21/06/23

Avaliar alunos e avaliar escolas

 

Se bem me lembro, foi em 2001, portanto, há 22 anos, que o governo do primeiro-ministro António Guterres e ministro da educação Júlio Pedrosa, decidiu publicar os dados dos exames nacionais, conhecidos como ranking dos exames.
Honra lhes seja feita que decidiram desocultar estes resultados porque não havia qualquer justificação para serem confidenciais ou apenas conhecidos de alguns, e, pelo contrário, deviam ser amplamente divulgados. Desde então todos os anos são publicados os dados dos exames nacionais.

Este ano, mais uma vez, com a publicação dos resultados dos exames, veio a análise e crítica a esses dados, o que é louvável, mas também a contestação à publicação dos rankings.
O actual ministro da educação, João Costa, explicou que a condição sócio-económica das escolas influencia os resultados. Para ele, os rankings são uma “operação comercial”. A mesma desvalorização vem dos sindicatos: para a FNE os resultados são “mais do mesmo” e a Fenprof considera o “ranking” uma fraude.
Neste resumo está tudo o que governo e sindicatos pensam da escola, ou seja,  na escola tudo se justifica com o estatuto socio-económico das famílias e o meio de implantação das escolas: os resultados dos alunos, os comportamentos desajustados dos alunos, a violência e o bullying, os consumos aditivos ...

Todos conhecemos a importância que a realidade socio-económica, a origem e a vida dos alunos têm nos resultados escolares e na sua vida futura... 
E então? O ranking dos exames também reflete essa realidade. Não é por isso que deixa de haver escolas com melhores resultados nos exames mesmo quando o meio é semelhante.
Mas isso importa para as famílias? Claro. Significa que se os pais puderem colocar os seus filhos noutra escola o farão sem dúvida nenhuma.

E isso deve ser importante para o ministério da educação? Claro que é, embora isso não interesse ao sr. ministro da educação.
Esta informação pode contribuir para mudar a motivação dos professores, alterar os recursos materiais e humanos, promover actividades de valorização e enriquecimento, intervir a nível das famílias juntamente com as instituições de acção social e segurança social, formar a nível das mudanças parentais e valorizar a escola, fomentar as artes, o desporto, criar pedagogias diferenciadas, férias na escola, tudo isso são projectos possíveis que podem transformar uma escola talvez com relevo no ranking dos exames.

Lamentavelmente, esta informação preciosa – os dados dos exames - parece ser desprezada pelo sr. ministro e desvalorizada pelos sindicatos.

Mas há escolas que vêem estes resultados, entre muitos outros dados, como um contributo para a avaliação da qualidade do ensino na escola - e essa foi a minha experiência em dezenas de conselhos pedagógicos em que participei - levando a alterações no currículo e na escola necessárias à introdução de planos de melhoria. 
Não, não é uma “operação comercial”. É muito mais do que isso. É também a cultura assimilada pelos alunos, a cultura de avaliação, a valorização da escola, a aprendizagem dos valores, o respeito dos professores, a devolução às famílias dos resultados do trabalho feito e o respeito pelos contribuintes.


Até para a semana.


Rádio Castelo Branco





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