13/04/12

Os sonhos dos jovens




“Já não o conhecemos. Em pouco tempo mudou completamente.” É o desabafo de muitos pais que não compreendem o que se passa com os filhos que entraram no processo da adolescência.
Tudo muda. Na verdade, o pensamento e os sonhos estão em mudança, e a estranheza dos pais é também a estranheza dos adolescentes com as mudanças que estão a acontecer.
Mas nada de novo há aqui. Os jovens de hoje têm semelhanças com os seus pais. Como antes, esta é uma fase da vida em que se processa a consolidação da identidade pessoal, psicossocial e sexual.
Os sonhos são os de autonomia, independência em relação aos pais. Esta fase tem as características de turbulência, de mudanças, de desafios. E é paradoxal : como ser independente daqueles com que me quero identificar ?
A construção da identidade é um processo de interacções relacionais e, neste caso, ganha maior importância para o jovem o grupo de pares.
Aos 14 anos, os modelos de identificação continuam a ser, geralmente, os pais ou familiares importantes.
Aparecem também os ídolos da própria geração ou até de gerações anteriores. O poder da comunicação social faz com que apareçam ídolos copiados principalmente do facebook ou das redes sociais.
Estes ídolos muitas vezes representam os sonhos dos adolescentes pela independência, rebeldia, sucesso, dinheiro, fama e beleza. Como no passado.
Hoje há uma maior diversidade de modelos dada a oferta que é veiculada através dos media: do desporto à musica, cinema, e compram-se as revistas, os posters, os discos
Talvez agora haja mais dinheiro em circulação e sem dúvida que o acesso aos ídolos é muito maior. Tem-se pelo menos a sensação de uma maior proximidade podendo-se falar em directo nas redes sociais com os nossos ídolos.
O sonho é gostar e possuir coisas, objectos, gadgets. Quando a relação com o outro se torna insuportável eles gostam de se relacionar com as coisas.
Como na canção de Serge Gainsbourg, cantada por Brigitte Bardot: não preciso de ninguém na minha Harley Davidson.
Mas ganhar autonomia está mais difícil. Permanece-se mais tempo na casa dos pais ou na dependência económica dos pais.
Aparentemente são mais autónomos. Só ao abrigo do programa Erasmus, por exemplo, 6.038 jovens saíram de Portugal no ano lectivo de 2010/2011...
Há falsas autonomias muito diferentes da consolidação da identidade pessoal, psicossocial e sexual. A maturidade necessária para fazer escolhas escolares e profissionais é por isso muitas vezes insuficiente.
Além disso hoje, ter uma carreira, é muito diferente do passado.
O emprego muitas vezes não corresponde ao sonho. Querer ter uma profissão é, por vezes, um obstáculo ao emprego, isto é, o pode-se ter "vocação" para uma profissão mas não há empregabilidade correspondente.
Sonhar com uma carreira esbarra na realidade da economia e hoje carreira e vocação profissional são assuntos poucas vezes convergentes.
Ganha por isso cada vez maior importância o papel que a orientação escolar e profissional deve ter na escola.
E como se vê a crise da adolescência necessita de uma intervenção psicológica mais fina do que apenas avaliar os interesses dos alunos relativamente aos cursos a seguir.





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