22/04/12

Os sonhos dos jovens

Têm vindo a ser efectuadas investigações que dão relevo a comportamentos e atitudes maioritárias dos jovens.
M. Gabriela S. e Silva , "Os Sonhos dos Adolescentes", indicam que os jovens “têm ideias muito sérias sobre a vida, que se preocupam com os pais e os avós de idade avançada, que querem ter uma família organizada e constituída e um emprego estável", que “os adolescentes portugueses têm valores, preocupam-se com o bem-estar da família e sonham ter estabilidade emocional e profissional”.
E que os seus sonhos "têm uma ordem bem definida: alcançar a felicidade, obter estabilidade económica e profissional, conhecer o mundo, estabelecer laços familiares, ter saúde, possuir habilitações académicas, ter casa própria, sentir apoio familiar e ajudar a família e os amigos.” 

Estas respostas não são diferentes dos sonhos dos outros jovens dos outros países. Os jovens brasileiros quando questionados sobre o seu maior sonho individual, 55% dos jovens brasileiros responderam que era a formação profissional e emprego; 15% casa própria; 9%  dinheiro (ficar rico ou ter estabilidade financeira); 6% a família; 3% a compra de outros bens materiais (carro/moto/eletrodomésticos).

A reforma curricular vem dar ênfase à aprendizagem dos conhecimentos essenciais. Sem dúvida que esta focalização é essencial mas não é suficiente para preparar o jovem para o futuro.
Os alunos trazem para a escola outros mundos e vivências “Dentro das mochilas muitas vezes, não vão só livros. Vão sonhos desfeitos e dramas familiares.” (M. Gabriela S. e Silva).
“Eles querem acreditar, mas sentem desde logo as dificuldades nas suas casas – pais desempregados, com problemas para pagarem os empréstimos da habitação, do carro, etc. Começam a prever a vida através das dos próprios pais”.
Os jovens passam o dia na escola. Mesmo quando não têm aulas ou quando faltam às aulas, preferem ficar na escola com os amigos, do que voltar a casa ou andar por aí.
Para além da família, a escola é praticamente a única instituição social que pode ajudar a fazer a moratória psicossocial dos jovens.

Por isso era necessário atribuir essa força à escola e aos professores e entender que um professor não é apenas transmissão cognitiva de conhecimentos. Tem uma dimensão pedagógica afectiva relacional.
E tem que ajudar a olhar para os sinais do futuro.
Os sonhos dos jovens provavelmente têm que ser esboçados pelos adultos. O que prevemos para o ano 2020 ?
Isto é, os alunos que actualmente estão no 9º ano, em 2020, estarão a terminar as licenciaturas ou os mestrados. Quais são as profissões que vão ser necessárias em 2020 ?
A escola não está preocupada com isso. E os jovens não têm esta perspectiva de futuro. Têm muita dificuldade em se imaginarem a exercer uma profissão daqui a 20 anos.
Mas, há alguns sinais que começam a mostrar essa preocupação com o futuro.
Na exposição Futurália (21-03-2012), num total de 371 boletins de voto, cerca de 26% dos jovens considera que "criar" é a sua prioridade para o futuro, "viajar" 18%, "trabalhar" (15%), e "aprender" (14%).
James Canton (“Sabe o que vem aí?”) fala da previsão para 2015 e 2020, de uma era completamente nova, com profissões muito diferentes: técnicos de neuromedicina; técnicos de segurança pessoal; clonadores de órgãos; terapeutas do biofuturo; cientistas quânticos; terapeutas promotores de saúde; viabilizadores do cancro…. conselheiros para a gestão do conhecimento; empresários de nanobiologia; artistas, escritores, poetas; caçadores globais de talento.

O nosso sucesso será ajudar os jovens a alcançar os seus sonhos. É esta a realização de um educador: atingimos os nossos  objectivos quando os alunos que educamos atingem os deles.

15/04/12

Regra de ouro

O problema é quando a regra de ouro é: quem tem o ouro é que dita a regra.
Quanto ao resto é fácil concordar.

13/04/12

Os sonhos dos jovens




“Já não o conhecemos. Em pouco tempo mudou completamente.” É o desabafo de muitos pais que não compreendem o que se passa com os filhos que entraram no processo da adolescência.
Tudo muda. Na verdade, o pensamento e os sonhos estão em mudança, e a estranheza dos pais é também a estranheza dos adolescentes com as mudanças que estão a acontecer.
Mas nada de novo há aqui. Os jovens de hoje têm semelhanças com os seus pais. Como antes, esta é uma fase da vida em que se processa a consolidação da identidade pessoal, psicossocial e sexual.
Os sonhos são os de autonomia, independência em relação aos pais. Esta fase tem as características de turbulência, de mudanças, de desafios. E é paradoxal : como ser independente daqueles com que me quero identificar ?
A construção da identidade é um processo de interacções relacionais e, neste caso, ganha maior importância para o jovem o grupo de pares.
Aos 14 anos, os modelos de identificação continuam a ser, geralmente, os pais ou familiares importantes.
Aparecem também os ídolos da própria geração ou até de gerações anteriores. O poder da comunicação social faz com que apareçam ídolos copiados principalmente do facebook ou das redes sociais.
Estes ídolos muitas vezes representam os sonhos dos adolescentes pela independência, rebeldia, sucesso, dinheiro, fama e beleza. Como no passado.
Hoje há uma maior diversidade de modelos dada a oferta que é veiculada através dos media: do desporto à musica, cinema, e compram-se as revistas, os posters, os discos
Talvez agora haja mais dinheiro em circulação e sem dúvida que o acesso aos ídolos é muito maior. Tem-se pelo menos a sensação de uma maior proximidade podendo-se falar em directo nas redes sociais com os nossos ídolos.
O sonho é gostar e possuir coisas, objectos, gadgets. Quando a relação com o outro se torna insuportável eles gostam de se relacionar com as coisas.
Como na canção de Serge Gainsbourg, cantada por Brigitte Bardot: não preciso de ninguém na minha Harley Davidson.
Mas ganhar autonomia está mais difícil. Permanece-se mais tempo na casa dos pais ou na dependência económica dos pais.
Aparentemente são mais autónomos. Só ao abrigo do programa Erasmus, por exemplo, 6.038 jovens saíram de Portugal no ano lectivo de 2010/2011...
Há falsas autonomias muito diferentes da consolidação da identidade pessoal, psicossocial e sexual. A maturidade necessária para fazer escolhas escolares e profissionais é por isso muitas vezes insuficiente.
Além disso hoje, ter uma carreira, é muito diferente do passado.
O emprego muitas vezes não corresponde ao sonho. Querer ter uma profissão é, por vezes, um obstáculo ao emprego, isto é, o pode-se ter "vocação" para uma profissão mas não há empregabilidade correspondente.
Sonhar com uma carreira esbarra na realidade da economia e hoje carreira e vocação profissional são assuntos poucas vezes convergentes.
Ganha por isso cada vez maior importância o papel que a orientação escolar e profissional deve ter na escola.
E como se vê a crise da adolescência necessita de uma intervenção psicológica mais fina do que apenas avaliar os interesses dos alunos relativamente aos cursos a seguir.