13/10/13

Magia na diferença

Tyrrell de Jackie Stewart, que venceu o campeonato de 1971.


Jackie Stewart, disléxico, três vezes Campeão Mundial de Fórmula Um, refere nesta entrevista os seus problemas quando era aluno:

I was nine years old and the moment I had been dreading for weeks was upon me – I was about to be asked to read aloud for the first time.
"All right, Jackie, it's your turn," the teacher said.
She beckoned me to make my way from the front row where the not-so-clever students were supposed to sit, until I was standing beside her, facing the class of 56 boys and girls.
"Now," she barked, passing me a book, "read aloud from the start of the chapter."
I looked at the page and saw nothing but a mass of indecipherable letters. Everyone seemed to regard me as a cheeky wee boy with a twinkle in my eye but, in that terrible moment, the thin veneer of confidence was stripped away.
As I started to blush, I became aware of my smarter schoolmates starting to snigger. I felt trapped in a nightmare and sensed the tears welling.
"Stop playing the fool," the teacher said, now getting angry. "You are wasting everybody's time. Hurry up and start reading."
"I can't," I mumbled.
I cannot exaggerate the pain and humiliation that I felt that day as I walked back to my place, with most of my classmates laughing out loud.
Maybe it's only something that people who also suffer from a learning disability such as dyslexia can understand.
Day after day, I was made to feel inferior. I began to dread going to school and looked for any excuse to stay at home. First, I had flu, then a stomach bug, then my leg was sore.
Every aspect of my life seemed to be defined by my apparent lack of intelligence.

Este diálogo não é incomum nos dias de hoje. Creio que ainda há professores e pais que acham que, quando aparecem problemas na aprendizagem da leitura e escrita, isso se deve ao aluno.
E as consequências para o aluno também não são exageradas ainda hoje: sentimento de frustração, humilhação, contaminação das outras disciplinas como a matemática, embora às vezes esta seja associada a discalculia,  as expressões,  desinteresse da escola e das aprendizagens académicas…
Os pais, quando um filho entra para o primeiro ciclo, começam a confrontar-se com algo de novo para que não estavam preparados: o seu filho não aprende. Segue-se a ansiedade relativa ao diagnóstico, à via-sacra das várias opiniões das instituições e dos técnicos, à culpabilização, à procura de soluções para o problema.
Alguns pais, como já passaram pelas mesmas dificuldades (a hereditariedade também tem a ver com isto), estão mais à vontade para lidarem com esta dificuldade. Outros, para quem tudo isto é novidade, penalizam-se pelo fracasso: acham que não estiveram atentos, não apoiaram suficientemente o filho, não trabalharam em casa os TPC ou não o meteram nas explicações...
Não se trata disso.

Jackie Stewart escreveu o seguinte, no  Prefácio d' O Choque Linguístico – A Dislexia  nas Várias Culturas:
Nunca como agora, por causa do seu trabalho ou simplesmente em busca de uma vida melhor, as pessoas se movimentaram tanto e/ou tão frequentemente na Europa.
No entanto, o preço pode ser elevado, sobretudo para crianças com a dificuldade de aprendizagem conhecida por dislexia.
Para elas, pode ser impossível aprender uma nova língua, porque lhes é difícil assimilar a informação sob a forma como esta é tradicionalmente veiculada nos sistemas de ensino normais.
A dislexia pode ser extraordinariamente traumatizante e absolutamente frustrante para o jovem, a ponto de destruir vidas.
Eu sou disléxico. Consegui sobreviver porque fui capaz de dar a volta ao problema. A dislexia nunca me impediu de fazer as coisas que quis.
Os jovens disléxicos, com a ajuda certa, também podem ir longe.
Talvez até mais depressa do que os outros…

Este texto é relevante a várias títulos de que destaco o protocolo para avaliação da dislexia (pag. 49). 

Sem comentários:

Enviar um comentário