22/11/13

Potpourri


Quase. O comício da aula magna foi na realidade uma mistura heteróclita de coisas diversas, secas, velhas, sem qualquer fragrância que possa ainda interessar os vivos. Pelo contrário. A fragrância...

(3-12-2013)
Num momento crítico nacional, a fragrância recende o anti-democrático e populista.
Apenas um desejo frívolo, artificial e mesquinho pode atacar um presidente democraticamente eleito por 52,95% dos votos dos portugueses. 
Além disso, apenas uma  obsessão que é um erro político primário faz com que não se vislumbre objectivamente o trabalho do presidente e o seu respeito pelas instituições e pela constituição.
Este é um país pequeno e doce que não vai na agitação dos que atiçam os ânimos mais mesquinhos para ver se a coisa pega. 
A mão que embala o berço devia  ser a de alguém que apelasse à paz, à fraternidade, à compreensão, que organizasse conferências com o objectivo de ajudar a resolver os problemas do país, que podia ser  modelo para um povo, para os jovens. Em vez disso embala um sonho utópico, irrealizável, feito de agitação e propaganda, na expectativa de que alguém faça o trabalho sujo.
Só lembraria ao diabo, respaldar a opinião da violência na palavra do papa. A crítica ao capitalismo  é a que pode ser feita porque não há outra coisa para criticar. A igreja continua a fazer o que sempre fez. Pelo menos desde a Rerum novarum (1891). Mas o maniqueísmo até na religião quer dividir papas bons e maus, patriarcas bons e maus... conforme os momentos em que a coisa dá  jeito.
É caso para dizer que com "papas" e bolos se enganam os tolos.

20/11/13

A húbris

Quarta-feira. 22H25. A esta hora, as "alternativas", no cabo, eram estas: Januário T. Ferreira (rtp informação), Mário Soares (tvi 24)  e Bagão Félix, seguido de M. Alegre (sic notícias). O governo não precisa de oposição. Neste ponto, tem o pensamento, não digo único, mas pelo menos unificado ou unidimensional, contra. 

A tvi anda às voltas com a vingança na família Belmonte. Ela por ela, prefiro.

Resultados escolares e cultura




Na semana passada, saíram os rankings das escolas relativos aos exames do 4º 6º, 9º anos e ensino secundário, do ano lectivo 2012-13, e, como tem acontecido em anos anteriores, há todo o tipo de justificações para todo o tipo de resultados.
Uma das explicações mais comuns para os maus resultados é que esses maus resultados são devidos ao estatuto socioeconómico das famílias dos alunos.
A questão é que há escolas que não encaixam neste figurino do determinismo socioeconómico. 
As escolas das aldeias são a priori inscritas neste estatuto socioeconómico desfavorável.
Ora acontece que as crianças de escolas de aldeias não têm piores resultados do que as outras de escolas urbanas com estatuto socioeconómico mais elevado
Acontece também que há escolas de aldeias ou urbanas onde quase metade dos alunos são subsidiados (ASE) e que ainda assim podem ter melhores resultados do que aquelas onde há poucos alunos subsidiados.
Nos exames do 4º ano de escolaridade, as duas primeiras escolas públicas do concelho de Castelo Branco estão nesta situação. A escola básica das Sarzedas e a escola básica da srª da Piedade encontram-se, no ranking das escolas públicas do concelho, respectivamente, em primeiro e segundo lugar, e em sétimo e décimo segundo lugar, no distrito.
O investimento na qualidade da educação que não passa apenas, e principalmente, pelo investimento em instalações e equipamentos, tem vencido a causalidade socioeconómica. 
Os filhos de pais analfabetos ou pouco alfabetizados podem ser licenciados e ou bons profissionais.
Os filhos de famílias pobres, com frequência, conseguem ter bons resultados escolares…

E não é para isso que serve a escola ?

"...recorrendo a um aterrador determinismo social, dá-se como adquirido que as escolas privadas conseguem bons resultados porque os seus alunos vêm de meios privilegiados enquanto as públicas recebem os filhos dos pobres e como tal estão condenadas ao insucesso.
Esta espécie de fatalismo social isenta todos os protagonistas de responsabilidades e sobretudo leva a que automaticamente se baixem as expectativas em relação aos alunos provenientes de meios menos favorecidos." (H. Matos)

Este argumento tem servido, por exemplo, para justificar o fecho de escolas de pequena dimensão, levando os alunos para centros escolares onde, supostamente, terão as melhores instalações para aprender. 
Tem servido para justificar a não intervenção educativa em relação aos alunos que têm dificuldades de aprendizagem.
Ora não é isso que faz a diferença. O que faz a diferença da escola na obtenção de bons resultados é a organização e cultura de escola, os próprios alunos com as suas determinantes genéticas e mesológicas (certamente) e a sua determinação, o trabalho, na procura do sucesso ou, se quisermos, a vontade de aprender e o professor.

Ao contrário, o círculo vicioso da justificação social e económica das escolas com maus resultados vai-se reproduzindo como um meme e aí temos o insucesso escolar dos pais a manter-se no insucesso escolar dos filhos e netos, na reprodução da narrativa familiar "eu também não gostava da escola".
A diferença está na cultura que rompe com esta justificação do círculo vicioso do fatalismo social e económico.


16/11/13

Manipulação digital dos espíritos



Seja "p'ra mentira ser segura / e atingir profundidade / tem de trazer à mistura / qualquer coisa de verdade" ou  seja tudo verdade ou tudo mentira o que aqui é dito, a manipulação digital dos espíritos mais do que a "comunicação política digital" é o que interessa neste jogo de condicionamento comportamental em que a política de esquerda, de direita, ou de outro lado qualquer, funcionou e funciona sempre do mesmo modo: os fins justificam os meios. Agora é a "malta dos blogues", simultaneamente manipuladora e manipulável com proveito, efémero como sempre é o poder, para alguns. E, "perante este mundo novo e perigosíssimo, o jornalismo está mais manipulável". 

12/11/13

A comentação e o medo do sucesso



As pessoas e as empresas vão tendo os seus sucessos e o país também vai conseguindo uns pequenos sucessos na economia ou como acontece com este 
No entanto, em geral, o medo do sucesso é o politicamente correcto. Não se fala disso, desvaloriza-se. É o que mais interessa  à oposição, fazer crer que quanto melhor, pior. Era de esperar. A comunicação social também gosta da versão bad news. Era de esperar. Mas a maioria da comentação, incluindo a da área do psd e do cds, também se compraz em estar morta.

"O medo do sucesso é um dos últimos medos de que tenho ouvido falar ultimamente. E acho que é sem sombra de dúvida, um sinal de que estamos a ficar sem medos. Uma pessoa que tem medo do sucesso já chegou ao fundo do poço.
Será que vamos precisar de reuniões tipo Alcoólicos Anónimos para essas pessoas ? Levantam-se e dizem: «Olá sou o Bill e não suporto a ideia de ter uma aparelhagem de som e um sofá creme.»
Segundo a maior parte dos estudos, o maior medo das pessoas é falar em público. O segundo maior é a morte. A morte vem em segundo lugar. Acham bem ? Isto significa que, para as pessoas normais, quando têm de ir a um enterro, preferiam estar no caixão a ter de fazer o elogio fúnebre." (Jerry Seinfeld, Linguagem Seinfeld, pag. 98)

08/11/13

Rorschach


Hermann Rorschach nasceu no dia 8 de Novembro de 1884, em Zurique, na Suíça, há 129 anos. 
O Google traz um Doodle interactivo sobre o psiquiatra Hermann Rorschach, conhecido pelo seu trabalho de interpretação de manchas de tinta. 
Às vezes uma mancha de tinta é apenas uma mancha de tinta mas nem sempre uma mancha de tinta é apenas uma mancha de tinta. 

07/11/13

Automóvel e personalidade




aqui falámos do problema da multitarefa e condução, ou seja, por exemplo, conduzir e falar ao telemóvel. E fazer isso, mesmo que fosse permitido, é uma habilidade que muito poucas pessoas possuem, No entanto, todos vemos, frequentemente, condutores que falam ao telemóvel, completamente descontraídos e distraídos.
Esta é uma experiência que todos temos: condutores a falar ao telemóvel nos mais inesperados locais apesar de não ser permitido, apesar de colocar em perigo o trânsito e ser uma das causas frequentes de acidentes....
Este é também daqueles comportamentos perfeitamente evitáveis mas que insistimos em não ter.

Foi notícia, na semana passada, comentada na cidade e na imprensa local, o caso de um condutor alcoolizado que subiu a avenida 1º de maio em contramão (Reconquista, 30/10/2013), colocando em perigo a própria segurança e a de todos os que se deslocavam naquela avenida e apanharam um grande susto.
O que faz com que um individuo mesmo alcoolizado decida conduzir ?
O que acontece às pessoas para terem comportamentos tão irresponsáveis ?
O que faz um condutor julgar-se omnipotente e pensar que é o melhor ?

Os números dos acidentes são assustadores. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) mais de 1.2 milhões de pessoas morrem em acidentes rodoviários por ano e mais 20 a 50 milhões de pessoas são feridas.
A OMS prevê que em 2030 as mortes causadas por acidentes rodoviários se torne a 5ª causa de morte a nível mundial, ultrapassando outras causas de morte como o HIV, todas as formas de cancro, violência, e diabetes. (1)

Conhecer os comportamentos dos condutores é uma tarefa importante, tal como os condutores conhecerem os seus próprios comportamentos. Este é um trabalho de prevenção que deveria fazer-se com frequência.
O problema começa logo por aí: a negação. Eu sou competente a conduzir, os outros é que são um problema, os outros são um obstáculo ao meu ego.

“O automóvel, através das determinações económicas e da menta1idade colectiva, é, hoje, um facto político primordial".  Político porque está no centro da nossa vida de cidadãos. Muitas das intervenções das autarquias são decididas em função do automóvel: "...para aumentar o alargamento das artérias no interior das cidades, parques de estacionamento à superfície ou subterrâneos; as próprias estradas periféricas têm o efeito de incitar as pessoas a conduzir mais carros, num círculo vicioso e sem saída".
"O desenvolvimento do automóvel constituiu um dos factores mais marcantes do século XX, por implementar um aumento da facilidade de deslocação e como consequência da qualidade de vida." (2)
O problema é que ser cidadão total na sociedade actual tornou-se ser dependente do automóvel.

"Por outro lado, o automóvel possui a nível individual e colectivo uma série de conotações simbólicas, que se encontram relacionadas com sentimentos de afirmação pessoal e social, e que são geridos e agidos por cada um de acordo com a sua personalidade. Esta, está presente em todas as actividades e relações que estabelece com o mundo que o rodeia, não sendo a condução uma excepção. É de salientar que, provavelmente o risco que se revela na condução, não é mais do que um espelho da situação em que o sujeito se encontra nas restantes áreas da sua vida, e do modo como gere e lida com os seus conflitos." (1)

É, por isso, que a condução automóvel mostra qual a personalidade do indivíduo e a sua relação com os outros. Mostra também o que é necessário cuidar e melhorar na nossa personalidade. Diz-me como conduzes, dir-te-ei quem és mas o contrário também é verdade: diz-me quem és, dir-te-ei como conduzes.

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(1) OMS,  Melhoria da segurança rodoviária global.
(2) R. Girão e R. A. Oliveira, Condução de risco: Um estudo exploratório sobre os aspectos psicológicos do risco na tarefa de condução.

01/11/13

Gentileza

Cosmos bipinnatus


Gentileza é a capacidade de perceber uma necessidade de alguém e ou retribuir algo que lhe foi feito, sem ser pedido. Ou seja, ser gentil é ter educação, ser delicado, amável, cordial, polido e ter urbanidade.
Ter um sorriso (1), um gesto para segurar a porta. Dizer com licença e obrigado…Pode ser um elogio ou ajudar a atravessar a rua…
Pode ser conversar, tentar dar ajuda ao outro através da confiança e da esperança, da partilha de experiências, de alertar para um perigo ou de uma proximidade que nos faz falta.
A gentileza é esta capacidade individual que faz falta na sociedade. Algumas pessoas com imagem pública não parecem estar muito preocupadas com comportamentos de gentileza. Pelo contrário, primam pela grosseria. (2)

Na política ouvimos essa linguagem grosseira a que não estávamos habituados e eu espero nunca me habituar. Parece até que estamos num concurso em que se procura superar o mais mal criado. 
Com raras excepções temos líderes e ex-líderes que criam animosidade dando a entender que as ruas têm alguma solução para a crise.
A palavra cooperação está arredada das interacções sociais e nem sequer uma base de trabalho para um entendimento se consegue. O esforço do Sr. Presidente da República para um entendimento que punha os interesses do país acima dos interesses partidários não teve seguidores.

No futebol, que por mais fair-play que digam ter, assistimos a insultos e falta de respeito pelos colegas do mesmo ofício. Aliás, há quem vá ao futebol ou a outras manifestações apenas para criar desordem …
De facto, temos muitas iniciativas sobre a paz e sobre a não violência e parece que não diminui a agressividade na vida das pessoas.
A gentileza é um valor positivo, e por isso não tem boa imprensa. O espírito de cooperação, de compreensão e de bondade não dão de facto boa imprensa, ao contrário da contestação, desconfiança, maledicência, manifestações e protestos.

Mais uma vez, talvez possamos esperar alguma alteração vinda da escola. A escola pode ser um local onde podemos pôr em prática a gentileza. Ser gentil é ter educação na sala de aula e no recreio com os adultos e colegas. (3)
E é verdade que a maioria das crianças cultivam a gentileza: ajudam os mais pequenos, ajudam os mais frágeis, os que têm alguma deficiência...
No trabalho, nas empresas, a gentileza é um factor importante para beneficio pessoal mas também da própria empresa. Gentileza significa também mais produtividade. (4) Gentileza rima com riqueza. (5)

O dia mundial da gentileza teve início no Japão, na década de 1960 (Small Kindness Movement), para conter a onda de violência na Universidade de Tóquio. Se cada um fizesse uma pequena gentileza diária, a bondade seria sentida na comunidade, na cidade ou até no país. (6)
O dia 13 de Novembro é o dia da gentileza e da bondade. 
Mas a gentileza é de todos os dias, começa em cada um de nós e não temos que ser santinhos ou diabinhos...
A propósito: Já hoje foi gentil com alguém ?

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(1) O Dia Mundial do Sorriso assinala-se a 28 de Abril. A data foi criada em 1963 por Harvey Ball, um artista de Worcester, Massachussets, que criou a imagem do smiley, reconhecida internacionalmente.



Smiley



(6) A ideia do World Kindness Movement foi concebida na conferência de Tóquio, em 1996, e o movimento foi criado na segunda conferência em 1997.