Mostrar mensagens com a etiqueta RÁDIO BEIRA INTERIOR - OPINIÃO. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta RÁDIO BEIRA INTERIOR - OPINIÃO. Mostrar todas as mensagens

26/06/25

Olá, solidão!





À medida que vou envelhecendo tenho mais necessidade de estar acompanhado, compreendo melhor a necessidade de estar com os outros e fico ansioso quando sinto que estou só, mesmo que isso signifique apenas isolamento social e não solidão não desejada.
De facto, estar rodeado de gente não resolve os sentimentos de solidão. Como o contrário, viver sozinho não é sempre sinónimo de sentir solidão. 
Refiro-me à solidão que faz mal à saúde.

Segundo V. Murthy, referido por Isabel Sánchez, a solidão “alastra como uma epidemia”, uma "epidemia oculta”, como foi referido no Reino Unido que criou o Ministério da solidão. (1)
Isabel Sánchez em A Cultura do Cuidado refere que “A solidão é um problema de saúde pública. E não é por acaso que foi integrada pelos governos de alguns países nas respectivas agendas de trabalho (2); a solidão está na origem e é um agente promotor das grandes epidemias do mundo atual, desde o alcoolismo e a dependência de drogas até à violência, à depressão e à ansiedade”.
“Mas a solidão não afeta apenas a saúde; afeta igualmente, o comportamento das crianças na escola, o nosso rendimento no trabalho, bem como o sentimento de divisão e polarização que domina sociedade.” (p. 134)
“... O que está presente no fundo da nossa solidão é o desejo inato de nos relacionarmos com os outros, porque o ser humano é uma criatura social...” (p.135)

Sabemos bem a importância da relação social para o desenvolvimento da criança; conhecemos as experiências de carência de contacto, carência de afeto e vinculação em que certas crianças ficaram e quanto isso perturbou o seu desenvolvimento.
Sabemos da importância que a necessidade do outro tem no grupo de adolescentes; enquanto adultos a importância do outro no trabalho ou, quando na velhice, precisamos de alguém que nos ajude em tarefas essenciais das actividades da vida diária que nós já não somos capazes de fazer.

A solidão “é um dos males do nosso tempo, uma pandemia do presente, que provoca mais mortos que a poluição ambiental, a obesidade e o alcoolismo... o isolamento afeta a qualidade do sono e faz aumentar os sintomas depressivos e os níveis matinais de cortisol que é a hormona do stress”... (Facundo Manes, referido por I. Sánchez, p.135)

Também em Portugal vivemos esta realidade. Um estudo com mais de 1200 pessoas entre os 50 e os 101 anos, concluiu que: 
- as mulheres (20,4%) sofrem mais de solidão do que os homens (7,3%).
- as pessoas com menor escolaridade apresentam mais solidão (25,8%).
- o sentimento de solidão aumenta com a idade: 9,9% dos 50-64 anos; 26,8% com 85 anos ou mais.
- é mais frequente nas pessoas viúvas (30,6%) e nas pessoas solteiras (15,8%) do que em pessoas casadas (9,2%).

As férias que estão a chegar são uma excelente oportunidade para novos contactos sociais ou para renovar contactos sociais que, eventualmente, estavam perdidos, desde logo dentro da nossa família, com os nossos filhos ou com amigos que não víamos há muito tempo. É um tempo em que podemos refazer relações sociais que nos devolvam a alegria de viver. 


Desejo a todos umas boas férias.



__________________________

(1) Marta Rebelo, "Precisamos de um Ministério da Solidão?" Visão, 10.03.2021 ;  "Há países que já têm um Ministério da Solidão. E Portugal?" Agência Lusa , CM.

(2) No nosso país foi aprovado o Plano Nacional de envelhecimento activo (Resolução do Conselho de Ministros nº 14/2024, de 12-1 )




Rádio Castelo Branco






20/06/25

“Mal-estar na civilização”


Ouvimos dizer que o mundo está polarizado. Mais do que isso: o mundo está em guerra e assistimos a atrocidades inimagináveis.
Este século começou mal, com um ataque violento aos Estados Unidos em que foram derrubadas as torres gémeas com cerca de 3000 pessoas mortas (2.977, além dos 19 sequestradores dos aviões). O 11 de Setembro é considerado o ataque com o maior número de mortos da história. Além disso, foi uma tragédia que mudou, em vários aspectos, os rumos do mundo.
Depois veio a pandemia cujos resultados, como estamos agora a constatar, não deixaram tudo bem, antes pelo contrário.
Vivemos, pelas paredes-meias da comunicação social, com a guerra da Ucrânia-Rússia, Israel-Gaza-Irão.

Vivemos “o mesmo mal-estar de que Freud nos falava no início do século XX, no texto O mal-estar na civilização, “em que apresenta uma visão pessimista da relação entre o eu e o outro. É uma visão decorrente de uma leitura que centra a reflexão em torno do conceito de narcisismo; ou seja, tomando como ponto de partida os apelos e desejos narcísicos do eu, o outro aparecerá como um obstáculo. (1) 

O ambiente está, de facto, polarizado e irrespirável. A saúde mental foi afectada de forma particularmente sensível.
Claro que as pessoas são afectadas de forma diferente. Há pessoas que são mais afectados do que outras. Ou seja, em que as vulnerabilidades pessoais são mais relevantes do que as potencialidades.

Deste desequilíbrio surge, então, a doença mental.
"Se definirmos a doença mental como uma perda de controle sobre a mente poucos de nós podem garantir estar livres de algum tipo de mal-estar."
“Quando ficamos doentes perdemos o controle sobre os nossos melhores pensamentos e sentimentos. Uma mente que não está bem não consegue aplicar um filtro à informação que chega à consciência; já não consegue ordenar e sequenciar o seu conteúdo. E a partir daqui, sucede-se uma panóplia de cenários dolorosos:
- A nossa consciência é continuamente invadida por ideias despropositadas, como vozes inclementes que ecoam sem parar...
- Somos incapazes de nos reconciliarmos com quem somos.Todas as coisas más que alguma vez dissemos ou fizemos reverberam e ferem nossa auto-estima...
- Não conseguimos moderar a nossa tristeza. Não conseguimos ultrapassar a ideia de que não fomos realmente amados, que fizemos da nossa vida adulta uma bagunça que desapontamos todas as pessoas que alguma vez tenham tido um pingo de esperança em nós...
- Todos os compartimentos da nossa mente estão escancarados. Os pensamentos mais estranhos, mais extremos, correm descontrolados pela nossa consciência. Começamos a temer que possamos gritar obscenidades em público...
- Nos casos mais graves perdemos o poder para distinguir a realidade exterior do nosso mundo interior...
- Á noite... ficamos indefesos perante as nossas piores preocupações... (2)

Mas a vida é assim. A verdadeira saúde mental, diz-nos Alain de Botton, envolve uma aceitação honesta de que, mesmo nas vidas mais competentes e significativas, haverá sempre algum grau de sofrimento e dificuldades...


Até para a semana.


__________________________


(2) Alain de Botton, Uma viagem terapêutica, D. Quixote, p. 16-19.




Rádio Castelo Branco




06/06/25

Activismo e manipulação


A comunicação social vai dando conta de episódios como este: "As autoridades detiveram quatro ativistas por "desobediência" ao tentarem bloquear uma via de acesso ao Aeroporto Humberto Delgado. O protesto tem como lema “travar a crise climática”. Ou como este, mais antigo: "Sítio pré-histórico inglês de Stonehenge pulverizado com tinta por ativistas ambientais"...

“Quando pensamos em ativismo, muitas vezes associamos o termo a demonstrações públicas, construção de barricadas, bem como atividades engraçadas e criativas pensadas para chamar a atenção para uma causa.“
Na maioria das vezes, essas atividades não são projetadas para criar ou propor consenso. Elas são pensadas para convencer ou informar as pessoas para, por exemplo, obter apoio popular para uma causa ou colocar um problema na agenda pública... (1)
O que caracteriza o activismo é essencialmente o protesto público e a influência dos decisores. 
Substancialmente, trata-se de uma forma de manipulação da mente. Os objectivos do activismo são os de quaisquer outras formas de manipulação, servindo-se das repercussões que causa através dos meios de comunicação social.
De facto, todos sabemos do poder de manipulação que os media oferecem à política,  à economia, ao consumo, ao marketing, publicidade, propaganda e acção psicológica...
Claramente, os activistas outra coisa não fazem do que inventar formas de manipular os comuns mortais com a finalidade de levar à tomada de decisão no consumo, na moda, nos comportamentos a adoptar segundo os padrões por eles definidos.

Acontece que num regime democrático existem instituições que dentro da diversidade de propostas políticas escolhidas pelo povo eleitor devem tomar as decisões necessárias ao seu governo.
Ora o activismo não aceita estes procedimentos. Em vez disso, utiliza actividades se possível espectaculares, para manipular as pessoas e levá-las a aderir aquilo que democraticamente não conseguem. 
Rui Ramos diz que “os activistas são os que nunca têm mais que fazer, os que nunca duvidam, os que nunca admitem que a questão pode ter outro lado, os que estão prontos para tudo. Vivem num mundo simples, a preto e branco, imunes a todas as nuances. Mantêm-se, em todos os sentidos da palavra, inocentes: puros e inconscientes. Existem para a acção." (2)

Mas o que faz com que uma pessoa se torne activista? (3)
- A educação parental e a modelagem parece ser um factor importante. Num estudo, verificou-se que os alunos cujos pais lutaram no Vietnam eram muito mais propensos a protestar contra a Guerra do Golfo de 1991 do que aqueles cujos pais não eram veteranos de guerra.
- A personalidade também pode ter importância. Há indivíduos que têm maior probabilidade de sentir uma conexão pessoal se se vêem como parte da comunidade afectada por um problema, como, por exemplo, a identidade com os direitos das mulheres...
- Alguns actos aparentemente podem parecer altruístas , definidos como devoção aos interesses dos outros, mas, na verdade, advêm do desejo de ajudar a si mesmo...

Sabendo disto, está em cada um de nós ter a capacidade crítica para desobedecer aos chefes do activismo e fazer as escolhas da transparência, da coerência, da autenticidade... que possam trazer as respostas necessárias a um mundo melhor.



Até para a semana.



_____________
(3) "What Makes an Activist?", Anne Becker, Psychology Today, 1-7-2003 (última revisão 9-6-2016)





Rádio Castelo Branco





29/05/25

Vitórias e derrotas


No futebol como na política, no (nosso) clube ou no (nosso) partido, tem que se conseguir a vitória a todo o custo e a derrota não pode existir. 
Em todos os jogos da nossa vida, no jogo familiar, sindical, interpessoal, transformamos cada vitória ou derrota num assunto tão fundamental que reagimos com emoção de forma desproporcionada, ou arranjamos maneiras de enviesar e alterar a realidade do fracasso.

Porque é tao dificil assumir a derrota? Já nos habituámos a ver, nas noites eleitorais, transformar derrotas em vitórias. Há quem nunca perca e seja incapaz de ver a realidade. Assistimos muitas vezes a episódios de quem não sabe perder e até tem mau perder. 
E o que é mais espantoso: porque não se sabe ganhar? Por que é que nas vitórias tem que haver vingança e manifestações violentas ?

Experiências positivas e negativas, vitórias e derrotas afetam o cérebro de maneiras diferentes.  (Veja o que acontece no cérebro na vitória e na derrota)
Na vitória, o cérebro liberta substâncias químicas, principalmente dopamina, que é frequentemente associada ao prazer e à recompensa. Cria uma sensação de euforia e satisfação, que incentiva a repetir comportamentos que levam ao sucesso. 

Por outro lado, numa derrota, o cérebro liberta dopamina em níveis muito menores. Em vez disso, outras áreas do cérebro, como a amígdala, que está associada às emoções e ao processamento do medo, tornam-se mais activas. Isso pode levar a sentimentos de frustração, tristeza ou, até mesmo, raiva.

A maneira como a mente interpreta uma derrota pode influenciar a resposta do cérebro. "Pessoas que vêem a derrota como uma oportunidade para aprender tendem a recuperar mais rapidamente e a serem mais resilientes. Isso sugere que a mentalidade desempenha um papel crucial na forma como o cérebro processa falhas e sucessos".

Na experiência de M. Seligman sobre o fracasso aprendido sabemos que podemos ser ainda mais prejudicados, a ponto de nos deprimirmos: nunca ganho, tudo corre sempre mal, perdido por cem perdido por mil...

Psychologies
Por outro lado, sabemos que cada fracasso pode ser um progresso para o sucesso. Mais do que lamentar-nos dos fracassos, é preciso celebrá-los como etapas cruciais do nosso percurso. Cada fracasso é uma lição, cada decepção é uma oportunidade de crescimento. Devemos aceitar os desafios, porque eles são o que nos torna mais fortes e nos impulsiona. Por isso, não devemos ficar presos em pensamentos negativos. Cada dia oferece uma nova chance de nos reinventarmos e construir um futuro mais positivo.

Eduardo Sá em "As derrotas das vitórias", refere: “O que custa numa noite de eleições é que muitos dos que concorrem nunca percam. Mesmo quando perdem. Na verdade, desistem de se confiar às suas derrotas e de crescer com elas. E demonstram, nesse momento, que se desencontraram da humildade de reconhecer a dor.”

Para concluir, podemos dizer que é derrotado quem não sabe perder mas é igualmente derrotado quem não sabe ganhar mesmo que a evidência seja menos óbvia.


Até para a semana.





Rádio Castelo Branco





23/05/25

Vínculo vital


Amar é uma tarefa da vida inteira. Aprender a amar também. Temos assim a possibilidade de experimentar desafios que ao longo do tempo vamos tentando superar; isto quer dizer que a nossa vida  é também um processo terapêutico em que nos adaptamos e tornamos melhores pessoas.

“Aprender mais sobre o que é o verdadeiro amor é essencial para superar a confusão mental, permitindo-nos detetar a sua ausência na forma como nos tratamos e começar a nutrir e honrar a sua presença naqueles de quem decidimos aproximar-nos”. (Alain de Botton, Uma viagem terapêutica, p.131)

Para Alain de Botton, temos uma ideia fundamentalmente romântica e pouco útil do amor segundo a qual o amor é a recompensa que alguém recebe pelos seus pontos fortes: ser rico, popular, carismático...

Porém, existe uma outra concepção de amor, não como recompensa pelos pontos fortes mas como simpatia e compromisso com a fraqueza: “Amor é o que sentimos quando vemos um bebé recém-nascido, indefeso  perante o mundo, a tentar agarrar o nosso dedo, apertando-o com força e esboçando um sorriso  frágil e agradecido.”...

As pessoas em quem devemos acreditar “são aquelas que se comovem com as nossas crises que estão por perto nas horas mais sombrias que estarão ao nosso lado quando o resto do mundo estiver a fazer troça.” (idem)


Sob o signo do afecto (da capa),
 de B. Cyrulnik  

Na encíclica Fratelli Tutti, o Papa Francisco, definiu o vínculo amoroso como o vínculo da vida:  “ninguém pode experimentar o valor de viver, sem rostos concretos a quem amar” (nº 87), ou seja, com as suas potencialidades mas também fragilidades.

Este vínculo vital exige rostos concretos a quem amar. São pessoas que têm as suas características mesmo que não sejam aquelas que mais apreciamos.

 

Ou seja, a nossa viagem humana  é constituída pelas nossas potencialidades mas também pelas vulnerabilidades: “as fraquezas, carências, medos, imaturidades, incompetências ou simples esquisitices”. (idemNo fundo, características humanas. Tanto umas como outras  podem ter aspectos importantes nessa viagem. Podemos aprender a amar e esta aprendizagem implica podermos ser vulneráveis.


No “decurso da vida” que inicia com a infância pode acontecer que as vulnerabilidades, como as perturbações psíquicas, provoquem rupturas no equilíbrio da nossa personalidade. 

Vão com certeza acontecer crises previsíveis mas  também imprevisíveis, algumas dessas crises podem transformar-se em factores de risco e, em alguns casos, factores de perigo, que seja necessário controlar ou resolver.

E é da interacção de potencialidades, como factores de protecção, e vulnerabilidades, como factores de risco, que pode surgir o equilíbrio na nossa vida e na nossa vida mental.

 

Os psicólogos têm vindo a adoptar sistemas compreensivos desta realidade. Assim, do jogo entre potencialidades e fragilidades resultantes do processo de socialização, das condições sócio-culturais e biopsicológicas do indivíduo (como, por ex., a adaptação cognitiva resultante do processo de assimilação e de acomodação) pode resultar a adaptação ou desadaptação;  e este é um processo de equilíbrios sucessivos (ou equilibração) em que as estruturas mentais vão mudando.

Para Alain de  Botton, os paradigmas da psicoterapia podem aplicar-se às relações amorosas, mesmo quando as relações são difíceis, como a escuta activa, suavizar a linguagem...

 


Até para a semana.





Rádio Castelo Branco 





02/04/25

Histórico e ressentimento


Tudo o que fazemos, dizemos ou sentimos fica guardado na memória. E logo que isso acontece começa a haver história. 
Porém, sabemos que não há memória sem esquecimento como também sabemos que a memória nos engana e aquilo que pensamos ser um facto vivenciado por nós em determinadas circunstâncias objectivas, pode não ser bem assim. 

Seja como for, há um conjunto de memórias onde ficam guardados acontecimentos da nossa vida que constituem o "histórico" dessa mesma vida, a memória autobiográfica.
Esse histórico é fundamental para nos situarmos no mundo e faz parte da experiência que temos do comportamento de ir juntando acontecimentos, factos, pequenas e grandes coisas que vão ganhando ou perdendo importância e quando vistas no contexto podem ser amplificadas ou simplificadas... até nos dar jeito. 

O histórico tem um lado positivo quando ele nos serve para vermos a realidade tal como ela é, os factos e como aconteceram, e tem um lado negativo quando nos serve para justificarmos o nosso ressentimento. *
O que vem depois é o efeito gota de água que faz transbordar o copo. E infelizmente, há sempre uma gota de água que vem a calhar, quando nos dá jeito, para podermos justificar o nosso comportamento. 
Quando achamos uma oportunidade lá vamos nós buscar o histórico, o nosso ressentimento: no dia tantos fizeste-me isto, fizeste aquilo...
E sai todo um relatório de “deve e haver” em relação à nossa vida e à relação com quem naquele momento é fonte da nossa frustração e objecto da nossa raiva.

Esta interligação está muitas vezes na origem do ressentimento que existe entre pessoas, num casal, na família, no trabalho, nas instituições sociais e políticas.
Hoje o ressentimento está presente em muitas situações e visões da sociedade.
Há cada vez mais indivíduos ressentidas: vitimizados, ofendidos, magoados, ressabiados e melindrados...

Nós não somos computadores e não podemos apagar o nosso  histórico como fazemos ao nosso hardware. A nossa memória apaga alguns acontecimentos mas outros ficam presentes, ou são alterados fazendo com que demos interpretações dos factos que não correspondem à realidade.
Podemos passar por esses eventos e nunca mais pensar neles. Mas podemos também desenvolver o ressentimento. 

“O ressentimento pode fazer mal às nossas relações e ocasionar um conjunto de emoções negativas.” (Louise Leboyer, "Ces comportements cultivent votre ressentiment envers les autres au quotidien", Psychologies, 24 março 2025 )
“As pessoas guardam muito os seus ressentimentos porque se baseiam no profundo sentimento de terem sido injustiçadas.
Além do impacto nos nossos relacionamentos, o ressentimento causa mais danos à pessoa que o sente do que à pessoa a quem é dirigido. 
É por isso que é melhor tentar evitar cair neste ciclo negativo.“
Podemos evitar (Susanne Wolf) alguns comportamentos envolvidos na comunicação que podem ser fonte de ressentimento.
Por isso, uma comunicação saudável é uma boa prevenção: Estabelecer limites claros; evitar a manipulação ou relações interesseiras; ser coerente entre palavras e actos, valores e crenças; saber escutar... 



Até para a semana. 



____________________________

* "O ressentimento descreve uma reação emocional negativa quando se é maltratado. Não existe uma causa única para o ressentimento, mas a maioria dos casos envolve uma sensação subjacente de ser maltratado ou injustiçado por outra pessoa. Experimentar frustração e decepção é uma parte normal da vida. Quando os sentimentos se tornam muito opressores, podem levar ao ressentimento. Quando isso acontece, a confiança e o amor nos relacionamentos são quebrados e às vezes nunca reparados."  (Signs of Resentment - Web MD)




Rádio Castelo Branco










21/03/25

Por que os idosos não querem ir para um lar ?



Com algumas excepções, é o que acontece. Esta é, pelo menos, a minha experiência. A resposta dos idosos quando questionados sobre o local para onde gostariam de ir quando forem velhos é quase invariavelmente :"para um lar não".

Um conjunto de razões pode motivar tal decisão.

- Não querem perder o resto de independência e autonomia que ainda têm e não querem controlo externo para o que fazem: refeições, tempos livres, para fazer seja o que for...
- Não querem perder os vínculos afectivos que ainda existem e que de algum modo se irão perder com a entrada num lar.
- Não querem ser indiferenciados no meio de outros, com igual ou pior situação do que a deles, tornando o ambiente pesado, triste, deprimente, 
- Não querem pensar nas várias violências que são cometidas contra os idosos, que vão da infantilização, aos raspanetes por coisas sem importância, pela dificuldade em memorizar aquilo que esquecem rapidamente, por coisas que já não conseguem fazer...
- Não querem estar sujeitos a técnicos e auxiliares que não têm qualquer vocação e respeito para com os idosos.
- Não querem ser votados ao abandono principalmente pelos familiares que os despejam nos lares e deixam de os visitar.
- Não querem que lhes aconteça como a familiares, amigos e conhecidos que faleceram pouco tempo depois de terem entrado para o lar.
- Não querem perder algumas referências espaciais e afectivas importantes, como perder os amigos, as pessoas próximas e perder as rotinas que eram feitas em determinados espaços e contextos afectivos.
- Não querem pensar que o fim está próximo e “atirar a toalha ao chão”, ou seja, pensar que já se é demasiado velho.

Ora tudo isto é o contrário do que deve ser feito. Se o SNC tem plasticidade (neuroplasticidade), tem que se procurar o que faz sentido para cada um de nós.
Se me sentir acompanhado, querido pelos outros, tiver amigos... tudo isso vai influenciar e regular o sistema nervoso e manter-me mais saudável.
Estes sentimentos, como o afecto e a amizade, são fundamentais, reduzem os medos e afastam a solidão...

Não quero ter uma ideia estereotipada dos lares, generalizando sobre o que se conhece. E o que se conhece não é bom.
Claro que há excepções . Claro que há lares melhores que outros.
Claro que há técnicos competentes em todos as estruturas, sejam IPSS ou Privados, com preços acessíveis ou preços impossíveis...

Manuel Lemos, da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), em 2023, defendia “um novo paradigma, assente no apoio domiciliário”, e reconhecia “que são necessárias mais estruturas para idosos, face à longevidade, mas também outro tipo de oferta.” ( "Lares para idosos têm de evoluir e mudar de padrão" Lusa, DN31-5-2023)
Hoje o nível de escolaridade é superior, muitos idosos já são capazes de utilizar meios digitais, têm interesses diferentes...
Para Manuel Lemos, "mesmo nos lares que existem hoje, temos de encontrar uma nova forma de cuidar dos idosos”...



Até para a semana.


Rádio Castelo Branco



12/03/25

Ideias que curam 2


 

No meio da grande confusão que vai pelo mundo, e mesmo no nosso pequeno mundo nacional, é preciso que consigamos alguma tranquilidade, sensatez, racionalidade.

É penoso, e talvez para algumas pessoas, perturbador, assistir a tantos desentendimentos, afastamentos, polarizações.

Os dias passam e acrescentam mais ódios e relações cada vez mais clivadas.

Talvez tudo tenha mudado em 11 de Setembro de 2001, quando as torres gémeas foram deitadas abaixo: “O dia que fez abalar o mundo”. (Amaral Dias, Um Psicanalista no Expresso do Ocidente)


Nunca foi fácil para cada pessoa encontrar o equilíbrio na vida e também não o é actualmente. Podemos dizer, no entanto, que é sempre possível “converter qualquer obstáculo num meio para atingir os fins”. Neste caso, atingir o equilíbrio.

Sem dúvida, que tem um papel muito importante tudo o que possamos fazer para nos ajudarmos a nós próprios.

Sei que, também nesta área da auto-ajuda, é necessário ser selectivo porque  há muitos caminhos que podem servir outros propósitos que não sejam os que  interessam.

 

Já aqui tenho escrito e falado (RACAB) em vários procedimentos  terapêuticos que podemos usar na gestão do equilíbrio que procuramos para a nossa vida: a terapia da natureza, a hortiterapia, a biblioterapia, a filosofia, a leitura e prática do estoicismo, as práticas da meditação que vão da terapia mindfulness até à prática da oração...

Por estes dias de incerteza, leio Séneca, Sobre a brevidade da vida, que pode ser um bom começo para fundamentar  esta perspectiva....

Tudo o que está à nossa volta nos preocupa. Vivemos preocupados, ou seja, há todas as condições, políticas, sociais e familiares para que assim seja...

“Mas (diz Séneca) há quem viva preocupado mesmo quando em repouso:  Em casas de campo, no leito, no meio da solidão. Mesmo quando totalmente sozinhos, são a pior companhia que podem ter. Não vivem descansados, mas com preocupações persistentes.”(p. 22)

Provavelmente, estamos nesta categoria e se calhar temos justificadas razões para isso: somos daqueles que trabalham ate à exaustão, até ficarmos doentes (burnout), workaholics inveterados, regressamos cansados de férias,  ficamos cansados de ver tv ou das redes sociais...

 Outra das minhas leituras é Estoico todos os dias, de Ryan Holiday e Stephen Hanselman, que propõe um pensamento para cada dia do ano, principalmente a partir dos textos de Séneca, Epicteto, Marco Aurélio. Uma proposta de leitura para cada dia do ano, mas mais do que isso de meditação.

A leitura para o dia 11 de Março parte de uma frase de Epicteto: “O homem sem impedimentos, que tem à mão as coisas como quer, é livre. Mas aquele que possa ser impedido, coagido ou empurrado para fazer qualquer coisa contra a sua vontade, é um escravo.”(p.103)

As pessoas perdem a liberdade em troca do que supõem ser o êxito, o poder, a riqueza e a fama, são “prisioneiras nas cadeias que elas próprias construíram”.

Se pensarmos bem, há 50 anos, aconteceu o 11 de Março de 1975, com todos os desmandos e  violência que se seguiram e que só viriam a terminar com o 25 de Novembro desse ano.

Não podemos dizer que a crise actual é pior.

 


Até para a semana.




Rádio Castelo Branco










28/02/25

Verdade


Vivemos num mundo onde mentiras, propaganda, manipulação... tomaram conta da nossa vida.
Há mentiras que destroem pessoas e há mentiras que destroem povos. Ou que são a base para se travarem razões que levam à guerra.
A propaganda, que é a arte de vender mentiras, esforça-se por formar a opinião das pessoas e somos enganados pelas imagens censuradas e pelas palavras distorcidas e fora de contexto.
Vivemos na era da pós-verdade em que as notícias apelam às emoções e às crenças pessoais, em detrimento de factos apurados ou da verdade objectiva.
Vivemos no tempo do cancelamento e da censura de quem não concorda com o politicamente correcto ou com a ideia dominante ou a verdade oficial. *

Jordan Peterson - 12 Regras para a Vida – um antídoto para o caos, na Regra 8 - "Diga a verdade ou pelo menos não minta" - diz-nos:
“Pode usar as palavras para manipular o mundo de forma a que receba aquilo que quer. Isso é o que significa “agir politicamente”. É a especialidade dos publicitários sem escrúpulos, dos vendedores, dos anunciantes, dos burlões, dos utopistas encantados com slogans e dos psicopatas. É o tipo de discurso que as pessoas escolhem quando tentam influenciar e manipular os outros.” 
“Alguém que vive uma vida de mentiras tenta manipular a realidade através da percepção, do pensamento e da acção, de modo a que apenas o resultado desejado, e pré-definido, possa existir” (p. 270)
“Quando as mentiras crescem o suficiente, o mundo inteiro estraga-se... Mentiras corrompem o mundo. Pior, essa é a sua intenção” (p. 292)

Segundo Peterson, o processo é o seguinte: Primeiro uma pequena mentira... depois, várias pequenas mentiras para sustentar a inicial. Em seguida um pensamento distorcido... Então, de uma forma terrível, dá-se a transformação das mentiras, através de uma prática automatizada, especializada, estrutural e neurológica, no conjunto de crenças e ações inconscientes.
Depois, vem arrogância e o sentimento de superioridade ...
E, finalmente, um inferno vem depois quando as mentiras destruíram a relação entre o indivíduo, ou o Estado, e a própria realidade. As coisas desmoronam. A vida degenera. Tudo se torna frustração e desilusão. A esperança desvanece. O indivíduo enganador tenta desesperadamente o sacrifício, como Caim, mas não consegue agradar a Deus. Então o drama entra no seu ato final.
Ressentimento e vingança é o que se segue. (p. 293-294)

Fez três anos de guerra, mentiras e ódio sobre a Ucrânia ou seja de manipulação para justificar que em 24 de Fevereiro houve um país que invadiu outro e em que foram, em grande parte, arrasadas as estruturas físicas mas também a vida das pessoas. Esta invasão é "desculpada" pelas crenças territoriais, ideológicas (desnazificação); em vez de guerra, "operação militar especial", em vez de ditador, "líder"...
J. Peterson refere: “É nossa responsabilidade ver o que está diante dos olhos, com coragem e aprender com o que vemos mesmo que seja algo horrível - mesmo que esse horror prejudique a nossa consciência e nos cegue parcialmente.”

Ao invés de guerras, mentiras e ódio... “A verdade é luz na escuridão. Veja a verdade. Diga a verdade. Ou, pelo menos, não minta.” (p.295)


Até para a semana.

______________________


* Nunca houve tanta informação como actualmente o que significa que também nunca houve tanta falta de verdade... Pouco consola que haja programas de verificação de factos (fackt- cheking) para repor a verdade porque o problema é de quem controla esses programas, eles próprios podem mentir (Quem polígrafo o polígrafo; Quem poligrafa o polígrafo-2). Não deixa de ser curioso que a rede social de D. Trump se chame "Truth", tal como um jornal famoso se  chame "Пра́вда".
Tudo, mesmo assim, é preferível a um "MInistério da Verdade" (1984, G. Orwell). Ao invés, os esforços devem incidir no desenvolvimento do sentido crítico que se faz com uma vida intelectual amadurecida, pela curiosidade e pela educação, toda a educação, formal, académica mas também informal e familiar, ou seja pela cultura.

P.S. (6-3-2025) A realidade ultrapassa a ficção e o que escrevi. Estava longe de imaginar  que, da Sala Oval, assistiríamos, em directo, ao vivo e de forma transparente, à tentativa de destruição pessoal e de um país. Falou-se de “cilada”, “tristeza”, “vergonha”, “traição”, “confronto”, “humilhação”... ou “estratégia” negocial. O que quiserem. Que  os fins nunca justificam os meios.


 


Rádio Castelo Branco





12/02/25

A cultura portuguesa - Os melhores dos melhores


O processo de desenvolvimento humano, independentemente da nossa vontade, depende também de determinantes culturais e cada um de nós é o resultado do ambiente cultural onde se processou a sua socialização.
Numa comunidade, o processo de socialização, ou de aprendizagem das normas socio-culturais, necessita de adequada socialização dos seus membros, que tenha como resultado a integração da maior parte deles na sociedade. Ou, caso contrário,  haverá o desvio e a anomia.
Trata-se de um processo circular e dinâmico no qual a cultura que recebemos através dos agentes sociais como a família, escola, igreja, empresa, grupo de pertença, etc. levam a criar em cada um de nós motivações, forças e atitudes, autoestima e resiliência, sentimento de segurança ou de abandono, que farão parte da personalidade e que por sua vez vão constituir a base em que se fará a futura socialização dos jovens.

Continuo a ter uma percepção muito positiva do mandato do Presidente Marcelo, contra a opinião generalizada do contrário. Nesse sentido, concordo que: "Nós somos bons, muito bons. Somos os melhores dos melhores"
O papel que cabe a um Presidente sobre a  autoestima e a (re)motivação dos cidadãos é inestimável para o bem-estar de cada um e para a cultura da comunidade. 
Somos os melhores por aquilo que fazemos, pelos resultados que obtemos, e também pela capacidade crítica dos defeitos e do que, podendo, não fazemos. 

 

Crítica feita sobretudo de humor. Rir das nossas virtudes e defeitos é um bom princípio para sabermos situar-nos no mundo em que vivemos, e não nos tornarmos insuportáveis para os que nos estão próximos...

Ser melhor significa também que se pode ser crítico com total liberdade, sem medo de ser incomodado pelos censores estatais ou informais ou pelos agentes do cancelamento...

Algumas das nossas “elites” não têm esta capacidade. Como, p.ex.,  o despautério de uma esquerda globalista que diz os maiores disparates, sem se rir, da cultura portuguesa.


Felizmente, temos outras vanguardas em que só os melhores têm esta capacidade crítica. De Gil Vicente a Eça de Queirós, de Eduardo Lourenço a Miguel Esteves Cardoso. 

Um Alípio Abranhos do séc. XX pode passar pela Câmara Municipal, Governo ou Parlamento. Temos vindo a divertir-nos com episódios dos passantes por esses sítios de poder sem qualquer noção do sentido de estado ou do ridículo... 

 

As “Aventuras” de Miguel Esteves Cardoso – (1ª parte - As minhas aventuras na República Portuguesa", Independente Demente) mostram como os portugueses têm humor suficiente para se verem ao espelho e serem capazes de sorrir de si próprios e em especial dos políticos que os governam. 

Por exemplo, a “Aventura do sofrer” (p. 42): “Em Portugal  sofre-se muito. Eu sofri muito. Tu já sofreste muito. Só  Deus sabe o que ele já sofreu. De  resto, sofre-se muito neste país. O  próprio país sofre. Sofre só por si com ponto final. E sofre coisas exteriores a si. Sofre  de dúvidas. Sofre quedas. De  escadotes. De  cabelos. Sofre alterações. Sofre cataclismo. Sofre  de sucessivas. Sofre  de chofre. 

Esta afirmação sofre de contra-argumentação.”...

 

 

Até para a semana.

 

 

Rádio Castelo Branco



 



08/02/25

A cultura portuguesa


Há uma frase de Chesterton que diz: "Chegará o dia em que temos que provar ao mundo que a grama é verde".  Creio que ultrapassámos esse dia há muito: Há quem não saiba o que é uma mulher. E quem não queira saber que há dois sexos
Há também quem ache que a cultura portuguesa não interessa. (1)
Em relação à cultura, fiquei sem saber se se trata de uma questão honesta sobre a complexidade do que é a cultura, que reflecte o que significa a cultura nos dias de hoje, se é uma dúvida sobre a cultura portuguesa  ou se é, apenas, mais um absurdo do wokismo, mais uma forma de negacionismo da cultura portuguesa e, no fundo, da cultura. 
Se se tratar desta última possibilidade, ficamos a entender melhor o que se tem andado a (des)conversar sobre os brasões do Jardim da Praça do Império, sobre o Padrão dos descobrimentos, sobre Camões, ou o P. António Vieira...
Se, ao contrário, se pretende compreender e questionar o que é a cultura, temos aqui uma oportunidade para debater o tratamento que, nos últimos tempos, temos dado à cultura.

Para Mario Vargas Llosa (A civilização do espetáculo)  “Ao longo da história a noção de cultura teve diferentes significados e matizes... Mas apesar dessas variantes e até à nossa época, cultura sempre significou um conjunto de factores e disciplinas que, segundo amplo consenso social, a constituíam e ela implicava: a reivindicação de um património de ideias, valores e obras de arte, de conhecimentos históricos, religiosos, filosóficos e científicos em constante evolução, o fomento da exploração de novas formas artísticas e literárias e da investigação em todos os campos do saber.” (p. 61) (2)

O antropólogo Jorge Dias, em O essencial sobre os elementos fundamentais da cultura portuguesa, (Imprensa Nacional-Casa da Moeda), explicou que as várias maneiras de ver o português, mais cultas ou mais populares, são o exemplo da cultura do povo português. (3)
Jorge Dias chama-lhe “as constantes culturais deste povo já velho de tantos séculos.... ou a sua personalidade de base". Assim:
- O Português é um misto de sonhador e de homem de acção, ou, melhor, é um sonhador activo...
- Há no Português uma enorme capacidade de adaptação a todas as coisas, ideias e seres sem que isso implique perda de carácter...
- A saudade do português é um estranho sentimento de ansiedade...
- A saudade toma uma forma especial, em que o espírito se alimenta morbidamente das glórias passadas e cai no fatalismo do tipo oriental, que tem como expressão magnífica o fado...
- Uma das características mais importantes da saudade é precisamente essa fixidez da imaginação, que, por intensidade se pode tornar em ideia motora e conduzir à acção. É esta obstinação que encontramos na arte, na musica, nas canções corais alentejanas e minhotas... 

- O Português é sobretudo profundamente humano, sensível, amoroso e bondoso, sem ser fraco. Não gosta de fazer sofrer e evita conflitos, mas, ferido no seu orgulho pode ser violento e cruel.

- A capacidade de adaptação é uma das constantes de alguma portuguesa. “o português adapta-se a climas, profissões, a culturas, idiomas e a gente de maneira verdadeiramente excecional”... 

- “Outra constante da cultura portuguesa é o profundo sentimento humano, que assenta no temperamento afectivo, amoroso e bondoso. Para  o português o coração é a medida de todas as coisas.”


Também Eduardo Lourenço escreve sobre a saudade em O labirinto da saudade - Psicanálise mítica do destino Português (Publicações D. Quixote) 
Somos irrealistas, vivemos de sonhos? “Somos um povo de pobres com mentalidade de ricos” ? 
Há muito para repensar. Mas também era tempo de conhecer melhor a nossa terra, a nossa gente, a nossa cultura e também de apreciar a arquitectura, a literatura, a música, a arte... e de ter orgulho da cultura portuguesa. 


Até para a semana.



Rádio Castelo Branco



________________________________

(1) Reacção de uma eurodeputada, Ana Catarina Mendes (do PS), à posição do líder do seu partido, Pedro Nuno Santos, que, num momento de lucidez, referiu que deve haver  adaptação dos imigrantes à cultura do país que os acolhe (aculturação). 


(2) Para Vargas Llosa, a cultura estabeleceu sempre categorias sociais entre aqueles que a cultivavam e aqueles que a desprezavam ou ignoravam ou dela eram excluídas por razões sociais e económicas. Em  todas as épocas havia pessoas cultas e incultas e entre os dois extremos pessoas mais ou menos cultas ou pessoas mais ou menos incultas. Mas no nosso tempo tudo isso mudou, toda a gente é culta, e há uma cultura para todos os disparates...

E isto já é outra coisa!

 

(3) Alguns trabalhos, mais eruditos ou mais populares, sobre a cultura portuguesa que têm  passado nos media, como, por exemplo: "O Tempo e a Alma", com José Hermano Saraiva; "Visita Guiada", com Paula Moura Pinheiro; "Primeira Pessoa", com Fátima Campos Ferreira; "Terra Nossa", com César Mourão, "A nossa cultura" - Observador; "Portugal fenomenal", com Tiago Góes Ferreira... mostram algumas das várias vertentes de abordagem da cultura portuguesa.