23/03/14

Educação: da inutilidade de alguns conflitos


Vão-se repetindo, periodicamente, uma série de conflitos inúteis, uns vindos de dentro da instituição escolar outros de fora, que só servem para atrapalhar a acção do ministério da educação mas também das escolas, dos alunos e das famílias.
O conflito quando criativo acaba por se resolver da melhor maneira. Para isso é necessário ter outra visão para uma acção construtiva do conflito em que todos pudessem ganhar. Só que não é isso que tem acontecido e todos os anos assistimos a estas guerras de alecrim e mangerona...
Os sindicatos sabem apenas a linguagem da conflitualidade com o ME e, diga-se também, que, muitas vezes, o ministério se põe a jeito...

O conflito é a razão da sua existência, parece, e dele tiram proveito para sobreviverem várias dezenas de anos nos sindicatos onde é necessário mostrar serviço. Dificilmente abdicam das suas exigências por mais corporativas e saem sempre vencedores num mundo que não conhece vencidos. 
Na realidade, alguns destes conflitos são inúteis, todas as pessoas perdem, principalmente os alunos.
Alguns deles, vistos à distância, são ridículos. Aquilo que hoje parece pacífico não o foi em 2004, como os exames do 9º ano: Exames do 9º ano: Uma precipitação, uma falta de senso, Pais contra realização dos exames do 9ºano.
Como o caso do "não pagamos" na questão das propinas. Até tem alguma piada ver o que se passava entre alguns protagonistas da altura.

Vejamos alguns destes conflitos inúteis:

1- Início do ano lectivo
Como todos os anos, há sempre algumas dificuldades no arranque do ano lectivo. E sempre haverá. Os que aproveitam a oportunidade para conflituarem com o ministério da educação por este assunto, deviam lembrar-se disso estiverem no poder. Vamos ver como vão entrar na educação estes candidatos e contratados.
Há aspectos que não têm solução porque se sabe que os candidatos a professores que acabam os cursos nas ESE e Universidades não vão ter todos emprego. Aliás, a tendência será para o problema se agravar. Como acontece com outras profissões: psicólogos, engenheiros, arquitectos, enfermeiros, terapeutas da fala, fisioterapeutas, técnicos de serviço social...
É verdade que houve falhas no início do ano lectivo, como sempre, mas também é verdade que houve escolas que funcionaram muito bem. Escolas que para o mesmo número de alunos têm mais professores do que no ano passado, têm os mesmos técnicos, com alguns atrasos na colocação de um ou outro professor devido ao próprio processo de colocação, com a recusa de alguns candidatos, etc.

2 – A disciplina de inglês e as aec
Uma das discussões mais disparatadas e das maiores mistificações dos últimos tempos tem a ver com o inglês que era obrigatório num currículo que afinal era facultativo, logo não era obrigatório. Alguns alunos frequentam as aec e outros não frequentam, há aec integradas no horário e aec a partir das 15h30, há alunos que já por si tinham currículos diferentes.
Acusar Nuno Crato de acabar com o inglês no 1º ciclo, e de discriminar os alunos que façam outras opções, como os pais que não levam os filhos às aec, parece-me completamente demagógico quando, afinal, o inglês passa a ser obrigatório no 4º ano...
Não só o ministro Nuno Crato dá importância ao inglês como até vai haver exame. É discutível se deve ser o GAVE ou se precisa duma organização internacional.
Mais interessante ainda: O inglês divide os modernaços dos pré-históricos. Os modernaços acham que o governo é pré-histórico se não obriga os alunos a estudar inglês desde o 1º ano de escolaridade. Mas o que não se quer discutir é o essencial ...
O inglês é a 3ª disciplina com mais negativas, a seguir à matemática e português. O que significa isso ?
O insucesso a inglês é elevado no 5º ano, quando era suposto que os alunos com as bases das aec/Inglês do 1º ciclo estivessem em melhores condições de aprendizagem. O que tem acontecido ? Aqui ficam algumas hipóteses:
- professores das aec sem formação pedagógica,
- não há manuais,
- não há programas,
- alunos com I e sem I à entrada para o 5º ano,
- organização diferente do sistema educativo, por ex., não fazem reuniões,
- há inglês metido no currículo e inglês nos horários pós-lectivos,
- pessoal menos motivado sem contrato, sem remuneração digna,
- não há articulação com o 5º ano.
Pode ser que o parecer do Conselho Nacional de Educação seja um contributo para se chegar a uma solução razoável.

3 - Turmas grandes
As turmas de 30 alunos podem ser um problema ou não. Há turmas desta dimensão que são as melhores da escola. Depende da escola de que falamos e dos alunos que lá estão.
Depois, quantas turmas destas há ? Quem ouve sindicatos e comentadores fica com a ideia de que todas as turmas têm 30 alunos... mas na realidade há turmas que podem ter 4 ou 10 ou 30 alunos ...
Claro que há aspectos que deviam ser vistos: não faz grande sentido que se tenham desenhado salas de aula para 26 alunos e agora se metam lá 30; a organização das turmas; os alunos repetentes por turma; os alunos NEE por turma (existe um limite definido na legislação) e por escola (não há limite previsto); há alunos NEE que praticamente não vão à turma (coisa referida pelo ministro, que é uma realidade, mas o que ele foi dizer!) mas que frequentam uma ou duas disciplinas e os professores dessas disciplinas de facto podem ter razão de queixa mas não a turma...

4 - Cursos vocacionais e a questão da equidade
Pela importância do assunto, porque os alunos que ficam parados no 6º ano ou no 9º ano sofrem que chegue com esta situação, o ministério veio criar esta possibilidade.
Em nome de uma falsa equidade quer-se que todos os alunos continuem no mesmo e único percurso educativo. Isto é, que continuem a chumbar. Sei do que falo e não posso assistir sem indignação à repetição de quatro anos de escolaridade "necessários" para o aluno fazer um.
Esses alunos e esses pais não se compadecem com os "teóricos" da equidade que, muitos deles, não puseram um pé na escola desde o tempo em que por lá passaram.

5 - A prova de avaliação dos professores
O ministro Nuno Crato comprou a guerra ao governo Lurdes/Lemos que a criaram e, como já era de prever, regulamentou uma coisa já ferida de problemas. Uma medida perfeitamente desnecessária.
É claro que o ministério pode e deve definir as regras do ingresso do seu pessoal, com o consenso procurado nos parceiros. Mas havia várias alternativas.
- esta prova ser apenas para os candidatos que terminam os seus cursos.
- substituir a prova por um estágio profissional.
- passar esta responsabilidade para as associações profissionais ou para as escolas onde se realizasse o estágio...
Claro que os sindicatos aproveitaram todas as fragilidades. Mesmo aquela que acaba por ser ridícula: como se pode criticar o pagamento de 20 euros para realização de uma prova quando outros profissionais (psicólogos, advogados…) pagam incomparavelmente mais pelo estágio na respectiva ordem ?

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