27/03/14

Não há famílias perfeitas


Marta Gautier descreve as vivências, problemas, relações entre as várias pessoas da família, os pensamentos mais pessoais, enquanto mães e pais, a educação dos filhos, aquelas pequenas grandes coisas de que gostamos ou detestamos mas só pensamos ou só dizemos ao psicólogo ("Um dia contei à minha psicóloga...").
Por mais perfeitos que sejam os pais e pensem que educam bem os filhos, ter presente a suposta frase de Freud de que provavelmente nunca os educaremos bem por mais que façamos, tira um pouco a ansiedade de fazermos algo errado.
Viver a vida com as suas alegrias e com as suas dores parece ser a melhor maneira de a viver. O sucesso não se mede pela exaustão. Nem pela concorrência entre pai e mãe em relação ao bebé que serve para os manter afastados mas que transforma um homem em "pai moderno":  
 “Sermos bons pais não tem nada a ver com o deixarmos de ser gente nem com uma obstinação à volta dos aspectos mais superficiais da existência dos filhos." (Pag 164) …Ser utópico cumprir todas as regras que nos impingem para o bom crescimento psicológico das crianças … pensar que as crianças ficam melhores por darem muito trabalho aos pais e deixam pouco tempo para pensar no que é importante ...", só aparentemente é “um sossego” e uma família perfeita.

De repente, sem esperarmos, bate-nos à porta o problema da depressão que toma conta da nossa vida, que é maior que a nossa vida e passamos o tempo a alimentá-lo e a viver com ele. Porque há ganhos secundários que “... dão jeito a quem tem estes pensamentos depressivos. São óptima companhia na medida em que nunca nos abandonam”. Podemos sempre contar com os pensamentos negativos sobre a vida e nós mesmos num ininterrupto namoro com a nossa desgraça, a pena que temos de nós mesmos ocupa grande parte do nosso dia e quando vamos para a cama ou quando acordamos ou quando andamos pela rua temos sempre em que pensar, é uma razão de viver, uma companhia.

É por isso que a felicidade é um risco: Termos de "viver, de pensar naquele tempo que já não é ocupado com os “ses”… se eu fosse mais magra... se eu tivesse um emprego melhor, se eu tivesse um carro melhor, se eu tivesse uma casa com mais condições... e com os “nãos”... não consigo dormir, não consigo acordar cedo, não consigo deixar de fumar, não sou boa mãe, ..."
Às vezes habituamo-nos de tal maneira que não queremos correr riscos. O risco de sair de casa, de conviver com os outros independentemente do que pensem ou digam de nós, de deixar alguma coisa por fazer ou de fazer coisas erradas…

No trabalho com crianças surge muitas vezes a culpabilidade das próprias crianças e ou dos pais. É uma maneira de não resolver nada.
A criança utiliza muitas vezes uma “linguagem paralela”, ou seja, o sintoma e que é a forma de comunicar a dificuldade que a criança sente.
A criança instável, com comportamentos desajustados ou fora do normal, em casa ou na sala de aula quer comunicar o que sente, apenas devemos estar atentos porque o sintoma fala.
Apenas temos necessidade de compreender o que ele nos está a dizer, por mais que nos custe aceitar que, afinal, a nossa família não é perfeita.

24/03/14

Verdade


Afinal, está aqui. "Conversa" conhecida: Não é nada comigo.
Tem razão numa coisa. Não é consenso que é necessário mas compromisso. Pois. Só que nem uma coisa nem outra. Há uma "divergência insanável".    

23/03/14

Educação: da inutilidade de alguns conflitos


Vão-se repetindo, periodicamente, uma série de conflitos inúteis, uns vindos de dentro da instituição escolar outros de fora, que só servem para atrapalhar a acção do ministério da educação mas também das escolas, dos alunos e das famílias.
O conflito quando criativo acaba por se resolver da melhor maneira. Para isso é necessário ter outra visão para uma acção construtiva do conflito em que todos pudessem ganhar. Só que não é isso que tem acontecido e todos os anos assistimos a estas guerras de alecrim e mangerona...
Os sindicatos sabem apenas a linguagem da conflitualidade com o ME e, diga-se também, que, muitas vezes, o ministério se põe a jeito...

O conflito é a razão da sua existência, parece, e dele tiram proveito para sobreviverem várias dezenas de anos nos sindicatos onde é necessário mostrar serviço. Dificilmente abdicam das suas exigências por mais corporativas e saem sempre vencedores num mundo que não conhece vencidos. 
Na realidade, alguns destes conflitos são inúteis, todas as pessoas perdem, principalmente os alunos.
Alguns deles, vistos à distância, são ridículos. Aquilo que hoje parece pacífico não o foi em 2004, como os exames do 9º ano: Exames do 9º ano: Uma precipitação, uma falta de senso, Pais contra realização dos exames do 9ºano.
Como o caso do "não pagamos" na questão das propinas. Até tem alguma piada ver o que se passava entre alguns protagonistas da altura.

Vejamos alguns destes conflitos inúteis:

1- Início do ano lectivo
Como todos os anos, há sempre algumas dificuldades no arranque do ano lectivo. E sempre haverá. Os que aproveitam a oportunidade para conflituarem com o ministério da educação por este assunto, deviam lembrar-se disso estiverem no poder. Vamos ver como vão entrar na educação estes candidatos e contratados.
Há aspectos que não têm solução porque se sabe que os candidatos a professores que acabam os cursos nas ESE e Universidades não vão ter todos emprego. Aliás, a tendência será para o problema se agravar. Como acontece com outras profissões: psicólogos, engenheiros, arquitectos, enfermeiros, terapeutas da fala, fisioterapeutas, técnicos de serviço social...
É verdade que houve falhas no início do ano lectivo, como sempre, mas também é verdade que houve escolas que funcionaram muito bem. Escolas que para o mesmo número de alunos têm mais professores do que no ano passado, têm os mesmos técnicos, com alguns atrasos na colocação de um ou outro professor devido ao próprio processo de colocação, com a recusa de alguns candidatos, etc.

2 – A disciplina de inglês e as aec
Uma das discussões mais disparatadas e das maiores mistificações dos últimos tempos tem a ver com o inglês que era obrigatório num currículo que afinal era facultativo, logo não era obrigatório. Alguns alunos frequentam as aec e outros não frequentam, há aec integradas no horário e aec a partir das 15h30, há alunos que já por si tinham currículos diferentes.
Acusar Nuno Crato de acabar com o inglês no 1º ciclo, e de discriminar os alunos que façam outras opções, como os pais que não levam os filhos às aec, parece-me completamente demagógico quando, afinal, o inglês passa a ser obrigatório no 4º ano...
Não só o ministro Nuno Crato dá importância ao inglês como até vai haver exame. É discutível se deve ser o GAVE ou se precisa duma organização internacional.
Mais interessante ainda: O inglês divide os modernaços dos pré-históricos. Os modernaços acham que o governo é pré-histórico se não obriga os alunos a estudar inglês desde o 1º ano de escolaridade. Mas o que não se quer discutir é o essencial ...
O inglês é a 3ª disciplina com mais negativas, a seguir à matemática e português. O que significa isso ?
O insucesso a inglês é elevado no 5º ano, quando era suposto que os alunos com as bases das aec/Inglês do 1º ciclo estivessem em melhores condições de aprendizagem. O que tem acontecido ? Aqui ficam algumas hipóteses:
- professores das aec sem formação pedagógica,
- não há manuais,
- não há programas,
- alunos com I e sem I à entrada para o 5º ano,
- organização diferente do sistema educativo, por ex., não fazem reuniões,
- há inglês metido no currículo e inglês nos horários pós-lectivos,
- pessoal menos motivado sem contrato, sem remuneração digna,
- não há articulação com o 5º ano.
Pode ser que o parecer do Conselho Nacional de Educação seja um contributo para se chegar a uma solução razoável.

3 - Turmas grandes
As turmas de 30 alunos podem ser um problema ou não. Há turmas desta dimensão que são as melhores da escola. Depende da escola de que falamos e dos alunos que lá estão.
Depois, quantas turmas destas há ? Quem ouve sindicatos e comentadores fica com a ideia de que todas as turmas têm 30 alunos... mas na realidade há turmas que podem ter 4 ou 10 ou 30 alunos ...
Claro que há aspectos que deviam ser vistos: não faz grande sentido que se tenham desenhado salas de aula para 26 alunos e agora se metam lá 30; a organização das turmas; os alunos repetentes por turma; os alunos NEE por turma (existe um limite definido na legislação) e por escola (não há limite previsto); há alunos NEE que praticamente não vão à turma (coisa referida pelo ministro, que é uma realidade, mas o que ele foi dizer!) mas que frequentam uma ou duas disciplinas e os professores dessas disciplinas de facto podem ter razão de queixa mas não a turma...

4 - Cursos vocacionais e a questão da equidade
Pela importância do assunto, porque os alunos que ficam parados no 6º ano ou no 9º ano sofrem que chegue com esta situação, o ministério veio criar esta possibilidade.
Em nome de uma falsa equidade quer-se que todos os alunos continuem no mesmo e único percurso educativo. Isto é, que continuem a chumbar. Sei do que falo e não posso assistir sem indignação à repetição de quatro anos de escolaridade "necessários" para o aluno fazer um.
Esses alunos e esses pais não se compadecem com os "teóricos" da equidade que, muitos deles, não puseram um pé na escola desde o tempo em que por lá passaram.

5 - A prova de avaliação dos professores
O ministro Nuno Crato comprou a guerra ao governo Lurdes/Lemos que a criaram e, como já era de prever, regulamentou uma coisa já ferida de problemas. Uma medida perfeitamente desnecessária.
É claro que o ministério pode e deve definir as regras do ingresso do seu pessoal, com o consenso procurado nos parceiros. Mas havia várias alternativas.
- esta prova ser apenas para os candidatos que terminam os seus cursos.
- substituir a prova por um estágio profissional.
- passar esta responsabilidade para as associações profissionais ou para as escolas onde se realizasse o estágio...
Claro que os sindicatos aproveitaram todas as fragilidades. Mesmo aquela que acaba por ser ridícula: como se pode criticar o pagamento de 20 euros para realização de uma prova quando outros profissionais (psicólogos, advogados…) pagam incomparavelmente mais pelo estágio na respectiva ordem ?

20/03/14

A nuvem por Juno



Novamente, a comunicação social traz notícias sobre estudos recentes, importantes e sugestivos, sobre a indisciplina na escola.
Um estudo da Associação Empresários pela inclusão social (EPIS) sobre bullying e ciberbullying, vem revelar que 62% das crianças responderam afirmativamente à pergunta ‘há bullying na tua escola?’.
É verdade que é “uma percentagem preocupante”. Mas uma coisa é ter conhecimento de que há bullying outra é ser vítima de bullying.
Além disso, como se diz no estudo, o ciberbulying é um fenómeno social e familiar e não apenas escolar. Diria mesmo que se passa em grande parte fora da escola.
Metade destes alunos não se recordam de ver ou ouvir nas escolas campanhas de prevenção. 
Mas também é verdade que há escolas onde esse fenómeno virou prevenção da moda,  as campanhas de prevenção nem sempre dão os resultados esperados. Pelo contrário. Veja-se o que se passa com o consumo de tabaco ou de bebidas alcoólicas em meio escolar.

O comentário de C. Fiolhais ao estudo de  M. Filomena Mónica, com o título de “O colapso da escola” (19/03/2014), conclui que nas “nas salas de aula é hoje, por vezes, muito difícil senão mesmo impossível ensinar e aprender.”
Na realidade, há uma degradação das condições educativas nas escolas. Mas há salas de aulas e escolas muito diferentes.
Sabemos que todos os dias, na escola, há conflitos, violências e agressões. Há gritos, choros, e desesperos. Há alunos perturbados, hiperactivos, agressivos, desmotivados … 
Muitas destas situações ficam dentro dos muros da escola. Porque a escola é capaz de resolver por si esses problemas. Grave é tentar ocultar estas situações.
Quando passam para fora da escola e há alarme social, metendo policia e ministério público trata-se de outro problema, não de indisciplina mas de violência e agressão. Em termos quantitativos podem ser poucos casos mas são sintoma suficiente para se perceber até que ponto a escola e os contextos que lhe dão origem podem estar doentes.
Muitos problemas da escola resultam dos encarregados de educação que são agressivos verbalmente e fisicamente para os professores. São pais que muitas vezes conflituam entre si, inclusive na presença dos filhos e dos professores.
Muitas outras perturbações passam-se fora da escola, mesmo que à porta da escola. Principalmente no secundário.
Mas os bons exemplos são a grande maioria dos casos. A minha experiência com turmas do 9º ano, de 30 alunos ou 20 alunos, garante que mais de 90 %  são alunos extraordinários. São gente com gente na frente que se respeita mutuamente.
É muito importante que se estude o interior da sala de aula porque "por dentro das coisas é que as coisas são".
A escola deve ser estudada, deve ser transparente, deve merecer as críticas e os aplausos dos cidadãos.
Mas há escolas e escolas. Há salas de aula e salas de aula, tanto nas escolas do estado como nas particulares. Por isso, é necessário uma mensagem de tranquilidade para os pais: na grande maioria das escolas e das salas de aula trabalha-se e estuda-se. Não se pode confundir a nuvem com Juno.

18/03/14

Provas de avaliação e exames de alunos com NEE



O JNE alargou o prazo para registo dos dados de alunos na plataforma online. Dá ainda outros esclarecimentos sobre as provas e exames de alunos com NEE (Comunicação nº 1/JNE/2014, de 17/3/2014 ).
Obviamente, faz todo o sentido o alargamento do prazo.
Mas ainda há questões que precisavam de ser esclarecidas: o que sucede em relação às consequências dos exames a nível de escola? 
Também já aqui referimos que há situações que não se compreendem (duplamente penalizados).
Estabilizar o subsistema educação especial é fundamental para os alunos, famílias e escolas.  

14/03/14

Duplamente penalizados



Percebe-se que a norma sobre as provas de avaliação e exames dos alunos com dislexia tenha intenção de não beneficiar alunos, injustificadamente. 
O ponto 25 remete para  "dislexia diagnosticada e confirmada no 1º ciclo ou até final do 2º ciclo do ensino básico". 
Pode acontecer que haja alunos que, por diversos motivos, tenham sido diagnosticados fora deste prazo e, portanto, no 3º ciclo de escolaridade. Por si só, esta situação já foi prejudicial aos alunos que, durante o 1º e 2º ciclo, nas aprendizagens e avaliações, não beneficiaram de qualquer apoio ou adequação.
Como se isso não fosse suficiente, são novamente prejudicados porque não podem efectuar as provas de avaliação e exames por apresentarem dificuldades específicas de aprendizagem.
Desde que a dislexia seja devidamente comprovada, o processo tenha sido analisado e avaliado  pela equipa multidisciplinar e se tenha concluído pela existência de dislexia, conforme deve constar do seu perfil de aprendizagem (relatório técnico-pedagógico e medidas educativas  a) e d) do PEI), não vejo justificação para este condicionalismo.
Onde está a grande diferença entre ser diagnosticado no final do 6º ano ou no início do 3º ciclo ?
Claro que fica aqui bem expressa a necessidade de efectuar o diagnóstico tão precocemente quanto possível. O início do 2º ano de escolaridade e os oito anos de idade são referências que devem  fazer preocupar os professores e pais quando têm evidência das dificuldades de leitura dos alunos e filhos. 
Mas o que não se deve fazer é, no caso de não haver diagnóstico realizado dentro daquele prazo, prejudicar o aluno duplamente.

É de realçar a clareza da norma das provas de avaliação e exames deste ano. Neste aspecto também estamos a fazer progressos.
Mas é pena e injusto que não se separe alguma situação oportunista da realidade educativa da esmagadora maioria dos alunos com dislexia.


Família e escola, uma colaboração vital


De vez em quando surge a ideia de que a educação é dada pela família e a instrução é feita pela escola.
Supostamente as crianças seriam educadas pelos pais e instruídas pelos professores, partindo-se do principio de que é possível definir estes territórios em exclusividade para a educação e para a instrução.

Poderá haver formas e conteúdos educativos mais específicos da família e outros mais específicos da escola. Mas muitos têm aspectos comuns.  Nos vários aspectos da educação e principalmente da educação pessoal e social e da educação para a cidadania ambas, família e escola,  têm um importante papel a desempenhar.

Por outro lado, em educação está tudo ligado. As várias áreas de educação têm interacções entre si, a educação corporal, afectividade, educação sexual, expressões, e educação par a liberdade e para a vida comunitária...

Por exemplo, na educação corporal são importantes os aspectos da saúde física e vigor físico, interacção corpo psiquismo.
A família tem um papel na estabilidade somática, na alimentação, na prevenção da doença. A escola tem mais relevo no fortalecimento da capacidade de movimento, tem disciplinas que a promovem,  interacção das funções psicossomáticas (exercício de concentração, psicomotricidade, relaxamento, etc..), desenvolver a capacidade de expressão corporal.
Mas há também áreas comuns: prevenção das toxicodependências, evitar a destruição do corpo, aquisição de hábitos saudáveis, a necessidade de existência de regras.

Na educação intelectual, os pais devem apoiar as actividades dos filhos não em termos directos mas na assistência, exigência e ajuda às actividades escolares, tpc…
Há campos comuns como o dos comportamentos, atitudes, orientação escolar...

A educação da afectividade é a área do clima de compreensão e de amor e de diálogo permanente em família. Mas a escola continua a acção da família: afirmação de valores morais, estéticos, estimulação de relações afectuosas e abertura ao diálogo.

Na educação da expressões, a família deve efectuar o  desenvolvimento da linguagem oral, estimular o gosto pela leitura, ajudar na na utilização dos meios audio-visuais
É claro que à escola compete desenvolver toas as áreas expressivas específicas. A ambos cabe desenvolver a espontaneidade e a criatividade

Aos pais cabe definir o valor essencial da autoridade parental. Autoridade e diálogo devem estar sempre presentes. Escola deve também desenvolver o diálogo e a autoridade mas ao mesmo tempo o espírito critico da pessoa. À família e à escola compete: ajudar a descobrir o próprio caminho a descobrir os valores.

A família é a primeira educadora da dimensão social dos filhos. A escola pode ensinar sociologia e politica, as atitudes criticas em relação aos diferentes sistemas de convivência humana, deve dar a conhecer os valores e também avaliá-los, discuti-los e a atitude em relação a eles.
Ambos devem orientar para os aspectos da socialização: as amizades, a militância politica, social…

O ditado de que “é preciso a aldeia inteira para educar uma criança”, sugere que não podemos dispensar nem os pais nem a escola nas tarefas de educação, onde muitas vezes o trabalho de uns continua e interage com o trabalho dos outros.
__________________
Educar e instruir
Diez, J. J. - Família-Escola , uma relação vital, Porto Editora

Sobreviver ...


"O que de verdade importa: os valores como a superação, o esforço, o optimismo ou a generosidade...
é através da educação dos valores universais que se podem formar melhores pessoas que podem fazer um mundo melhor".

13/03/14

Manifestamente, o compromisso


De vez em quando regressa (o albergue espanhol). Desta vez têm "a" solução. As instituições pouco importam. E voltam quando já quase toda a gente percebeu que é necessário um compromisso tão alargado quanto possível entre os partidos políticos, designadamente o PSD e o PS.
O Sr. Presidente da República está cansado de apelar a esse consenso. Deu até uma oportunidade de eleições antecipadas se esse compromisso se concretizasse. 
A estratégia da P. R. passa, mais uma vez, por este compromisso no pós-tróica. É isso que está em discussão. E, por isso, aparecer, neste momento, este frentismo manifestante que segue o excitante caminho do abaixo assinado, significa estar noutra via que não a das propostas institucionais.
O "comum dos portugueses", sabe bem qual é a situação do país, quem destes abaixo assinados teve responsabilidade no que aconteceu, quem teve e tem pensamento mágico.
Há quem não ande distraído... Há quem também veja os erros...

07/03/14

Lei e poder


...
Artigo 13.º As autoridades referidas no n.º 1 do artigo 2.º, solicitando quando necessário ou conveniente o parecer das autoridades militares ou outras entidades, poderão, por razões de segurança, impedir que se realizem reuniões, comícios, manifestações ou desfiles em lugares públicos situados a menos de 100 m das sedes dos órgãos de soberania, das instalações e acampamentos militares ou de forças militarizadas, dos estabelecimentos prisionais, das sedes de representações diplomáticas ou consulares e das sedes de partidos políticos.
...
Visto e aprovado em Conselho de Ministros. - Vasco dos Santos Gonçalves - Manuel da Costa Brás - Francisco Salgado Zenha. 
Visto e aprovado em Conselho de Estado.
Promulgado em 27 de Agosto de 1974.
Publique-se.
O Presidente da República, ANTÓNIO DE SPÍNOLA.

"Eles podem estar no poder, mas nós somos o poder"

"Liberdade e lei (pela qual a liberdade é limitada) são os dois eixos em torno dos quais gira a legislação civil. Mas, a fim de que a lei seja eficaz, em vez de ser uma simples recomendação, deve ser acrescentado um meio-termo, o poder, que, ligado aos princípios da liberdade, garanta o sucesso dos da lei. É possível conceber apenas quatro formas de combinação desse único elemento com os dois primeiros: 
A. Lei e liberdade sem poder (Anarquia). 
B. Lei e poder sem liberdade (Despotismo). 
C. Poder sem liberdade nem lei (Barbárie). 
D. Poder com liberdade e lei (República)."
I. Kant, Antropologia do Ponto de Vista Pragmático.

Estas combinações dependem de se subir ou não a escadaria da Assembleia. Se não fizessem parte do aparelho de estado (estão no poder) podiam ser o poder, dependendo o tipo de poder do degrau que escolherem. 

04/03/14

Limites para contratos

Uma boa notícia. 
“Isto não se faz há décadas”, destacou Nuno Crato, defendendo que o problema dos professores contratados já existia antes do 25 de  Abril e nunca foi resolvido por nenhum governo democrático.
... o MEC irá ainda promover “a introdução na lei de uma norma-travão que impeça que os professores sejam contratados sucessivamente, após um período longo, sem com isso ingressar nos quadros”: “Essa norma-travão vai implicar que, se um professor for contratado mais do que cinco anos, no seu sexto ano de contratação, esse professor ingressará imediatamente nos quadros através de sistemas legais que têm de ser estabelecidos”.... a ideia é que “a partir de 2015 quem seja contratado pela sexta vez pertencerá aos quadros”: “Porque, ao ser contratado pela sexta vez, nesse momento está já a indiciar a existência de uma necessidade permanente do sistema”, afirmou na altura o ministro. O que se pretende é “estabelecer um limite”: “Se o professor for contratado no seu sexto ano, com horário completo e anual, isso indica duas coisas – que o professor está há cinco anos no sistema e indica que existe uma necessidade desse lugar – e, portanto, esta norma é uma norma semiautomática que depois, através de um mecanismo de concurso que tem de ser revisto, tem de ser introduzido na legislação, tem de ser negociado com os sindicatos”, acrescentou, frisando que os cinco anos têm de ser consecutivos."
Espero que se aplique a outros profissionais o mesmo princípio, designadamente, psicólogos e outros técnicos. Quanto a terapeutas da fala, formadores de LGP,  intérpretes de LGP deve também ser equacionada a situação destes postos de trabalho ligados a modalidades de ensino especial (EREBAS e UEE). Em todo o caso, faz sentido haver contratos de vários anos. A contratação "anual" é prejudicial para os técnicos, para os serviços e para os alunos. 

Urgente uma visão apreciativa *


Foto: A lixar peças antes de irem a cozer! Deixo sempre o atelier cheio de pó...

Urgente

Urgente é construir serenamente
seja o que for, choupana ou catedral,
é trabalhar a pedra, o barro, a cal,
é regressar às fontes, à nascente.

É não deixar perder-se uma semente,
é arrancar as urtigas do quintal,
é fazer duma rosa o roseiral,
sem perder tempo. Agora. Já. É urgente.

Urgente é respeitar o Amigo, o Irmão,
é perdoar, se alguém pede perdão,
é repartir o trigo do celeiro.

Urgente é respirar com alegria,
ouvir cantar a rola, a cotovia,
e plantar no pinhal mais um pinheiro.

Fernanda de Castro


* O poema de Fernanda de Castro pode definir bem o que é o "inquérito apreciativo" (David Cooperrider) e aquilo que é importante na vida, neste exacto momento, neste país, contra o pessimismo e as carpideiras.

01/03/14

Lentos ou rápidos


Encontrar o ritmo certo para a progressão das aprendizagens de todos os alunos da turma não é fácil. É provavelmente até impossível.
Houve quem defendesse que o ritmo devia ser marcado pelo último. As consequências daqui resultantes têm efeitos na gestão dos programas que nunca serão dados na sua totalidade e na não preparação dos alunos para as avaliações.
Se a escola fosse tropa, acertava-se o passo pelo da frente. Mas não é.
Que fazer nestas circunstâncias, quando numa turma temos alunos tão diferentes? 

Quando os alunos são muito despachados, o professor apercebe-se das diferenças que há entre eles. Se erram muito ou pouco, por exemplo. Em todo o caso, como habitualmente, é necessário proceder a uma avaliação psicológica e diagnóstico diferencial.
No caso de não cometer erros, podemos estar na presença de uma criança com precocidade excepcional ou sobredotação.
Se assim for, deve-se proceder, se for caso disso, à aplicação de medidas educativas que passam pela evolução nos anos de escolaridade e ou na aplicação de um plano de apoio pedagógico (antes designado como plano de desenvolvimento).
Mas pode também ser um aluno que, na realização dos trabalhos escolares, comete muitos erros devido à sua velocidade e impulsividade. Também aqui é necessário proceder a uma avaliação psicológica.
Normalmente há também necessidade de aplicar medidas educativas e ou psicológicas como, por exemplo, a realização de exercícios de desenvolvimento da atenção, reflexividade e de demora forçada. Este plano ajuda os alunos a superar as dificuldades de atenção e de concentração, permite desenvolver a capacidade de adaptação da resposta, estimula o auto-controlo, a resolução de problemas, a discriminação, e, além disso, reduz a impulsividade.

Também pode acontecer como na fábula. Para baralhar tudo, há os que têm muitas capacidades mas acabam atrás dos outros. E, neste caso, ainda estamos na presença de outras situações psicológicas e educativas...

Podemos estar na presença de alunos com precocidade ou sobredotação mas com problemas comportamento e insucesso escolar, porque se desmotivam quer porque já sabem os conteúdos quer porque o que se passa na sala de aula é pouco estimulante. Então, passam a fazer-se notados pelos maus motivos.
É, aliás, mais fácil, ser referenciado um aluno destes porque se porta mal na sala de aula do que devido a alguma característica diferente em relação aos outros alunos. Por isso, o professor deve estar atento a outros sinais: vocabulário desenvolvido, criatividade e originalidade,  profundidade de conhecimentos, juízo crítico, capacidade de liderança ...

Infelizmente, no nosso país, não existe uma orientação sistemática para despiste destas situações. Há experiências que se vão fazendo em alguns pontos do país e por algumas associações vocacionadas para o apoio a estas crianças
Mas o despiste das crianças sobedotadas é meramente pontual e muitas vezes acontece, devido não à precocidade mas a problemas de comportamento.
Mesmo que fôssemos um país rico não nos podíamos dar ao luxo de desperdiçarmos estes talentos. Mas é o que estamos a fazer.