10/02/22

Cultura de vitimização

  O segredo de uma família feliz: o triângulo de Karpman



Vivemos hoje, publicamente, com medo de nos expressarmos, de tomarmos posições, de dizermos qualquer coisa que possa sair do politicamente correcto.
A sociedade actual está cheia de gente que se ofende por tudo e por nada: “os ofendidinhos” (L.F. Pondé).
Há sempre um “ofendidinho” em qualquer lado e quando menos se espera. Um dos problemas que daí resultam é o controle da linguagem que como sabemos é por aí que começam as ditaduras de esquerda ou direita, comunistas ou fascistas... *
Vivemos a cultura do cancelamento destes “ofendidinhos” que têm poder para destruir as carreiras de quem tem alguma capacidade crítica em relação a qualquer assunto principalmente se for considerado fracturante ou for dos temas que facilmente sofrem atribuição de racista, xenófobo ou negacionsta não importa de quê. 
Não se pode divergir, nao se pode criticar, nao se pode elogiar, não se pode tocar, não se pode expressar pensamento divergente... porque há sempre alguém que se sente vítima...

A vitimização não é por si só uma patologia (DSM) mas é um dos factores que pode contribuir para uma perturbação paranóica da personalidade. É sem dúvida um traço psicológico que afecta a vida psicológica do sujeito e as relações interpessoais. 
A vitimização é uma chantagem emocional como forma de comunicação.

O que tem vindo a acontecer então com esta cultura de vitimização?
Por um lado, a nossa cultura não sabe lidar com o sofrimento, com a responsabilidade, com a história... Ao contrário é-nos dito que tudo se resolve, tudo é revisto, há dinheiro para tudo, mesmo que não se assumam responsabilidades... Além disso, trata-se de um processo complexo em que há vários papéis que estão envolvidos. Parte-se do papel de vítima para logo assumir o de salvador e de perseguidor.
O psicólogo Stephen Karpman (1968) identificou três estados do EU que afectam as relações interpessoais em todos os âmbitos (social, familiar, empresarial)... **
As pessoas assumem o papel de salvador, de vítima e de perseguidor, muitas vezes de forma inconsciente, para obter afecto ou para sobreviver numa organização.

O salvador é uma pessoa que oferece ajuda falsa para criar dependência; Fortalece o papel das vítimas para continuar a ajudá-las; Manipula subornando; Necessita que precisem dele.
A vítima provoca os outros para ser humilhada; Envia mensagens de indefesa; Esquece de forma conveniente; Manipula com sentimentos de confusão e culpa; Queixa-se, escusa-se, reprova; Não aceita responsabilidades; Tem um sentimento de inferioridade e baixa autoestima que se volta contra os outros; Necessita ajuda e compaixão permanentes.
O perseguidor elabora normas pouco práticas que faz cumprir cruelmente; Atormenta os vulneráveis; Manipula com o medo; Parece fora do jogo mas observa e julga tudo; Necessita que reconheçam a sua autoridade.
Os três papéis – vítima , salvador, perseguidor - criam um círculo vicioso na medida em que cada um deles é uma forma de manipulação e a pessoa pode assumir distintos papéis na sua vida, pode ser perseguidor na família ou salvador no emprego ou assumir vários papéis em determinado contexto. Quando um subalterno substitui o chefe pode assumir o papel de perseguidor quando antes tinha o de vítima.

Como podemos sair deste círculo vicioso e ultrapassar a cultura de vitimização? Veremos para a semana.


Até para a semana com muita saúde.

__________________

* O que não deixa de ser curioso é que esta cultura vem principalmente donde não seria de esperar (ou talvez não), as universidades que como o nome indica são escolas de pensamento universal,  e a comunicação social que  devia ser livre e independente de forma a contribuir para a liberdade de pensamento e de expressão.

** Sobre o assunto pode ler-se/ver-se com proveito: O segredo de uma família feliz: o triângulo de KarpmanAna Delgado, "Salvador, víctima y perseguidor: el triángulo dramático de las empresas, Emprendedores, 15/01/2018Luiz Felipe Pondé - Dor e Mudança: A Cultura da Vitimização.















Sem comentários:

Enviar um comentário