30/03/19

Vitaminas para a alma




Algumas das mais ricas manifestações culturais do concelho de Idanha-a-Nova têm lugar, durante a Quaresma e Páscoa, numa série de eventos de natureza religiosa cristã.
Tradições ancestrais, algumas com vários séculos, continuam a ser realizadas da mesma forma que o foram pelos nossos antepassados e, quando participamos nestas manifestações, temos a certeza de que vivemos momentos idênticos aos que eles viveram.

Reconhecendo a importância destas tradições, a Câmara Municipal liderada pelo seu presidente Armindo Jacinto, propôs a candidatura dos “Mistérios da Páscoa”, à Comissão Nacional da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
Para A. Jacinto, estes eventos são um "excelente exemplo" das melhores práticas de salvaguarda do património cultural imaterial do território.
O projecto é sustentado em 250 manifestações de piedade popular que se desenrolam ao longo de 90 dias em todo o concelho, desde a Quarta-feira de Cinzas ao Domingo de Pentecostes.
Com o trabalho realizado foi possível “ recuperar e revitalizar manifestações, passando de 163 em 2009, para mais de 250, na atualidade".

O concelho de Idanha-a-nova tem vindo a editar todos o anos uma Agenda com o título “Mistérios da Páscoa em Idanha” que identifica os eventos que ocorrem durante este tempo nas freguesias do concelho.
Muito do mérito desta actividade pertence ao Prof. António Catana cujo trabalho merece forte elogio pelo empenho e dedicação à recolha e também à compreensão destes acontecimentos singulares das vivências e religiosidade de cada um dos povos que dão uma caracterização específica a cada uma das localidades que mantêm estas tradições.
Todos os anos a Agenda tem como tema principal os eventos de uma das freguesias. A Agenda de 2019 dos "Mistérios “, tem como tema principal as actividades culturais e religiosas que durante a Quaresma e Páscoa têm lugar em S. Miguel d' Acha..

Destaco duas dessas tradições em que habitualmente participo e que merecem realce por vários motivos: a Ladainha e o Terço Cantado realizados pelos homens no percurso onde se encontram os nichos correspondentes aos respectivos Passos.
Nestas tradições, podemos encontrar formas muito antigas de meditação e oração. O canto do mantra "rogai por nós", como na Ladainha, ou outros mantras, como o do Pai-Nosso, do Terço Cantado, canto repetitivo de frases simples que narram os acontecimentos de um evento excepcional da história que teve lugar há dois mil anos, são formas de meditação e de oração que mantêm uma elevada espiritualidade que existiu desde sempre ente os cristãos.

Esta espiritualidade e religiosidade também correspondem a uma genuína forma de meditação e oração que ajudam a mente em busca de tranquilidade para a vida complexa e complicada de qualquer pessoa.
Essa característica é procurada na actualidade de muitas maneiras, como forma de terapia.
Podemos procurar a espiritualidade em qualquer lugar. Alguns fazem a experiência a oriente, no Nepal, na Índia ou no Tibete.
Para nós, no entanto, aqui e agora, na nossa região, participar nestes "Mistérios" é um privilégio: tranquilidade para a mente e vitaminas para a alma.

24/03/19

A síndroma do impostor


Na semana passada falámos da superioridade ilusória de uma pessoa quando avalia as suas capacidades, de forma errada, como sendo muito maiores do que realmente são... ora esta avaliação errada constitui um problema porque quando as pessoas são incompetentes, não apenas chegam a conclusões escolhas erradas, mas também são incapazes de perceber os seus erros. A diferença é que as pessoas competentes conseguem ajustar, e ajustam, a sua autoavaliação quando recebem feedback apropriado, enquanto as incompetentes não conseguem. Chama-se a esta perturbação cognitiva efeito Dunning-Kruger.

O que Dunning e Kruger também verificaram foi que as pessoas realmente inteligentes também cometem erros na autoavaliação que fazem das suas capacidades.
Descobriram que estudantes com elevado desempenho e com pontuações cognitivas muito elevadas, subestimavam essas capacidades. Esses estudantes presumiam que, se essas tarefas cognitivas eram fáceis para eles, então deveriam ser também fáceis, ou até mais fáceis, para todos os outros.
Ao contrário do efeito Dunning-Kruger, os mais bem-sucedidos não conseguem reconhecer os seus talentos e o seu sucesso e pensam que os outros são igualmente competentes. (Kate Fehlhaber)

As psicólogas Pauline Clance e Suzanne Imes, utilizaram o termo "Impostor Phenomenon" para descreverem este conceito.
Elas verificaram que os alunos bem sucedidos pelos padrões externos, acham que o seu sucesso foi devido a um misterioso acaso, sorte ou grande esforço...

Embora a síndroma do impostor não esteja incluída na lista do Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-5), ela é reconhecida por psicólogos e outros profissionais de saúde mental como uma forma muito real e específica de dúvidas sobre a personalidade intelectual. Os sentimentos de quem sofre desta síndroma são geralmente acompanhados de ansiedade e, muitas vezes, depressão. (Letícia Brito, "Síndrome do impostor e o medo da máscara cair: qual tipo é o seu?" Meu Cérebro, 03/06/2018).
É um fenómeno frequentemente associado a questões de desempenho e de avaliação de desempenho.
A síndroma do impostor pode atingir qualquer pessoa. Basta pesquisar na Internet para encontramos alguns casos  famosos: Emma Watson, Michelle Obama, Natalie Portman …
A síndroma não significa baixa autoestima porque pessoas com baixa autoestima têm momentos em que conseguem reconhecer o seu sucesso.
Parece que a síndroma afecta mais as mulheres do que os homens.
Ser afectado por esta síndroma não é facilmente admitido pela pessoa que a sofre. Têm sido descritos alguns sinais que podem ajudar a fazer o diagnóstico:
- Tem prazer no que faz, mas sente uma insatisfação crónica;
- Sente que não merece elogios pelo sucesso alcançado;
- É um perfeccionista crónico, que nunca descansa;
- Em momento algum, é capaz de atribuir o sucesso a si próprio, tende a explicar tudo o que de bom lhe acontece de forma racional e/ou com recurso a atribuições externas — “Tem que ver com os outros, com sorte ou com as circunstâncias dos meios”;
- Sente-se uma fraude e tem medo de ser descoberto/a — “Eu não sou o que pareço ser e as pessoas, mais dia menos dia, vão descobrir o que realmente sou”;
- Sente um certo vazio e acha que, ao final do dia, ainda tem muito por conquistar.
(Filipa Jardim da Silva, Observador, 2015/06/09, "Estes famosos sofrem de síndrome do impostor. E você?")

Bertrand de Russell resume bem estas perturbações quando refere: “Uma grande parte das dificuldades que o mundo atravessa actualmente são devidas ao facto de que os ignorantes estão completamente seguros e os inteligentes estão cheios de dúvidas”.





20/03/19

Who will comfort me?

 Melody Gardot
Who will comfort me

"My soul is weary and beaten down from all of my misery
Oh Lord who will comfort me?"

Talvez a resposta possível: "O Senhor é meu pastor nada me falta, leva-me a descansar em verdes prados, conduz-me às águas refrescantes e reconforta a minha alma." (Salmo 22)


19/03/19

Pais para sempre

Podem inventar as tretas que quiserem para os documentos da escola, para o cartão de cidadão ou outro qualquer que ... pai há-de sempre ser pai.


"... Ser pai é amar, amar e amar. Sem intervalos nem férias. E sermos tomados pelo medo que o céu desabe sobre a cabeça dos nossos filhos, se não estivermos por perto. E, por isso mesmo, não nos sentirmos autorizados nem a morrer nem a desistir. E termos, na exacta medida daquilo que eles esperam de nós, a secreta certeza que, mesmo quando não estivermos, seremos pais. Sempre pais. Muito para lá de sempre." (Eduardo Sá, "Ser pai, é fazer de super-homem")

16/03/19

Hoje apetece-me ouvir: Khatia Buniatishvili

 
Khatia Buniatishvili
Schubert - "Ständchen" (Serenata); Transcrição para piano de F. Liszt


Novo álbum de  Khatia Buniatishvili - Schubert  - 15 de Março de 2019

13/03/19

Superioridade ilusória




Podemos definir um viés cognitivo como a tendência a pensar de certa maneira que pode levar a desvios sistemáticos de lógica e a decisões irracionais. Um dos vieses mais conhecidos é o da Superioridade ilusória.
Há episódios caricatos que nos mostram este funcionamento psicológico. Ficou famoso um vídeo (youtube) em que um indivíduo a andar de skate grita: “O medo é uma cena que a mim não me assiste", que acaba por se esbardalhar no meio do mato…
Todos conhecemos aquela imagem do gato que se olha ao espelho que reflecte um leão feroz.
Ou como na história da Branca de Neve, a madrasta que pergunta ao espelho: "espelho meu quem neste reino é mais bela do que eu?”

A gravidade de tudo isto é que na vida quotidiana este viés cognitivo, a superioridade ilusória, afecta vários comportamentos. Por exemplo, algumas pessoas avaliam-se como superiores pelo facto de pertenceram a uma qualquer associação partidária , clubística, religiosa. Na política isso é demasiado evidente e está na origem de muitos desastres sociais e humanitários.
É também o caso da “superioridade moral dos comunistas” ou “do partido com paredes de vidro” que não passa de uma superioridade ilusória, assim como de quem tem soluções para tudo e para a vida de cada um, de tal ordem que não se sendo especialista, não se tendo estudado, nem feito investigação, se consideram nascidos com este dom da superioridade.


No nosso dia a dia, há comportamentos culturalmente enraizados que leva a essa situação: todos sabemos que não há nenhum automobilista que considere que conduz mal ou se ache inferior a qualquer outro. Os nabos da condução são sempre os outros… “Um estudo descobriu que 80% dos motoristas se consideram acima da média... E tendências similares foram encontradas quando as pessoas avaliam sua popularidade relativa e suas habilidades cognitivas.” *
ece_frontpage Nexo jornal
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O que os sabe-tudo não sabem, ou a ilusão da competência
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Kate Fehlhaber 02 Jun 2017
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O que os sabe-tudo não sabem, ou a ilusão da competência Kate Fehlhaber 02 Jun 2017
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O que os sabe-tudo não sabem, ou a ilusão da competência Kate Fehlhaber 02 Jun 2017
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O que os sabe-tudo não sabem, ou a ilusão da competência Kate Fehlhaber 02 Jun 2017
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Um alcoólico tem-se em alta consideração e superioridade em relação à sua capacidade de resistência aos efeitos do álcool: “Quanto mais bebo mais lúcido fico”.
Hoje a internet está cheia de peritos, gurus, youtubers… que têm a solução para todos os nossos problemas sociais, de saúde … mas todos sabemos que a ignorância é atrevida.
Os concursos das TVs sobre talentos também mostram que a autoavaliação de algumas pessoas sobre as suas capacidades pessoais, ultrapassa a realidade.

Os psicólogos David Dunning e Justin Kruger partindo da história de um assaltante de dois bancos, em plena luz do dia , em 1995, que acreditava que usando sumo de limão na sua pele se tornaria invisível, ficando surpreendido por isso não ter resultado quando foi preso, concluíram que, embora quase todos tenham percepções favoráveis das suas habilidades em variados âmbitos sociais e intelectuais, algumas pessoas equivocadamente avaliam essas habilidades como sendo muito maiores do que realmente são.*
Tanto em laboratório como no terreno Dunning e Kruger comprovaram estes resultados*
O problema é que, quando as pessoas são incompetentes, não apenas chegam a conclusões erradas e fazem escolhas infelizes, mas também são privadas da sua capacidade de perceber os seus erros. O efeito Dunning-Kruger é uma perturbação cognitiva em que os indivíduos que possuem pouco conhecimento sobre um assunto acreditam saber mais que outros mais bem preparados, porém esta própria incompetência restringe-os da capacidade de reconhecer os próprios erros. Estas pessoas sofrem de superioridade ilusória. *