15/12/23

Uma canção de Natal

 



Amanhã, 16 Dez., uma oportunidade única de ouvir o que consta do Programa.  La Bomba, de Mateo Flecha, leva-nos da perdição à salvação, dos pedidos e promessas - uma maior que a outra - ao agradecimento, com a guitarra bem temperada, para cantar ao recém-nascido Jesus. Mas é preciso ter cuidado. Pois se há perigos no Mar, os perigos estão na Terra, nos falsos irmãos.










14/12/23

Tempo de Natal. Tempo de Paz.

José Pádua - Natal

A época de Natal é também a época em que desejamos paz para nós próprios e para os outros, a começar por aqueles que nos são mais próximos.
Mas como se pode ter paz num mundo que vive quase sempre em conflito e em guerra?
Será que a educação pode ajudar a criar um futuro de paz? Podemos melhorar os nossos comportamentos através de programas de prevenção e de educação para a paz? Não será esperar demasiado da escola ?  
Afinal, a agressividade faz parte do ser humano mas a bondade também, dependendo do desenvolvimento psicológico durante a nossa infância, o desenvolvimento do bom objecto interno.

Vale a pena ainda uma derradeira esperança de que o desenvolvimento psicológico seja no sentido da paz se pudermos escolher viver numa cultura de paz onde a educação para a paz faça parte da vida das pessoas e do currículo das escolas.

Em 1963, João XXIII surpreendeu o mundo com a publicação da encíclica Paz na terra, dois anos após a construção do Muro de Berlim e alguns meses depois da Crise dos Mísseis em Cuba. A conjuntura era a da Guerra Fria e da proliferação nuclear. João XXIII defende que "os conflitos entre as nações devem ser resolvidas com negociações e não com armas, e na confiança mútua (nº. 113)". Para ele, "a Paz entre os povos exige: a verdade como fundamento, a justiça como norma, o amor como motor, a liberdade como clima". (Wikipédia)
Em 1974, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), elaborou um documento sobre a paz: “Recomendação sobre a educação para a compreensão, a cooperação e a paz internacionais e sobre a educação relativa aos direitos do homem e às liberdades fundamentais”
No ponto 6 refere: “A educação deverá acentuar a inadmissibilidade do recurso à guerra de expansão, de agressão e de dominação, à força e violência repressiva e levar cada pessoa a compreender e a assumir as responsabilidades que lhe incumbem na manutenção da paz.“

A realidade, porém, mostra que os progressos da humanidade no caminho da paz são insatisfatórios, verificando-se mesmo retrocessos, como os actuais. Assistimos às mais brutais formas de guerra com utilização de meios tecnológicos cada vez mais sofisticados, utilização de reféns, de crianças, mulheres e idosos, destruição e infraestruturas de água, electricidade, gás, hospitais, escolas...
Sabemos que comportamento gera comportamento, mais guerra gera mais ódio e, pelos vistos, o homem tem dificuldade em aprender este princípio elementar. 

À nossa medida, o que podemos fazer para ajudar a construir a paz? *
- Tudo o que fizermos que seja no sentido da paz. 
- Estarmos em paz connosco, sendo “modelos de comportamento” particularmente para as crianças e jovens. 
- Defender e respeitar os valores que fazem parte dos Direitos Humanos. 

No meio destes desastres que estão a acontecer, a paz pode assim começar em cada um de nós se eu me sentir em paz comigo e se me comportar como pacífico.



Um bom Natal com muita paz.


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"CONVERSAR SOBRE A PAZ - Como, todos e todas, podemos ajudar a construir a Paz?" Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP).

 

 



Rádio Castelo Branco



11/12/23

"Na hora da partida"

"É vontade raivosa que muitas vezes me assalta, mas quando consigo travar a tempo, passados uns instantes de reflexão logo descarto a ideia, ciente de que o resultado seria funesto.

Dá-se o caso, e com ele há vidas sofro, que me desconcerta a violência e disparidade dos meus sentimentos para com a terra em que nasci, as raivas que ela me provoca, como se em vez de um lugar, um território, uma nação, Portugal fosse gente.

Ora o vejo como um sujeito estúpido que me dá vontade de insultar e agredir, ora um tonto de tal modo desvairado que não paro de abanar a cabeça, de vez em quando uma inocente criança, que em mim desperta insuspeitados carinhos e ternura.

Olho-o de longe e assusta-me a frieza com que disseco o seu funcionamento, o sarcasmo que me provocam os pandilhas que há décadas o esbulham, fingindo que governam, os sortidos donos daquilo tudo, os que se dobram ajoelhados como escravos de galé. E ainda os jeitos, as luvas, o fatalismo, as vénias, a cunha, a subserviência para com os que estão acima, o desprezo para com os que dependem. O medo generalizado, os brandos costumes, as manhas, o respeitinho. Aquela inveja, que de tão extraordinária e corrente parece ser genética. A promessa raro cumprida, idem a sornice, o deixa para amanhã, a fatuidade, o valor das aparências, o gosto da rasteira.

Mas depois, tão entranhado português que sou, e protegendo-me de mim próprio, logo amoleço, procuro razões de brandura e desculpa, fecho um bocadinho os olhos, embalo-me com a esperança de que cheguem os amanhãs que sempre desejei.

Contudo agora, melancolicamente certo e seguro que a minha hora não tardará, sei que vou partir sem os ver chegar."



J. Rentes de Carvalho, Tempo contado


Este maravilhoso texto de J. Rentes de Carvalho é uma justa definição daquilo que somos e sentimos. 
Amor e ódio por termos tudo para sermos melhores do que somos mas com os pés de barro que nos entravam a marcha para uma vida sem sobressaltos, o que nos chateia e encanita, mas, por fim, fica sempre o amor a este país.
Tanto cantámos a paz, o pão, habitação, saúde, educação... que já não damos por nada... a prestação da casa, a falta de professores, o aeroporto ou a simples marcação de uma consulta no centro de saúde...
Mas não é este desconsolo o que se passa com aqueles que amamos ? E lá estou também eu a pensar que se trata de gente.
Já no fim de termos visto quase tudo, não cremos nos amanhãs que esta gente canta, nem as falinhas-mansas das campanhas eleitorais nos seduzem, como mais uma que aí vem. 
Resta-me sonhar com "os amanhãs que sempre desejei".




06/12/23

Nuclear não, obrigado!

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O absurdo parece dominar cada vez mais os acontecimentos do nosso pequeno mundo. Ao mesmo tempo que decorrem várias guerras onde estão a morrer milhares de pessoas, sem que haja vontade das grandes potências de lhes pôr cobro, também acontece mais uma Conferência sobre o clima (COP 28). Neste contexto, chamou-me a atenção as declarações de E. Macron, Presidente francês e de J. Kerry dos EU, que defendem a necessidade de voltar à energia nuclear como forma de conseguirem a meta da Conferência de Paris, ou seja, manter o aumento da temperatura média global inferior a 2°C. 
Pensava, na minha ingenuidade, que a escolha desta possibilidade tinha ficado lá atrás nos anos 70 e 80 do século passado após o movimento ”Nuclear não, obrigado!”, mesmo que nos venham dizer que a segurança do uso desta energia melhorou substancialmente nos últimos anos.

Embora distanciado das “teorias” que defendem as alterações climáticas antropogénicas, por uma vez concordo com o que diz o 1º ministro demissionário, A. Costa, sobre a "crise climática": “O que está em causa não é o planeta, é a humanidade. Não há humanidade B”.
Talvez extrapolando, é uma boa maneira de arrumar com a necedade (sim, de néscio) da campanha “não há planeta B” e de questionar a desumanidade desta propaganda que quer incrementar a energia nuclear.
A humanidade está, neste momento, a sofrer com as mesmas desgraças de sempre: a guerra, a fome, a pobreza, a violência e o crime... e vêm estes “climáticos mete-medo” a dizer-nos que "não há planeta B", ao mesmo tempo que aceitam a possibilidade da proliferação da energia nuclear.

Depois do acidente nuclear de Three Mile Island, em Março de 1979, do Acidente nuclear de Chernobil, em Abril de 1986, e o Acidente nuclear de Fukushima, em Março de 2011, de facto, é absurdo pensar que, podemos morrer devido à radiação nuclear mas... num mundo limpinho de carbono.
A Associação América verde (Green America) refere dez argumentos contra a energia nuclear (https://www.greenamerica.org/fight-dirty-energy/amazon-build-cleaner-cloud/10-reasons-oppose-nuclear-energy ). Em resumo:
1. Resíduos nucleares: Os resíduos gerados pelos reactores nucleares permanecem radioactivos durante dezenas a centenas de milhares de anos. 
2. Proliferação nuclear.
3. Segurança nacional: As centrais nucleares são um alvo potencial para operações terroristas. 
4. Acidentes: o erro humano e as catástrofes naturais podem conduzir a acidentes perigosos e dispendiosos. 
5. Aumento do risco de cancro.
6. Produção de energia: As 444 centrais nucleares actualmente existentes fornecem cerca de 11% da energia mundial. Estudos mostram que, para satisfazer as necessidades energéticas atuais e futuras, o sector nuclear teria de aumentar para cerca de 14 500 centrais.
7. Locais insuficientes para esta ampliação.
8. Custo - Ao contrário das energias renováveis, que são actualmente as fontes de energia mais baratas, os custos nucleares estão a aumentar.
9. Competição com energias renováveis.
10. Dependência energética dos países pobres, dado que não têm os recursos financeiros para investir e desenvolver a energia nuclear... 

Perante isto, será necessário lembrar a canção de Fausto - "Rosalinda se tu fores à praia, se tu fores ver o mar", ou de Lena d´Água: "Antes ser activo hoje, do que radioactivo amanhã. Nuclear não, obrigado".



Até para a semana.



 



Rádio Castelo Branco