincidência. A memória da família é o conjunto dessas memórias, a cultura da família, o conjunto de narrativas, verdadeiras e falsas, felizes ou dolorosas.
Podemos perguntar, por exemplo, como é que educou os seus filhos: com agressividade, violência, ou foi estilo laissez-faire e passivo ? Acha que os seus filhos concordam com a sua perspectiva ? Teria educado de outra forma ? Onde, afinal, errou ? 
Pensa que foi um bom educador e isso corresponde à imagem que os seus filhos têm de si e às várias circunstâncias (estádios de desenvolvimento) da educação? Até que ponto os obrigou a escolher um curso académico ou uma profissão? Como influenciou as escolhas dos namorados/as? Como reagiu ao seu primeiro emprego, ou à suas dificuldades em encontrar emprego ?
Obviamente, a influência dos pais é fundamental na educação dos filhos. Há pais que, de facto, não sabem o que fazer e acham que devia ser a escola a educá-los a serem cidadãos. É descartar o grande poder que os pais têm na modelagem (Bandura) ou na aprendizagem por condicionamento de ordem superior, como dizem os behavioristas.
As memórias da família são construídas na infância e adolescência. Mas elas também influenciam o futuro. A construção de boas memórias é responsabilidade dos pais e, mais do que qualquer outra influência positiva, a educação emocional (Erika Brodnock) é a mais importante: como saber lidar com as emoções, alimentar a auto-estima, saber como funciona o nosso cérebro, estimular a criatividade…

06/04/16

O alfaiate do Panamá

Gosto do filme "O alfaiate do Panamá" à conta de Jamie Lee Curtis que depois de "Um peixe chamado Wanda"(1988), passou a fazer parte do grupo de actrizes que me interessam.
O roteiro é baseado num romance de John Le Carré. Conta a história de um alfaiate que possui contactos com as pessoas mais importantes do país. Galinha fina é outra coisa. Qualquer semelhança com The Panama Papers é mera coincidência.