Chegou a agridoce reforma, a partir de 1 de Abril, num dia de chuva e frio de Primavera. Até parece mentira. Parece mentira estar a Primavera no início e chegar ao fim da carreira.
Passou tudo tão depressa...
Não estou cansado nem desmotivado do trabalho
e gosto de viver.
É verdade que um ou outro achaque me está sempre a lembrar de que já não posso ter as mesmas responsabilidades e os mesmos horários.
É verdade que não é a mesma coisa. Aquela ideia de que somos sempre jovens, pelo menos de espírito, tem dias...
tem dias em que não é verdade nem no corpo nem no espírito,
tem dias em que também surgem os medos,
medo das doenças, de ficar doente,
medo dos governos desgovernados que ora gastam em obras inúteis o dinheiro que lhes emprestaram ora nos mandam poupar e ficar com salários e reformas limitados ao que esticam ou encolhem nas finanças que não se entendem em gerir,
medo de promessas e mais promessas eleitorais que se avizinham para os dias em que o pouco crédito de confiança, pelo menos, que ganhámos se preparam para desbaratar,
medo da insegurança das ruas e das casas,
de cair,
medo dos que chamam velhos com desprezo e dos modernaços que lhes proíbem a entrada em sítios que querem só para jovens,
medo de levar encontrões porque não vamos tão depressa,
medo de que já não nos convidem para nada ou apenas para os programas da manhã das televisões,
medo de não poder ajudar os outros e, ao contrário, precisar de ser ajudado,
medo de ser um problema para os outros...
Tantas vezes disse que a inclusão era "a nossa maneira de ouvir os outros, uma acção recíproca, mútua, permanente".
Tantas vezes disse que a inclusão era "a nossa maneira de ouvir os outros, uma acção recíproca, mútua, permanente".
Mas também é bom ter orgulho do passado,
é bom ter saudades do passado, de gostar do que fazia, o segredo para se ser feliz e para ajudar os alunos a procurarem o seu próprio sucesso.
É bom ter saudades da minha escola, foi um sítio onde fui feliz,
porque lhe conheço o dentro do dentro
e é aí que tenho saudades do futuro,
porque sei que o mundo vai ser melhor, conheço a criatividade das crianças, a generosidade dos adolescentes, a bondade das pessoas.
Foi também por mim que cresceram e se tornaram investigadores, médicos, enfermeiros, engenheiros, empresários, mecânicos... que foram nossos alunos, e que agora encontramos no hospital, constroem as nossas casas, as nossas cidades e são profissionais competentes.
Mesmo quando parece que isso não é verdade e temos um mundo um bocadinho feio, fomos nós que assim o construímos. Só podemos lamentar-nos de nós próprios e, se temos queixas, ainda vamos a tempo de reparar as nossas emoções negativas. Este tempo da vida também serve para perdoarmos e nos perdoarmos.
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