Todas as pessoas da minha idade se recordam da série Bonanza. Um pai vivia com os seus filhos no rancho fictício de Ponderora.
Esta ficção era de facto mítica. Como criança jogávamos aos cowboys, na escola, discutindo o herói que cada um queria assumir no respectivo jogo.
Brincar faz parte da infância e esta é a idade própria para
brincar. A criança deverá passar por estes estádios de desenvolvimento
e ultrapassá-los de forma a atingir a plena maturidade como ser humano.
Para Piaget os jogos correspondem a diversas etapas do
desenvolvimento do conhecimento que correspondem aos estádios mais baixos do
desenvolvimento até aos mais elevados.
Como crianças estamos mais perto das formas instintivas de
reagir do que das formas mais civilizadas.
Os jogos territoriais são também jogos infantis, formam-se grupos
e gangs para defenderem o seu território ou a sua posição.
Estes jogos podem tornar-se violentos e pouco socializados entre os adolescentes .
As guerras têm muito a ver com esta forma primitiva de jogo. São estes vestígios primitivos que permanecem na nossa
herança arcaica da guerra.
Quando se é criança esses jogos deviam fazer parte do
desenvolvimento e esgotarem-se por esse tempo.
“Cada coisa a seu tempo; não é nem
razoável nem oportuno fazer a guerra quando se é adulto.” (pag. 479)
Os jogos de guerra são muito
diferentes das simples brincadeiras, dos jogos simbólicos infantis: Como na infância, brincar com
soldadinhos de chumbo ou mais actualmente com os legos do batman e do joker… O desejo de ser uma pessoa
poderosa, a identificação com os heróis da guerra, ajudam a criança a fazer face e a
resolver os problemas emocionais e de crescimento. São uma forma de resolver os seus
medos e agressividade

É por isso que os pais que se acham pacifistas ficam desconcertados quando vêem os filhos brincar aos
soldadinhos de chumbo... É por isso que “o pacifismo é um
conceito sofisticado do adulto”
Não vemos crianças a brincar aos
pacifistas: "olha tu agora és a madre Teresa de Calcutá" ou "agora vamos brincar ao Luther King"… As crianças jogam aos policias e
ladrões, aos cowboys e aos índios, aos bons e aos maus.
“Mas sejam quais forem os bons a
criança deve ao fim e ao cabo acabar por se integrar na identidade deles.”
“ Em todos os momentos as crianças
brincam aos jogos de guerra em que lutam
umas contra as outras ou contra o
inimigo histórico do momento”.
O que se passou recentemente na ex-Jugoslávia
e se está a passar na Ucrânia, por exemplo, mostra bem o primitivismo e até que ponto não fomos (somos) capazes de viver de forma socializada.
Não fomos capazes de compreender
que o motivo do jogo não era saber quem era o mais forte mas que o bem tem de triunfar sobre mal como ainda devemos fazê-lo de uma maneira que prove o valor de uma humanidade superior.
O sr. Putin não nos ouve mas se ouvisse dir-lhe-ia que a guerra é uma forma inferior, primitiva e não socializada de poder.
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