23/10/13

...Walk in the sun once more


Três versões extraordinárias - Lena Horne, Billie Holliday, F. Sinatra e Quincy Jones - do mesmo tema, nesta tarde de Outono, chuvosa. Apesar do tempo, e do mau tempo, há sempre a esperança de voltar a passear ao sol ainda muitas vezes.










Stormy weather

Don't know why there's no sun up in the sky
Stormy weather
Since my man and I ain't together,
Keeps rainin' all the time
Life is bare, gloom and mis'ry everywhere
Stormy weather
Just can't get my poorself together,
I'm weary all the time
So weary all the time
When he went away the blues walked in and met me.
If he stays away old rockin' chair will get me.
All I do is pray the Lord above will let me walk in the sun once more.
Can't go on, ev'ry thing I had is gone
Stormy weather
Since my man and I ain't together,
Keeps rainin' all the time.
(Harold Arlen, Ted Koehler)

Público e privado: mais calor do que luz



Continua a discussão mistificadora entre público-privado. É uma discussão interminável. Como se fossem duas linhas paralelas que jamais se encontram.
E como escrevia Schumacher “os argumentos ao longo destas linhas de discussão produzem geralmente mais calor do que luz, como acontece com todos os argumentos que derivam a "realidade" de uma estrutura conceptual, em vez de derivarem uma estrutura conceptual da realidade”. (pag. 232) *

Embora a discussão se aplique a todos os sectores, a escola parece ser dos terrenos mais disputados entre estas duas linhas. Obviamente que podemos ter a opção por uma destas duas linhas e clivar em bom e mau o serviço prestado, como se bom fosse o estado ou mau fosse o privado e vice-versa.
Quando a preocupação deveria ser termos escolas de sucesso, criar serviços de saúde de excelência, criar redes de solidariedade do estado e das instituições privadas, sendo o estado apenas o regulador.
Alguns autarcas já o estão a fazer. Por exemplo, não gerem equipamentos sociais directamente mas apoiam-nos financeiramente e regulam a aplicação do investimento.**
Em relação à escola pública o que se faz é confundir-se escola pública com escola estatal. Como se públicas não fossem todas as escolas e não estivessem ao serviço dos cidadãos. O proprietário é o que menos importa em relação ao resultado final. As metas são as mesmas e os meios (a gestão) são igualmente dignos mas podem fazer a diferença.
O que é afinal a escola pública? É um sistema caro,  com desperdícios enormes e com gestão centralizada e quase impossível.
É uma escola que deixa para outros a grande tarefa de preparar os alunos para as avaliações. É um sistema em que existe um currículo oculto de que faz parte, por exemplo, o subsistema das explicações,  privado, e sem qualquer forma de regulação.
E cada vez mais as explicações começam mais cedo, logo no 1º ciclo e vão até ao 12º ano, com um peso extraordinário no horário dos alunos e na carteira dos pais. Mas, para nosso espanto, comunicação social e pais quase nunca apresentam queixas das mensalidades das explicações, apenas acham caros os livros e os cadernos !

Há escola pública  e escolas públicas.
A frequência de determinadas escolas públicas por algumas elites significa que há selecção de determinados públicos, transformando-as em escolas públicas de elite ?
Há escolas públicas onde estão a maioria dos alunos com NEE e com problemas comportamentais. Escolas que procuram ser inclusivas. Mas em que escolas públicas ? Qual a implicação que isso tem nas turmas ? 
Há escolas públicas que apesar da lei não o permitir, não "querem" alunos com estas características. E se bem o pensam melhor o fazem, uma vez que têm um número de alunos com NEE residual.
Além disso, duma maneira geral com a criação das AEC, destruiu-se o subsistema de tempos livres. O estado não deixou ficar na iniciativa privada/particular/cooperativa/associativa o subsistema de tempos livres e preferiu criar actividades de enriquecimento curricular, a chamada “escola a tempo inteiro”. Para quê ?***

Em vez de opor público a privado numa discussão sem fim, porque não se pensa num sistema educativo de que façam parte os vários subsistemas em articulação: estatal, privado, acordado, concordatário, particular (IPSS), cooperativo  (CERCIS)... em que todos concorrem para a educação dos cidadãos ?

___________________________

*Schumacher referia estas possibilidades:

Caso 1
Liberdade
Economia de mercado
Propriedade privada
Caso 5
Totalitarismo
Economia de mercado
Propriedade privada
Caso 2
Liberdade
Planeamento
Propriedade privada
Caso 6
Totalitarismo
Planeamento
Propriedade privada
Caso 3
Liberdade
Economia de mercado
Propriedade colectivizada
Caso 7
Totalitarismo
Economia de mercado
Propriedade colectivizada
Caso 4
Liberdade
Planeamento
Propriedade colectivizada
Caso 8
Totalitarismo
Planeamento
Propriedade colectivizada

Infelizmente, a recente experiência do país sobre  PPP veio inquinar toda a discussão sobre estas e outras possibilidades. Só faz sentido o estado fazer contratos PPP se houver benefícios para as partes e, efectivamente, os clientes  forem os principais beneficiados.

**Em Castelo Branco, a gestão autárquica percebeu isso muito bem. Em geral, o município não cria nem gere instituições sociais mas fez a opção  de apoiar as instituições através de apoio financeiro e da sua regulação.

***Algumas vantagens deste subsistema não estar na gestão do estado:
- distinção de espaço escola /espaço tempos livres que permite que o aluno não passe na escola mais de 40 horas como acontece actualmente;
- o recrutamento de professores e outro pessoal qualificado, como animadores culturais,etc.;
- a possibilidade de uma carreira de pessoal qualificado nesta área;
- a mudança de espaços, com vantagem para a disciplina na sala de aula;
- a interacção com colegas de várias escolas, de anos de escolaridade diferentes;
- a possibilidade de "mostrar" outras competências e de evitar "clichés" da escola, dos colegas da escola;  
- a flexibilidade de horários;
- a possibilidade de conjugar o horário mais facilmente com actividades culturais, como a frequência de conservatórios e instituições desportivas;
- a liberdade de escolha das crianças e dos pais.

20/10/13

Estado social

Tirada daqui

Foram os liberais que o criaram. Do welfare state do plano Beveridge ao "plano" de Mouzinho da Silveira, em Portugal.

Classe política e política de classe

Esta crónica de Camilo Lourenço, sobre "classe política" e austeridade, lembra-me outra história.

À porta do Céu, está uma série de pessoas em fila, esperando a sua vez. Vários grupos tentam passar à frente, mas São Pedro impede-os sempre. Chega então um grupo de políticos que passa impunemente.
Finalmente, um velhinho, tenta, sem sucesso, passar também à frente. Interrogado sobre quem é aquela personagem, São Pedro responde: - É Deus. Ele está tão velhinho e esquecido, que às vezes pensa que tem
tantos direitos como os políticos.  (António Frade, Cousas e lousas, pag. 146)

A húbris

Ontem, Herman entrevistou o "profissional do optimismo".
Para ele (Sócrates), Passos Coelho, que está a pagar a conta, "é um político moderno" mas "moderno demasiado simples", ou seja, ... "neoliberal".
Nem um pingo de reconhecimento de qualquer erro. Perdão, arrepende-se da demissão de Manuel Pinho.
Herman dá-se conta de que já ultrapassou o tempo. Pois é. A narrativa do convidado "embala-nos".
Mas há mais: "Foi a crise política que trouxe a tróica, não foi nenhuma decisão do governo anterior."
Repare-se "a crise política". Foram os outros. Mesmo a crise política nada tem a ver com ele.

Como aqui se diz:

18/10/13

"Cousas e lousas"




De António Frade recordo, principalmente, o tempo em que trabalhámos na Comissão de Protecção de Crianças e Jovens de Castelo Branco. 
Era um homem bom, de respeito, que tinha, entre outras características, a paixão pela sua terra,  "a minha raia", " a minha cidade".
Era o lutador pela qualidade de vida dos cidadãos a quem criticava o comportamento desajustado mas que tinha a sensibilidade de reconhecer a dignidade nos que mais necessitavam e sofriam.
Tinha auto-estima pelas "suas" cousas e gostava dos jardins, dos parques, das fontes, dos bebedouros... desta nossa cidade. Levava as suas propostas às instâncias democráticas mesmo que essas propostas fossem relegadas para o dia de são nunca ou lhes fizessem ouvidos moucos.
Tinha o espírito crítico aliado ao respeito, e falava da importância da crítica viesse de quem viesse.
Era solidário com a sua intervenção na comunidade e nas instituições sociais.
Era professor e, reflexo disso, tinha sempre uma atitude pedagógica que as suas crónicas manifestam e, pessoalmente, vi ter com crianças e jovens. 
As suas crónicas são ensinamentos de cidadania.

16/10/13

Saúde mental e inclusão escolar







A escola é o local onde se decide o futuro de um país. O que Walt Whitman perguntava à América, em 1874, pode ser também a nossa interrogação:
E tu, Portugal,
Fizeste uma avaliação real do teu presente ?
Das luzes e das sombras do teu futuro, bom ou mau ?
Presta atenção às tuas raparigas e rapazes, ao professor e à escola.
Assistimos, diariamente, a situações não inclusivas na sociedade e na escola. Perante casos de violência que vão acontecendo em algumas escolas, perguntamos o que se está a passar ou acusamos os que, para nós, são responsáveis. Mas haverá apenas um responsável ? A responsabilidade pode ser mais de um ou de outro, em determinado momento, mas ela é repartida pelo sistema educativo, escola, pais, os próprios alunos.
Para uma análise desapaixonada destas situações, era talvez mais vantajoso entender que a inclusão escolar não se coaduna com a propaganda e instrumentalização do sector educativo e em que pouco interessa dividir entre os bons e os maus da inclusão, como habitualmente. 
Além disso, na educação a aplicação de medidas e de reformas não se pode confundir com obstinação, ou com a instabilidade como se as reformas na educação fossem um jogo de cartas: baralhar e dar de novo. É que se for um jogo ele só pode ter sempre o mesmo vencedor: os alunos.

Quando em 2008, o secretário de estado da educação afirmou que em 2013 haveria, em Portugal, uma verdadeira escola inclusiva, muita gente ficou expectante em relação a tanto excesso de confiança.
Sabíamos, na senda de Hann Fortmann, que a inclusão nunca está concluída e nunca se fará por decreto ou por voluntarismo governamental porque ela também faz parte da mentalidade e da cultura da sociedade onde vivemos e de cada momento da vida de cada um. 
Estamos no final de 2013 e, como era de esperar, a escola inclusiva está em construção, dia após dia, com o trabalho dedicado de todos.

Há dificuldades que resultam dos próprios problemas apresentados pelos alunos. A sociedade e a escola aceitam (ou talvez estejam mais preparadas para aceitar) com alguma facilidade a inclusão dos casos deficitários. No entanto, os casos de doença mental nem sempre são vistos como um problema de inclusão.
E estes casos também devem ser considerados como necessidades educativas especiais.
São, aliás, os casos mais perturbadores do comportamento e da disciplina que deve existir na escola e, geralmente, são responsáveis por algum alarme social. Envolvem situações de violência para com outros alunos, adultos e para os próprios. São casos em que o ódio e a raiva dominam a vida emocional e, compulsivamente, se dirigem contra o outro e contra o próprio, como nos comportamentos de auto-mutilação e perda de auto-estima.
Por isso, são, frequentemente, rejeitados pelos colegas e pela própria comunidade educativa. 

Estes problemas vão surgindo ao longo do desenvolvimento, desde cedo, chegando a ter manifestações graves no período escolar. 
Na idade pré-escolar e escolar "assume particular importância o diagnóstico e a intervenção em patologias com  impacto no desempenho escolar, como a hiperactividade com défice de atenção (PHDA), as 
perturbações de oposição ou as problemáticas do foro ansioso e depressivo." 
Na adolescência, "as problemáticas da ansiedade, da depressão, do risco suicidário e de outros comportamentos de risco têm uma prevalência significativa nesta faixa etária. Começam a tornar-se também mais frequentes as patologias aditivas, requerendo novas especificidades ao nível da avaliação e 

No entanto, a  área da saúde mental é um dos sectores onde os recursos são muito escassos. O relatório Portugal Saúde Mental em números – 2013- Programa Nacional para a Saúde Mental, refere: "Tal como se verificou com a população adulta, também no setor da infância e adolescência a descentralização das respostas (36 dos 41 SLSM têm pelo menos um Pedopsiquiatra e sendo os outros profissionais em
número variável), a produção médica em ambulatório cresceu de modo significativo, embora ainda insuficiente."
Esta dificuldade de acesso aos especialistas de pedopsiquiatria é um assunto conhecido há longa data e não se vê melhoria neste aspecto, apesar do optimismo do relatório. Há capitais de distrito onde praticamente não há um especialistas desta área, como é o caso do distrito de Castelo Branco, onde se contam pelos dedos da mão.


A inclusão é uma tarefa difícil de concretizar em cada situação e nunca está acabada. Ela realiza-se em cada momento da vida das pessoas.
Cada família, cada escola, tem a responsabilidade de integrar todos os seus elementos, quando têm défices e quando estão doentes, procurando as melhores respostas, as respostas possíveis, dentro da própria família, na escola, no sistema de saúde e na comunidade. Não é fácil. "O sentimento de ser rejeitada é o que há de mais difícil de suportar para a criança." (João dos Santos)

15/10/13

A húbris




A húbris no seu melhor: você acha que há algum gráfico que você conheça e eu não?. * Continuam a lavar mais branco um memorando que não tem nada a ver com eles, com a arrogância dos detentores de toda a verdade. Parafraseando, eles sabem tudo e não se lembram de nada.
Noutro canal, tvi24, Henrique Medina Carreira e Henrique Raposo pregavam... no deserto. Haverá algum gráfico de Medina Carreira que eles desconheçam?
Os que Medina Carreira tem apresentado são muito perturbadores e é melhor que "o partido do estado" os ignore.
__________________________________

* Ontem, em mais uma edição do Prós e Contras, o ex-ministro socialista Vieira da Silva afirmou peremptoriamente que os cortes nas pensões não estavam contemplados na versão original do memorando de entendimento, co-assinado pelo seu partido, e que foram somente introduzidas após os “falhanços” que precederam a 5ª avaliação. Isto depois de, com peculiar falta de decoro e simpatia, perguntar a Camilo Lourenço se “você acha que há algum gráfico que você conheça e eu não?”.
(Mais rápido se apanha um mentiroso)

13/10/13

A húbris


Quinta-feira. 22H45. A esta hora, as "alternativas", no cabo, eram estas: Adriano Moreira (rtp informação), Manuela Ferreira Leite (tvi 24)  e Januário T. Ferreira (sic notícias). O governo não precisa de oposição. Neste ponto, tem o pensamento, não digo único, mas pelo menos unificado ou unidimensional, contra. 

Fim de semana. Dois ex-presidentes, Soares e Sampaio, acham que "lavam mais branco" do que todo o mundo, não têm nada a ver com o que se está a passar e são completamente inocentes.

"O meu sonho é haver uma Epistemocracia - ou seja, uma sociedade robusta que aguente os erros dos especialistas, os erros de previsão e a húbris, uma sociedade resistente à incompetência dos políticos, dos reguladores, dos economistas, dos banqueiros, dos estudiosos da politica e dos epidemiologistas." (N. Taleb, O cisne negro, pag. 396)

O meu também.

Magia na diferença

Tyrrell de Jackie Stewart, que venceu o campeonato de 1971.


Jackie Stewart, disléxico, três vezes Campeão Mundial de Fórmula Um, refere nesta entrevista os seus problemas quando era aluno:

I was nine years old and the moment I had been dreading for weeks was upon me – I was about to be asked to read aloud for the first time.
"All right, Jackie, it's your turn," the teacher said.
She beckoned me to make my way from the front row where the not-so-clever students were supposed to sit, until I was standing beside her, facing the class of 56 boys and girls.
"Now," she barked, passing me a book, "read aloud from the start of the chapter."
I looked at the page and saw nothing but a mass of indecipherable letters. Everyone seemed to regard me as a cheeky wee boy with a twinkle in my eye but, in that terrible moment, the thin veneer of confidence was stripped away.
As I started to blush, I became aware of my smarter schoolmates starting to snigger. I felt trapped in a nightmare and sensed the tears welling.
"Stop playing the fool," the teacher said, now getting angry. "You are wasting everybody's time. Hurry up and start reading."
"I can't," I mumbled.
I cannot exaggerate the pain and humiliation that I felt that day as I walked back to my place, with most of my classmates laughing out loud.
Maybe it's only something that people who also suffer from a learning disability such as dyslexia can understand.
Day after day, I was made to feel inferior. I began to dread going to school and looked for any excuse to stay at home. First, I had flu, then a stomach bug, then my leg was sore.
Every aspect of my life seemed to be defined by my apparent lack of intelligence.

Este diálogo não é incomum nos dias de hoje. Creio que ainda há professores e pais que acham que, quando aparecem problemas na aprendizagem da leitura e escrita, isso se deve ao aluno.
E as consequências para o aluno também não são exageradas ainda hoje: sentimento de frustração, humilhação, contaminação das outras disciplinas como a matemática, embora às vezes esta seja associada a discalculia,  as expressões,  desinteresse da escola e das aprendizagens académicas…
Os pais, quando um filho entra para o primeiro ciclo, começam a confrontar-se com algo de novo para que não estavam preparados: o seu filho não aprende. Segue-se a ansiedade relativa ao diagnóstico, à via-sacra das várias opiniões das instituições e dos técnicos, à culpabilização, à procura de soluções para o problema.
Alguns pais, como já passaram pelas mesmas dificuldades (a hereditariedade também tem a ver com isto), estão mais à vontade para lidarem com esta dificuldade. Outros, para quem tudo isto é novidade, penalizam-se pelo fracasso: acham que não estiveram atentos, não apoiaram suficientemente o filho, não trabalharam em casa os TPC ou não o meteram nas explicações...
Não se trata disso.

Jackie Stewart escreveu o seguinte, no  Prefácio d' O Choque Linguístico – A Dislexia  nas Várias Culturas:
Nunca como agora, por causa do seu trabalho ou simplesmente em busca de uma vida melhor, as pessoas se movimentaram tanto e/ou tão frequentemente na Europa.
No entanto, o preço pode ser elevado, sobretudo para crianças com a dificuldade de aprendizagem conhecida por dislexia.
Para elas, pode ser impossível aprender uma nova língua, porque lhes é difícil assimilar a informação sob a forma como esta é tradicionalmente veiculada nos sistemas de ensino normais.
A dislexia pode ser extraordinariamente traumatizante e absolutamente frustrante para o jovem, a ponto de destruir vidas.
Eu sou disléxico. Consegui sobreviver porque fui capaz de dar a volta ao problema. A dislexia nunca me impediu de fazer as coisas que quis.
Os jovens disléxicos, com a ajuda certa, também podem ir longe.
Talvez até mais depressa do que os outros…

Este texto é relevante a várias títulos de que destaco o protocolo para avaliação da dislexia (pag. 49). 

11/10/13

Magia na diferença




Era gozado (bullying) pelos colegas, sentia vergonha e pavor de ser chamado pelos professores e por isso passou a detestar a escola. Era acusado de ser calão ou preguiçoso. O cinema passou a ser a forma de se expressar e equilibrar a auto estima.

10/10/13

A mãe natureza




A fragilidade da sociedade actual, politica, social e económica é sistémica e interdependente e deveria não só ser vista nessa perspectiva, mas também com novos formas de análise e instrumentos de trabalho.
A crise de 2008 veio mostrar essa fragilidade. Ninguém ou praticamente ninguém previu o que ia acontecer.
Os economistas, politólogos, politicos… não previram nada e pelos vistos continuam a não querer perceber o que se passou e a fazer os mesmos tipos de análises: esquerda/direita, democratas/republicanos, pobres/ricos, público/privado, austeridade/crescimento, finanças/economia, cortes/aumentos, privatizações/nacionalizações, progressistas/conservadores...

Na natureza a chuva voltou na semana passada, mas, nesta semana, aí está de novo o sol e temperaturas amenas. Uns são a favor outros contra a chuva. Há quem ache que devia chover mais tarde e outros que a chuva já devia ter vindo mais cedo. Por causa das vindimas, por causa da azeitona, por causa da fruta, por causa do calor…
Na Primavera, as previsões eram de que este ano não haveria Verão. Enganaram-se redondamente.
Felizmente, a decisão de chover ou não chover, não depende nem vai depender de seres humanos nem sequer vai depender do Tribunal Constitucional !

Em Lampedusa, na Itália, morrem centenas de imigrantes que procuravam na Europa os direitos humanos que não tinham nas suas terras.
Nos Estados Unidos, a sociedade entrou em shutdown não se sabe por quanto tempo. Apenas funcionam os serviços indispensáveis.
Algures na serra da Lousã um jovem casal, ele português ela irlandesa, que se tinham encontrado em Londres onde trabalhavam, resolveram deixar a agitação e o frenesim da grande metrópole para regressarem à mãe natureza, às serras, às quintas, onde ainda há vestígios das casas e das culturas deixadas pelos avós e bisavós. Querem seguir os princípios da mãe natureza e os ritmos naturais do desenvolvimento para os filhos 

A mãe natureza vai fazendo o seu trabalho. Os humanos poderiam ter mais sucesso se copiassem os seus ensinamentos.
Um desses ensinamentos é que a natureza é lenta. Tudo tem o seu tempo para crescer e se desenvolver. 
A natureza é redundante de modo a que quando um sistema falha outro poderá suprir o seu défice.
A especialização deve ter alternativas para o caso de essa especialização falhar.
A natureza não gosta de nada demasiado grande porque é feio e é frágil. Como costumamos dizer, “quanto maior é a nau maior é a tormenta.” Em vez disso, há uma competição patética pelo maior arranha-céus do mundo, pelo maior supermercado do mundo, pela maior qualquer coisa do mundo…
Por cá, também gostamos disso: mega é a palavra mais usada. Mas errada.
Na educação passamos a construir mega-agrupamentos e parques/centros escolares a 50 Km da casa dos pais, a aumentar as grandes metrópoles com a desertificação do interior ou do mundo rural.
A fusão de empresas, criando maiores empresas, dominantes no mercado, tornam a concorrência meramente virtual. Veja-se o que se passa com o sector energético, com as telecomunicações …

A crise de 2008 foi apenas mais um aviso de que é necessário seguir outros princípios. A menos que se queira cometer os mesmos erros e fragilizar ainda mais a natureza e a sociedade em vez de procurarmos torná-las mais robustas.

(Inspirado em N. Taleb)

09/10/13

Magia na diferença


Jamie Oliver, devido à dislexia, leu o primeiro livro aos 38 anos. Teve muitas dificuldades de aprendizagem e não completou nenhum curso regular.
É bem o exemplo de "não sei fazer isto mas sei fazer aquilo".
Jamie Oliver é responsável por muitos jovens terem começado a cozinhar, fazendo as suas próprias refeições de forma mais saudável.

A educação alimentar, dispersa no currículo de ciências, podia ter mais espaço nos projectos da escola e, certamente, com sucesso.  Esta é também uma forma de educação positiva.



“If we can get gardens growing, food education in the classroom and better school dinners; if we can teach communities to cook and give young unemployed people the skills to succeed, we've got a really powerful, inspirational catalyst for change, both now and for generations to come. We all have the opportunity to come together and do something that really makes a difference.” Jamie Oliver

08/10/13

"A house is not a home"



E uma casa não é um lar 
Quando não há ninguém lá para te abraçar,
E ninguém que te dê um beijo de boa noite.


Simplicidade e ternura. O que qualquer criança percebe nos pais, a necessidade que apenas implora um lar.
Depois do trabalho na escola, onde ouvi os estratagemas, chantagem, uso, para tirar vantagem um do outro... a serenidade de Burt Bacharach e Bill Evans.

(Versão Dusty Springfield/Burt Bacharach)


(10-4-2014)
Talvez esta versão...




07/10/13

+ artes - violência


Dia das expressões (2006) - Foto de Maria João 


As diversas expressões artísticas têm um papel fundamental no desenvolvimento das pessoas. Nas escolas, as sucessivas reformas curriculares têm vindo a desvalorizar as disciplinas de artes. A criatividade é desvalorizada, as outras formas de aprender não importam, as disciplinas estratégicas para um desenvolvimento harmonioso, como a actividade/motricidade/desporto, o vasto mundo das artes visuais, a música, são interessantes apenas para as evidências das actividades extra-curriculares.
Como todos sabemos e como costumo dizer aos professores e pais: quanto mais actividade menos hiperactividade.
Temos vindo a defender a importância das artes no currículo. Uma estratégia inteligente passa por dar relevo às diversas expressões artísticas e desportivas e não o contrário, como tem acontecido nas últimas reformas curriculares.
A redução da instabilidade tem tudo a ver  com a integração destas disciplinas no currículo, com mais horário e não com menos.
É errado substituir estas disciplinas por coisas do tipo área-escola ou áreas curriculares não disciplinares: área de projecto, formação cívica, estudo acompanhado, e agora oferta complementar  e apoio ao estudo...
Claro que há experiências positivas, claro que há experiências onde muitos desses tempos "tirados" às artes não vão para as disciplinas do costume... mas o contrário também é verdade.
Através do Profblog, esta é mais uma evidência (escola Orchard Gardens) da responsabilidade das artes na melhoria do comportamento dos alunos.

06/10/13

Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável



Em Dezembro de 2002, as Nações Unidas declaram o período de 2005 a 2014, como a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (DESD, 2005-2014), nomeando a UNESCO como líder da sua implementação.

 As linhas orientadoras do ME para a Educação para a cidadania prevê:

A Educação Ambiental/Desenvolvimento Sustentável, que pretende promover um processo de consciencialização ambiental, de promoção de valores, de mudança de atitudes e de comportamentos face ao ambiente, de forma a preparar os alunos para o exercício de uma cidadania consciente, dinâmica e informada face às problemáticas ambientais actuais. Neste contexto, é importante que os alunos aprendam a utilizar o conhecimento para interpretar e avaliar a realidade envolvente, para formular e debater argumentos, para sustentar posições e opções, capacidades fundamentais para a participação activa na tomada de decisões fundamentadas no mundo actual.

Há escolas, que é o caso da minha, que decidiram que a educação para a cidadania devia integrar a oferta complementar. Era bom que este assunto fosse dos conteúdos a desenvolver. Tudo depende do que se quiser fazer com esta oportunidade.

Sem dúvida, faz falta esta dimensão (educação ambiental/desenvolvimento sustentável) da educação cívica nos conteúdos dos programas de educação dos nossos alunos, se queremos cidadãos conscientes, hoje e no futuro.


Escola: exigência, rigor, mérito, excelência, igualdade





"A escola é o espaço de formação da cidadania republicana. É na escola que se concretiza, desde logo, o ideal republicano do sucesso pelo mérito e pelo trabalho.
A exigência e o rigor no ensino são, na sua essência, valores profundamente republicanos. O facilitismo na avaliação de alunos e docentes favorece o privilégio e acaba, de facto, por promover a desigualdade.
É num contexto de exigência que se distingue o mérito e o talento, que se recompensa o esforço e o empenho em saber mais. A defesa da qualidade do ensino, a busca da excelência e o reconhecimento do papel insubstituível dos professores correspondem a princípios essenciais de um civismo mais esclarecido, mais informado, mais amadurecido.
Numa República, a escola é o mais importante instrumento de mobilidade social. É através do saber e do conhecimento, avaliados objetivamente, que se combate a tendência para perpetuar desigualdades fundadas nas origens sociais de cada um. Se o ensino perder critérios de exigência e rigor, serão penalizados, em primeira linha, os alunos de mais baixos recursos, aqueles que só através da educação e do mérito podem progredir na sua vida escolar e, mais tarde, na sua atividade profissional.
No entanto, o saber e o conhecimento não podem ser encarados apenas como um meio de promoção social ou como um fator de empregabilidade. Se o mérito escolar promove, indiscutivelmente, o sucesso profissional, a sua importância vai muito para além de uma visão meramente instrumental do conhecimento, da ciência, da cultura.
Na verdade, a cultura tem um valor intrínseco enquanto forma de enriquecimento espiritual de cada um. Daí, em particular, a importância de valorizarmos o conhecimento da nossa História, de salvaguardarmos o património que herdámos do passado, de cumprirmos um dever de memória perante as gerações que nos precederam."

(Do Discurso do Presidente da República na Cerimónia de Comemoração dos 103 anos da Proclamação da República, Lisboa, 5 de Outubro de 2013)

03/10/13

Pensamento







Para que serve a gestão da administração pública ?



DILBERT. Tirada daqui


Os decisores políticos acham que a administração pública faz a bulha e a caramunha. É exactamente ao contrário. São os gestores públicos, que por um lado, acham a administração pública responsável pelo despesismo e logo pelo resgate. Ou seja, a administração pública tem que dar o maior contributo para pagar os seus comportamentos despesistas e, por outro lado, continuam a fazer a análise (queixar-se) de que há funcionários a mais e são pouco eficientes.

Mas os erros vão-se acumulando porque a legislação na administração pública continua a ser irracional, transformando-a numa manta de retalhos* e de que a pressão para reduzir custos é o motivo principal que conduz os programas de gestão desde o PRACE ao PREMAC (Plano de Redução e Melhoria da Administração Central). 

Um dos maiores erros dos gestores da administração pública foi terem terminado, praticamente, com as carreiras na administração. Isso fez-se à custa da indiferenciação: todos os trabalhadores passaram a ser assistentes operacionais, assistentes técnicos, técnicos superiores…

O segundo erro, o outsourcing veio tirar poder às direcções-gerais que passaram a ser mais executoras do que construtoras da definição de políticas sectoriais, com base em pareceres de equipas técnicas de elevada competência, ou, sequer, chamadas a intervir nessas decisões, tomadas pelos serviços contratados no exterior, como as grandes empresas consultoras...
Tal como deixaram de ser os reguladores dos sistemas de respostas económicas e sociais dado o recurso a entidades reguladoras que, no fundo, têm mais dificuldades em serem independentes do poder do estado e do poder das grandes empresas do que os próprios serviços do estado.

Outro erro, é a quase ausência de concursos de ingresso de pessoal para substituição de pessoal necessário a título permanente. Para dar um pequeno exemplo: o último concurso de ingresso para psicólogos na administração pública ocorreu em 1999.
Quanto aos concursos de acesso (mudança de posição/nível) também terminaram, praticamente, após o congelamento das remunerações e a exigência de quotas.

O quarto erro é não darem ouvidos aos sindicatos, pelo menos aos sindicatos mais ou menos independentes, como o sindicato dos quadros técnicos do estado. O dirigente Bettencourt Picanço, recentemente, dizia numa entrevista na TV: Para quê criar um quadro de mobilidade, ou seja, para quê criar uma bolsa de desempregados ? Quando há trabalhadores a mais num sector, o estado pode colocá-los onde fazem falta, não é necessário criar mais um serviço quando os serviços podem fazer a gestão dos seus recursos directamente...

O sexto erro é não se reformular radicalmente a avaliação de desempenho de forma a que o mérito possa ser valorizado de forma objectiva. Não deixa de ser paradoxal, para quem fala sistematicamente que a avaliação de desempenho serve para avaliar o mérito, que a revisão do diploma sobre a avaliação de desempenho vai acabar com a distinção por mérito e suas consequências. 

Outro erro é não tirar todas as ilações das medidas tomadas, como no caso das 40 horas de trabalho. 
Demos de barato as 40 horas, em nome da equidade. No entanto, era bom saber, se, em nome da equidade, também se aplica à administração pública a legislação relativa às condições de trabalho e se a administração pública vai ser inspeccionada pela inspecção do trabalho como acontece com as empresas privadas....
E o que acontece se a Autoridade para as Condições do Trabalho detectar irregularidades e ilegalidades ? Vai multar o Estado ?

Não interessa a lamúria mas será caso para perguntar: o que é que os decisores políticos e gestores públicos podem fazer pelo país ?

*Lei 12-A/2008,  Lei 59/2008Lei 60/2005, Lei 52/2007,  Lei 118/2008 e Lei 3B/2010, Lei 53/2006Lei 66-B/2007...