30/08/20

Ernesto Melo e Castro


Trabalhei com Melo e Castro no Gabinete de Defesa do Consumidor, na Direcção de Serviços de Orientação de Consumos. Gostei deste tempo maravilhoso. Gostei de trabalhar com ele. Por isso é de tristeza que me queixo da sua ausência. 
Foi ele que me alertou para o livro "A manipulação dos espíritos" (Dir. Alexandre Dorozynski) e com ele aprendi que havia um caminho estreito entre "orientação", neste caso de consumos, e "manipulação". Como hoje se tornou tão evidente com a política execrável de políticos que gosta(va)m de nos "orientar" em relação a tudo o que fazemos, bebemos, comemos... a toda a nossa vida íntima, social, cultural.
Sempre me deixou liberdade para trabalhar nos projectos que era necessário elaborar. Foi assim que colaborei com Manuel Barão da Cunha e escrevi um pequeno opúsculo sobre a prevenção do tabagismo.
E depois havia a poesia, experimental, mas sempre poesia, erótica mas poesia, visual mas poesia, concreta mas poesia... 
Engenheiro têxtil e engenheiro das palavras.
"... magnífica vida que tem sempre uma respiração em cada hora,
um contentamento em cada ser
e uma sempre nova promessa no ar não respirado." 
Autologia (pag. 36).

Até sempre.








15/08/20

13/08/20

Bilac: Tempo, Ventura e Desgraça

                                                                O TEMPO
                                  Sou o Tempo que passa, que passa,
                                  Sem princípio, sem fim, sem medida!
                                  Vou levando a Ventura e a Desgraça,
                                  Vou levando as vaidades da Vida! 
                                  A correr, de segundo em segundo,
                                  Vou formando os minutos que correm . . .
                                  Formo as horas que passam no mundo,
                                  Formo os anos que nascem e morrem.
                                  Ninguém pode evitar os meus danos . . .
                                  Vou correndo sereno e constante:
                                  Desse modo, de cem em cem anos
                                  Formo um século, e passo adiante. 
                                  Trabalhai, porque a vida é pequena,
                                  E não há para o Tempo demoras!
                                  Não gasteis os minutos sem pena!
                                  Não façais pouco caso das horas!

                                                        Olavo Bilac 

04/08/20

Hoje é dia de ouvir Marilyn

Marilyn Monroe (Norma Jeane Mortenson1 de Junho de 1926 —  4 de Agosto de 1962)  
Diamonds are a girl's best friend



NA MORTE DE MARILYN

Morreu a mais bela mulher do mundo
tão bela que não só era assim bela
como mais que chamar-lhe marilyn
devíamos mas era reservar apenas para ela
o seco sóbrio simples nome de mulher
em vez de marilyn dizer mulher
Não havia no fundo em todo o mundo outra mulher
mas...

....

Toda a mulher que era se sentiu toda sozinha
julgou que a não amavam todo tempo como que parou
quis ser até ao fim coisa que mexe coisa viva
um segundo bastou foi só estender a mão
e então o tempo sim foi coisa que passou


Antologia poética, Ruy Belo - Cidadão de longe e de ninguém, Círculo de Leitores, pags. 119-120.