30/10/23

Pela Paz



Daniel Barenboim,  Beethoven - Sonata No. 8 Op. 13 (Patética) 
I. Grave -- Allegro di molto e con brio 0:19
II. Adagio cantabile 9:46
III. Rondo: Allegro 15:11

24/10/23

Bésame mucho


É o título de um livro do pediatra Carlos Gonzalez sobre a criação dos filhos com amor. 
Há muitas ideias feitas e preconceitos sobre as crianças e sobre a educação das crianças e mesmo teorias de educação e aprendizagem, simplesmente dependentes da vontade dos adultos, sem qualquer fundamento que nos permita chegar a compreender o que se passa com alguns comportamentos das crianças. Podem ser mesmo perniciosas para o seu desenvolvimento.

Começa por questionar se há crianças boas e crianças más. Muitas vezes respondemos quase automaticamente aos comportamentos desajustados das crianças com “és mau” ou fazemos comparações: “Vês, o teu irmão porta-se tão bem e tu és mau". Para muitos pais e educadores as crianças devem ser disciplinadas pelo facto de serem crianças. Já em relação aos adultos não dizemos nem fazemos o mesmo. 
É isso que CG evidencia neste livro: o desenvolvimento faz-se naturalmente e as crianças precisam de fazer as aprendizagens daquilo que lhes está a acontecer pela primeira vez: aprender a andar, aprender a falar, aprender a dormir sozinhas, aprender a comer, a controlar os esfíncteres, a estar atentas...
Claro que há aprendizagens que podem ser feitas de muitas maneiras mas nem todas respeitam a criança. (Capítulo 3 – Teorias que não defendo). Continua a haver quem ache que a disciplina se aprende com métodos aversivos e punitivos, com correctivos, com mergulhá-las em água fria, para acabar com as birras, deixá-las chorar até se calarem, sem proximidade, sem contacto, sem colo... *
Estas atitudes e comportamentos dos educadores são reforçados pelas crenças: "de pequenino se torce o pepino", "quem dá o pão dá a educação", a palmada pedagógica...
Diz CG: "A nossa sociedade não trata as crianças com o mesmo respeito com que trata os adultos. Quando falamos de um adulto, as considerações éticas têm sempre uma importância primordial, tendo prioridade sobre a eficácia ou a utilidade.” (p. 25)
É, por isso, que os castigos e as punições, inclusive as físicas, como bater numa criança, são ainda tolerados e justificados com explicações de que “até é para bem da criança”.
Claro que se aprende pelo castigo e pela punição, apenas porque a criança é pequena e o adulto tem fisicamente poder sobre a criança, e também se aprende o medo dos pais, a revolta, a injustiça, o ódio.
Questões como dormir na cama dos pais, dar colo quando chora, ou quando nos pede, ou quando faz uma birra...** pode ser que não nos ocorra a linguagem do afecto e em vez disso surja o castigo ou a punição física como imediata resposta a aplicar.

Para CG “educar mal" significa “criar mal"; isto é, com pouco carinho, poucos abraços, pouco respeito, poucos mimos. É impossível educar mal uma criança por lhe dar muita atenção, muito colo, consolá-la muito quando chora ou brincar muito com ela.” (p. 66-67)
Os pais sabem, talvez melhor do que ninguém, como educar os seus filhos. Também sabem que surgem dificuldades ao longo do desenvolvimento e, por isso, se o solicitarem, devem ser ajudados. 
E não nos podemos esquecer de que “os dias mais felizes da nossa infância são aqueles em que os nossos pais (ou os nossos avós, irmãos ou amigos) nos fizeram felizes." (p. 243)


Até para a semana.

______________________


"Todos os castigos são inúteis", diz o pediatra do contra, Carlos Gonzalez 

19/10/23

A culpada mais desejada


 

Será impossível num mundo de culturas diferentes chegar a entendimentos comuns, de forma a podermos viver e conviver, mesmo que com conflitos, sem necessidade de usar armas para nos aniquilarmos mutuamente ?
O choque de culturas "nem sempre conduz a lutas sangrentas e a guerras devastadoras, constitui também uma oportunidade para um desenvolvimento fecundo e prometedor” (p.110). Quem nos fala assim é Karl Popper (Em busca de um mundo melhor). E continua: “Creio que a nossa civilização ocidental, apesar de tudo o que, com razão se lhe possa censurar, é a mais livre, a mais justa, a mais humana, a melhor de que temos conhecimento na história da humanidade. É a melhor porque a mais predisposta ao aperfeiçoamento."(idem)
Esta predisposição acontece um pouco por todo o mundo: “Por toda a parte na terra, os homens têm criado novos universos culturais, nas artes na economia... os universos da moral, do direito, da protecção e do auxílio às crianças, aos doentes, aos incapacitados e outros necessitados." (idem)

Mas também sabemos que a liberdade, valor fundamental social e individual, tem de ser limitada pela  ordem.  E o mesmo se passa com todos ou quase todos os valores que desejaríamos ver implementados... 

Como a paz que é mais urgente do que nunca. No entanto, não se trata de uma paz passiva tem que ser uma paz de luta, como no caso de Mahatma Gandhi, lutador da não violência.

Freud escreveu Considerações sobre a guerra e sobre a morte (1915). Na primeira parte reflecte sobre a desilusão da guerra, no caso, uma desilusão sobre a primeira Guerra Mundial.
Escreve Amaral Dias: “De acordo com Freud se houvesse uma guerra esta seria ou deveria ser uma guerra civilizada, ou seja, uma guerra em que, como ele refere, se teria cuidado com as mulheres e as crianças e ambas as partes envolvidas na guerra dariam imunidade aos feridos que deveriam ser retirados da contenda, bem como ambas dariam uma particular atenção aos médicos e aos enfermeiros.” (p.138)

O que Freud idealizou foi o modelo de sociedade  civilizada...

Para Freud “a guerra traz aos homens civilizados uma desilusão que por sua vez nos introduz numa dupla questão: o Estado que deveria de ser o guardião dos padrões morais, revela a sua baixa moralidade e os indivíduos civilizados demonstram a sua brutalidade.” (p.139)

E aqui chegados vemos o que falta fazer para que as relações entre culturas passem da hipocrisia.


Apesar de todas as críticas que são feitas à Europa civilizada, muitas que,  certamente, têm razão de ser, porque será demandada por milhares de pessoas que sofrendo as vicissitudes que conhecemos, enfrentando o desconhecido, estão dispostas a todos os riscos ? 

Certamente porque podem usufruir desses valores que nos são comuns que foram construídos ao logo de muitos séculos.

A desilusão de que fala Freud vem de quando não se entendem os valoeres da liberdade e da paz que passam pelo conflito de ideias, de palavras e de argumentos, das lutas que valem a pena, e nunca da guerra.

 


Até para a semana.




Rádio Castelo Branco






15/10/23

Ser Pai - um testemunho

  

"Não me cabe conceber nenhuma necessidade tão importante durante a infância de uma pessoa que a necessidade de sentir-se protegido por um pai”. (Freud)

A frase atribuída a Freud, ganha ainda maior relevo na medida em que também para Freud "a criança é  o pai do homem".


As relações entre  pai e filho  com todas as emoções que foram construídas ao longo dos anos, principalmente emoções positivas, são de grande riqueza e complexidade para o desenvolvimento saudável, para o equilíbrio mental e auto-estima de que necessitamos para viver. É, por isso, que ser pai é muito mais que ser progenitor. É este vínculo que se estabelece para sempre.

 

Nos tempos actuais, é notória a falta de respeito de alguns filhos para com os pais, quando  os mais velhos são atirados para fora da família e de sua própria  casa, quando são privados até do bem-estar que conseguiram construir ao longo de muitos anos. 

Podemos falar muito de como deve ser o relacionamento entre pai e filhos, sobre a parentalidade, sobre a educação... No fim, é determinante o exemplo dos pais. A modelagem funciona e através dela são aprendidos os valores evidenciados e praticados pelos pais. 

A melhor forma de sabermos como os pais educaram está no testemunho dos filhos. Sem dúvida que o orgulho dos filhos mostra bem como a educação que receberam dos pais, mesmo que não seja completamente perfeita nem de acordo com todos os critérios dos educadores encartados, é de  resultado eficaz.


É um achado encontrar nas redes sociais alguma novidade que nos faça pensar duas vezes, emocionar genuinamente e estar solidário com as pessoas que a escrevem. Mas acontece. Fui surpreendido com uma descrição que os filhos fazem do seu pai que preenche estes requisitos.

Permitam-me que partilhe este texto que tirei do Facebook do João Gonçalves. Não pude deixar de me sensibilizar pela forma como os filhos se referem ao seu pai. Há esperança, afinal, e nem tudo se perdeu na voragem da egoísmo reinante.

 

Não sabemos exatamente por onde começar.

Descrever o nosso pai é um pouco difícil nestas horas e acima de tudo, pelo seu caráter complexo, levaria muito tempo a escrever. 

O nosso pai foi um bom cristão, um grande jurista, um homem corajoso, íntegro, fiel aos seus valores, inteligentíssimo, cultíssimo, com bom gosto, com jeito para fotografia, com algum jeito para a pintura, muito jeito para escrever mas acima de tudo foi um grande PAI que nos amava muito!

É indescritível o amor do meu pai por nós. Só descrevendo os sacrifícios inimagináveis realizados tanto por ele e pela minha mãe, para que nós pudéssemos ter um futuro digno (e conseguiram!), é que se poderia compreender. 

O nosso pai foi, é e sempre será o nosso anjo da guarda! 

É com muito orgulho e honra que nós (João Oliveira, Pedro Oliveira e Maria Oliveira) dizemos que somos filho/a do António Augusto Alves de Oliveira! 

Obrigado Pai por todos os esforços e pelos sacrifícios incalculáveis ! 

A tua memória e a tua honra serão para sempre salvaguardadas por nós os 3 (+ mãe) até à morte. 

Até sempre Pai. Raul Xaves

Ps: o meu pai tinha o hábito de jogar o Euromilhões todas as terças e sextas, para ver se nos saía um milagre… 

Ao falar com o meu irmão hoje eu disse-lhe:

-Tivemos muita sorte em tê-lo como pai. 

Respondeu-me ele : eu sei, foi o nosso euromilhoes, e ele jogava essa merda todas as semanas e nós já o tínhamos…”

 

 


12/10/23

Para um pouco de paz...



Voltamos a fazer a pergunta: "Porquê a guerra?", que qualquer ser humano poderá fazer perante a tragédia das guerras que estamos a viver, mesmo de longe, e que nos vão deixando mais frágeis na nossa saúde psicológica e bem-estar.

Segundo a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP)*: A guerra afecta-nos a todos directa ou indirectamente. O horror da violência, do desrespeito pela dignidade e pelos direitos humanos, tem um impacto destruidor em muitas vidas e comunidades, gera sofrimento nas pessoas e nas famílias...
Todos reagimos de forma diferente a estes acontecimentos perturbadores e cada um de nós tem capacidades e formas diferentes de lidar com emoções e sentimentos desagradáveis. 
Algumas pessoas conseguirão mais rapidamente sentir maior controlo das suas emoções, outras demorarão mais tempo. Algumas pessoas conseguirão fazê-lo sozinhas, outras precisarão de ajuda. 

Ambas as reacções são respostas comuns à situação de crise que vivemos:
- É natural que nos sintamos “em choque”, que tenhamos uma sensação de “descrença” face ao que está a acontecer. Podemos ficar apáticos e “emocionalmente entorpecidos” com esta situação. 
- É natural que nos sintamos preocupados, ansiosos, stressados, assustados, angustiados, tristes, com medo. E também irritados, zangados, impotentes. Também podemos sentir dificuldade em concentrarmo-nos, em tomar decisões ou em dormir. 
- É natural que tenhamos receios e dúvidas acerca do futuro (Quanto tempo vai durar a Guerra? O que vai acontecer? Que consequências terá?). 

Apesar destas reacções e dificuldades que podemos sentir, 
- Também podemos adaptar-nos, podemos contribuir com aquilo que está ao nosso alcance: 
- Podemos aceitar as nossas emoções e sentimentos. É totalmente natural sentirmos muitas emoções e sentimentos diferentes. É perfeitamente razoável chorar, se sentirmos vontade de o fazer 
- Podemos utilizar estratégias de gestão da ansiedade e do stresse. 
- Limitar a nossa exposição a notícias. Não passar o dia a ver e ouvir as notícias e os telejornais...
- Consultar fontes credíveis de informação e combater a desinformação. Demasiada informação não é sinónimo de informação útil ou até, por vezes, factual e verdadeira. É importante consultar apenas fontes de informação credíveis e actualizadas e não ler apenas títulos ou rodapés...
- Evitar estereótipos. Ser ofensivo ou emitir juízos de valor sobre pessoas, comunidades são uma forma de aumentar a violência e favorecer a discriminação e a exclusão social. 
- Evitar pensamentos “catastróficos”. É preferível viver no presente, um dia de cada vez. Procurarmos ser flexíveis e criativos, adaptando-nos, às mudanças e desafios que esta situação de incerteza nos coloca. 
- Falar com familiares e amigos e reforçar as nossas relações. 
- Continuar a desenvolver a nossa vida como habitualmente.
- Desenvolver a nossa resiliência. 
- Manter as rotinas.
- Realizar actividades de lazer. 
- Investir no autocuidado. 
- Alimentar a esperança. 
- Apoiar e contribuir para ajudar quem está a sofrer mais com esta situação.
- Procurar ajuda médica ou psicológica, se necessário.

E, finalmente, podemos ter algum cuidado com as crianças explicando o que está a acontecer de forma que entendam a desgraça da guerra mas sem criar situações de ansiedade.


Até para a semana, com muita paz.

___________________________




Rádio Castelo Branco





01/10/23

Dia Mundial da Música

Khatia Buniatishvili - Erik Satie: Gymnopédie No.1


A data foi instituída em 1975 pelo International Music Council, uma instituição fundada em 1949 pela UNESCO, que agrega vários organismos e individualidades do mundo da música.