26/06/23

Terapia da natureza



Parque da Cidade - Mata dos Loureiros - Castelo Branco



Viver em meio rural pode ser uma desvantagem mas também um privilégio: a natureza está mesmo ao pé da porta. Basta andar umas dezenas ou centenas de metros e temos a natureza em pleno, nas hortas e nas quintas que dão continuidade ao espaço urbano.
Os cientistas têm vindo a investigar a influência da natureza no nosso cérebro, concluindo que o tempo passado ao ar livre não é um luxo, mas sim uma necessidade básica dos seres humanos - e até pequenas «doses» de natureza podem tornar-nos mais criativos e deixar-nos mais bem-dispostos. (Florence Williams, A Natureza Cura)
O que nos faz deslumbrar perante um pôr-do-sol, acalmar sob a refrescante sombra de uma árvore, relaxar perante uma paisagem ou quando olhamos o azul do mar? O que nos faz acalmar ao ouvir o canto dos pássaros?
Todos já tivemos essas experiências e sabemos que estas situações possibilitam o descanso do cérebro, geram em nós equilíbrio, chamam tranquilamente a nossa atenção.
“As cenas naturais embalam-nos num “suave fascínio” ajudando a fazer descansar as nossas faculdades de atenção direta ... Com esta recuperação, ficamos mais descontraídos, podendo depois realizar melhor as tarefas do foro mental.... a exposição aos ambientes naturais consegue diminuir de imediato os níveis de ansiedade e tensão podendo nós depois pensar com maior clareza e ficar mais alegres.” (p. 60) Sem dúvida, a natureza cura, a natureza torna-nos mais felizes, mais saudáveis e mais criativos.

As vantagens físicas e mentais de viver a vida ao ar livre são evidentes. Há, actualmente razões validadas pela investigação (Maria Pinheiro, "O ar livre faz bem à saúde: 8 razões para sair de casa", PH+, nº 20), de que a vida nos espaços exteriores têm vantagens para a nossa saúde: 
- Estimula a produção de vitamina D. 
- Melhora a saúde mental.
- Diminui o stress. 
- Aumenta a concentração e potencia o desempenho académico. 
- Melhora a visão. 
- Reduz a inflamação e estimula o sistema imunitário. 
- Melhora a qualidade do sono. 
- Retarda o envelhecimento. 

A ecoterapia, ou terapia natural, baseia-se no conceito de usar a natureza para nos ajudar a curar, especialmente psicologicamente. 
A prática desta terapia é tanto mais importante quanto sabemos a dificuldade que temos em deixar de estar online e de nos libertarmos do audiovisual - tv, videojogos... podendo em vez disso beneficiar do ambiente natural.
A responsabilidade de viver de acordo com este ambiente natural, é essencialmente nossa...
No entanto, as autarquias têm aqui uma particular responsabilidade. Não podem ignorar estes dados relativamente à qualidade de vida que pode ser devolvida pela natureza quando cuidamos dela, criando espaços verdes, zonas de lazer, que são autênticos espaços terapêuticos. *
Nas zonas rurais, quando éramos crianças, tudo isto era mais natural e havia uma integração social e comunitária que permitia aproveitar os benefícios que a natureza oferecia. 
Entretanto, as condições sociais mudaram drasticamente e, por isso, a criação de equipamentos colectivos quando necessários deve ter em conta as novas realidades, principalmente, a nível da segurança... 
Estamos no Verão e as férias estão a chegar. Podemos aproveitar os benefícios que a natureza nesta altura é tão pródiga em nos oferecer.


Boas férias, com muita saúde.

 

 

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 * Isto não significa que, por questões eleitoralistas, se deva cair na tentação de implantar determinados equipamentos apenas porque é moda: piscinas,  ciclovias,  passadiços, roteiros pedestres, hortas urbanas e comunitárias... que se vão replicando um pouco por todo o lado.

 


Rádio Castelo Branco


23/06/23

"Mitos climáticos" 17

Com o agradecimento devido, vou buscar ao J. Rentes de Carvalho, em TEMPO CONTADO.

quinta-feira, junho 22

Freeman Dyson


Admiro os rebeldes inteligentes e consequentes. Freeman Dyson (1923-2020) foi desses. Físico  famoso e respeitado, trabalhou com Niels Bohr, Oppenheimer, Bethe, Teller, Feynman, ocupou a cátedra de Física na Cornell University e no Institute for Advanced Studies de  Princeton. O politicamente correcto não era com ele. Anos atrás, numa entrevista com o semanário neerlandês Elsevier afirmava:

"Os efeitos do aquecimento global serão mais vantajosos que prejudiciais. Os seus cálculos sobre o dióxido de carbono levam-no a concluir que: Muitos leigos crêem que esse gás na atmosfera resultará em séculos de desastre. Nada menos verdade. Uma molécula de COpermanece apenas sete anos na atmosfera, sendo depois absorvida pelos oceanos ou pela vegetação. É um equilíbrio muito dinâmico e totalmente ignorado pelo público.

Um facto matemático que também deveria ser mais conhecido, acha Dyson, é existir uma função logarítmica nos efeitos físicos do CO2. O que significa que quanto maior for o volume desse gás na atmosfera, mais diminuirão os seus efeitos. Do ponto de vista da sociedade isso é extremamente tranquilizante.

É interessante  notar – disse o jornalista – que muitos (cientistas) cépticos acerca do aquecimento global são pessoas idosas. Porque será?

Dyson permaneceu calado alguns segundos, o seu olhar preso no do interlocutor:

Os cientistas idosos são financeiramente independentes e podem falar com toda a liberdade… Fora de dúvida existe um lobby do clima. Há um vasto número de cientistas que ganha dinheiro assustando o público. Não digo que o façam conscientemente, mas é facto que muitos rendimentos provêm desse medo.

O presidente Eisenhower disse um dia que o poder dos militares em determinado momento se torna  perigoso, pois é tão grande. O mesmo se constata com o lobby do clima: com o poder de que dispõe torna-se perigoso."

 

21/06/23

Avaliar alunos e avaliar escolas

 

Se bem me lembro, foi em 2001, portanto, há 22 anos, que o governo do primeiro-ministro António Guterres e ministro da educação Júlio Pedrosa, decidiu publicar os dados dos exames nacionais, conhecidos como ranking dos exames.
Honra lhes seja feita que decidiram desocultar estes resultados porque não havia qualquer justificação para serem confidenciais ou apenas conhecidos de alguns, e, pelo contrário, deviam ser amplamente divulgados. Desde então todos os anos são publicados os dados dos exames nacionais.

Este ano, mais uma vez, com a publicação dos resultados dos exames, veio a análise e crítica a esses dados, o que é louvável, mas também a contestação à publicação dos rankings.
O actual ministro da educação, João Costa, explicou que a condição sócio-económica das escolas influencia os resultados. Para ele, os rankings são uma “operação comercial”. A mesma desvalorização vem dos sindicatos: para a FNE os resultados são “mais do mesmo” e a Fenprof considera o “ranking” uma fraude.
Neste resumo está tudo o que governo e sindicatos pensam da escola, ou seja,  na escola tudo se justifica com o estatuto socio-económico das famílias e o meio de implantação das escolas: os resultados dos alunos, os comportamentos desajustados dos alunos, a violência e o bullying, os consumos aditivos ...

Todos conhecemos a importância que a realidade socio-económica, a origem e a vida dos alunos têm nos resultados escolares e na sua vida futura... 
E então? O ranking dos exames também reflete essa realidade. Não é por isso que deixa de haver escolas com melhores resultados nos exames mesmo quando o meio é semelhante.
Mas isso importa para as famílias? Claro. Significa que se os pais puderem colocar os seus filhos noutra escola o farão sem dúvida nenhuma.

E isso deve ser importante para o ministério da educação? Claro que é, embora isso não interesse ao sr. ministro da educação.
Esta informação pode contribuir para mudar a motivação dos professores, alterar os recursos materiais e humanos, promover actividades de valorização e enriquecimento, intervir a nível das famílias juntamente com as instituições de acção social e segurança social, formar a nível das mudanças parentais e valorizar a escola, fomentar as artes, o desporto, criar pedagogias diferenciadas, férias na escola, tudo isso são projectos possíveis que podem transformar uma escola talvez com relevo no ranking dos exames.

Lamentavelmente, esta informação preciosa – os dados dos exames - parece ser desprezada pelo sr. ministro e desvalorizada pelos sindicatos.

Mas há escolas que vêem estes resultados, entre muitos outros dados, como um contributo para a avaliação da qualidade do ensino na escola - e essa foi a minha experiência em dezenas de conselhos pedagógicos em que participei - levando a alterações no currículo e na escola necessárias à introdução de planos de melhoria. 
Não, não é uma “operação comercial”. É muito mais do que isso. É também a cultura assimilada pelos alunos, a cultura de avaliação, a valorização da escola, a aprendizagem dos valores, o respeito dos professores, a devolução às famílias dos resultados do trabalho feito e o respeito pelos contribuintes.


Até para a semana.


Rádio Castelo Branco





17/06/23

Jonas - Giacomo Carissimi


Giacomo Carissimi - Jonas - Coro della Radio Svizzera

00:00 I. Sinfonia; 01:17 II. Cum repleta; 03:21 III. Et proelibantur venti; 07:11 IV. Jonas autem;  09:13 V. Hebraeus ego sum; 11:46 VI. Justus es, Domine; 17:51 VII. Et imperavit; 18:48 VIII. Peccavimus, Domine.

"Na minha aflição invoquei o Senhor e Ele ouviu-me.  Clamei  a Vós do meio da morada dos mortos e ouvistes a minha voz. Lançastes-me ao abismo, ao seio dos mares e as correntes das águas envolveram-me...
... Mas Vós, Senhor meu Deus, salvastes a minha alma do sepulcro.(Jonas, 2, 3-4-7)


"Carissimi era um músico modesto com uma existência simples e discreta, o que o levou a recusar vários convites vantajosos para exercer a sua actividade noutras cortes europeias... 
... As suas obras, especialmente as cantatas, motetes e oratórias (géneros que o compositor desenvolveu de forma especial), ilustram bem o domínio e a mestria na utilização das teorias da Retórica, expressas no figuralismo musical e na teoria dos afectos (Figurenlehre e Affektenlehre), tão características desta época. Estes processos composicionais emprestavam uma eficaz expressão emocional ao texto poético-religioso, através das figuras musicais. A experiência de Carissimi no que respeita à música vocal está também bem expressa no seu tratado Ars Cantandi, que teve várias edições e traduções após a sua morte (nomeadamente em alemão em 1696)."  Casa da Música

08/06/23

O pequeno milagre do final do ano lectivo



Mais um ano lectivo está a chegar ao fim. É hora de balanço. E o balanço deste ano não é muito bonito.
Com um contexto internacional de crise acentuada em relação aquilo que pensávamos adquirido, após a pandemia que obrigou a fechar escolas e os alunos a ficarem em casa com aulas online, não se esperava que fosse um ano tranquilo. Além disso, o sistema educativo, neste contexto desestruturado, é ainda vítima das questões internas que se arrastam há anos e de que não há maneira de serem ultrapassadas através de uma negociação franca, justa e competente. (1)

Foi um ano de mudanças de ministro para pior. Da nulidade à esperteza, há sempre agendas ocultas mais desestabilizadoras.
Ano de greves de professores, de reivindicações, de que não se vê acordo. Pode haver reformas que sejam consensuais, mas se não o são, devem igualmente ser feitas. E há compromissos que devem ser respeitados.
Nesta aspecto, os sindicatos de professores também têm a sua responsabilidade pelo que se está a passar. As greves, dizem, prejudicam sempre alguém. Pois se assim for, é preciso serem bem avaliadas e os sindicatos não podem ser indiferentes às consequências dessas greves: a segurança dos alunos, as refeições dos alunos, as condições dos pais que não podem deixar de ir trabalhar para ficarem com os filhos em casa... 
E faltava ainda, no final deste ano, as provas aferidas digitais, um fiasco enorme para algo que não serve para nada, as avaliações em dias feriados e as greves aos exames...

O tempo de serviço dos professores - 6 anos, 6 meses e 23 dias - não pode ser sonegado. Pode não haver financiamento sustentável mas, por isso mesmo, não pode deixar de ser negociável. A carreira docente tem que ser revista, os concursos têm que ser alterados. É insustentável continuar nesta espiral desconstrucionista (2) que parece ser aquilo que pretendem uns e outros.

No meio deste vendaval deseducativo, um pequeno milagre acontece todos os anos, por esta altura, com cada criança que entrou este ano na escola. Foi graças a cada criança, a cada família, a cada professor que cada uma delas transformou a sua vida de forma definitiva e que vai marcá-la para sempre – aprendeu a ler escrever e contar.
Este pequeno milagre deve-se em grande parte à escola. Por isso, era bom que a escola percebesse, definitivamente, que está a lidar com transformações fundamentais na vida das pessoas e, por isso, são da máxima responsabilidade quaisquer decisões que se tomem em relação a este processo ou que tenha implicações neste processo.
É importante ultrapassar a querela da culpabilização da escola e dos responsáveis do seu disfuncionamento. É, talvez, importante um "pacto educativo para o futuro" (3) mas, desta vez, com os pés no chão. Porque a escola é fundamental na nossa vida e é natural que haja pais preocupados e insatisfeitos, professores cansados e frustrados, alunos desiludidos... mas é muito mais importante que todos os anos se renove esse pequeno milagre da alfabetização, esse importante papel que a escola tem na formação dos homens. 

Pergunto se já deram os parabéns aos filhos pelas aquisições que fizeram este ano, pelas transformações adaptativas, tão difíceis, que conseguiram na sua vida. Eles foram o melhor desta história toda, adaptando-se, com afinco, a esta nova forma de ser responsável na sociedade a que pertencem 
O final do ano lectivo é, por isso, um tempo de ser grato àqueles que fizeram esta transformação.


Até para a semana.

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(1) Reformar e investir em educação.

(2) Refiro-me a uma sociedade  cada vez mais influenciada pela necessidade de negação das tradições e pela desconstrução dos valores morais e religiosos que o suposto progressismo e verdismo leva a efeito na sociedade a começar pelas escolas sendo que por isso interessa a falência da escola como factor de transmissão da cultura que consideram ultrapassada e não "inclusiva"...

(2) Talvez começar por concretizar o que está previsto para a educação na "Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal, 2020-2030, de A. Costa Silva, pags. 80-81, em especial o "Programa de rejuvenescimento do corpo docente e de formação de professores".


Rádio Castelo Branco



01/06/23

Educação e Paz




Como acontece desde 1950, hoje, dia 1 de Junho, comemora-se mais um Dia Mundial da Criança. É o reconhecimento de que todas as crianças têm direito a afecto, amor e compreensão, alimentação adequada, cuidados médicos, educação, proteção contra todas as formas de exploração e a crescer num clima de Paz.

Nas últimas décadas, tem havido uma crescente valorização e protecção da infância por organizações internacionais e nacionais.
No entanto, nada disto acontece em muitos locais do planeta. Parece mesmo que, globalmente, recuamos na questão destes direitos e, pelo contrário, assistimos à violência contra as crianças a que ninguém parece ligar: já não nos indigna a fome, não nos indigna a guerra, não nos indigna os maus tratos e abusos, não nos indigna que haja crianças desaparecidas e traficadas...

Criança e guerra são incompatíveis. Como já aqui escrevi, bastavam as crianças mortas na Ucrânia para fazer parar a guerra. Bastava que fossem respeitados os lugares sagrados da educação. Mas, ao contrário, parece mesmo que há intencionalidade na destruição selectiva de escolas, maternidades e hospitais.

Entre as duas guerras mundiais, nos anos 30, Maria Montessori discursava nos fora internacionais sobre a Educação e a Paz. E dizia: “É singular que não exista uma ciência da paz.”
"A história da humanidade ensina-nos que a chamada “paz” é a adptação forçada dos vencidos a um domínio tornado estável, a perda de tudo o que amaram, o fim dos frutos do seu trabalho e das suas conquistas. O povo vencido é obrigado a dar, como se fosse ele o único culpado e o merecedor de castigo, só porque foi vencido, enquanto o vencedor arvora direitos sobre o povo que foi vítima do desastre. A tal situação, apesar de significar o fim da guerra com as armas, não pode chamar-se paz. Pelo contrário o verdadeiro flagelo moral nasce desta acomodação." (p. 14)
A paz dos mortos, a paz das ruínas e da devastação não é paz... 

Assistimos hoje a guerras em que as tecnologias mais avançadas que o homem inventou estão ao serviço dos contendores ao mesmo tempo que os objectivos são os mais violentos de que alguma vez o homem foi capaz. Nada se poupa, nada se protege. Pelo contrário, é necessário causar o maior número de danos para instaurar o medo ... 
Diz-nos Montessori: “O homem domina a natureza... mas não conseguiu dominar as suas próprias energias interiores...”

Na base de tudo está a educação que deve preparar os homens para a paz.
Montessori propõe-nos um método para educar: As crianças devem ser livres de se desenvolverem e aprenderem ao seu próprio ritmo, num ambiente estimulante e de compreensão, organizado, apropriado ao seu desenvolvimento.
Que podemos esperar do ambiente em que estão a ser educadas as crianças do futuro ? Fogem da escola para o abrigo, enquanto as bombas caem não se sabe bem onde, apesar de quem faz a guerra dizer que são de elevada precisão.
“O homem psiquicamente saudável é hoje um ser raro...”


Até para a semana.



Rádio Castelo Branco