23/11/11

A escola e a perversidade das boas medidas




A obrigatoriedade da escola básica é em si uma medida que não se deve contestar. Porém muitas questões ficam por esclarecer.
Com o alargamento da escolaridade obrigatória para 12 anos poderá haver ou não graves implicações na vida dos alunos e das famílias?
Quais são os benefícios e quais as desvantagens ?
Parece não haver grandes dúvidas de que foi um grande disparate e demagogia ter acabado com o ensino técnico-profissional e que seria tempo de (re)criar as escolas técnico-profissionais em que o subsistema estatal e o subsistema particular pudessem oferecer cursos alternativos aos alunos.
O que acontece é que, actualmente, não há as respostas necessárias aos alunos e às suas necessidades. Nem todos os alunos têm capacidades para frequentarem o ensino secundário ou não o querem frequentar por motivos culturais, familiares ou pessoais.
Entretanto, o ME fez sair um despacho sobre a avaliação no ensino básico,  em que o 6° ano de escolaridade vai passar a ter exames, em nome do rigor, da exigência e contra o facilitismo.
Sou de opinião de que deve haver exames nos finais de ciclo mas também de que é importante (que para além dos exames se modifiquem as condições escolares de forma a poderem ser superados os consequentes constrangimentos.
Não há dúvidas de que, como aconteceu no 9° ano, no 6° ano vão aumentar as retenções. Aliás não foi exactamente para isso que foram introduzidos os exames? Para seleccionar os que atingem os objectivos do currículo e os que não atingem ?
Penso que este não é o único objectivo do sistema e da avaliação. Certamente que a par da exigência também se tem como objectivo o cumprimento da escolaridade obrigatória.
Sei do sofrimento de alguns alunos que chegados aos 16 anos, sem terem completado o 9°  ano, querem deixar a escola e começar a trabalhar. Não querem ir à escola mas como são obrigados não têm outro remédio.
Escusado será dizer qual vai ser o seu comportamento, a sua falta de interesse, que, após o lento  arrastar-se pelos corredores da escola, acaba em abandono.
O risco de abandono vai ser maior, se, a par da exigência, não tomarmos outras medidas.
Podemos com alguma angústia perguntar o que vai acontecer aso alunos que ficam retidos ? O que vai acontecer aos alunos com NEE ?
É por isso que todo o sistema é incoerente.
Em primeiro lugar, porque as reformas vão no sentido da diminuição dos recursos humanos e esse é um dos graves problemas.
Depois, porque não se faz orientação escolar mais cedo do que no final do 9° ano.
Porque é incoerente uma lei dizer que se pode trabalhar aos 16 anos e outra dizer que se deve andar na escola até aos 18 anos.
E finalmente porque um só currículo não é suficiente para responder às necessidades dos alunos e da sociedade.
Queremos exigência mas também coerência.

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