23/11/11

" Rumos novos, contos velhos"

A gerontocracia é uma forma de poder oligárquico em que uma organização é governada por líderes que são significativamente mais velhos do que a maior parte da população adulta. Por vezes, aqueles que detêm o poder não ocupam formalmente as posições de liderança, mas dominam quem as ocupa.(Wikipedia).


Com Szent-Györgyi (cap. XII d' "O macaco louco"), podemos pensar na gerontocracia:
... só no inicio da vida se podem implantar noções no cérebro; mais tarde o cérebro endurece e deixa de ser maleável.
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No homem, esse endurecimento cerebral parece ocorrer cerca da quarta década; depois dessa idade o cérebro é cada vez mais incapaz de assimilar novas ideias...
O nosso mundo actual é uma gerontocracia, dominado por pessoas cujos cérebros endureceram antes da era atómica. Tomam medidas que poderão ter sido acertadas antes desta era, mas que já não se aplicam à nova ordem.
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Segui atentamente pela televisão a convenção democrática e a republicana de 1968. Três coisas me saltaram aos olhos. Primeiro, não vi jovens. 55 % das pessoas do mundo de hoje, a maioria portanto, têm menos de 30 anos.
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Somos uma gerontocracia. A gerontocracia é um bom sistema em épocas de evolução lenta e quando o principal problema é a preservação dos valores, mas torna-se muitíssimo perigosa em períodos de evolução rápida, como o actual, em que a existência do homem depende da sua capacidade de se adaptar e de criar um mundo novo.
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O segundo aspecto em que reparei, nas duas convenções nacionais do Verão de 1968, foi que não houve debates sobre princípios de governo nem sobre qualquer dos grandes problemas do nosso tempo. Tratava-se meramente de poder, de quem estaria «dentro» e de quem estaria «fora».
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Os nossos partidos políticos, que foram criados para estabelecer e apoiar os princípios de governo, tornaram-se nada mais que instrumentos de ambição pessoal.
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A terceira coisa que observei foi que não havia mulheres nas convenções. Onde estavam as mulheres ? As mulheres são mais sensatas do que os homens e os seus votos são tão bons como os deles. Além disso, são elas quem produz a carne para canhão.
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Segundo parece, a gerontocracia busca o futuro no passado.
É disso que se trata aqui. A gerontocracia no seu pior. Concedo: tem um ou outro jovem e uma ou outra mulher mas também no seu pior.

A escola e a perversidade das boas medidas




A obrigatoriedade da escola básica é em si uma medida que não se deve contestar. Porém muitas questões ficam por esclarecer.
Com o alargamento da escolaridade obrigatória para 12 anos poderá haver ou não graves implicações na vida dos alunos e das famílias?
Quais são os benefícios e quais as desvantagens ?
Parece não haver grandes dúvidas de que foi um grande disparate e demagogia ter acabado com o ensino técnico-profissional e que seria tempo de (re)criar as escolas técnico-profissionais em que o subsistema estatal e o subsistema particular pudessem oferecer cursos alternativos aos alunos.
O que acontece é que, actualmente, não há as respostas necessárias aos alunos e às suas necessidades. Nem todos os alunos têm capacidades para frequentarem o ensino secundário ou não o querem frequentar por motivos culturais, familiares ou pessoais.
Entretanto, o ME fez sair um despacho sobre a avaliação no ensino básico,  em que o 6° ano de escolaridade vai passar a ter exames, em nome do rigor, da exigência e contra o facilitismo.
Sou de opinião de que deve haver exames nos finais de ciclo mas também de que é importante (que para além dos exames se modifiquem as condições escolares de forma a poderem ser superados os consequentes constrangimentos.
Não há dúvidas de que, como aconteceu no 9° ano, no 6° ano vão aumentar as retenções. Aliás não foi exactamente para isso que foram introduzidos os exames? Para seleccionar os que atingem os objectivos do currículo e os que não atingem ?
Penso que este não é o único objectivo do sistema e da avaliação. Certamente que a par da exigência também se tem como objectivo o cumprimento da escolaridade obrigatória.
Sei do sofrimento de alguns alunos que chegados aos 16 anos, sem terem completado o 9°  ano, querem deixar a escola e começar a trabalhar. Não querem ir à escola mas como são obrigados não têm outro remédio.
Escusado será dizer qual vai ser o seu comportamento, a sua falta de interesse, que, após o lento  arrastar-se pelos corredores da escola, acaba em abandono.
O risco de abandono vai ser maior, se, a par da exigência, não tomarmos outras medidas.
Podemos com alguma angústia perguntar o que vai acontecer aso alunos que ficam retidos ? O que vai acontecer aos alunos com NEE ?
É por isso que todo o sistema é incoerente.
Em primeiro lugar, porque as reformas vão no sentido da diminuição dos recursos humanos e esse é um dos graves problemas.
Depois, porque não se faz orientação escolar mais cedo do que no final do 9° ano.
Porque é incoerente uma lei dizer que se pode trabalhar aos 16 anos e outra dizer que se deve andar na escola até aos 18 anos.
E finalmente porque um só currículo não é suficiente para responder às necessidades dos alunos e da sociedade.
Queremos exigência mas também coerência.

18/11/11

Dislexia

Motivação de sucesso: o melhor prémio


O ME anterior instituiu prémios pecuniários para os melhores alunos do ensino secundário.
O actual ministro acabou com o prémio pecuniário individual atribuindo esse valor à escola para dotação de recursos educativos.
Discutiu-se muito sobre o actual ministro ter acabado com a verba de 500 euros para o melhores alunos do ensino secundário.
Podemos concordar que o timing foi de facto desajustado. Para além disso, não vejo motivo para não terminar com o prémio pecuniário individual.
Alguns "indignados" resolveram, mesmo assim, dar o prémio não do seu próprio bolso mas através da angariação de fundos ou de organizações que contribuíssem para a entrega dos prémios reparando o que no seu entender foi uma tremenda injustiça.
O que é interessante é que alguns foram pedir essas verbas a instituições que directa ou indirectamente dependem do estado.
Cada um é livre de fazer o que entenda. Os "indignados" fizeram muito bem e espero que o continuem a fazer nos próximos anos ! Mas seria mesmo bonito se dessem os prémios do seu próprio bolso !
Porém, entendo de outro modo: sou favorável à existência do dia do diploma ou o dia da graduação que em si próprio é o reconhecimento social de uma competência adquirida pelas novas gerações. Mas o prémio de mérito não passa necessariamente pelo dinheiro nem o reconhecimento social depende disso.
Atribuir prémios pecuniários não é de facto a melhor maneira de educar.
E o que pensar de atribuir prémios apenas às competências cognitivas ? Por que não há prémios para o esforço, para os comportamentos e atitudes cívicas e para a solidariedade ? Porque não há prémios de mérito para os alunos do 9º ano ? Ou para os alunos da universidade ?
Parece por isso uma medida ao acaso e até mesmo arbitrária.
A motivação de sucesso é essencialmente uma motivação intrínseca, isto é, o que motiva o sujeito para a realização da tarefa é o sentimento de competência e autodeterminação (Deci) que lhe proporciona a realização dessa mesma tarefa.
A tarefa do aluno é trabalhar para conseguir realizar as suas tarefas com sucesso sem necessitar de outros prémios como os pecuniários.
Precisamos de pessoas que lutem pela superioridade num campo apenas do interesse da realização e não pela recompensa material.
Não é de somenos importância acrescentar que os resultados do secundário são os que conhecemos do ranking mas também sabemos que esses resultados dependem de explicações e de outros factores não considerados.
É por isso que alguns alunos apresentam apenas motivação extrínseca e ganhar dinheiro é a finalidade da vida.
É por isso que é tão importante saber o que nos motiva. E é importante que o façamos desde cedo.
Se soubermos aprender que a motivação é o fundamental da vida podemos compreender a frase de Confúcio: “Descobre o que gostas de fazer e nunca mais precisas de trabalhar.”

14/11/11

Acidente

"A biografia "Van Gogh: The Life", que chegou hoje ao mercado britânico segundo a edição da BBC na Internet, é assinada por Steven Naifeh e Gregory White Smith, que passaram dez anos a esmiuçar a vida do pintor holandês e a contactar tradutores e investigadores.
Vincent Van Gogh morreu em França em 1890, aos 37 anos, e até agora vingava a teoria de que se terá alvejado num campo de trigo em Auberge Ravoux e que morreu dias depois por causa do ferimento.
Agora os autores da biografia garantem que Van Gogh não foi para os campos e trigo para se suicidar e que foi atingido acidentalmente por dois jovens que manejavam uma arma com problemas de funcionamento.
Van Gogh terá encoberto a história para não denunciar os rapazes, que possivelmente seriam acusados de tentativa de homicídio, e atribuiu a si a culpa do disparo, sublinham os biógrafos, que investigaram dezenas de cartas do artista que estavam por traduzir.
Para os dois autores, Van Gogh não procurava a morte, mas aceitou-a, num momento em que passava por dificuldades, não vendia as obras que criava e estava a ser financiado pelo irmão."(Lusa).
Pronto, corrijam lá a biografia e os manuais. Também não será por isso que starry, starry night  (Vincent) de Don McLean   deixará de ser belíssima.

10/11/11

Da recusa escolar à motivação de sucesso

Vejo com alguma frequência alunos que mostram desinteresse pela escola. O leque do desinteresse e da desmotivação é grande: vai da pouca vontade de estudar, fazer os tpc, até à recusa da escola e ao seu abandono.
Ouvimos muitas vezes aos pais: não sei como hei-de fazer para que se interesse pela escola, segue a lei do menor esforço, é preciso dizer-lhe mil vezes para estudar,  nunca faz o que lhe mando fazer...
Para os psicólogos, professores e  pais há dificuldade em compreender porque é que uma criança recusa a escola. Não compreendemos porque é que uma criança aparentemente tem todas as condições materiais para viver sem problemas que, afinal, não gosta de nada, não quer fazer nada.
Reconhecendo que são problemas complexos e de difícil solução, podemos tentar compreender o que se passa com a desmotivação destas crianças.
A recusa escolar pode dever-se a fragilidade psicológica da criança relacionadas com agressões como o bullying, experiências de ridículo, críticas, ameaças, lesão  física ou lutas  com outras crianças ou com professores ou adultos demasiado opressivos e punitivos que possam afectar a vida escolar da criança.
São factores externos que podem explicar a situação de recusa. Assim como as mudança  de escola,  estar com muitas crianças numa escola muito grande; o medo dos testes e exames e  medo do insucesso escolar
Acontece  que, geralmente, há factores que predispõem para a recusa escolar que partem da própria família:
- existência de ansiedade ou de depressão nos pais,
- superprotecção e dependência  em relação aos pais,
-  angústia de separação na criança, relação muito estreita da mãe com a criança e relação distante com o marido,
- medo da separação dos pais,
- ciúmes exagerados de um irmão,
- expectativas dos pais face às expectativas da criança: há  pais com expectativas  pouco realistas sobre o rendimento escolar da criança, com exigências de cumprimento de objectivos difíceis de alcançar,
- pais que valorizam  pouco a educação escolar ou que têm atitudes negativas para com a  escola.
Alguns pais reforçam a conduta de recusa de ir à escola devido, por exemplo, ao seu estilo educativo superprotector ou obtêm algum benefício de que as crianças fiquem com eles (como no caso de algumas mães com fobia social).
Além disso, reforçam positivamente os filhos quando  ficam em casa porque  têm mais atenção, mimos, ver TV, realizar jogos no computador, levantar-se tarde.
Pode também acontecer que  a criança se sinta reforçada quando anda na rua com colegas, geralmente mais velhos e também desinteressados da escola.
Os factores são imensos e temos dificuldade em determinar quais deles são essenciais para desencadear a recusa escolar.
E continuamos a fazer a pergunta: Porque é que estas crianças não evoluem no seu comportamento para a motivação de sucesso e para a competência ?
A motivação para a competência é um impulso básico de todos os seres humanos que leva a  poder desenvolver um controlo  sobre o meio  em que vivem.
Algumas crianças parece que não querem o caminho que segue a maioria para  atingir o sucesso. E a sorte ou o destino não explicam tudo.  Não será preferível mudar alguns comportamentos familiares ?

04/11/11

Escola pública, explicações privadas: o que o ranking não avalia

A realidade da escola estatal tem sido mistificada de vários modos. O ranking das escolas do ensino secundário é disso um exemplo. Aquilo que aparece no ranking não são os resultados da escola estatal, são os resultados da escola estatal mais os resultados das explicações. Normalmente a comunicação social não fala disso.
Um grupo de investigadores da Universidade de Aveiro, no âmbito de um estudo sobre este assunto, em Portugal, destaca alguns aspectos desse estudo:
- percentagem  elevada de alunos do ensino secundário que recorrem a explicações;
- percentagem de procura superior nos grupos de maior poder económico e com habilitações académicas mais elevadas;
- oferta mais elevada nos meios urbanos do que nos rurais;
-  procura mais elevada nas disciplinas que conduzem a cursos superiores com melhor estatuto social e maior empregabilidade.

"Os resultados de uma investigação de Costa, Ventura e Neto-Mendes (2003) em quatro escolas secundárias mostraram que na escola mais bem colocada no ranking nacional, 72% dos estudantes usufruíram de explicações, enquanto na escola mais mal posicionada  no ranking menos de metade dos alunos tiveram apoios para além das aulas." *

Não deixam de ser interessantes os motivos do recurso às explicações, apresentados no gráfico seguinte incluído no trabalho de T. Silveirinha *



Não finjam que não existiu


No final do documentário sobre o 11 de Setembro é referido: "agora não finjam que não existiu".
A memória é de facto curta e espera-se algum tempo para que o esquecimento faça o seu trabalho.
A democracia é a possibilidade de alternativas, de alternâncias, de lideranças democráticas substituíveis e de rejeição absoluta dos chamados líderes carismáticos insubstituíveis.
A ideia de que há políticos insubstituíveis, como no governo anterior, afinal, não passava de realidade de teleponto culminando nessa indução religiosa “vocês estão comigo?, precedida do congresso de fidelização de 93,3%.
Em 5 de Junho houve mudança porque, felizmente, muitos cidadãos lutaram democraticamente para que ela fosse possível. Personalidades independentes, como Medina Carreira e António Barreto deram um contributo inestimável à democracia participativa.
A mudança não veio daqueles que na véspera de 5 de Junho ainda afirmavam que Sócrates era a pessoa indicada para continuar na liderança. Mário Soares, num comício no Porto, deu três evidências para manter Sócrates no poder: "ganhou uma experiência excepcional, tem amigos na Europa e conhece toda a gente".
O país pode dever muito a Soares mas não lhe deve certamente o afastamento de Sócrates. 
Parece evidente que, afinal, há líderes políticos, mais competentes, técnica e politicamente, neste país, como haverá quando este governo cair porque é próprio dos governos, em democracia, chegarem ao fim. Os que não caem é porque são “uma nódoa e só saem com benzina” (Eça). O pior como temos visto ultimamente, é quando a queda se faz de forma trágica para os próprios e  para os povos quando um líder tido por carismático se prolonga no poder décadas a fio.
Era necessário algum ar fresco, no estilo, mas também na humildade democrática, no diálogo, na ausência de tiques autoritários, na governação para as pessoas, numa gestão sem confrontos inúteis e, principalmente, na verdade: não há possibilidade de sustentar o apregoado estado social que o neo-socialismo pensa que é ilimitado.
A ideia de que o poder é temporário e de que o pensamento único e unânime é pernicioso e, por isso, o poder deve ser questionado, principalmente quando é de maioria, deverá ser o normal numa democracia.
A crítica interna, é fundamental: o actual poder não sabe a sorte que tem quando é criticado livremente, com mais ou menos razão, de forma mais estruturada ou não, por pessoas como Pacheco Pereira, Marcelo Rebelo de Sousa, Santana Lopes, Ferreira Leite, Cavaco Silva, etc. 
A crítica e todo o contraditório que existe na sociedade, são a essência da vida democrática. Não há ninguém acima da lei e também não há ninguém acima da crítica, muito menos dentro do poder.
“Precisamos de dirigentes que saibam correr riscos e tomem decisões, mas também precisamos que admitam os seus erros”, David Owen.
Gosto das “notas” de PP Coelho e de quando não as segue. No dia em que começar a usar o teleponto por/para tudo e por/para nada começará o fingimento e a decadência.
Afinal, havia outra… politica e maneira de a fazer. Mesmo que as dificuldades sejam imensas.
A memória é curta mas desta vez que leve muito tempo até fingirem que não existiu...

03/11/11

Motivação e força de vontade

Capa de Marta Teixeira

Hoje de manhã custou-me levantar da cama. Há dias em que não nos apetece fazer nada. Ou porque estamos mais cansados ou pura e simplesmente porque não temos força de vontade para tomar decisões para fazermos alguma coisa.
Quando se fala do problema da força de vontade associa-se imediatamente aos jovens e à educação da força de vontade. Partindo do princípio de que os adultos têm esse assunto da força de vontade resolvido, isto é, os adolescentes têm que ser educados porque os adultos já têm isso adquirido.
Educar a vontade é entendido por alguns educadores como a criança ou o adolescente deve “fazer a nossa vontade”. E educar a vontade será treiná-la para fazer a vontade do adulto, aprender a obedecer ao adulto. A aprendizagem da obediência é importante desde que não se retire a autonomia, a iniciativa e a criatividade. E, acima de tudo, que a criança não perca a capacidade de autocontrolo, isto é, que não aprenda que faça ela o que fizer vai sempre fracassar.
Não nos devemos esquecer que a adolescência passa por períodos em que a falta de vontade é mais uma característica do que propriamente uma patologia.
O aborrecimento próprio da adolescência deve apenas indicar-nos que o adolescente se está a desenvolver normalmente e que essa falta de decisão é própria do desenvolvimento.
É necessário entender quando o quadro de aborrecimento e de falta de vontade pode configurar alguma patologia, como acontece quando o rendimento escolar é fraco e o desinteresse por tudo o que o rodeia é assinalável.
Quem tem filhos adolescentes, ou trabalha com adolescentes sabe que não podemos confundir estas situações. Eles cansam-se facilmente, sentam-se frequentemente em situações que requerem actividade física, não lhes apetece nada…
Claro que devemos excluir qualquer problema de saúde. No campo psicológico devemos distinguir o que faz parte do desenvolvimento daquilo que pode ser perturbação. Podemos estar no campo da abulia que é uma incapacidade de tomar decisões ou, o que é mais frequente, da hipobulia ou diminuição da vontade.
A perspectiva da psicologia positiva trata a vontade como uma força que significa sermos capazes de fazer o que devemos e termos força para conseguir atingir os objectivos.
Para isso, necessitamos de ter talento e forças mas devemos distingui-los. O talento pode ser grande mas de facto não ser activado porque as forças não são suficientes. E muita gente desperdiça os talentos que tem.
Obviamente que as coisas prazerosas ou a passividade não requerem grande força de vontade.
Como as actividades difíceis reclamam a força de vontade, estas forças são também consideradas virtudes. Mas hoje falar de virtude entendida como aquilo que não é fácil de realizar, que necessita de esforço e de aplicação, não está na ordem do dia….
Contra a corrente, alguns psicólogos, como Seligman, vêm falando de virtudes e de forças de carácter. Propõe uma classificação de vinte e quatro forças, tais como: a curiosidade, o gosto pela aprendizagem, o pensamento crítico, a bondade e generosidade, apreciar a beleza, a gratidão e o prazer…
Temos apenas que descobrir quais são as nossas principais forças e é nelas que deve assentar o nosso projecto de vida.

01/11/11

Viver no passado *

Ensinaram-nos que a nossa vida depende do nosso passado. Na escola e na universidade os estudos que fizemos passavam por compreender alguns autores que fundamentavam a nossa vida com o nosso passado.
De tal modo que essa passou a ser a crença de muita gente levando a que continuemos a viver como se tudo dependesse do nosso passado.
Por isso quase não questionamos essas grandes teorias defendidas por três grandes autores que sem dúvida marcaram o último século: Darwin, Marx e Freud.
Para Darwin somos o resultado de uma evolução de milhões de anos em que o que somos é uma colecção de características adaptativas que foram sobressaindo ao longo do tempo como  resultado da adaptação às condições ambientais.
Para Marx haveria a luta de classes da qual havia de resultar a vitória do comunismo sobre o capitalismo e uma sociedade sem classes.
E para Freud haveria também um determinismo uma vez que a nossa vida adulta dependeria do nossa infância.
Em termos genéticos, evolutivos ou sociais, estaríamos dependentes do nosso passado.
Sem dúvida há muito de verdade nestas premissas e os contextos do nosso passado influenciam a nossa personalidade no presente e no futuro. Mas o que é determinante ?
Aquilo que está a acontecer à nossa sociedade é porque as nossas instituições não só sofrem a influência do passado mas vivem no passado. São instituições dos século XIX e da primeira metade do século XX.
O sindicalismo tem desenvolvido  acções, greves por tudo e por nada, lutas  em relação a todas as matérias: politicas, sociais, económicas, de gestão, de legislação, etc… mas não se liberta desta visão determinista.
O sindicalismo não quer apenas defender os direitos e interesses dos trabalhadores na relação empregador-empregado  mas  faz parte da luta política: derrubar o governo que está, actual ou outro qualquer, lutar contra as políticas principalmente as  que eles consideram de direita, mesmo quando estão partidos socialistas no poder.
A política de direita deve ser eliminada porque é responsável por tudo o que de mal acontece à sociedade e a luta deve continuar – a luta contínua ou a luta continua -  até um dia termos uma sociedade sem classes. Nessa altura, chegamos ao absurdo de, nessa sociedade, não haver sindicatos ou ficarem com um papel coadjuvante  do capitalismo de estado. Isto é, os sindicatos lutam pela sua própria extinção.
Não lhes interessa propor medidas positivas para resolver os problemas das organizações e das empresas. E muitas vezes algumas soluções vêm mais do colectivo de trabalhadores do que propriamente dos sindicatos que vivem, de facto, do e no passado.
Viver no passado é pensar que é bom deixar extravasar as  emoções sob pena de elas ficarem reprimidas e serem prejudiciais para a saúde.
A raiva deve sair para a rua. A greve geral é prioritária. Contra a violência das medidas do governo, o que lhes ocorre é a greve geral.
Mas estão a ser ultrapassados pelos "indignados", "sentados" ou "ocupas", alguns mais agressivos, espatifando equipamentos públicos ou propriedade privada. Manifestam, assim, comportamentos de raiva pensando que haverá algum benefício, no futuro, para a sociedade ou para a sua qualidade de vida.
É exactamente o inverso.
As pessoas que manifestam mais raiva e se exprimem com mais agressividade são as pessoas que vão ter mais  problemas de saúde, como problemas cardíacos.
É por isso que são tão necessárias as emoções positivas neste momento. Se não voltadas para o passado como a  satisfação, contentamento, orgulho e serenidade, que sejam as voltadas para o futuro: optimismo, esperança, confiança e fé e as voltadas para o presente: as gratificações do dia a dia.

Inspirado em Seligman, M.(2007), Felicidade Autêntica - os princípios da psicologia positiva, pag.91-97

Para além da crise e dos especuladores

As primeiras cegonhas chegaram, ontem, a Castelo Branco.