Mostrar mensagens com a etiqueta Terapias. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Terapias. Mostrar todas as mensagens

19/08/25

Florescer


Peggy Lee -  É só isso ? (Is that all there is?)


"Is that all there is?", música interpretada por Peggy Lee, descreve alguns eventos da vida, positivos e negativos: um incêndio presenciado na infância, o encantamento do circo e a experiência sem sucesso de um relacionamento amoroso. Seja qual for a situação, resulta sempre insatisfação e desilusão, algo está  sempre em falta. Que mais tem a vida para oferecer? Na festa e na desgraça, é só isso ? Na alegria e na tristeza, é só isso?
O tema é glosado de diferentes maneiras, como em "Estou além" (António Variações): “Esta insatisfação / Não consigo compreender / Sempre esta sensação / Que estou a perder”. Ou, mesmo quando "o homem do leme" enfrenta o destino com coragem para ultrapassar as dificuldades, "a vida é sempre a perder" (Xutos e Pontapés - "O homem do leme").

A "síndroma Peggy Lee" parece abranger muita gente para quem tudo é insatisfatório. De facto, em tempos de tédio, insatisfação permanente e vitimização imperiosa, não há mais nada para viver? Perante guerras tão miseráveis quanto cínicas não é caso para perguntar: a guerra é só isso? 
Ou mesmo quando em tempos mais pacíficos, a nossa luta interior, não nos deixa sossegados, a vida é só isso?

Os mais novos parece serem mais afectados por esta condição: como refere Pedro  Strecht.
"- Podia explicar o que quer dizer com a descrição da sensação: "estou mal, porque estou bem"? 
- Porque estar bem, para muitos pais e filhos, parece ser sempre insuficiente. Quando nos esquecemos que, em várias ocasiões, "menos é mais", somos facilmente levados a um padrão de constante sensação de falha ou falta porque, mesmo que já se tenha "tudo", parece sempre que "nada" chega. (Entrevista a Vanda Marques, "Pedro Strecht: Nunca existiram tantas crianças e adolescentes a sentirem-se sós", Sábado, 13 de Julho)

Temos alguns momentos, breves ou persistentes, de melancolia, passamos por momentos de tristeza e apatia que podem ser uma reação emocional normal a perdas, decepções ou situações difíceis da vida. A melancolia persistente por longos períodos é como a depressão e possui os mesmos sintomas: a pessoa não se interessa por nada ao seu redor, nenhum acontecimento traz prazer ou alegria e a vida deixa de ter interesse.

Também existe relação com o luto. "Contudo, a melancolia contém algo mais que o luto normal. Na melancolia, a relação com o objeto não é simples; ela é complicada pelo conflito devido a uma ambivalência. Esta ou é constitucional, isto é, um elemento de toda relação amorosa formada por esse ego particular, ou provém precisamente daquelas experiências que envolveram a ameaça da perda do objeto. Por esse motivo, as causas excitantes da melancolia têm uma amplitude muito maior do que as do luto, que é, na maioria das vezes, ocasionado por uma perda real do objeto, por sua morte. Na melancolia, em consequência, travam-se inúmeras lutas isoladas em torno do objeto, nas quais o ódio e o amor se digladiam; um procura separar a libido do objeto, o outro, defender essa posição da libido contra o assédio." ( Freud, Luto e melancolia)

Também, em Psicologia, falamos de alexitimia (palavra de origem grega: a-falta de, sem; lexis-palavra; thymus-emoção ou ânimo), utilizada pela primeira vez por Peter Sifneos, em 1967. A alexitimia é um construto que "designa a falta de palavras para descrever as emoções. Afetivamente conduz a uma grande dificuldade em reconhecer, descrever e discriminar sentimentos e emoções. Cognitivamente, há um estilo de pensamento muito particular, virado para o concreto e para o exterior e relacionalmente, há relações úteis, pragmáticas e superficiais. Existe uma incapacidade em perceber o outro com uma individualidade própria, os seus sentimentos, havendo portanto uma reduzida empatia e compreensão." (S. Pereira, Alexitimia, ITAD)

"Is That All There Is?" coloca a questão fundamental sobre o que é a vida e como podemos responder.
Os paraísos artificiais que invariavelmente levam ao meio do nada ou, definitivamente, a  lado nenhum, podem parecer que é por aí que encontramos resposta para a insatisfação e infelicidade mas, como neste caso, depressa se percebe "que tinha parado de ter qualquer esperança, sonhos ou objectivos. Chamei isso de meu momento Peggy Lee".  Então a droga é só isso?

Assim sendo, "Eu sei o que devem estar dizendo a si mesmos: Se é assim que ela se sente, por que ela simplesmente não acaba com tudo?
- Ah, não, não eu, eu não estou pronta para essa decepção final. Porque eu sei tão bem quanto estou aqui falando com você que quando esse momento final chegar e eu estiver dando meu último suspiro, estarei dizendo a mim mesma:
É só isso, é só isso?
Se é só isso, meus amigos, então continuemos dançando.
Vamos beber  e divertir-nos.
Se é só isso."

Não é só isso. Não pode  ser só isso: viver por viver. Podemos sempre superar as dificuldades, superar o trauma. Podemos, sempre, ser resilientes e prosperar, se quisermos. Podemos fazer o caminho da psicoterapia, o caminho do florescimento,  o caminho da espiritualidade e, se é pessoa de alguma fé, o caminho da ressurreição.

A falta de um propósito para a vida parece fundamentar esta falta de interesse pela vida. logoterapia (Victor Frankl), diz-nos que a vida tem um sentido e, se assim é,  pode se ser o começo da psicoterapia/cura.
M. Seligman criou o modelo de florescimento constituído pelos seguintes elementos: emoção positiva, envolvimento, relações,  significado, realização pessoal (PERMA).
Florescer permite uma cultura de cuidado, do próprio e do outro, fazendo o mundo mais bonito por dentro, e, ao  cuidar da natureza, fazendo o mundo mais bonito por fora. A beleza vem da escolha: podemos escolher entre a "vida vazia" ou "a vida plena". Como diz Epicteto, "Não és o teu corpo nem o teu penteado, mas sim a tua capacidade de escolher bem. Se as tuas escolhas forem belas, então serás belo". (Ryan Holiday e Stephen Hanselman, Estoico todos os dias, p. 110)
"A vida vale a pena ser vivida", mesmo contra "os pensamentos catastróficos automáticos" (Seligman, p. 65) e "Todos podemos dizer sim a mais bem-estar" (p. 257). 
Florescer é, afinal, encontrar o bem-estar na vida, como é definido por Seligman. E isso está a acontecer em muitos países. Nuns mais do que noutros. Felicia Huppert e Timothy So, da Universidade de Cambridge, definiram e avaliaram o florescimento em  23 países da União Europeia (2009). A Dinamarca liderava o ranking com 33% da população florescendo. E Portugal estava em penúltimo lugar com  cerca de 7%. (pp. 41-43 e 254-257) 

No início de Agosto, mês de férias, e, portanto, mês de sair da azáfama quotidiana de procura incessante das riquezas - vaidade - a primeira leitura, na liturgia de domingo, apresenta um texto lindíssimo do Eclesiastes: vaidade das vaidades tudo é vaidade. 
Salomão (Eclesiastes), suposto autor, desiludido e amargurado depois de uma vida de glórias e prazeres, constata a inutilidade de todos os esforços do homem e conclui que tudo na vida é “vaidade” ou “ilusão”.
Então, onde procurar o bem-estar? Se tudo é vaidade, tem de ser noutro lugar para que tudo faça sentido.

_____________________________
*
As referências são de M. Seligman, A vida que floresce, estrelapolar/Leya, 2011.

26/06/25

Olá, solidão!





À medida que vou envelhecendo tenho mais necessidade de estar acompanhado, compreendo melhor a necessidade de estar com os outros e fico ansioso quando sinto que estou só, mesmo que isso signifique apenas isolamento social e não solidão não desejada.
De facto, estar rodeado de gente não resolve os sentimentos de solidão. Como o contrário, viver sozinho não é sempre sinónimo de sentir solidão. 
Refiro-me à solidão que faz mal à saúde.

Segundo V. Murthy, referido por Isabel Sánchez, a solidão “alastra como uma epidemia”, uma "epidemia oculta”, como foi referido no Reino Unido que criou o Ministério da solidão. (1)
Isabel Sánchez em A Cultura do Cuidado refere que “A solidão é um problema de saúde pública. E não é por acaso que foi integrada pelos governos de alguns países nas respectivas agendas de trabalho (2); a solidão está na origem e é um agente promotor das grandes epidemias do mundo atual, desde o alcoolismo e a dependência de drogas até à violência, à depressão e à ansiedade”.
“Mas a solidão não afeta apenas a saúde; afeta igualmente, o comportamento das crianças na escola, o nosso rendimento no trabalho, bem como o sentimento de divisão e polarização que domina sociedade.” (p. 134)
“... O que está presente no fundo da nossa solidão é o desejo inato de nos relacionarmos com os outros, porque o ser humano é uma criatura social...” (p.135)

Sabemos bem a importância da relação social para o desenvolvimento da criança; conhecemos as experiências de carência de contacto, carência de afeto e vinculação em que certas crianças ficaram e quanto isso perturbou o seu desenvolvimento.
Sabemos da importância que a necessidade do outro tem no grupo de adolescentes; enquanto adultos a importância do outro no trabalho ou, quando na velhice, precisamos de alguém que nos ajude em tarefas essenciais das actividades da vida diária que nós já não somos capazes de fazer.

A solidão “é um dos males do nosso tempo, uma pandemia do presente, que provoca mais mortos que a poluição ambiental, a obesidade e o alcoolismo... o isolamento afeta a qualidade do sono e faz aumentar os sintomas depressivos e os níveis matinais de cortisol que é a hormona do stress”... (Facundo Manes, referido por I. Sánchez, p.135)

Também em Portugal vivemos esta realidade. Um estudo com mais de 1200 pessoas entre os 50 e os 101 anos, concluiu que: 
- as mulheres (20,4%) sofrem mais de solidão do que os homens (7,3%).
- as pessoas com menor escolaridade apresentam mais solidão (25,8%).
- o sentimento de solidão aumenta com a idade: 9,9% dos 50-64 anos; 26,8% com 85 anos ou mais.
- é mais frequente nas pessoas viúvas (30,6%) e nas pessoas solteiras (15,8%) do que em pessoas casadas (9,2%).

As férias que estão a chegar são uma excelente oportunidade para novos contactos sociais ou para renovar contactos sociais que, eventualmente, estavam perdidos, desde logo dentro da nossa família, com os nossos filhos ou com amigos que não víamos há muito tempo. É um tempo em que podemos refazer relações sociais que nos devolvam a alegria de viver. 


Desejo a todos umas boas férias.



__________________________

(1) Marta Rebelo, "Precisamos de um Ministério da Solidão?" Visão, 10.03.2021 ;  "Há países que já têm um Ministério da Solidão. E Portugal?" Agência Lusa , CM.

(2) No nosso país foi aprovado o Plano Nacional de envelhecimento activo (Resolução do Conselho de Ministros nº 14/2024, de 12-1 )




Rádio Castelo Branco






20/06/25

“Mal-estar na civilização”


Ouvimos dizer que o mundo está polarizado. Mais do que isso: o mundo está em guerra e assistimos a atrocidades inimagináveis.
Este século começou mal, com um ataque violento aos Estados Unidos em que foram derrubadas as torres gémeas com cerca de 3000 pessoas mortas (2.977, além dos 19 sequestradores dos aviões). O 11 de Setembro é considerado o ataque com o maior número de mortos da história. Além disso, foi uma tragédia que mudou, em vários aspectos, os rumos do mundo.
Depois veio a pandemia cujos resultados, como estamos agora a constatar, não deixaram tudo bem, antes pelo contrário.
Vivemos, pelas paredes-meias da comunicação social, com a guerra da Ucrânia-Rússia, Israel-Gaza-Irão.

Vivemos “o mesmo mal-estar de que Freud nos falava no início do século XX, no texto O mal-estar na civilização, “em que apresenta uma visão pessimista da relação entre o eu e o outro. É uma visão decorrente de uma leitura que centra a reflexão em torno do conceito de narcisismo; ou seja, tomando como ponto de partida os apelos e desejos narcísicos do eu, o outro aparecerá como um obstáculo. (1) 

O ambiente está, de facto, polarizado e irrespirável. A saúde mental foi afectada de forma particularmente sensível.
Claro que as pessoas são afectadas de forma diferente. Há pessoas que são mais afectados do que outras. Ou seja, em que as vulnerabilidades pessoais são mais relevantes do que as potencialidades.

Deste desequilíbrio surge, então, a doença mental.
"Se definirmos a doença mental como uma perda de controle sobre a mente poucos de nós podem garantir estar livres de algum tipo de mal-estar."
“Quando ficamos doentes perdemos o controle sobre os nossos melhores pensamentos e sentimentos. Uma mente que não está bem não consegue aplicar um filtro à informação que chega à consciência; já não consegue ordenar e sequenciar o seu conteúdo. E a partir daqui, sucede-se uma panóplia de cenários dolorosos:
- A nossa consciência é continuamente invadida por ideias despropositadas, como vozes inclementes que ecoam sem parar...
- Somos incapazes de nos reconciliarmos com quem somos.Todas as coisas más que alguma vez dissemos ou fizemos reverberam e ferem nossa auto-estima...
- Não conseguimos moderar a nossa tristeza. Não conseguimos ultrapassar a ideia de que não fomos realmente amados, que fizemos da nossa vida adulta uma bagunça que desapontamos todas as pessoas que alguma vez tenham tido um pingo de esperança em nós...
- Todos os compartimentos da nossa mente estão escancarados. Os pensamentos mais estranhos, mais extremos, correm descontrolados pela nossa consciência. Começamos a temer que possamos gritar obscenidades em público...
- Nos casos mais graves perdemos o poder para distinguir a realidade exterior do nosso mundo interior...
- Á noite... ficamos indefesos perante as nossas piores preocupações... (2)

Mas a vida é assim. A verdadeira saúde mental, diz-nos Alain de Botton, envolve uma aceitação honesta de que, mesmo nas vidas mais competentes e significativas, haverá sempre algum grau de sofrimento e dificuldades...


Até para a semana.


__________________________


(2) Alain de Botton, Uma viagem terapêutica, D. Quixote, p. 16-19.




Rádio Castelo Branco




23/05/25

Vínculo vital


Amar é uma tarefa da vida inteira. Aprender a amar também. Temos assim a possibilidade de experimentar desafios que ao longo do tempo vamos tentando superar; isto quer dizer que a nossa vida  é também um processo terapêutico em que nos adaptamos e tornamos melhores pessoas.

“Aprender mais sobre o que é o verdadeiro amor é essencial para superar a confusão mental, permitindo-nos detetar a sua ausência na forma como nos tratamos e começar a nutrir e honrar a sua presença naqueles de quem decidimos aproximar-nos”. (Alain de Botton, Uma viagem terapêutica, p.131)

Para Alain de Botton, temos uma ideia fundamentalmente romântica e pouco útil do amor segundo a qual o amor é a recompensa que alguém recebe pelos seus pontos fortes: ser rico, popular, carismático...

Porém, existe uma outra concepção de amor, não como recompensa pelos pontos fortes mas como simpatia e compromisso com a fraqueza: “Amor é o que sentimos quando vemos um bebé recém-nascido, indefeso  perante o mundo, a tentar agarrar o nosso dedo, apertando-o com força e esboçando um sorriso  frágil e agradecido.”...

As pessoas em quem devemos acreditar “são aquelas que se comovem com as nossas crises que estão por perto nas horas mais sombrias que estarão ao nosso lado quando o resto do mundo estiver a fazer troça.” (idem)


Sob o signo do afecto (da capa),
 de B. Cyrulnik  

Na encíclica Fratelli Tutti, o Papa Francisco, definiu o vínculo amoroso como o vínculo da vida:  “ninguém pode experimentar o valor de viver, sem rostos concretos a quem amar” (nº 87), ou seja, com as suas potencialidades mas também fragilidades.

Este vínculo vital exige rostos concretos a quem amar. São pessoas que têm as suas características mesmo que não sejam aquelas que mais apreciamos.

 

Ou seja, a nossa viagem humana  é constituída pelas nossas potencialidades mas também pelas vulnerabilidades: “as fraquezas, carências, medos, imaturidades, incompetências ou simples esquisitices”. (idemNo fundo, características humanas. Tanto umas como outras  podem ter aspectos importantes nessa viagem. Podemos aprender a amar e esta aprendizagem implica podermos ser vulneráveis.


No “decurso da vida” que inicia com a infância pode acontecer que as vulnerabilidades, como as perturbações psíquicas, provoquem rupturas no equilíbrio da nossa personalidade. 

Vão com certeza acontecer crises previsíveis mas  também imprevisíveis, algumas dessas crises podem transformar-se em factores de risco e, em alguns casos, factores de perigo, que seja necessário controlar ou resolver.

E é da interacção de potencialidades, como factores de protecção, e vulnerabilidades, como factores de risco, que pode surgir o equilíbrio na nossa vida e na nossa vida mental.

 

Os psicólogos têm vindo a adoptar sistemas compreensivos desta realidade. Assim, do jogo entre potencialidades e fragilidades resultantes do processo de socialização, das condições sócio-culturais e biopsicológicas do indivíduo (como, por ex., a adaptação cognitiva resultante do processo de assimilação e de acomodação) pode resultar a adaptação ou desadaptação;  e este é um processo de equilíbrios sucessivos (ou equilibração) em que as estruturas mentais vão mudando.

Para Alain de  Botton, os paradigmas da psicoterapia podem aplicar-se às relações amorosas, mesmo quando as relações são difíceis, como a escuta activa, suavizar a linguagem...

 


Até para a semana.





Rádio Castelo Branco 





02/04/25

Histórico e ressentimento


Tudo o que fazemos, dizemos ou sentimos fica guardado na memória. E logo que isso acontece começa a haver história. 
Porém, sabemos que não há memória sem esquecimento como também sabemos que a memória nos engana e aquilo que pensamos ser um facto vivenciado por nós em determinadas circunstâncias objectivas, pode não ser bem assim. 

Seja como for, há um conjunto de memórias onde ficam guardados acontecimentos da nossa vida que constituem o "histórico" dessa mesma vida, a memória autobiográfica.
Esse histórico é fundamental para nos situarmos no mundo e faz parte da experiência que temos do comportamento de ir juntando acontecimentos, factos, pequenas e grandes coisas que vão ganhando ou perdendo importância e quando vistas no contexto podem ser amplificadas ou simplificadas... até nos dar jeito. 

O histórico tem um lado positivo quando ele nos serve para vermos a realidade tal como ela é, os factos e como aconteceram, e tem um lado negativo quando nos serve para justificarmos o nosso ressentimento. *
O que vem depois é o efeito gota de água que faz transbordar o copo. E infelizmente, há sempre uma gota de água que vem a calhar, quando nos dá jeito, para podermos justificar o nosso comportamento. 
Quando achamos uma oportunidade lá vamos nós buscar o histórico, o nosso ressentimento: no dia tantos fizeste-me isto, fizeste aquilo...
E sai todo um relatório de “deve e haver” em relação à nossa vida e à relação com quem naquele momento é fonte da nossa frustração e objecto da nossa raiva.

Esta interligação está muitas vezes na origem do ressentimento que existe entre pessoas, num casal, na família, no trabalho, nas instituições sociais e políticas.
Hoje o ressentimento está presente em muitas situações e visões da sociedade.
Há cada vez mais indivíduos ressentidas: vitimizados, ofendidos, magoados, ressabiados e melindrados...

Nós não somos computadores e não podemos apagar o nosso  histórico como fazemos ao nosso hardware. A nossa memória apaga alguns acontecimentos mas outros ficam presentes, ou são alterados fazendo com que demos interpretações dos factos que não correspondem à realidade.
Podemos passar por esses eventos e nunca mais pensar neles. Mas podemos também desenvolver o ressentimento. 

“O ressentimento pode fazer mal às nossas relações e ocasionar um conjunto de emoções negativas.” (Louise Leboyer, "Ces comportements cultivent votre ressentiment envers les autres au quotidien", Psychologies, 24 março 2025 )
“As pessoas guardam muito os seus ressentimentos porque se baseiam no profundo sentimento de terem sido injustiçadas.
Além do impacto nos nossos relacionamentos, o ressentimento causa mais danos à pessoa que o sente do que à pessoa a quem é dirigido. 
É por isso que é melhor tentar evitar cair neste ciclo negativo.“
Podemos evitar (Susanne Wolf) alguns comportamentos envolvidos na comunicação que podem ser fonte de ressentimento.
Por isso, uma comunicação saudável é uma boa prevenção: Estabelecer limites claros; evitar a manipulação ou relações interesseiras; ser coerente entre palavras e actos, valores e crenças; saber escutar... 



Até para a semana. 



____________________________

* "O ressentimento descreve uma reação emocional negativa quando se é maltratado. Não existe uma causa única para o ressentimento, mas a maioria dos casos envolve uma sensação subjacente de ser maltratado ou injustiçado por outra pessoa. Experimentar frustração e decepção é uma parte normal da vida. Quando os sentimentos se tornam muito opressores, podem levar ao ressentimento. Quando isso acontece, a confiança e o amor nos relacionamentos são quebrados e às vezes nunca reparados."  (Signs of Resentment - Web MD)




Rádio Castelo Branco










17/03/25

O bom da partida é o regresso


Cipriano de Rore - Ancor che col partire


Ancor che col partire

Io mi sento morire
Partir vorrei ogn' hor, ogni momento:
Tant' il piacer ch'io sento
De la vita ch'acquisto nel ritorno:
Et cosi mill' e mille volt' il giorno
Partir da voi vorrei:
Tanto son dolci gli ritorni miei







12/03/25

Ideias que curam 2


 

No meio da grande confusão que vai pelo mundo, e mesmo no nosso pequeno mundo nacional, é preciso que consigamos alguma tranquilidade, sensatez, racionalidade.

É penoso, e talvez para algumas pessoas, perturbador, assistir a tantos desentendimentos, afastamentos, polarizações.

Os dias passam e acrescentam mais ódios e relações cada vez mais clivadas.

Talvez tudo tenha mudado em 11 de Setembro de 2001, quando as torres gémeas foram deitadas abaixo: “O dia que fez abalar o mundo”. (Amaral Dias, Um Psicanalista no Expresso do Ocidente)


Nunca foi fácil para cada pessoa encontrar o equilíbrio na vida e também não o é actualmente. Podemos dizer, no entanto, que é sempre possível “converter qualquer obstáculo num meio para atingir os fins”. Neste caso, atingir o equilíbrio.

Sem dúvida, que tem um papel muito importante tudo o que possamos fazer para nos ajudarmos a nós próprios.

Sei que, também nesta área da auto-ajuda, é necessário ser selectivo porque  há muitos caminhos que podem servir outros propósitos que não sejam os que  interessam.

 

Já aqui tenho escrito e falado (RACAB) em vários procedimentos  terapêuticos que podemos usar na gestão do equilíbrio que procuramos para a nossa vida: a terapia da natureza, a hortiterapia, a biblioterapia, a filosofia, a leitura e prática do estoicismo, as práticas da meditação que vão da terapia mindfulness até à prática da oração...

Por estes dias de incerteza, leio Séneca, Sobre a brevidade da vida, que pode ser um bom começo para fundamentar  esta perspectiva....

Tudo o que está à nossa volta nos preocupa. Vivemos preocupados, ou seja, há todas as condições, políticas, sociais e familiares para que assim seja...

“Mas (diz Séneca) há quem viva preocupado mesmo quando em repouso:  Em casas de campo, no leito, no meio da solidão. Mesmo quando totalmente sozinhos, são a pior companhia que podem ter. Não vivem descansados, mas com preocupações persistentes.”(p. 22)

Provavelmente, estamos nesta categoria e se calhar temos justificadas razões para isso: somos daqueles que trabalham ate à exaustão, até ficarmos doentes (burnout), workaholics inveterados, regressamos cansados de férias,  ficamos cansados de ver tv ou das redes sociais...

 Outra das minhas leituras é Estoico todos os dias, de Ryan Holiday e Stephen Hanselman, que propõe um pensamento para cada dia do ano, principalmente a partir dos textos de Séneca, Epicteto, Marco Aurélio. Uma proposta de leitura para cada dia do ano, mas mais do que isso de meditação.

A leitura para o dia 11 de Março parte de uma frase de Epicteto: “O homem sem impedimentos, que tem à mão as coisas como quer, é livre. Mas aquele que possa ser impedido, coagido ou empurrado para fazer qualquer coisa contra a sua vontade, é um escravo.”(p.103)

As pessoas perdem a liberdade em troca do que supõem ser o êxito, o poder, a riqueza e a fama, são “prisioneiras nas cadeias que elas próprias construíram”.

Se pensarmos bem, há 50 anos, aconteceu o 11 de Março de 1975, com todos os desmandos e  violência que se seguiram e que só viriam a terminar com o 25 de Novembro desse ano.

Não podemos dizer que a crise actual é pior.

 


Até para a semana.




Rádio Castelo Branco










22/01/25

Percepção e Realidade


Daqui



A percepção é uma “conduta psicológica complexa através da qual um individuo organiza as suas sensações e toma conhecimento do Real.” (Dicionário Temático Larousse – Psicologia, Círculo de Leitores, p. 198)

Podemos referir alguns aspectos fundamentais da percepção:

- A percepção é a única forma que nos permite conhecer a realidade. Sem percepção viajávamos sem referências pelo nosso mundo exterior e interior.

- É necessário haver integração sensorial (Teoria da integração sensorial de Jean Ayres) que é a capacidade do sistema nervoso central para receber, processar e interpretar informações sensoriais provenientes dos diferentes sentidos: visão, audição, tacto, olfato, paladar, propriocepção (perceção do corpo no espaço) e o sistema vestibular (equilíbrio e movimento)... para criar uma imagem coerente e organizada do mundo e do próprio.

- A percepção é subjectiva. "Estes são os meus olhos, isto é o que eu vejo e é assim que eu penso." A minha percepção não é a de toda a gente. Cada pessoa tem a sua percepção. A percepção da realidade não é uma reprodução exacta do mundo exterior, mas uma construção subjectiva dessa realidade baseada nas nossas experiências e interpretações individuais.

- A percepção da realidade é influenciada por diversos factores, como experiências passadas, crenças, valores, cultura e emoções.
Tendo em conta estas características, concluímos que a percepção pode enganar-nos e levar-nos a cometer erros de análise e de avaliação. E, além disso, estes erros podem ser perigosos para o próprio e para os outros.
De facto, tudo isto acontece porque “o problema dos humanos é que eles vêem o universo mais com as suas ideias do que com os olhos” (Boris Cyrulnik), ou seja, entre os humanos, ver a realidade significa lê-la de uma determinada maneira. Essa leitura passa por vários mecanismos complexos de processamento das informações... (Jean-François Dortier, "La perception, une lecture du monde", Sciences Humaines)

- Tendo em conta estas características da percepção, podemos concluir: A percepção que eu tenho da realidade pode enganar-me e levar-me a ver a realidade de forma errónea. 

Toda a polémica acerca da insegurança e do medo relacionados com o que se passa em determinadas zonas duma cidade, como o Martim Moniz, deve levar em conta o nosso condicionamento e subjectividade. 
Mesmo os que consideram que lêem melhor a realidade porque sabem ler melhor a sociedade e as estatísticas, como os comentadores dos media, seguem as suas percepções que dependem das preferências politico-partidárias com que simpatizam ou têm afinidade, as suas crenças e visão do mundo...
A realidade não muda pelo facto de haver mais ou menos pessoas que pensam que estão do lado das boas percepções da realidade. 

Não há uma percepção mas percepções. A leitura da realidade está sujeita a erros perceptivos por parte de toda a gente: por aqueles que defendem a polícia e por aqueles que são contra o “modus operandi” da polícia, ou, simplesmente, contra a polícia e contra o poder incumbente. 
E este enviesamento perceptivo é o maior erro de quem se recusa a ver, ouvir e achar que não se passa nada. 
Não era Fanhais que cantava os versos de Sophia “Vemos, ouvimos e lemos não podemos ignorar” ? 


Até para a semana.



Rádio Castelo Branco




15/01/25

Ideias que curam


Factors-that-Impact-Health



Procuramos a felicidade. Tudo o que fazemos na nossa vida  são meios para atingir a felicidade e o bem-estar.

No entanto, a experiência da tristeza e de outras emoções negativas fazem parte desta procura. Ela é mais marcante  em datas e momentos especiais em que  tudo o que acontece merece uma maior valorização: as festas, as datas  comemorativas, os dias de aniversário são acompanhados de tristeza, exactamente porque neles nos recordamos dos ausentes. (Reacções de aniversário) 

Há momentos, como o Natal, tempo de amor e de paz, em que essas memórias são particularmente dolorosas, como as expectativas não concretizadas de uma reunião familiar, como foi o caso este ano, devido às guerras, à falta de saúde, à gripe e outros vírus, à solidão da velhice e tantas ausências que nos fazem sentir ainda mais  a fragilidade do nosso bem-estar.


Para além dos comprimidos e xaropes prescritos para contrariar  a maldita gripe, se houver vontade, que falta muito quando estamos doentes, podemos encontrar lenitivo na prática que ajuda a superar pensamentos, sentimentos e emoções negativas e desajustadas. 

 

O filósofo William B. Irvine (referido por Marianna Pogosyan, "5 Ancient Ideas That Can Help You Flourish Today", Psychology Today ) recorda-nos algumas “ideias antigas” que podem ajudar o nosso bem-estar.

 

1. Visualização negativa de gratidão.

Face ao sofrimento, por mais sombrio que possa parecer, podemos usar a “visualização negativa para despertar um profundo apreço pela vida”, como faziam os filósofos estóicos. 

Afinal, há tantas pessoas em situações piores do que as nossas que, só por isso, já vale a pena estarmos felizes.


2. Enquadramento para reduzir emoções negativas.

Como nas molduras das pinturas ou fotografias, “as molduras psicológicas que pomos à volta dos acontecimentos da vida podem influenciar as nossas reações emocionais .” Ou seja, o sofrimento devido a algo externo não se deve “ à coisa em si, mas à avaliação que fazemos dela; e isso podemos terminar a qualquer momento.” Podemos experimentar diferentes molduras para vermos perspectivas diferentes, podemos até reagir com humor...  


3. A meditação da “última vez”.

Haverá sempre uma última vez para tudo o que fazemos. Pode ser apenas um momento de recordar como fomos felizes ou pensar que a felicidade está a acontecer agora e aproveitar o tempo para amarmos ainda mais quem merece o nosso amor. E, afinal, ainda podemos ir além do que estava previsto (última vez+1). 

4. Conhecer tudo para cultivar o prazer. 

Podemos tornar-nos conhecedores de arte, música, natureza, culinária... Porque ao sermos conhecedores do mundo em que vivemos, podemos aproveitar plenamente as nossas vidas e perceber que vivemos num “jardim prazeroso”. 


5. Meditação antes de dormir.

 Na hora de dormir podemos avaliar os nossos comportamentos e atitudes durante o dia para termos mais autoconsciência: se fui gentil, fui curioso, fiquei chateado por algo insignificante,  se fui capaz de manter a calma face aos contratempos, ou se experimentei alegria e prazer.


Em resumo, perante as adversidades e contrariedades da vida, falhas de expectativas e mudanças de planos, temos várias prescrições de terapias, a nível da saúde e também a nível psico-social, que nos podem ajudar a remover essas pedras indesejadas do nosso caminho de bem-estar.

 

 

Até para a semana.

 

  



Rádio Castelo Branco






28/11/24

Resiliência


A palavra resiliência tem vindo a ser usada com grande frequência e em diversos contextos. Encontrou adeptos no domínio social, comportamental e cognitivo, e em psiquiatria, psicologia clínica e psicopatologia. Também a sociologia e a etologia usam este conceito... (M. Anaut, p. 50) 
Até serviu para dar título a um programa comunitário para “Recuperar Portugal” na pós-pandemia: o conhecido PRR - Plano de Recuperação e Resiliência.
E a Estée Lauder tem um creme para a pele com as características: Hidratação, anti-envelhecimento, iluminador, nutrição, protecção contra influências externas, de nome Resilience multi-effect.
Na física, a palavra resiliência corresponde às propriedades de resistência de um material, ou seja, a sua capacidade de retornar ao estado original, após sofrer diferentes pressões. 
Para a psicologia uma pessoa será resiliente quando é capaz de voltar ao seu estado habitual após passar por uma experiência difícil ou traumática.

Deve-se à psicóloga americana Emmy Werner, o principal papel no início do estudo da resiliência como resultado “de um equilíbrio evolutivo entre o confronto com elementos nefastos ou stressantes do meio, a vulnerabilidade e os factores de protecção do sujeito, internos (temperamento, capacidades cognitivas, autoestima... ) e externos (fontes não oficiais de apoio, tais como a família alargada, o bairro e os recursos comunitários)”. (p. 48-49)

A resiliência é um assunto que me tem interessado particularmente dadas as interacções que tem com os Bons Tratos 
De facto, um eixo da pesquisa sobre a resiliência tem vindo a estudar os bons tratos. 
Os bons tratos (que não significam apenas a ausência de maus tratos) são um processo e não um estado e pode ser comparado ao conceito de qualidade de vida, compreendendo elementos objectiváveis e aspectos subjectiváveis
Trata-se de um processo federador, de que faria parte a resiliência, o empowerment, sentimento de coerência e coping e pode aplicar-se a lares com bons tratos. (Detraux (2002) citado por Anaut, p. 79)

A resiliência tem sido estudada como:
- uma capacidade, traço de personalidade, resultado de um funcionamento
- equilíbrio entre factores de risco e factores de protecção
- processo adaptativo dinâmico
- não perene, pois trata-se de um processo
- a curto prazo (resposta ao traumatismo) e longo prazo
- estrutural (tem a ver com a atitude face à adversidade, quotidiana..) e conjuntural que resulta do confronto com o traumatismo externo, maciço e único 
- processo psíquico: processo em que os organizadores psíquicos se mobilizam para ajudarem no tratamento traumático...

Haverá um perfil resiliente?
De acordo com Cyrulnyk (referido por Anaut) um indivíduo resiliente teria uma estrutura composta pelas seguintes características:
- QI elevado
- Autonomia e eficácia nas relações com o meio
- Percepção do seu próprio valor
- Boa capacidade de adaptação relacional e de empatia
- Capaz de prever e planificar
- Sentido de humor

Segundo Rutter (citado por Anaut), há três características principais nas pessoas que desenvolvem um comportamento de resiliência perante as condições psicossociais desfavoráveis:
- A consciência da sua autoestima (ou autovalorização e do sentimento de Si)
- A consciência da sua eficácia
- Um repertório de formas de resolução de problemas sociais. 
A autoestima compreende uma disposição mental que prepara o indivíduo para reagir segundo as expectativas de êxito.
A autoeficácia leva o indivíduo a ter a convicção de que tem as capacidades necessárias para ter êxito numa determinada tarefa.

Então quem se sente capaz, válido, importante, tem amor de si, visão de si e confiança em si, e tem apoio nas suas experiências familiares e sociais positivas... é porque é resiliente.



Até para a semana.


 

 

 Rádio Castelo Branco 

 

 



21/11/24

Prevenir – mapas de risco e códigos de conduta


A prevenção da violência sexual e dos abusos sexuais na família e nas instituições passa também pela elaboração de Mapas de Risco e de Códigos de Conduta e Boas Práticas.
O que são então Mapas de risco e Códigos de Conduta e Boas Práticas? O Manual de Prevenção da Violência Sexual contra Crianças e Adultos Vulneráveis no contexto da Igreja Católica em Portugal e o KIT VITA são excelentes auxiliares para levar à compreensão e à prática da prevenção.

Um mapa de risco é um instrumento que permite identificar os riscos específicos da atividade de cada organização e propor as estratégias preventivas a implementar. É uma representação qualitativa dos riscos apresentados num dado ambiente ou contexto de interacção e deve ser objecto de avaliação contínua. 
Para a estimativa do risco podem utilizam-se parâmetros como a Probabilidade de ocorrência; e o Impacto do dano. 
Se, por exemplo, pela probabilidade de ocorrência e impacto do dano, o risco é alto ou muito alto, a actividade não deve iniciar-se até que seja reduzido o risco. Se não for possível reduzir o risco, a actividade deve ser suspensa.

Os Códigos de Conduta e Boas Práticas integram um conjunto de normas específicas relativas à protecção e cuidado de crianças/adultos vulneráveis. Apresentam, de forma clara, os valores, atitudes e comportamentos a adoptar no contacto interpessoal, bem como aqueles que devem ser evitados ou proibidos, e dizem respeito a áreas tão diversas como a linguagem, os comportamentos, o contacto individual, a supervisão, a privacidade em diferentes contextos, a gravação e captação de imagens, as atuações em situações de maus-tratos, a gestão de informação confidencial, entre outras. 

Se tivermos como analogia o semáforo podemos pensar que há comportamentos e atitudes que são proibidos (vermelho), outros são comportamentos a evitar, o amarelo, e outros que devem ser promovidos (verde).

Há muitos destes comportamentos e atitudes que sempre fizeram parte da nossa prática de pais e educadores, mas, provavelmente, haverá outros que nos fazem pensar nos riscos possíveis.

 

Quando falamos de bons tratos e resiliência pensamos em comportamentos e atitudes a promover como condição para que não só os riscos sejam reduzidos ao mínimo mas também dar instrumentos cognitivos, emocionais e sociais que permitam reagir adequadamente quando encontrarmos esses riscos  no nosso caminho.

O que está na origem dos comportamentos perturbados não é apenas a presença de maus tratos (vermelho) mas também a ausência de bons tratos. Não podemos continuar a olhar para a prevenção e para a protecção apenas quando na interacção pais-filhos existem marcas físicas evidentes de que alguma coisa falta ou se degradou. 

É necessário ter em conta não apenas a vulnerabilidade aos factores de risco  mas também os bons tratos e a resiliência (verde). A vulnerabilidade compreende a predisposição ou susceptibilidade para que surja um resultado negativo durante o desenvolvimento. A resiliência é a predisposição individual para resistir às consequências negativas das situações de risco e a criança e jovem desenvolver-se, mesmo assim, adequadamente. 


Os mapas de risco e os códigos de conduta contribuem para a criação de ambientes mais seguros e protetores. 

 


Até para a semana.




Rádio Castelo Branco