15/12/23

Uma canção de Natal

 



Amanhã, 16 Dez., uma oportunidade única de ouvir o que consta do Programa.  La Bomba, de Mateo Flecha, leva-nos da perdição à salvação, dos pedidos e promessas - uma maior que a outra - ao agradecimento, com a guitarra bem temperada, para cantar ao recém-nascido Jesus. Mas é preciso ter cuidado. Pois se há perigos no Mar, os perigos estão na Terra, nos falsos irmãos.










14/12/23

Tempo de Natal. Tempo de Paz.

José Pádua - Natal

A época de Natal é também a época em que desejamos paz para nós próprios e para os outros, a começar por aqueles que nos são mais próximos.
Mas como se pode ter paz num mundo que vive quase sempre em conflito e em guerra?
Será que a educação pode ajudar a criar um futuro de paz? Podemos melhorar os nossos comportamentos através de programas de prevenção e de educação para a paz? Não será esperar demasiado da escola ?  
Afinal, a agressividade faz parte do ser humano mas a bondade também, dependendo do desenvolvimento psicológico durante a nossa infância, o desenvolvimento do bom objecto interno.

Vale a pena ainda uma derradeira esperança de que o desenvolvimento psicológico seja no sentido da paz se pudermos escolher viver numa cultura de paz onde a educação para a paz faça parte da vida das pessoas e do currículo das escolas.

Em 1963, João XXIII surpreendeu o mundo com a publicação da encíclica Paz na terra, dois anos após a construção do Muro de Berlim e alguns meses depois da Crise dos Mísseis em Cuba. A conjuntura era a da Guerra Fria e da proliferação nuclear. João XXIII defende que "os conflitos entre as nações devem ser resolvidas com negociações e não com armas, e na confiança mútua (nº. 113)". Para ele, "a Paz entre os povos exige: a verdade como fundamento, a justiça como norma, o amor como motor, a liberdade como clima". (Wikipédia)
Em 1974, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), elaborou um documento sobre a paz: “Recomendação sobre a educação para a compreensão, a cooperação e a paz internacionais e sobre a educação relativa aos direitos do homem e às liberdades fundamentais”
No ponto 6 refere: “A educação deverá acentuar a inadmissibilidade do recurso à guerra de expansão, de agressão e de dominação, à força e violência repressiva e levar cada pessoa a compreender e a assumir as responsabilidades que lhe incumbem na manutenção da paz.“

A realidade, porém, mostra que os progressos da humanidade no caminho da paz são insatisfatórios, verificando-se mesmo retrocessos, como os actuais. Assistimos às mais brutais formas de guerra com utilização de meios tecnológicos cada vez mais sofisticados, utilização de reféns, de crianças, mulheres e idosos, destruição e infraestruturas de água, electricidade, gás, hospitais, escolas...
Sabemos que comportamento gera comportamento, mais guerra gera mais ódio e, pelos vistos, o homem tem dificuldade em aprender este princípio elementar. 

À nossa medida, o que podemos fazer para ajudar a construir a paz? *
- Tudo o que fizermos que seja no sentido da paz. 
- Estarmos em paz connosco, sendo “modelos de comportamento” particularmente para as crianças e jovens. 
- Defender e respeitar os valores que fazem parte dos Direitos Humanos. 

No meio destes desastres que estão a acontecer, a paz pode assim começar em cada um de nós se eu me sentir em paz comigo e se me comportar como pacífico.



Um bom Natal com muita paz.


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"CONVERSAR SOBRE A PAZ - Como, todos e todas, podemos ajudar a construir a Paz?" Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP).

 

 



Rádio Castelo Branco



11/12/23

"Na hora da partida"

"É vontade raivosa que muitas vezes me assalta, mas quando consigo travar a tempo, passados uns instantes de reflexão logo descarto a ideia, ciente de que o resultado seria funesto.

Dá-se o caso, e com ele há vidas sofro, que me desconcerta a violência e disparidade dos meus sentimentos para com a terra em que nasci, as raivas que ela me provoca, como se em vez de um lugar, um território, uma nação, Portugal fosse gente.

Ora o vejo como um sujeito estúpido que me dá vontade de insultar e agredir, ora um tonto de tal modo desvairado que não paro de abanar a cabeça, de vez em quando uma inocente criança, que em mim desperta insuspeitados carinhos e ternura.

Olho-o de longe e assusta-me a frieza com que disseco o seu funcionamento, o sarcasmo que me provocam os pandilhas que há décadas o esbulham, fingindo que governam, os sortidos donos daquilo tudo, os que se dobram ajoelhados como escravos de galé. E ainda os jeitos, as luvas, o fatalismo, as vénias, a cunha, a subserviência para com os que estão acima, o desprezo para com os que dependem. O medo generalizado, os brandos costumes, as manhas, o respeitinho. Aquela inveja, que de tão extraordinária e corrente parece ser genética. A promessa raro cumprida, idem a sornice, o deixa para amanhã, a fatuidade, o valor das aparências, o gosto da rasteira.

Mas depois, tão entranhado português que sou, e protegendo-me de mim próprio, logo amoleço, procuro razões de brandura e desculpa, fecho um bocadinho os olhos, embalo-me com a esperança de que cheguem os amanhãs que sempre desejei.

Contudo agora, melancolicamente certo e seguro que a minha hora não tardará, sei que vou partir sem os ver chegar."



J. Rentes de Carvalho, Tempo contado


Este maravilhoso texto de J. Rentes de Carvalho é uma justa definição daquilo que somos e sentimos. 
Amor e ódio por termos tudo para sermos melhores do que somos mas com os pés de barro que nos entravam a marcha para uma vida sem sobressaltos, o que nos chateia e encanita, mas, por fim, fica sempre o amor a este país.
Tanto cantámos a paz, o pão, habitação, saúde, educação... que já não damos por nada... a prestação da casa, a falta de professores, o aeroporto ou a simples marcação de uma consulta no centro de saúde...
Mas não é este desconsolo o que se passa com aqueles que amamos ? E lá estou também eu a pensar que se trata de gente.
Já no fim de termos visto quase tudo, não cremos nos amanhãs que esta gente canta, nem as falinhas-mansas das campanhas eleitorais nos seduzem, como mais uma que aí vem. 
Resta-me sonhar com "os amanhãs que sempre desejei".




06/12/23

Nuclear não, obrigado!

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O absurdo parece dominar cada vez mais os acontecimentos do nosso pequeno mundo. Ao mesmo tempo que decorrem várias guerras onde estão a morrer milhares de pessoas, sem que haja vontade das grandes potências de lhes pôr cobro, também acontece mais uma Conferência sobre o clima (COP 28). Neste contexto, chamou-me a atenção as declarações de E. Macron, Presidente francês e de J. Kerry dos EU, que defendem a necessidade de voltar à energia nuclear como forma de conseguirem a meta da Conferência de Paris, ou seja, manter o aumento da temperatura média global inferior a 2°C. 
Pensava, na minha ingenuidade, que a escolha desta possibilidade tinha ficado lá atrás nos anos 70 e 80 do século passado após o movimento ”Nuclear não, obrigado!”, mesmo que nos venham dizer que a segurança do uso desta energia melhorou substancialmente nos últimos anos.

Embora distanciado das “teorias” que defendem as alterações climáticas antropogénicas, por uma vez concordo com o que diz o 1º ministro demissionário, A. Costa, sobre a "crise climática": “O que está em causa não é o planeta, é a humanidade. Não há humanidade B”.
Talvez extrapolando, é uma boa maneira de arrumar com a necedade (sim, de néscio) da campanha “não há planeta B” e de questionar a desumanidade desta propaganda que quer incrementar a energia nuclear.
A humanidade está, neste momento, a sofrer com as mesmas desgraças de sempre: a guerra, a fome, a pobreza, a violência e o crime... e vêm estes “climáticos mete-medo” a dizer-nos que "não há planeta B", ao mesmo tempo que aceitam a possibilidade da proliferação da energia nuclear.

Depois do acidente nuclear de Three Mile Island, em Março de 1979, do Acidente nuclear de Chernobil, em Abril de 1986, e o Acidente nuclear de Fukushima, em Março de 2011, de facto, é absurdo pensar que, podemos morrer devido à radiação nuclear mas... num mundo limpinho de carbono.
A Associação América verde (Green America) refere dez argumentos contra a energia nuclear (https://www.greenamerica.org/fight-dirty-energy/amazon-build-cleaner-cloud/10-reasons-oppose-nuclear-energy ). Em resumo:
1. Resíduos nucleares: Os resíduos gerados pelos reactores nucleares permanecem radioactivos durante dezenas a centenas de milhares de anos. 
2. Proliferação nuclear.
3. Segurança nacional: As centrais nucleares são um alvo potencial para operações terroristas. 
4. Acidentes: o erro humano e as catástrofes naturais podem conduzir a acidentes perigosos e dispendiosos. 
5. Aumento do risco de cancro.
6. Produção de energia: As 444 centrais nucleares actualmente existentes fornecem cerca de 11% da energia mundial. Estudos mostram que, para satisfazer as necessidades energéticas atuais e futuras, o sector nuclear teria de aumentar para cerca de 14 500 centrais.
7. Locais insuficientes para esta ampliação.
8. Custo - Ao contrário das energias renováveis, que são actualmente as fontes de energia mais baratas, os custos nucleares estão a aumentar.
9. Competição com energias renováveis.
10. Dependência energética dos países pobres, dado que não têm os recursos financeiros para investir e desenvolver a energia nuclear... 

Perante isto, será necessário lembrar a canção de Fausto - "Rosalinda se tu fores à praia, se tu fores ver o mar", ou de Lena d´Água: "Antes ser activo hoje, do que radioactivo amanhã. Nuclear não, obrigado".



Até para a semana.



 



Rádio Castelo Branco

30/11/23

A nova censura


Este governo está de saída mas faltava a cereja no topo do bolo.
De manhã, uma notícia do Público (Maria Lopes, 28 de Novembro de 2023, 6:35) informava que:
“O Governo e o PS querem criminalizar os actos de discriminação e incitamento ao ódio em função de "convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou a pretexto de uma culpa colectiva baseada em qualquer um destes factores". E propõem o agravamento das penas para quem comete os crimes através dos meios de comunicação social ... “. A proposta de lei foi subscrita pela ministra da Justiça, pelo primeiro-ministro e pela ministra da Presidência.“
Já tínhamos uma série de discriminações previstas devido "à raça, origem étnica, nacional ou religiosa, cor, nacionalidade, ascendência, território de origem, religião, língua, sexo, orientação sexual, identidade ou expressão de género ou características sexuais, deficiência física ou psíquica” ...  e agora temos mais estas e em função de convicções políticas ou ideológicas e instrução...

Esta proposta inicial era tão chocante que nesse mesmo dia, à noite, a notícia passou a ser: “Para não haver “equívocos”, PS deixa cair criminalização por discriminação por ideologias ou instrução.” (Maria Lopes, Público, 28 de Novembro de 2023, 20:18)

Ainda bem. Do mal o menos. Não passa pela cabeça de ninguém querer criminalizar alguém por convicções políticas ou ideológicas e de penalizar os órgãos de comunicação social através dos quais sejam cometidos actos de discriminação por estes motivos.
Assim, de fugida, quase sem nos apercebermos, estaria aberta a porta à censura... Ora esta é uma área sensível da nossa vida democrática. E quanto mais debatida melhor. Mas não é assim que querem alguns... Quase sem darmos por isso surgem novas formas de controlar o pensamento, de controlar a liberdade de expressão e de punir quem não pensa da forma que o poder quer. (1)

A legislação em relação ao discurso de ódio difere de país para país
Em Portugal, segundo a Constituição, “Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual”. (Artigo 13º da Constituição portuguesa - Princípio da igualdade ) 
Ora estas são as discriminações que foram transpostas para a legislação mas era necessário definir como e quando, porquê e por quem, que limites, etc... (2) para que essas possíveis discriminações fossem criminalizadas, não beliscando a liberdade de expressão.

O Conselho da Europa define o que é discurso de ódio. E também nos informa sobre o consenso relativo às consequências desse discurso de ódio: não são inócuas, geram danos físicos e psicológicos naqueles que sofrem a agressão (especialmente nas crianças), como depressão, baixa estima, pressão alta, respiração acelerada e insónia - quando há depressão extrema, o discurso de ódio recorrente pode levar a vítima ao suicídio. 
O assunto é suficientemente grave para ser levado a sério e não passar a ser mais uma forma de controlo do pensamento e a ser um atentado à liberdade e à liberdade de expressão. 



Até para a semana.


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Sobre o assunto ver também o artigo "Criminalizar as opiniões incómodas", de Francisco Teixeira da Mota; Público, 2 de Dezembro de 2023
2. A menos que fique  por conta do "Ministério da verdade" (G. Orwell)






Rádio Castelo Branco


26/11/23

Da Arte e das Tradições que nos pacificam





Um fim de semana extraordinário (11-12 de Novembro de 2023). A música foi o principal elemento agregador de todas as vontades participantes nos eventos culturais e artísticos deste fim de semana, em S. Miguel d'Acha, uma pequena vila da Beira Baixa, onde todos, ou quase, sabem cantar bem, vem de nascença, que se traduz, entre outras manifestações, no Grupo de Cantares Tradicionais da Associação para a Defesa do Património Cultural (ADEPAC).
S. Miguel pode orgulhar-se, mais uma vez, de ter uma iniciativa cultural de tão elevada qualidade.

No sábado, pelas 11H00, teve lugar a apresentação do Cancioneiro da Música Tradicional de S. Miguel d'Acha, da autoria de Joaquim Gonçalves e José Ramos Alexandre: A história da música popular de S. Miguel d'Acha e o acervo das músicas populares originárias e cantadas nesta terra. Uma obra de fôlego. Uma obra que preserva a memória do passado e, em muito, ainda a memória do presente porque viva continua a ser a manutenção das tradições em que estes cantos são o centro desses enventos tradicionais mas que sem ela, necessariamente (?) tudo parece levar a crer que assim seja, corria o risco de se perder, pelo menos em boa parte.
Com a publicação do Cancioneiro hoje podemos ter a certeza de que esta herança, o património imaterial desta comunidade, está aí para os nossos netos, obra que os faz e fará ter orgulho dos seus antepassados que criaram estas melodias emocionantes e únicas, fruto das suas vivências de infância, de trabalho, das festas ou da religiosidade. Mérito dos autores do Cancioneiro.





À noite, assistimos ao concerto "A música Tradicional em S . Miguel de Acha". 

"O programa deste concerto, organizado pela ADEPAC, no âmbito lançamento do Cancioneiro da Música Tradicional de São Miguel d'Acha tem em vista a apresentação ao público de algumas das modas da nossa terra. Muitas delas são, aliás, frequentemente cantados e difundidas pelo Grupo de Cantares Tradicionais de São Miguel de Acha, mas outras foram sendo musicalmente trabalhadas por vários autores.

Daí que a escolha e ordenação do programa tenha recaído em canções cujas melodias e temas já foram objeto de elaboração e tratamento musical, nas variadas perspectivas encontradas, por forma a que com esta metodologia de apresentação, o público possa perceber as muitas abordagens musicais possíveis sobre temas idênticos e verificar que a música tradicional é passível de merecer a mesma consideração que a chamada música erudita.

Assim, incluem-se, desde logo, arranjos de Fernando Lopes Graça (para piano solo, piano quatro mãos, canto e piano, vozes e orquestra) de algumas modas que ele próprio recolheu na nossa terra, arranjos de Jorge Croner de Vasconcelos (para canto e piano, de duas modas anteriormente também aqui recolhidas por Constantino Varela Cid), bem como vários arranjos de um conterrâneo nosso, Joaquim Gonçalves (para vozes e piano e/ou instrumentos) e de seu filho Diogo Gonçalves (canto e piano e vozes e instrumentos), de canções igualmente recolhidas em S. Miguel.

E tendo em vista a consecução destes objetivos, o Programa executado por conhecidos e credenciados intérpretes nacionais (um conjunto vocal de vozes iguais, a soprano Maria João Sousa, os pianistas Leonor Cardoso e Paulo Oliveira, um ensemble instrumental - sopro e cordas), além do Grupo de Cantares Tradicionais de S. Miguel de acha, de ACEPAC, também sobejamente reconhecido no âmbito dos executantes de música tradicional na região das Beiras, atualmente dirigido por Eduardo Gonçalves.

Por fim, é devida uma palavra de agradecimento à Paróquia de São Miguel de Acha, na pessoa do P. Martinho Lopes Mendonça, pela disponibilidade manifestada para a realização deste Concerto na Igreja Matriz de São Miguel de Acha."

A missa de domingo foi manifestação de elevada espiritualidade em que Bach e Schubert nos ajudaram a sentir toda a felicidade que pode resultar na nossa mente e no nosso coração quando à meditação, celebração, e pedido de um mundo melhor, podemos acrescentar o extraordinário engenho humano criador desta música.

Gratidão enorme por nos terem proporcionado estes momentos. Por este tempo em que, afinal, acontecem milagres que vêm da Arte e da Paz. Podemos sonhar com um mundo civilizado em que a Arte nos reuna como pessoas interessadas na Cultura e na Paz. Podemos presenciar a diversidade das pessoas na diversidade das interpretações e como a música pode ser extraordinária quando essa mesma música é tocada e cantada pelo Grupo de Cantares, pela orquestra ou apenas pelo piano numa continuidade de profundidade emocionante entre a "Encomendação das almas", canto por vozes femininas, e os "Martírios", com piano a quatro mãos com Leonor Cardoso e Paulo Oliveira e arranjo de F. Lopes-Graça.

Este momento inesquecível ficou a dever-se à ADEPAC, a todos os patrocinadores, a todos os que colaboraram, a todos os que gostam desta terra tão querida e maravilhosa. Tantos amigos. Tão boa gente. Uma Arte que enleva o espírito e pacifica a mente foi o que senti neste fim de semana, na minha terra, S. Miguel d'Acha.





22/11/23

Além do Princípio de Mateus


No domingo passado (19-11-2023), o Evangelho falava da conhecida parábola dos talentos. (Mateus 25:14-30)

Jesus diz-nos que o reino dos céus é semelhante  a um homem que, ao sair de viagem, chamou os servos e confiou-lhes os seus bens.  A um deu cinco talentos, a outro dois e a outro um; a cada um de acordo com a sua capacidade. Em seguida partiu de viagem. O que havia recebido cinco talentos, aplicou-os, e ganhou mais cinco. Também o que tinha dois talentos ganhou mais dois. Mas o que tinha recebido um talento cavou um buraco no chão e escondeu-o aí.

Quando foi necessário prestar contas, o que tinha recebido cinco talentos trouxe outros cinco,  o que recebeu dois ganhou mais dois.

O que tinha recebido um talento apresentou apenas o que tinha  porque teve medo e escondeu o seu talento no chão.

O senhor elogiou os outros servos e a este, negligente, criticou-o e mandou dar aquele talento ao que já tinha dez, dizendo: “Pois a quem tem, mais será dado, e terá em grande quantidade. Mas a quem não tem, até o que tem lhe será tirado”. 

 

As palavras desta parábola são duras e sem tolerância para o que tinha menos talentos. Este parágrafo também é conhecido como Princípio de Mateus. 

Os talentos, ou se quisermos as capacidades ou aptidões, as virtudes e as  forças são qualidades físicas e mentais, diferentes, que nós temos. 

Uma questão importante é, então,  sabermos  os  talentos que temos e o que vamos fazer com eles.


Sabemos que vivemos num mundo assim, com esta realidade: há uma “distribuição desnivelada” dos talentos, na área financeira ou em qualquer outra área. *

Em 12 Regras Para a Vida - Um Antídoto Para o Caos, Jordan Peterson refere que tanto no mundo animal (no mundo das lagostas, por ex.),  como nas sociedades humanas, o vencedor leva tudo, em que aquele 1% do topo tem tanto dinheiro quanto os 50% da base, e em que as 85 pessoas mais ricas têm tanto dinheiro quanto as outras 3,5 mil milhões juntas. (p. 29)

Esse mesmo princípio brutal de distribuição desnivelada aplica-se em qualquer contexto em que exista produção criativa. 

A maioria dos artigos científicos é escrita por um grupo pequeno de cientistas. Uma pequena proporção de músicos produz quase todas as músicas comerciais gravadas. Um número pequeno de autores vende todos os livros...

Nas relações amorosas é bem conhecida a canção dos ABBA, The winner takes it all. (O vencedor leva tudo).

 

Então o que nos resta é enterrar os nossos poucos talentos, uma vez que (pensamos nós) não somos assim tão talentosos?

Pelo contrário. Compete a cada um fazer render os seus talentos, trabalhando tanto quanto permitam as suas capacidades e aptidões, para que eles se possam traduzir em algo de positivo.

Para isso, é necessário haver vontade para mudar. Mudar a nossa postura corporal, levantarmo-nos e erguermos as costas... Estas são atitudes que aumentam a serotonina e então “podemos aguentar as dificuldades de pé, mesmo durante a doença da pessoa amada, mesmo durante a morte dos pais, e permitir a outros que encontrem força a nosso lado, quando de outra forma seriam tomados pelo desespero. Fortalecidos desta maneira, embarcaremos na viagem das nossas vidas... (p. 54)

 

 

Até para a semana.

 

 

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* Este princípio é também conhecido como a Lei de Price, em homenagem a Derek J. de Solla Price, o pesquisador que descobriu a sua aplicação à ciência, em 1963. O princípio pode ser executado se fizermos um gráfico em forma de L, com o número de pessoas no eixo vertical, e a produtividade e os recursos no eixo horizontal. O princípio básico fora descoberto muito antes. Vilfredo Pareto (1848-1923), um polímata italiano, notou a sua aplicabilidade à distribuição da riqueza no início do século XX, e o princípio parece  ser verdadeiro para cada sociedade já estudada, independentemente das formas de governo de cada uma. (J. P. idem, p. 29-30)

 




Rádio Castelo Branco





 

15/11/23

Lideranças


Não me admira, e creio que não surpreende ninguém, que tenhamos chegado aqui. Os fundamentos não eram fiáveis. Este ciclo de poder foi constituído com base no poder pelo poder. A "geringonça" foi constituída por forças tão diferentes politicamente em que interessou apenas o poder. Porém, há princípios que se devem sobrepor na política, como a liberdade, a democracia, a democracia parlamentar, os direitos humanos, o relevo do social e do indivíduo.

Não ter isto em conta não é derrubar um muro, como foi dito pelo primeiro ministro demissionário, mas um limite, que  ultrapassado, nos leva para a incoerência ideológica e para uma prática  de interesses.

Por isso, esperava-se o fim deste ciclo mais cedo ou mais tarde, mas não que este desmoronamento político e moral dos líderes pudesse ter lugar numa sociedade livre e democrática.


As pessoas que formam um governo deviam passar por uma selecção mais profunda.

"O "revolucionário de profissão", o "agitador de ofício", o “politicante” deveriam ser figuras pertencentes a um passado de pesadelo e não à triste realidade de ontem, de hoje e de amanhã"… "O político do futuro devia ser, de modo particular, homem entre os homens: inspirar confiança e saber aquilo que dele se pretende, não em atenção a um credo político e oportunismos de momento mas de acordo com uma linha de conduta moral que é bem mais antiga que todas as chamadas conquistas da civilização moderna." (Andrea Devoto, A tirania psicológica, p. 410-411)

 

A tónica posta no indivíduo é fundamental porque mesmo que haja instituições democráticas, elas não fazem automaticamente um líder capaz. Como a inversa também pode acontecer.

O perfil de alguns políticos já fazia adivinhar esta instabilidade. Veja-se a insegurança com que as pessoas vivem pelo facto de não terem possibilidades de arrendar uma casa ou de pagar a prestação da respectiva habitação, veja-se insegurança na saúde com um SNS desorganizado, veja-se a escola que não há maneira de os alunos terem todas as aulas e os pais terem descanso...

Em qualquer outra chefia, exige-se um conjunto de características que na minha perspectiva deviam ser exigidas aos governantes mas na realidade parece que são dispensadas.

Há pelo menos sete aptidões psicológicas (Josef E. Klausnitzer, Como avaliar as suas qualidades de chefia,p. 222) da qualidade de chefia :

- energia física ou vitalidade, motivação de produtividade, energia psíquica ou poder de concentração,

- inteligência  e inteligencia emocional,

- capacidade de apreciação,

- capacidade de decisão,

- integridade pessoal,

- apresentação,

- poder de adaptação.

É ainda importante  a motivação ou tendência a chefiar...

"No mundo dos dirigentes verifica-se de vez em quando uma mescla de integridade e intrigas, honestidade e falta de escrúpulos, equilíbrio psíquico e ambição desmedida... Uma mera capacidade técnica, o estar na frente, o rótulo de superioridade colocado ante o nariz dos subordinadas: nada disto é chefia.” (Josef E. Klausnitzer, Idem, p. 222)


Este é todo um programa que não se aprende nas juventudes partidárias mas com trabalho e esforço na escola, onde se deve aprender política e psicologia política (Devoto, idem, p. 411), no emprego, no meio do povo.

 



Até para a semana 

 



 

Rádio Castelo Branco



08/11/23

O que é uma mulher




1. O jornalista Matt Walsh entrevistou pessoas por todo o mundo, para saber o que é uma mulher e o resultado pode ser visto no Youtube, no Documentário crítico sobre o género. O que é ser uma mulher? 

A entrevista também conta com  a opinião de Miriam Grossman, psiquiatra, e Jordan Peterson, psicólogo, que se atêm à realidade e desmontam opiniões e práticas discutíveis... 

Há quem ache que uma mulher é quem se identifica com uma mulher mas não sabe o que é essa pessoa com quem se identifica.

Matt Walsh vai para casa conforme J. Peterson lhe recomenda e pergunta à sua mulher: o que é uma mulher? A resposta: É um humano adulto fêmea.


2. Nunca me interessou o concurso das misses não era agora que isso me ia interessar. Mas não deixa de ser curioso ser  um dos temas de momento.

Miguel Sousa Tavares com José Alberto Carvalho estão a ser trucidados nas redes sociais sobre a posição que tomaram no comentário semanal.

Também  Joana Amaral Dias foi chamada de transfóbica  e até se põe em dúvida a sua formação académica ... 

O que é que está errado no que disse JAD? O que é uma mulher ? O concurso das misses é a  eleição de uma mulher? Ou de alguém que se identifica com uma mulher? Ou as duas coisas? Então digam à gente que é assim.


3. Aprendi na universidade que o ser humano era bio- psico-social, e, fora da universidade, que também era cultural e espiritual. É isto que nos faz como somos, ou dito de outro modo, são os genes e os memes. J. L. Pio Abreu explica isso em quem nos faz como somos

Estes são os factores que moldam a nossa personalidade. Para compreendermos uma pessoa temos que levar em conta todos eles. O que não é fácil.

Negar a biologia não me parece que tenha sentido se nos colocarmos numa posição racional. Cada um pode pensar que é aquilo que entende. Não será por isso que a realidade deixa de ser o que é, nem a genética se altera por grande que seja a minha vontade de ser outra coisa mesmo que seja outra coisa socialmente aceite

O que não é aceitável é que haja vantagens ou desvantagens, visíveis ou invisíveis, à partida,  de alguém, seja em que situação for, para quem disputa um concurso ou um lugar ou um emprego.


4. Leio A Religião Woke, de Jean-François Braunstein, e fico estarrecido. Se o problema teve origem nas universidades ele hoje está por todo o lado. E  isso diz respeito a cada um de nós. Temos o direito de não concordarmos com o wokismo e o dever de dizer não. Nas famílias e nas escolas.


5. O senhor ministro da educação acha que as crianças não são propriedade dos pais e que o estado lhes dá a educação que entender. Está enganado.

Há muito que aprendi com Khalil Gibran que os “Teus filhos não são teus filhos”. Mas se não são propriedade dos pais muito menos  são propriedade do estado. 

E o que também sei é que os filhos são da responsabilidade dos pais, pelo menos até aos 18 anos. E essa capacidade e responsabilidade o sr. ministro da educação não lhes pode tirar.

 

Até para a semana.

 



Rádio Castelo Branco






30/10/23

Pela Paz



Daniel Barenboim,  Beethoven - Sonata No. 8 Op. 13 (Patética) 
I. Grave -- Allegro di molto e con brio 0:19
II. Adagio cantabile 9:46
III. Rondo: Allegro 15:11

24/10/23

Bésame mucho


É o título de um livro do pediatra Carlos Gonzalez sobre a criação dos filhos com amor. 
Há muitas ideias feitas e preconceitos sobre as crianças e sobre a educação das crianças e mesmo teorias de educação e aprendizagem, simplesmente dependentes da vontade dos adultos, sem qualquer fundamento que nos permita chegar a compreender o que se passa com alguns comportamentos das crianças. Podem ser mesmo perniciosas para o seu desenvolvimento.

Começa por questionar se há crianças boas e crianças más. Muitas vezes respondemos quase automaticamente aos comportamentos desajustados das crianças com “és mau” ou fazemos comparações: “Vês, o teu irmão porta-se tão bem e tu és mau". Para muitos pais e educadores as crianças devem ser disciplinadas pelo facto de serem crianças. Já em relação aos adultos não dizemos nem fazemos o mesmo. 
É isso que CG evidencia neste livro: o desenvolvimento faz-se naturalmente e as crianças precisam de fazer as aprendizagens daquilo que lhes está a acontecer pela primeira vez: aprender a andar, aprender a falar, aprender a dormir sozinhas, aprender a comer, a controlar os esfíncteres, a estar atentas...
Claro que há aprendizagens que podem ser feitas de muitas maneiras mas nem todas respeitam a criança. (Capítulo 3 – Teorias que não defendo). Continua a haver quem ache que a disciplina se aprende com métodos aversivos e punitivos, com correctivos, com mergulhá-las em água fria, para acabar com as birras, deixá-las chorar até se calarem, sem proximidade, sem contacto, sem colo... *
Estas atitudes e comportamentos dos educadores são reforçados pelas crenças: "de pequenino se torce o pepino", "quem dá o pão dá a educação", a palmada pedagógica...
Diz CG: "A nossa sociedade não trata as crianças com o mesmo respeito com que trata os adultos. Quando falamos de um adulto, as considerações éticas têm sempre uma importância primordial, tendo prioridade sobre a eficácia ou a utilidade.” (p. 25)
É, por isso, que os castigos e as punições, inclusive as físicas, como bater numa criança, são ainda tolerados e justificados com explicações de que “até é para bem da criança”.
Claro que se aprende pelo castigo e pela punição, apenas porque a criança é pequena e o adulto tem fisicamente poder sobre a criança, e também se aprende o medo dos pais, a revolta, a injustiça, o ódio.
Questões como dormir na cama dos pais, dar colo quando chora, ou quando nos pede, ou quando faz uma birra...** pode ser que não nos ocorra a linguagem do afecto e em vez disso surja o castigo ou a punição física como imediata resposta a aplicar.

Para CG “educar mal" significa “criar mal"; isto é, com pouco carinho, poucos abraços, pouco respeito, poucos mimos. É impossível educar mal uma criança por lhe dar muita atenção, muito colo, consolá-la muito quando chora ou brincar muito com ela.” (p. 66-67)
Os pais sabem, talvez melhor do que ninguém, como educar os seus filhos. Também sabem que surgem dificuldades ao longo do desenvolvimento e, por isso, se o solicitarem, devem ser ajudados. 
E não nos podemos esquecer de que “os dias mais felizes da nossa infância são aqueles em que os nossos pais (ou os nossos avós, irmãos ou amigos) nos fizeram felizes." (p. 243)


Até para a semana.

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"Todos os castigos são inúteis", diz o pediatra do contra, Carlos Gonzalez 

19/10/23

A culpada mais desejada


 

Será impossível num mundo de culturas diferentes chegar a entendimentos comuns, de forma a podermos viver e conviver, mesmo que com conflitos, sem necessidade de usar armas para nos aniquilarmos mutuamente ?
O choque de culturas "nem sempre conduz a lutas sangrentas e a guerras devastadoras, constitui também uma oportunidade para um desenvolvimento fecundo e prometedor” (p.110). Quem nos fala assim é Karl Popper (Em busca de um mundo melhor). E continua: “Creio que a nossa civilização ocidental, apesar de tudo o que, com razão se lhe possa censurar, é a mais livre, a mais justa, a mais humana, a melhor de que temos conhecimento na história da humanidade. É a melhor porque a mais predisposta ao aperfeiçoamento."(idem)
Esta predisposição acontece um pouco por todo o mundo: “Por toda a parte na terra, os homens têm criado novos universos culturais, nas artes na economia... os universos da moral, do direito, da protecção e do auxílio às crianças, aos doentes, aos incapacitados e outros necessitados." (idem)

Mas também sabemos que a liberdade, valor fundamental social e individual, tem de ser limitada pela  ordem.  E o mesmo se passa com todos ou quase todos os valores que desejaríamos ver implementados... 

Como a paz que é mais urgente do que nunca. No entanto, não se trata de uma paz passiva tem que ser uma paz de luta, como no caso de Mahatma Gandhi, lutador da não violência.

Freud escreveu Considerações sobre a guerra e sobre a morte (1915). Na primeira parte reflecte sobre a desilusão da guerra, no caso, uma desilusão sobre a primeira Guerra Mundial.
Escreve Amaral Dias: “De acordo com Freud se houvesse uma guerra esta seria ou deveria ser uma guerra civilizada, ou seja, uma guerra em que, como ele refere, se teria cuidado com as mulheres e as crianças e ambas as partes envolvidas na guerra dariam imunidade aos feridos que deveriam ser retirados da contenda, bem como ambas dariam uma particular atenção aos médicos e aos enfermeiros.” (p.138)

O que Freud idealizou foi o modelo de sociedade  civilizada...

Para Freud “a guerra traz aos homens civilizados uma desilusão que por sua vez nos introduz numa dupla questão: o Estado que deveria de ser o guardião dos padrões morais, revela a sua baixa moralidade e os indivíduos civilizados demonstram a sua brutalidade.” (p.139)

E aqui chegados vemos o que falta fazer para que as relações entre culturas passem da hipocrisia.


Apesar de todas as críticas que são feitas à Europa civilizada, muitas que,  certamente, têm razão de ser, porque será demandada por milhares de pessoas que sofrendo as vicissitudes que conhecemos, enfrentando o desconhecido, estão dispostas a todos os riscos ? 

Certamente porque podem usufruir desses valores que nos são comuns que foram construídos ao logo de muitos séculos.

A desilusão de que fala Freud vem de quando não se entendem os valoeres da liberdade e da paz que passam pelo conflito de ideias, de palavras e de argumentos, das lutas que valem a pena, e nunca da guerra.

 


Até para a semana.




Rádio Castelo Branco






15/10/23

Ser Pai - um testemunho

  

"Não me cabe conceber nenhuma necessidade tão importante durante a infância de uma pessoa que a necessidade de sentir-se protegido por um pai”. (Freud)

A frase atribuída a Freud, ganha ainda maior relevo na medida em que também para Freud "a criança é  o pai do homem".


As relações entre  pai e filho  com todas as emoções que foram construídas ao longo dos anos, principalmente emoções positivas, são de grande riqueza e complexidade para o desenvolvimento saudável, para o equilíbrio mental e auto-estima de que necessitamos para viver. É, por isso, que ser pai é muito mais que ser progenitor. É este vínculo que se estabelece para sempre.

 

Nos tempos actuais, é notória a falta de respeito de alguns filhos para com os pais, quando  os mais velhos são atirados para fora da família e de sua própria  casa, quando são privados até do bem-estar que conseguiram construir ao longo de muitos anos. 

Podemos falar muito de como deve ser o relacionamento entre pai e filhos, sobre a parentalidade, sobre a educação... No fim, é determinante o exemplo dos pais. A modelagem funciona e através dela são aprendidos os valores evidenciados e praticados pelos pais. 

A melhor forma de sabermos como os pais educaram está no testemunho dos filhos. Sem dúvida que o orgulho dos filhos mostra bem como a educação que receberam dos pais, mesmo que não seja completamente perfeita nem de acordo com todos os critérios dos educadores encartados, é de  resultado eficaz.


É um achado encontrar nas redes sociais alguma novidade que nos faça pensar duas vezes, emocionar genuinamente e estar solidário com as pessoas que a escrevem. Mas acontece. Fui surpreendido com uma descrição que os filhos fazem do seu pai que preenche estes requisitos.

Permitam-me que partilhe este texto que tirei do Facebook do João Gonçalves. Não pude deixar de me sensibilizar pela forma como os filhos se referem ao seu pai. Há esperança, afinal, e nem tudo se perdeu na voragem da egoísmo reinante.

 

Não sabemos exatamente por onde começar.

Descrever o nosso pai é um pouco difícil nestas horas e acima de tudo, pelo seu caráter complexo, levaria muito tempo a escrever. 

O nosso pai foi um bom cristão, um grande jurista, um homem corajoso, íntegro, fiel aos seus valores, inteligentíssimo, cultíssimo, com bom gosto, com jeito para fotografia, com algum jeito para a pintura, muito jeito para escrever mas acima de tudo foi um grande PAI que nos amava muito!

É indescritível o amor do meu pai por nós. Só descrevendo os sacrifícios inimagináveis realizados tanto por ele e pela minha mãe, para que nós pudéssemos ter um futuro digno (e conseguiram!), é que se poderia compreender. 

O nosso pai foi, é e sempre será o nosso anjo da guarda! 

É com muito orgulho e honra que nós (João Oliveira, Pedro Oliveira e Maria Oliveira) dizemos que somos filho/a do António Augusto Alves de Oliveira! 

Obrigado Pai por todos os esforços e pelos sacrifícios incalculáveis ! 

A tua memória e a tua honra serão para sempre salvaguardadas por nós os 3 (+ mãe) até à morte. 

Até sempre Pai. Raul Xaves

Ps: o meu pai tinha o hábito de jogar o Euromilhões todas as terças e sextas, para ver se nos saía um milagre… 

Ao falar com o meu irmão hoje eu disse-lhe:

-Tivemos muita sorte em tê-lo como pai. 

Respondeu-me ele : eu sei, foi o nosso euromilhoes, e ele jogava essa merda todas as semanas e nós já o tínhamos…”