26/02/22

Talvez a cultura...


Khatia Buniatishvili - Rhapsody in Blue (George Gershwin)
Orchestre National de Lyon; Leonard Slatkin (Direcção), 2017



Khatia Buniatishvili nasceu na Geórgia em 1987...
Nas últimas temporadas, Khatia Buniatishvili participou em vários eventos evocativos e de beneficência, nomeadamente num concerto integrado no 70.º aniversário das Nações Unidas, em favor dos refugiados sírios, num concerto em Kiev em favor dos feridos na guerra na Ucrânia, num concerto contra a violação dos direitos humanos na Rússia, ou na conferência DLDWomen.








23/02/22

Auto-ajuda



O hábito de ler, em especial ler livros, é, só por si, uma actividade que faz bem à saúde. (1)
Há estudos que comprovam que quem tem o hábito de leitura consegue viver muito mais tempo... e com qualidade de vida.
Ler é também importante para o desenvolvimento da personalidade. A educação sentimental, emocional, moral, sexual... é influenciada pelos livros que lemos. (2)
Os livros ou as leituras que fazemos sobre saúde, culinária, dietas, terapias... são extremamente importantes para o nosso bem-estar. 

Mas há livros que têm como fim principal a auto-ajuda. As suas zonas erróneas de Wayne Dyer, é um livro de auto-ajuda, editado em 1976, perfeitamente actual.Trata dos comportamentos auto-destrutivos e das formas de os ultrapassar através de auto-ajuda.
Para Wayne Dyer ser feliz não é um assunto complexo. No entanto, encontramos muitas dificuldades para conseguir essa felicidade tão desejada na nossa vida.

Ora essa felicidade está na capacidade de ultrapassar as nossas zonas erróneas. As capacidades de auto-direcção, auto-estima, viver no presente sem preocupações com o passado ou com o futuro e sem procrastinação, libertar-se da ira e das emoções negativas... apontam o caminho por onde vai a pessoa que eliminou todas as suas zonas erróneas.
Por exemplo, seremos mais felizes se eliminarmos os sentimentos de culpa e de preocupação (capítulo 5). Como o nome indica, preocupação é uma “pré ocupação” isto é, em vez de nos preocuparmos com aquilo que estamos a fazer no momento presente, preocupamo-nos com aquilo que poderá acontecer ou nunca vir a acontecer. O que é, se pensarmos bem, de uma grande inutilidade e irracionalidade.

Não será uma utopia pensar que é possível haver uma pessoa liberta de todas as suas zonas erróneas? É o que parece. 
No entanto, é possível, diz-nos Wayne Dyer, que nos traça traça o retrato das pessoas que eliminaram as suas zonas erróneas (capítulo 12) : 
São pessoas que apreciam tudo o que há na vida, têm vontade de fazer quase tudo e não perdem tempo a queixar-se, a desejar que as coisas fossem diferentes;
são pessoas que “não têm sentimentos de culpa nem toda a ansiedade que lhe é inerente e que implica usarem momentos presentes a ficarem paralisados com acontecimentos passados”;
são pessoas despreocupadas;
são pessoas que vivem agora e não no passado ou no futuro;
são pessoas espantosamente independentes;
são pessoas capazes de funcionar sem aprovação e o aplauso dos outros, não procuram honras tal como a maioria das pessoas fazem;
são pessoas que fazem realmente as suas próprias escolhas mesmo se estas entram em conflito com aquilo que o resto das pessoas faz;
são pessoas que sabem rir e provocar o riso;
são pessoas que se aceitam sem se queixarem;
são pessoas que apreciam o mundo natural, adoram estar ao ar livre em comunhão com a Natureza e tropeçar em tudo o que esteja intacto, genuíno. Gostam particularmente de elementos como montanhas, o pôr-do-sol, rios, flores, árvores, animais e praticamente toda a flora e fauna existentes...

E você ainda aprecia o pôr-do-sol ? Ainda se extasia perante a beleza de uma flor? Ainda gosta de si ? 


Até para a semana, com muita saúde.


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(1)  Provas de que ler faz bem para sua saúde; Biblioterapia.

(2)  "Ler para crescer"; "A antibiblioteca" .


 

 

 

 





16/02/22

A brisa sopra sempre outra vez

"You're Only Human (Second Wind)" -  Billy Joel (1985)


Nem sempre é fácil viver neste mundo de dor
It's not always easy to be living in this world of pain

Tu vais bater em paredes de pedra de novo e de novo
You're gonna be crashing into stone walls again and again

Embora sintas o teu coração quebrar
Though you feel your heart break

És apenas humano
You're only human

Vais ter que lidar com a mágoa
You're gonna have to deal with heartache

Assim como um boxeur numa luta pelo título
Just like a boxer in a title fight

Tens que andar naquele ringue sozinho
You got to walk in that ring all alone

Tu não és o único que cometeu erros
You're not the only one who's made mistakes

Mas eles são as únicas coisas que podes realmente chamar de tuas.
But they're the only thing that you can truly call your own

Não te esqueças do teu segundo fôlego
Don't forget your second wind

Espera naquele canto até que a brisa sopre
Wait in that corner until that breeze blows in


A música "You're Only Human (Second Wind)" trata da depressão adolescente e do suicídio... 
Joel, que já havia tentado suicídio, afirmou em uma entrevista de 1985 que ele escreveu a música como uma forma de ajudar os jovens que lutam contra a depressão e pensamentos suicidas...
Joel doou todos os royalties da música ao Comité Nacional de Prevenção ao Suicídio Juvenil. (Wikipedia)

Ser humano significa ter memória e a memória está na origem de tudo o que está certo e o que está errado mas a memória dos erros permite não cometer mais erros...
"Errar é humano, persistir no erro é desumano." (A. Cury, Gestão da emoção, p.11)

"As revoluções, tão incontinentes na sua pressa, hipocritamente generosa, de proclamar direitos, violaram sempre, pisaram e romperam o direito fundamental do homem, tão fundamental, que é a definição mesma da sua substância: o direito à continuidade. A única diferença radical entre a história humana e a "história natural" é que aquela nunca pode começar de novo. Köhler e outros mostraram como o chimpanzé e o orangotango não se diferenciam do homem pelo que, falando rigorosamente, chamamos inteligência, mas porque têm muito  menos memória do que nós. Os pobres animais encontram-se cada manhã com terem esquecido quase tudo o que viveram no dia anterior e a sua inteligência tem que trabalhar sobre um mínimo de experiências..."

"... O homem, pelo contrário, mercê de seu poder de recordar, acumula o seu próprio passado, possui-o e aproveita-o. O homem não é nunca um primeiro homem: começa desde logo a existir sobre certa altitude de pretérito amontoado. Este é o tesouro único do homem, seu privilégio e sua marca. E a riqueza menor desse tesouro consiste no que dele pareça acertado e digno de conservar-se: o importante é a memória dos erros, que nos permite não cometer os mesmos sempre. O verdadeiro tesouro do homem é o tesouro dos seus erros, a extensa experiência vital decantada gota a gota em milénios." (J. Ortega y Gasset, La rebelión de las masas, Espasa, pag 72-73)

Parece, no entanto, que estas memórias não são vistas por muitas pessoas como um "tesouro" realmente nosso.

"Em Portugal, suicidam-se três pessoas por dia. Vamos falar sobre isso?" (DN, Rui Frias,10 Setembro 2021).
"Os números são tão violentos quanto a dor. Todos os dias, há em média três pessoas em Portugal que resolvem por termo à vida. No mundo, o rácio sobe para um suicídio a cada 40 segundos (800 mil/ano). Entre os jovens dos 15-34 anos, essa é mesmo a segunda maior causa de morte. E o número de suicídios tentados é 25 vezes superior ao daqueles com desfecho fatal." 

"O problema é demasiado grave para continuar a ser vivido em silêncio.
E, por isso, a Ordem dos Psicólogos Portugueses (a propósito do Dia Mundial Para a Prevenção do Suicídio) editou o documento "Vamos Falar sobre o Suicídio", uma espécie de guia útil com orientações que vão desde a prevenção até às melhores formas de lidar com o pós-suicídio ou tentativa."

Não somos perfeitos, e as nossas conquistas e as nossas falhas são parte da nossa memória e podemos viver com elas. Estes tempos têm posto à prova a resistência às consequências da  pandemia, aos sobressaltos da governação aqui ou noutro quarteirão do mundo, aos que fazem sempre a vida mais difícil...

Os tempos são (sempre) difíceis mas a brisa sopra sempre outra vez. 







Sair do círculo vicioso





Na semana passada ficámos de saber como podíamos ultrapassar as desvantagens dos vários papéis dramáticos da nossa vida e modificar o nosso comportamento de vítimas, perseguidores ou salvadores (modelo dramático de Karpman). 

Antes de mais, é necessário fazer uma distinção fundamental nos papéis que desempenhamos. Há vítimas reais nas interacções comportamentais que devem ser protegidas e, até, criado o ambiente de segurança necessário a ultrapassar o silêncio a que se remetem, por vezes por longos anos.

Há papéis que são admissíveis como por exemplo: 
Perseguidor - alguém que fixa limites necessários sobre o comportamento ou está encarregado de fazer cumprir uma regra;
Vítima - alguém que possui condições requeridas para um emprego, o qual lhe é negado devido à sua raça, sexo ou religião;
Salvador - alguém que ajuda uma pessoa que funciona desadequadamente a reabilitar-se e a valer-se a si mesma.
Porém, há papéis inadmissíveis:
No caso do perseguidor - quando alguém impõe limites e regras com brutalidade sádica;
No caso da vítima - quando a pessoa não tem as condições requeridas para um emprego e acha que foi discriminada com base na raça, no sexo ou religião;
No caso do papel de salvador - quando mantém os outros dependentes dele. (1)

As pessoas que interpretam os papéis de vítima, salvador ou perseguidor sofrem grande desgaste emocional nas relações interpessoais. Então, têm necessidade de mudar de papel para ultrapassarem o sofrimento. (2)
Como sair deste círculo vicioso das transacções na comunicação ?
Não é fácil ter respostas simples para isso. 
Em primeiro lugar, é necessário saber que como em tudo somos sujeitos às leis da aprendizagem desde a infância, e são processos enraizados na nossa personalidade que não é fácil alterar. O reforço faz o seu trabalho e quanto mais a pessoa é reforçada mais difícil se torna a modificação do seu comportamento.
Depois, é difícil assumirmos a nossa auto-responsabilidade. É sempre mais fácil atribuir os insucessos e fracassos aos outros e às condições externas. Aquilo a que chamamos locus de controlo externo.
Por outro lado, a auto-ajuda principalmente através de livros a que recorremos, nem sempre tem o resultado esperado no imediato e nas dimensões do prometido nesses livros e por nós esperado. 

As dificuldades devem-se sobretudo ao envolvimento das emoções em todos os processos de comunicação da nossa vida.
Não pode haver transacções saudáveis sem emoções saudáveis. Os estados do Eu são assim influenciados pela nossa saúde emocional.
A psicoterapia, a formação em competências parentais, a formação em competências sócio-emocionais nas empresas, no fundo, a gestão das emoções, podem ser formas de ajuda para ultrapassar as dificuldades nas interacções sociais.
Também a auto-ajuda oferece possibilidades de adquirir capacidades interactivas na relação com os outros, melhorando a nossa saúde mental, aprendendo a gerir as nossas emoções.
As técnicas de gestão da emoção podem ser uma boa solução para começarmos a alterar o nosso comportamento, ultrapassando conflitos, traumas e crenças, obsessões de perfeição e começarmos a rir de nós próprios, das nossas tolices e de reciclar o lixo psíquico, que guardamos na nossa mente. (3)


Até para a semana com muita saúde.


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(1) M. James e D. Jongeward, Nacidos para Triunfar - Análisis Transaccional con Experimentos Gestalt, pag 81-82.

(2) Fernando Alberca Vicente,"Cuida tu salud emocional".

(3) Augusto Cury, Gestão da Emoção - Técnicas de coaching emocional para gerir a ansiedade, melhorar o desempenho pessoal e profissional e conquistar uma mente livre e criativa, 2021 (orig. 2015).

 




10/02/22

Cultura de vitimização

  O segredo de uma família feliz: o triângulo de Karpman



Vivemos hoje, publicamente, com medo de nos expressarmos, de tomarmos posições, de dizermos qualquer coisa que possa sair do politicamente correcto.
A sociedade actual está cheia de gente que se ofende por tudo e por nada: “os ofendidinhos” (L.F. Pondé).
Há sempre um “ofendidinho” em qualquer lado e quando menos se espera. Um dos problemas que daí resultam é o controle da linguagem que como sabemos é por aí que começam as ditaduras de esquerda ou direita, comunistas ou fascistas... *
Vivemos a cultura do cancelamento destes “ofendidinhos” que têm poder para destruir as carreiras de quem tem alguma capacidade crítica em relação a qualquer assunto principalmente se for considerado fracturante ou for dos temas que facilmente sofrem atribuição de racista, xenófobo ou negacionsta não importa de quê. 
Não se pode divergir, nao se pode criticar, nao se pode elogiar, não se pode tocar, não se pode expressar pensamento divergente... porque há sempre alguém que se sente vítima...

A vitimização não é por si só uma patologia (DSM) mas é um dos factores que pode contribuir para uma perturbação paranóica da personalidade. É sem dúvida um traço psicológico que afecta a vida psicológica do sujeito e as relações interpessoais. 
A vitimização é uma chantagem emocional como forma de comunicação.

O que tem vindo a acontecer então com esta cultura de vitimização?
Por um lado, a nossa cultura não sabe lidar com o sofrimento, com a responsabilidade, com a história... Ao contrário é-nos dito que tudo se resolve, tudo é revisto, há dinheiro para tudo, mesmo que não se assumam responsabilidades... Além disso, trata-se de um processo complexo em que há vários papéis que estão envolvidos. Parte-se do papel de vítima para logo assumir o de salvador e de perseguidor.
O psicólogo Stephen Karpman (1968) identificou três estados do EU que afectam as relações interpessoais em todos os âmbitos (social, familiar, empresarial)... **
As pessoas assumem o papel de salvador, de vítima e de perseguidor, muitas vezes de forma inconsciente, para obter afecto ou para sobreviver numa organização.

O salvador é uma pessoa que oferece ajuda falsa para criar dependência; Fortalece o papel das vítimas para continuar a ajudá-las; Manipula subornando; Necessita que precisem dele.
A vítima provoca os outros para ser humilhada; Envia mensagens de indefesa; Esquece de forma conveniente; Manipula com sentimentos de confusão e culpa; Queixa-se, escusa-se, reprova; Não aceita responsabilidades; Tem um sentimento de inferioridade e baixa autoestima que se volta contra os outros; Necessita ajuda e compaixão permanentes.
O perseguidor elabora normas pouco práticas que faz cumprir cruelmente; Atormenta os vulneráveis; Manipula com o medo; Parece fora do jogo mas observa e julga tudo; Necessita que reconheçam a sua autoridade.
Os três papéis – vítima , salvador, perseguidor - criam um círculo vicioso na medida em que cada um deles é uma forma de manipulação e a pessoa pode assumir distintos papéis na sua vida, pode ser perseguidor na família ou salvador no emprego ou assumir vários papéis em determinado contexto. Quando um subalterno substitui o chefe pode assumir o papel de perseguidor quando antes tinha o de vítima.

Como podemos sair deste círculo vicioso e ultrapassar a cultura de vitimização? Veremos para a semana.


Até para a semana com muita saúde.

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* O que não deixa de ser curioso é que esta cultura vem principalmente donde não seria de esperar (ou talvez não), as universidades que como o nome indica são escolas de pensamento universal,  e a comunicação social que  devia ser livre e independente de forma a contribuir para a liberdade de pensamento e de expressão.

** Sobre o assunto pode ler-se/ver-se com proveito: O segredo de uma família feliz: o triângulo de KarpmanAna Delgado, "Salvador, víctima y perseguidor: el triángulo dramático de las empresas, Emprendedores, 15/01/2018Luiz Felipe Pondé - Dor e Mudança: A Cultura da Vitimização.















08/02/22

Lidar com a dor


APED premeia crianças no concurso “Vou Desenhar a Minha Dor” 2019 | Atlas  da Saúde




A compreensão do que se passa connosco é um passo fundamental para melhorarmos. A compreensão das nossas dores é um passo relevante para essa melhora. 

Então o que é a dor ? Definir as nossas dores nem sempre é fácil. Segundo a Associação internacional para o estudo da dor, a “dor é um fenómeno complexo que envolve emoções e outros componentes que lhe estão associados…; a dor é um fenómeno subjectivo, cada pessoa sente a dor à sua maneira…; não existem ainda marcadores biológicos que permitam caracterizar objectivamente a dor; não existe relação directa entre a causa e a dor; a mesma lesão pode causar dores diferentes em indivíduos diferentes ou no mesmo indivíduo em momentos diferentes, dependendo do contexto em que o indivíduo está inserido nesse momento; por vezes existe dor sem que seja possível encontrar uma lesão física que lhe dê origem." (International Association for the Study of Pain) (1)

 

“A dor seja qual for a localização pode ser surda, lancinante, ter aspecto de pontada, de facada, de torção, espasmo, de arrancamento, pode ser tão violenta que leve à perda de conhecimento.” (Minha saúde, meu tesouro - como viver mais e melhor, p. 70) (2)

 

A dor e ansiedade andam muito ligadas de forma a que a ansiedade faça com que possamos sentir dor, ou mais dor, em alguma parte do corpo.

E quem não tem medo de ter dores?

A dor pode ser respondente e operante. Quando temos uma lesão e sentimos dor, falamos do primeiro caso quando ela tem origem no ambiente, no contexto de aprendizagem falamos de dor operante.

 

Uma dor que pode estar associada à ansiedade é a dor no peito.

Um director  de uma escola, sofre de dores no estômago e no esófago. Todos os dias, quando vai à escola, sente dores que o voltam a incomodar. Medicamentos para as dores, antiácidos, dietas... tudo o que pode servir para resolver o problema é experimentado. Mas as dores voltam sempre: são dores, espasmos que não desaparecem. 

Acontece, porém, que ao passar à reforma a sua vida passou a ser de outra forma. Deixou de ir à escola. E desta vez também as dores o deixaram. 

Ora esta dor era real, independentemente da causa biológica ou psicológica que lhe dava origem.  

 

Claro que as dores têm sempre um carácter subjectivo (3)  e por isso  não é fácil definir as nossas dores para que os outros entendam. 

O que é facto é que elas são reais e a pessoa está sujeita a este sofrimento desesperante que a acompanha ao longo de cada dia.  

Se há dores localizadas e fáceis de descrever há outras em que não é assim. A dor no peito, por exemplo, tem de ser mais especificada, ou seja, devem  ser feitos vários exames complementares para se saber do que estamos a falar.

 

À semelhança daquele director de escola, também tem sido a minha experiência desde há três anos: uma dor no peito que anda atrás de mim e eu atrás dela para saber por que existe, por que aparece nos mais diversos momentos.

Da cardiologia à gastrenterologia, vamos descartando possibilidades mas ainda não se chegou a diagnóstico adequado. 


Podemos esperar o dia em que para cada dor seja possível fazer um diagnóstico e ter um  remédio que a retire da nossa vida ?

Provavelmente esse dia ainda está longe. 



Até para a semana com muita saúde.

 


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(1) Assunto referido aqui e aquiA IASP/APED apresentam  a redefinição de Dor como:"uma experiência sensorial e emocional desagradável associada, ou semelhante à associada, a danos reais ou potenciais nos tecidos", acrescida de 6 elementos fundamentais.

Um dos pontos da redefinição de dor refere que "o relato de uma pessoa sobre uma experiência como sendo uma de Dor deve ser respeitado." O que quer dizer que a pessoa tem direito a estar doente...


(2) As dores são de uma grande diversidade, podem ser classsificadas com dezenas de termos ou categorias sensitivas. (Enciclopédia da Psicologia, Tomo 3, 1999, pag. 518)


(3) Pode avaliar-se esta sensação subjectiva mediante métodos objectivos - escalas de intensidade de dor: Escalas numéricas de 0 - sem dor a 10 - máximo de dor, ou escalas visuais, a escala de facies de dor (muito útil em crianças); e a escala verbal (dor ausente, leve, moderada e intensa). A Dor como 5º sinal vital. Registo sistemático da intensidade da Dor.

 

 







02/02/22

Os corpos e as almas

Muitas explicações, toda a gente opina sobre a maioria absoluta inesperada do PS, sobre a fantástica estratégia de Costa, o atabalhoado discurso de derrota de Rio, e, dizem, também o perdedor Marcelo...
Todos devem ter razão ou alguma razão. Não contradigo ninguém. Todos os argumentos não serão, no entanto, justificação para tudo o que aconteceu.

Mesmo com intenção de votar útil (círculo eleitoral de Castelo Branco), como explicar a inutilidade do meu voto? 

Bem. Manuel Villaverde Cabral explica o fenómeno em "Os mistérios da «maioria absolut" - O facto de a relação de proporcionalidade eleitoral vir a diminuir desde o início do século XXI é a prova da degradação do sistema de representação partidária e, portanto, da qualidade da democracia."
"Se é certo que o PS beneficiou de uma transferência de votos e de deputados muito semelhante às perdas do BE, do PCP e do PAN, já o PSD ganhou o equivalente ao que o CDS desbaratou mas perdeu deputados para o PS, confirmando o processo de redução da proporcionalidade entre votos e eleitos. A prova está no facto de o PS conseguir ganhar a tal maioria absoluta com apenas 42% dos votos, quando Sócrates precisou de 45% e Cavaco Silva 50% no século passado. O facto de a relação de proporcionalidade eleitoral vir a diminuir desde o início do século XXI é a prova da degradação do sistema de representação partidária e, portanto, da qualidade da democracia."

A ausência de entendimento entre PSD-CDS para uma coligação em distritos com poucos deputados dá este resultado.
O que eu sei é que apesar do que pensava sobre Costa e Rio (Desgoverno e desoposição), mais  uma vez o meu voto foi inútil mesmo tendo votado útil.

Para além destas questões, as explicações para o que aconteceu devem ser procuradas principalmente noutras perspectivas.

Bem ajuizavam Joaquim Aguiar e Jorge Marrão (Think Tank - 29/1/2022), dizem e explicam tudo o que eu queria dizer em "Freud também explica isso". Esconder o que Sócrates fez. O muro derrubado e o muro levantado que tornou o centro dependente de partidos irrelevantes.   Um muro que caiu: a unidade com a extrema esquerda - que no dia 19 de Julho de 1975 foi posta em causa por Mário Soares - e que criou um grande muro com a extrema direita e até a direita. 2015 é um ano charneira para perceber o que se passou: o debate entre Seguro e Costa,  a saída de Sérgio Sousa Pinto; os interesses  estado-empresas e aquilo que tinha de ser escondido, Sócrates, que, sem recursos, pede apoio externo (a bancarrota); 2022 repete o fracasso de 2015, os mesmos discursos, as mesmas soluções; como o Afonso Costa, "ninguém pode governar contra o partido democrático", com Costa "ninguém pode governar contra o partido da classe operária"; o enfraquecimento do centro que permite o crescimento dos extremos e a dependência deles...
A "reversão" e "virar de páginas" mas o pasteleiro e o bolo é o mesmo...
PPP na saúde com boa gestão, para quê? Uma faculdade de medicina na Universidade Católica ? Como disse o "pai" do SNS, A. Arnaut: nós tratamos dos corpos e vocês tratam das almas. 
Quando o que interessa é, no imediato, tratar dos corpos quem quer saber dos problemas da alma?
Sim, Marcelo vai ser chamado ao centro do palco.



Think Tank - a semana política e económica vista por Jorge Marrão e Joaquim Aguiar - 29/01/2022