26/06/14

Fechar escolas racionalmente



Como disse: "Alguns autarcas têm sabido e conseguido fazer valer o princípio da proximidade afectiva sobre o princípio do reluzente e desértico centro escolar, até que seja razoável a existência da escola que, por exemplo, um número de alunos muito reduzido já não justifique e que pela vontade dos pais seja preferível frequentarem outra escola."
Tem sido assim, no concelho de Castelo Branco. E espero que assim continue.
"Na proposta de reorganização da rede procurou-se ter em conta a importância de uma oferta de proximidade que evite deslocações incómodas e preocupações relacionadas com a concentração da oferta, que permite melhores condições na qualidade dos serviços educativos prestados." (Parque escolar de Castelo Branco, 2010, pag. 5).

Fechar escolas - o mapa

Infografia: O mapa das escolas do 1º ciclo que vão fechar, 25 Junho 2014, por Rui Santos - Negócios 


0 - 10 escolas que vão encerrar 
11 a 20 escolas que vão encerrar
21 a 30 escolas que vão encerrar
31 a 40 escolas que vão encerrar
41 a 50 escolas que vão encerrar
mais de 50 escolas que vão encerrar            
Escolas / Viseu

25/06/14

Fechar escolas


O país silente.

"...O silêncio plúmbeo num dia de sol por não se ouvirem os gritos das crianças que preenchiam ainda a recordação daquele sítio. Tinham sido dali levadas, pela manhã, por uma carrinha da freguesia para o centro escolar na sede do concelho onde se concentram agora professores e crianças..."

"Quem abre escolas fecha prisões"

É uma famosa afirmação de Victor Hugo. Tem vindo a ser demonstrada ao longo dos tempos pela investigação que tem sido feita. 
Mas agora estamos a percorrer o caminho inverso. Estamos a fechar escolas. Bom, digamos que estamos a reorganizar  (ou  desorganizar) o sistema educativo.  
Todos os anos, por esta altura, o assunto da educação é o fecho de escolas, a régua e esquadro. É dos episódios mais  cansativos a que assistimos anualmente. 
Primeiro, são umas  quantas escolas que fecham, depois são menos, depois depende das autarquias... As regras devem ser cumpridas nuns locais e depois podem não ser cumpridas noutros.
Esta notícia (Lusa/SOL) de 12-4-2014, é um resumo do que se tem passado sobre o encerramento de escolas.
O ministro da Educação, Nuno Crato, afirmou hoje, em Macau, China, que o encerramento de escolas com menos de 21 alunos "não é assunto novo", considerando que o fecho "é normal e já estava previsto há bastante tempo".
"Não é assunto novo, são escolas que estavam, na sua esmagadora maioria, com autorização de funcionamento extraordinária e já estava previsto o seu encerramento há bastante tempo", afirmou Nuno Crato, hoje em Macau, à chegada para uma visita oficial.
Questionado sobre quantas escolas com menos de 21 alunos estão em risco de fechar, o governante disse não se lembrar do número exacto, reiterando, no entanto, que se trata de "uma situação normal já prevista há muito tempo à semelhança do que está a ser feito nas autarquias".
Os municípios receberam a indicação do Ministério da Educação de que as escolas que ainda restam com menos de 21 alunos são para fechar no próximo ano lectivo, segundo disse à Lusa na sexta-feira o presidente da Comunidade Intermunicipal de Trás-os-Montes, Américo Pereira.
Com o anúncio do encerramento de 239 escolas do primeiro ciclo no ano lectivo em curso, subiu para 3.720 o número de estabelecimentos de ensino encerrados desde 2005, segundo dados do Ministério da Educação.
O número de escolas fechadas ultrapassa as que se mantêm abertas, no âmbito da política de concentração de alunos em 332 novos centros escolares e de encerramento de escolas isoladas, uma vez que estavam em funcionamento 2.330 escolas do primeiro ciclo, no ano lectivo 2012/2013.
A reorganização da rede escolar teve o seu grande impulso * com a ministra da Educação entre 2005 e 2009, Maria de Lurdes Rodrigues, que determinou o encerramento das escolas com menos de 10 alunos e apoiou a construção de centros escolares integrados. Em 2010, a decisão de encerrar escolas foi alargada aos estabelecimentos com menos de 21 alunos, decisão que se mantém.
A nível local temos aqui um resumo.

Tenho argumentado contra o fecho de escolas rurais e de pequena dimensão. Tenho tentado mostrar aqui o enorme erro que se vem cometendo desde há uma década mas com particular violência no período "rodriguista", conforme refere a notícia.
Escrevi sobre o assunto:
fechar escolas - falácia da socialização
o barato sai caro
aberração pedagógica
educação escolar em casa e socialização
small is beautiful
small is beautifull - 2
leio no correio da manhã 24-8-2010
razia
3720


Felizmente tem havido autarcas que compreendem o que significa fechar uma escola: 
- Não é apenas um problema económico. Mesmo que a reorganização não tivesse custos para o estado. E não tem para as autarquias? Quanto custa a construção e manutenção de um centro escolar ? Quanto custam os transportes, a alimentação ? O suficiente para pagar a um professor? 
- Não é um problema de socialização. 
- Não é  moeda de troca do problema da desertificação. 

Se bem que seja também tudo isso, é, principalmente, um problema de educação, da  relação afectiva pais-filhos.
É uma aberração psicológica separar dos pais, durante um dia inteiro, crianças de 5, 6, 7 anos , sujeitas a viagens de horas para outras escolas, às vezes com piores condições, e outras vezes, com melhores condições físicas que nunca compensam a falha afectiva.
É uma questão de visão e planificação de um país.
É uma questão de qualidade de vida.

Tudo isto, feito (quase) sempre contra a vontade dos pais.
Alguns autarcas têm "embarcado" na construção de tais centros escolares para onde levam praticamente todas as crianças do concelho. Mas ficam muito indignados quando lhes querem acabar com outros serviços do estado  e nem sequer vale a pena falar em acabar com juntas de freguesias, concelhos. O fecho das escolas rurais e de pequena dimensão é apenas o primeiro passo.

Alguns autarcas têm sabido e conseguido fazer valer o princípio da proximidade afectiva sobre o princípio do reluzente desértico centro escolar, até que seja razoável a existência da escola que, por exemplo, um número de alunos muito reduzido já não justifique e que pela vontade dos pais seja preferível frequentarem outra escola.
Mas ainda nesses locais poderiam ser  criadas novas possibilidades, à semelhança do ensino doméstico, desde que essa fosse a vontade dos pais.
Fechar escolas não é a mesma coisa que fechar outro serviço qualquer. O problema aqui é que estamos a tratar de crianças muito pequenas, pouco autónomas sem a protecção dos pais.
_______________________________
* É curioso ver os autores da lei criticarem a medida criada por eles próprios, apenas porque está a ser aplicada por outro executivo que entendeu que lhe devia dar continuidade. Vale mais tarde... mesmo assim.

20/06/14

Circulatura do quadrado


Não há nenhum problemazinho com a equidade da informação ? Não há vantagenzinha nenhuma para ninguém ?  Costa, presidente da CML, Costa candidato a secretário-geral do PS, que para alguns já é candidato a 1º ministro e já tem a coisa arrumada com Passos, não causa nenhuma dificuldade à informação plural...
Felizes as pessoas que já nasceram com o dom da isenção. 

Partir contrafeito


Eis o que minha mãe me contou quando jantávamos juntos,
No tempo em que era uma rapariga já crescida e vivia em
                   casa dos pais na velha quinta.

Uma pele-vermelha apareceu à hora do pequeno-almoço na velha quinta,
Transportava às costas um feixe de juncos para fazer assentos de
                   palhinha em cadeiras.
O seu cabelo era liso, brilhante, grosso, negro, abundante e
                   escondia-lhe metade do rosto,
O seu andar era desenvolto e livre e a sua voz tinha um som delicado.

A minha mãe olhava encantada e perplexa para a estranha,
Reparou na frescura daquele rosto altivo e na plenitude e
                    flexibilidade daqueles membros,
Quanto mais a olhava mais gostava dela,
Nunca antes vira uma beleza e uma pureza tão maravilhosas,
Mandou-a sentar num banco junto à lareira e preparou-lhe
                     qualquer coisa para comer,
Não tinha trabalho para lhe dar, mas deu-lhe uma lembrança e
                     ternura.

A pele-vermelha ficou toda a manhã e ao meio da tarde foi-se
                     embora,
Oh, a minha mãe, contrafeita, deixou-a partir,
Toda a semana pensou nela, durante meses esperou por ela,
Lembrou-se dela muitos Invernos e Verões,
Mas a pele-vermelha nunca veio nem dela se ouviu falar mais.

Walt Whitman, Folhas de Erva  


Hoje, falo da amizade, desse encontro inesperado e sensível que  toca  duas pessoas  de ternura e se recorda para sempre. Partir, sempre contrafeito.
Para uma equipa de trabalho extraordinária ! Vou lembrar-me dela durante muitos Invernos e Verões.


Saber ganhar, saber perder





De dois em dois anos, por esta altura, temos futebol ao mais alto nível mundial ou europeu. Horas intermináveis de conversa, palpites, reportagens, "somos os maiores" …
No entanto, o confronto com a realidade chega com os resultados. E saber perder e saber ganhar são momentos da vida onde vêm à flor da pele as nossas emoções mais elementares.
O problema das emoções é que elas são anteriores a qualquer outro processo mental , tanto da inteligência como da percepção, da motivação ou da própria memória… (P. Varela, Ansiosa-mente, pag 268)
A emoção pode ser o resultado de um facto como pode ser a causa de um comportamento: no primeiro caso, passei no exame logo fico feliz, no caso de fracasso, fico triste, por isso vou beber ou vou partir a montra da loja ou incendiar o caixote do lixo.
As emoções estabelecem prioridades isto é "mandam muito" na nossa vida…
Umas fazem-nos sentir bem e por isso são emoções positivas e outras mal e por isso são negativas. Positivas ou negativas as emoções podem provocar estados parecidos de ansiedade pode ser provocada tanto pelas emoções stressantes, ira/raiva, inveja e ciumes como pelas que se consideram agradáveis, alegria, esperança e orgulho…
Um jogo de futebol e os resultados dos mesmo podem mostrar tudo isto. Ganhar ou perder pode desencadear comportamentos semelhantes.
O que se passa a seguir a uma vitória de um clube, os desacatos do costume, destruição de montras , de carros, de ruas, de equipamentos públicos, pessoas feridas e às vezes mortas, também se passa quando um clube perde…
Claro que isto acontece também em outros fenómenos de massas.
Mas o que sente um jogador como Pepe quando Müller se deixou cair ? O que o impele a voltar atrás para lhe encostar a cabeça ? 
O que está em jogo são as emoções. 
As emoções negativas podem influenciar outras emoções ..
A tristeza frustrante de estar a perder levou a ultrapassar o limite, isto é, podia ter-se ficado pelo protesto, pelo insulto verbal mas teve que o mostrar pelo comportamento físico como quem diz “ganhei”
As emoções primárias medo ira ou nojo, são elementares e provocam reacções imediatas mas pouca experiência interna.

A ira ou raiva surge por um sentimento de frustração é uma reacção compreensível perante uma injustiça um desprezo, um abandono… mas outras vezes ela é originada por questões mais simples e motivos menos morais e mais fúteis.
A ira leva a uma reacção rápida e actua primeiro do que pensa. Fazendo uma espécie de salto cerebral em que a informação é transmitida do tálamo ao córtex cerebral.
Se o cérebro de Pepe tivesse tempo para pensar aquele fenómeno não teria acontecido mas não foi assim e achou que Müller estava a fazer uma " fita" que merecia um toque de cabeça.

Não sei se a selecção tem psicólogo ou não. Se não tem, é porque mais cabeçada menos cabeçada pouco interessa. E ganhar e perder em futebol é uma espécie de jogo do euromilhões.

12/06/14

Conflito, cooperação e compromisso


O conflito faz parte da vida democrática tal como a cooperação e o compromisso. Diria mesmo que em democracia estas duas últimas atitudes fazem mais sentido e são, de algum modo, formas de partilhar o poder.
Deste modo, é interesse do regime democrático fazer com que essas formas possam ser exercidas na realidade, dando-lhes condições para isso. A democracia tem custos. Mas até onde deve ir o contributo do estado às organizações políticas ?

Em 2011, o CM noticiava: "O número de professores destacados nos sindicatos é actualmente de 281, dos quais 125 exercem actividade sindical a tempo inteiro e por isso não dão aulas, revelou ao Correio da Manhã o Ministério da Educação e Ciência (MEC)."
"...Em 2005, havia 1327 professores destacados que custavam mais de 20 milhões de euros. A ministra da Educação da altura, Maria de Lurdes Rodrigues, diminuiu esse número para 450. Em 2006, Governo e sindicatos acordaram nova redução, para 300. O número de dirigentes com dispensa de serviço docente passou a ser proporcional ao de associados dos sindicatos, pelo que a Fenprof, com 132 elementos, é a estrutura com mais dispensados."

Mas a realidade também mostra que é em democracia que os sindicatos têm uma conflitualidade mais activa. A greve devia ser o último acto da escalada de um conflito que sindicatos e empresários (incluindo o estado) não são capazes de resolver. Pelo contrário a estratégia é, permanentemente, a da confrontação.
"Mais de metade do mandato do actual Governo foi passado com greves nos transportes. Desde que o executivo tomou posse, em Junho de 2011, os sindicatos convocaram quase 500 dias de protestos, na maioria parciais ou incidindo apenas sobre o trabalho extraordinário."(Público, 18/11/2013).

No sector de educação temos uma federação nacional de professores que nunca concorda com nada, não se compromete com nada e nunca assina nada.
A cooperação e solidariedade também deviam ser palavras do vocabulário dos sindicatos e sindicalistas
A greve é um direito dos trabalhadores que a fazem e só existe em democracia porque a democracia é o único regime que a permite, já que no capitalismo de estado não há greves, para bem do povo ! Tal como a falta de liberdade e de liberdade de expressão, também são para bem do povo!

Numa democracia, o direito a fazer greve conflitua com outros direitos, como os direitos das pessoas à saúde, a serem assistidas no hospital, a fazerem as cirurgias há meses e anos marcadas, a terem escola e a fazerem exames...
A greve faz parte do sistema capitalista. É, aliás, esta a crítica que é feita pela (chamada) esquerda revolucionária, e, por isso mesmo, faz sentido do ponto de vista dela: "o sindicalismo aparece como uma forma primitiva do movimento operário num sistema capitalista estável " (A. Pannekoek, pag. 51) ... "O fim do sindicalismo não é substituir o capitalismo por outro modo de produção, mas melhorar as condições de vida no próprio interior dos sistema capitalista. A essência do sindicalismo não é revolucionária mas conservadora." (pag 53)
Essa distinção que Mises também faz entre sindicalismo de acção directa e o sindicalismo da "mentalidade proletária". Quase todos os empregados, ingenuamente, consideram-na como um meio justo e eficaz de melhorar o seu padrão de vida.

As greves são decretadas pelas cúpulas sindicais e, excepcionalmente, são ouvidos os trabalhadores. Em várias dezenas de anos de sindicalizado, foi-me perguntado uma vez se concordava ou não com a greve.
A greve tem consequências demasiado sérias e não devia deixar de ser utilizada com toda a parcimónia possível.

Não tem sido assim, e, como tal, a greve está a gerar indignação, cada vez maior, nos que lhe sofrem as consequências. Veja-se o caso das greves em Lisboa, onde se sentem mais, não pelas greves, mas pelas consequências que a paralisação do sector dos transportes implica, impedindo outros trabalhadores de se deslocarem para os seus postos de trabalho.
"Faltaram umas quantas pessoas que não puderam vir porque essa malta dos transportes faz sempre greve e quem paga é quem consegue vir trabalhar..." "E o Sorel que vá dar uma volta ao bilhar grande..."

Os sindicatos "ligados" à (dita) esquerda tradicional percebem muito bem que no capitalismo há muito mais a esperar deles do que as greves que decidem fazer. Infelizmente, dizem que lutam pelos seus direitos mas, no fundo, esperam derrubar o governo e o capitalismo. E têm conseguido trocar um governo por outro governo que, como temos visto, é sempre pior que o anterior, segundo eles. E assim continuam, sempre que chega um governo que considerem de "direita" ao poder não esperarão mais que alguns meses sem pedir a sua demissão.

O Secretário-geral da UGT critica o recurso constante à greve e diz que Governo deve levar o mandato até ao fim. "Sindicalizar e sindicalismo tem a ver com defender os trabalhadores e não é pela agitação que resolvemos as coisas. Não é por greves todos os dias que se resolvem os problemas dos trabalhadores". 
Já é um progresso.

Por isso, faz todo o sentido o debate sobre este assunto: "Em política, afirmou ainda (Lobo Antunes), o compromisso significa cedência, porque cada um tem de ceder um pouco para se alcançar um projecto comum. É preciso pensar Portugal com capacidade de ouvir o outro e gostaríamos que saísse desta reunião matéria de reflexão." (Expresso)
Em 10 de Junho, o apelo ao compromisso foi novamente renovado, um entendimento de médio prazo, tempo de diálogo...
Não podemos deixar de ter esperança mesmo quando aos profissionais de manifestações apenas interessa o ruído e o "status quo" e aos profissionias da política jogar para canto.

10/06/14

Conversar e pensar


Acabo de ver a "conversa" de Inês Meneses com Anselmo Borges na RTP 2. Uma bênção no deserto da comunicação televisiva que por aí anda.

06/06/14

Uns queridos. Obrigado !





Feliz Aniversário C!

Relações adulto criança - o lugar da memória afectiva

Uma família não é... uma casa:
"Uma cadeira ainda é uma cadeira
mesmo quando não há ninguém sentado,
mas uma cadeira não é uma casa
e uma casa não é um lar
quando não há ninguém lá para te abraçar
e não há ninguém para te dar um beijo de boa noite,
" (A house is not a home - Burt Bacharach)

Uma família não é...um negócio:
Passaram-me de mão em mão, de família em família, família que por alguns dólares, disputavam a medíocre chance de me "educar", quando na verdade não faziam outra coisa se não me humilhar. Quando a assistente social vinha me ver, ela verificava apenas o estado de minha roupas, mas não de minha alma, nem se preocupava em imaginar que eu tivesse uma. (Marilyn Monroe)

Uma família não é... um local incomunicante:
Laing (A politica de família), colocou o problema da comunicação intrafamiliar, principalmente da educação das crianças.
“.... não é apenas o modo como os pais rebaixam ou promovem selectivamente seus filhos, mas o modo como todos os membros da família agem com respeito uns aos outros, ou como cada membro se dá bem com um e com outro, ou persegue a um e faz o outro útil para si, ou lhe é indiferente:
-“Atribuições”, uma terceira pessoa transmite a opinião ouvida a seu respeito. Isto tem muito a ver com o hipnotismo. As ordens hipnóticas não são determinações claras, porque não são dadas na forma de instruções.
- Algumas atribuições são projecções.
- As desconsiderações são outra manifestação da antipatia inconsciente dos pais por um determinado filho.
- Os maus tratos físicos são formas violentas de desconsideração, mas poderão não ter o mesmo efeito que têm as desconsiderações verbais que negam a pessoa, que fazem a criança sentir-se envergonhada, estúpida ou suja.
- Injunções explicitas ou implícitas nas interacções familiares. Estas interacções podem ser de confirmação ou de invalidação.

Uma família não é ... o local da insegurança, do medo, do terror, da desvalorização e desconsideração. (Kafka, Carta ao pai)

Uma família não é ... o local onde se faz mal aos filhos. Basta ver as situações de perigo (maus tratos) comunicadas à CPCJ (Relatório das CPCJ, 2013):


As situações de perigo comunicadas às Comissões de Protecção incidem, maioritariamente, em cinco problemáticas: Negligência 25,3% (18910); Exposição a comportamentos que possam comprometer o bem-estar e desenvolvimento da criança 24,5% (18273); Situações de perigo em que esteja em causa o Direito à Educação 16,3% (12152), a Criança/Jovem assume comportamentos que afectam o seu bem estar 11,1% (8265) e os Mau trato físico 5,7% (4237).

Segundo Levi Strauss, “tal palavra (família) serve para designar um grupo social que possui, pelo menos, as três características seguintes:
1) Tem a sua origem no casamento. 2) formado pelo marido, pela esposa e pelos filhos(as) nascidos do casamento, ainda que seja concebível que outros parentes encontrem o seu lugar junto do grupo nuclear. 3) os membros da família estão unidos por a) laços legais b) direitos e obrigações económicas, religiosas e de outro tipo c) uma rede precisa de direitos e proibições sexuais, além duma quantidade variável e diversificada de sentimentos psicológicos tais como amor, afecto, respeito, temor, etc. (pag 14)

A última parte da definição é central. Como refere Laing, a família é um conjunto de relações interiorizadas, os pais são interiorizados como íntimos ou distantes, juntos ou separados, próximos ou longínquos, amigos, hostis, etc, em relação um ao outro ou ao observador (pag12)

A família é o melhor que temos porque é o local da segurança e dos afectos. Uma família é para sempre, e não deve durar apenas até ao divórcio dos pais  ou até às partilhas das heranças.
Uma família pode ter todos os defeitos das pessoas, não é melhor nem pior que as pessoas, tem emoções positivas e negativas.
Quer se queira ou não todas as famílias são alargadas porque nelas também estão presentes, estejam vivas ou não, as pessoas que não vivem na mesma casa como os avós, tios, etc e até as sogras.

Na família, os pais não sabem tudo acerca de como lidar com os filhos mas tentam sempre fazer o melhor.
E às vezes fazem mal, apesar das informações da  internet (que nem todos têm) e outros pais estão desorientados ( Fernanda Campos – Psicologia escolar) e não sabem o que fazer…

A família está ai com as suas virtudes e defeitos com a sua decadência e renovação, o "homem novo" que  preconizavam os "sábios" do marxismo e comunismo  ou da antipsiquiatria, como Cooper, continua a ser o homem de sempre e se existe, existe em qualquer sociedade porque cada ser humano pode ser esse homem novo.

A família passa por todas as crises normais de desenvolvimento. Pode ter mais defeitos ou menos, perturbadores ou não, mas também tem circunstâncias fundamentais para o nosso desenvolvimento mais profundo. 
A família é o local das perdas mais significativas da nossa vida mas " Essas e outras mortes ocorridas na família me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a morte que docemente aprendi essas relações entre o Efémero e o Eterno. Em toda vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção ou sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento da minha personalidade." Cecília Meireles

A família deve ser, mais ou menos o que José Mourinho escrevia na revista do jogo Chelsea-Norwich: "Sei que este espaço é para comunicar com os adeptos, mas um de vocês é o meu filho. Quero agradecer-lhe por estar comigo cada segundo de cada jogo, poucos metros atrás de mim, saltando a cada golo, sofrendo com cada momento difícil. Obrigado, miúdo, por seres o meu filho. Sempre que olho para ti, vejo-te, mas também vejo a tua irmã e a tua mãe, ambas em casa a torcer por nós, à espera que cheguemos a casa para sermos o que somos - uma família extraordinária... Como a família azul, apoiando-se uns aos outros".
(Claro que a família azul é ainda "outra família").

A família é o lugar da memória afectiva mesmo quando se perde a memória.