24/03/19

A síndroma do impostor


Na semana passada falámos da superioridade ilusória de uma pessoa quando avalia as suas capacidades, de forma errada, como sendo muito maiores do que realmente são... ora esta avaliação errada constitui um problema porque quando as pessoas são incompetentes, não apenas chegam a conclusões escolhas erradas, mas também são incapazes de perceber os seus erros. A diferença é que as pessoas competentes conseguem ajustar, e ajustam, a sua autoavaliação quando recebem feedback apropriado, enquanto as incompetentes não conseguem. Chama-se a esta perturbação cognitiva efeito Dunning-Kruger.

O que Dunning e Kruger também verificaram foi que as pessoas realmente inteligentes também cometem erros na autoavaliação que fazem das suas capacidades.
Descobriram que estudantes com elevado desempenho e com pontuações cognitivas muito elevadas, subestimavam essas capacidades. Esses estudantes presumiam que, se essas tarefas cognitivas eram fáceis para eles, então deveriam ser também fáceis, ou até mais fáceis, para todos os outros.
Ao contrário do efeito Dunning-Kruger, os mais bem-sucedidos não conseguem reconhecer os seus talentos e o seu sucesso e pensam que os outros são igualmente competentes. (Kate Fehlhaber)

As psicólogas Pauline Clance e Suzanne Imes, utilizaram o termo "Impostor Phenomenon" para descreverem este conceito.
Elas verificaram que os alunos bem sucedidos pelos padrões externos, acham que o seu sucesso foi devido a um misterioso acaso, sorte ou grande esforço...

Embora a síndroma do impostor não esteja incluída na lista do Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-5), ela é reconhecida por psicólogos e outros profissionais de saúde mental como uma forma muito real e específica de dúvidas sobre a personalidade intelectual. Os sentimentos de quem sofre desta síndroma são geralmente acompanhados de ansiedade e, muitas vezes, depressão. (Letícia Brito, "Síndrome do impostor e o medo da máscara cair: qual tipo é o seu?" Meu Cérebro, 03/06/2018).
É um fenómeno frequentemente associado a questões de desempenho e de avaliação de desempenho.
A síndroma do impostor pode atingir qualquer pessoa. Basta pesquisar na Internet para encontramos alguns casos  famosos: Emma Watson, Michelle Obama, Natalie Portman …
A síndroma não significa baixa autoestima porque pessoas com baixa autoestima têm momentos em que conseguem reconhecer o seu sucesso.
Parece que a síndroma afecta mais as mulheres do que os homens.
Ser afectado por esta síndroma não é facilmente admitido pela pessoa que a sofre. Têm sido descritos alguns sinais que podem ajudar a fazer o diagnóstico:
- Tem prazer no que faz, mas sente uma insatisfação crónica;
- Sente que não merece elogios pelo sucesso alcançado;
- É um perfeccionista crónico, que nunca descansa;
- Em momento algum, é capaz de atribuir o sucesso a si próprio, tende a explicar tudo o que de bom lhe acontece de forma racional e/ou com recurso a atribuições externas — “Tem que ver com os outros, com sorte ou com as circunstâncias dos meios”;
- Sente-se uma fraude e tem medo de ser descoberto/a — “Eu não sou o que pareço ser e as pessoas, mais dia menos dia, vão descobrir o que realmente sou”;
- Sente um certo vazio e acha que, ao final do dia, ainda tem muito por conquistar.
(Filipa Jardim da Silva, Observador, 2015/06/09, "Estes famosos sofrem de síndrome do impostor. E você?")

Bertrand de Russell resume bem estas perturbações quando refere: “Uma grande parte das dificuldades que o mundo atravessa actualmente são devidas ao facto de que os ignorantes estão completamente seguros e os inteligentes estão cheios de dúvidas”.





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