27/03/14

Não há famílias perfeitas


Marta Gautier descreve as vivências, problemas, relações entre as várias pessoas da família, os pensamentos mais pessoais, enquanto mães e pais, a educação dos filhos, aquelas pequenas grandes coisas de que gostamos ou detestamos mas só pensamos ou só dizemos ao psicólogo ("Um dia contei à minha psicóloga...").
Por mais perfeitos que sejam os pais e pensem que educam bem os filhos, ter presente a suposta frase de Freud de que provavelmente nunca os educaremos bem por mais que façamos, tira um pouco a ansiedade de fazermos algo errado.
Viver a vida com as suas alegrias e com as suas dores parece ser a melhor maneira de a viver. O sucesso não se mede pela exaustão. Nem pela concorrência entre pai e mãe em relação ao bebé que serve para os manter afastados mas que transforma um homem em "pai moderno":  
 “Sermos bons pais não tem nada a ver com o deixarmos de ser gente nem com uma obstinação à volta dos aspectos mais superficiais da existência dos filhos." (Pag 164) …Ser utópico cumprir todas as regras que nos impingem para o bom crescimento psicológico das crianças … pensar que as crianças ficam melhores por darem muito trabalho aos pais e deixam pouco tempo para pensar no que é importante ...", só aparentemente é “um sossego” e uma família perfeita.

De repente, sem esperarmos, bate-nos à porta o problema da depressão que toma conta da nossa vida, que é maior que a nossa vida e passamos o tempo a alimentá-lo e a viver com ele. Porque há ganhos secundários que “... dão jeito a quem tem estes pensamentos depressivos. São óptima companhia na medida em que nunca nos abandonam”. Podemos sempre contar com os pensamentos negativos sobre a vida e nós mesmos num ininterrupto namoro com a nossa desgraça, a pena que temos de nós mesmos ocupa grande parte do nosso dia e quando vamos para a cama ou quando acordamos ou quando andamos pela rua temos sempre em que pensar, é uma razão de viver, uma companhia.

É por isso que a felicidade é um risco: Termos de "viver, de pensar naquele tempo que já não é ocupado com os “ses”… se eu fosse mais magra... se eu tivesse um emprego melhor, se eu tivesse um carro melhor, se eu tivesse uma casa com mais condições... e com os “nãos”... não consigo dormir, não consigo acordar cedo, não consigo deixar de fumar, não sou boa mãe, ..."
Às vezes habituamo-nos de tal maneira que não queremos correr riscos. O risco de sair de casa, de conviver com os outros independentemente do que pensem ou digam de nós, de deixar alguma coisa por fazer ou de fazer coisas erradas…

No trabalho com crianças surge muitas vezes a culpabilidade das próprias crianças e ou dos pais. É uma maneira de não resolver nada.
A criança utiliza muitas vezes uma “linguagem paralela”, ou seja, o sintoma e que é a forma de comunicar a dificuldade que a criança sente.
A criança instável, com comportamentos desajustados ou fora do normal, em casa ou na sala de aula quer comunicar o que sente, apenas devemos estar atentos porque o sintoma fala.
Apenas temos necessidade de compreender o que ele nos está a dizer, por mais que nos custe aceitar que, afinal, a nossa família não é perfeita.

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