31/07/11

Avaliação de desempenho: "mate-se o bicho..."

Então para que serviu este SIADAP? Pode dizer-se que serviu para continuar a fustigar os trabalhadores das carreiras gerais, ou seja, aqueles que já viam a sua vida dificultada com o outro sistema que, apesar de permitir que todos fossem classificados com Muito Bom, não se traduzia em promoção na carreira. Os que já estavam no topo lá continuaram, pouco lhes importou a mudança do sistema de avaliação, que não passou de mera alteração de terminologia.
Do mesmo modo, àqueles que, como antes, estavam predestinados para dirigentes, também nada lhes importou, pois a promoção está assegurada, de 3 em 3 anos.
Resultou daqui alguma economia? Duvido! Tratou-se, apenas, de mais uma dissimulação, tal como a alteração legislativa que permitiu a contratação de trabalhadores para o topo da pirâmide, as promoções por opção de gestão, o recurso a empresas como fornecedoras de mão-de-obra para fugir ao controlo da Tutela e Finanças, que nem os tolos enganam, mas que se revelaram muito convenientes, a contratação de empresas para tratarem da burocracia do SIADAP … etc. etc. Pergunta-se, então: Como vai a saúde do SIADAP? Mal, muito mal, péssima. Pois bem, diagnosticada a maleita, e constatando-se que a doença de crónica passou a incurável, pelo que já lá não vai nem com dose cavalar de medicação, só nos resta uma solução: mate-se o bicho e acabe-se com a peçonha.
Rosa Sousa, Infoquadros, nº 7/2011

20/07/11

654-266=ludíbrio

Sabemos que muitos dossiers do ME estão cheios de enviesamentos e alçapões. É necessário e urgente tomar medidas mas não desta forma. Não será por isso de admirar que uma pessoa sinta que, afinal, se trata de ludíbrio, como fala Santana Castilho, aqui. 
"Como já afirmei publicamente, o expediente da suspensão do encerramento das 654 escolas, não é mais do que uma manobra política de duplo efeito: imediatamente, recolhem-se louros e popularidade; verdadeiramente, verifica-se o que está pronto e o que está atrasado, quanto às construções em curso. E, porque é isso que está no programa do Governo, continuar-se-á a política de criação de mega agrupamentos, aprofundando a desertificação do interior e tornando irreversível um deplorável crime pedagógico. No início de Julho, Nuno Crato suspendeu o fecho de 654 escolas. Dias volvidos, confirmou que 266 das 654 encerrariam imediatamente. Não teremos de esperar muito para confirmar o ludíbrio total."
O dossier "escolas de pequena dimensão" merece uma reflexão. A decisão tomada contra autarcas e, principalmente, pais é, no fundo, uma atitude contra as crianças e contra a educação das crianças. Estou a falar de crianças muito pequenas, entre os 5/6 e os 10 anos.
Há gente que gosta de gaiolas douradas que foi aquilo em que transformaram os parques escolares.
Não sei se será "ludíbrio total". Mas quando voltará a racionalidade lá para os lados da 5 de Outubro?

05/07/11

A mãe é que é bonita e não os parques escolares


Vieram "vender-nos" a ideia de que os parques escolares é que eram bons para todos os alunos. Que a socialização não ficava comprometida, que os resultados eram melhores, etc…
Ainda não vi provas irrefutáveis de que isso seja assim. Pelo contrário, o que se passa com as experiências em escolas rurais, em escolas de pequena dimensão, e com o ensino doméstico prova que não é assim.
Estamos a falar do 1º ciclo e de crianças muito pequenas que têm que abandonar os pais aos 5/6 anos de idade, para fazerem longos percursos de autocarro, seja Inverno ou Verão, para ficarem todo o dia (é mesmo todo o dia) “parqueados” nesses maravilhosos centros que fazem inveja ao “berço de Skinner”…
O ser humano é muito mais do que um ser cognitivo.
A análise e interpretação da longa duração da evolução humana (filogénese) e também da longa infância e adolescência do homem (neotenia) devia fazer-nos pensar que pode haver muitas possibilidades evolutivas. Veja-se, por exemplo, algumas diferenças entre os primatas e o homem.


Primatas
Homem
Dependência maternal
2 anos
6-9  anos
Maturidade sexual
4-8 anos
13-15 anos
                                                       (Fonseca, 1989)
A neotenia não significa que o ser humano nasça com falta de competências. Pelo contrário, sabemos que o bebé vem dotado de um equipamento senso-perceptivo impressionante que lhe permite uma precocidade relacional fundamental para o seu desenvolvimento.
O ser humano necessita de permanecer muito tempo junto dos progenitores para fazer um conjunto vastíssimo de aprendizagens que mais nenhum animal faz mas tem como contrapartida torná-lo dependente durante muito mais tempo do que acontece com qualquer outro animal.
Mas é esta dependência  que vai fazer com que se torne diferente dos outros animais.
Como vemos no quadro, essa dependência vai até cerca dos 10 anos, isto é, fica abrangida a faixa etária correspondente ao primeiro ciclo.
Por isso, faz muito sentido que a criança tenha contacto com os progenitores, ou seus substitutos durante este tempo.
Por isso, não há parque escolar por mais sofisticado que seja que seja melhor do que a proximidade e o colo dos pais.
O equilíbrio entre vinculação e autonomia, sendo que uma leva à outra, não se faz ao tirar, demasiado cedo e com alguma violência, a criança à família .
A ideia de que as condições materiais são importantes para o desenvolvimento tem razão de ser e é bom que existam condições ambientais para conseguir esse objectivo. Mas essas são condições menos importantes do que o afecto.
E a dependência de que falo não é propriamente dependente da vontade deste ou daquele governante.