29/01/14

São jovens, pensam...


Sa jeunesse
(Charles Aznavour)

Lorsque l'on tient entre ses mains, cette richesse,
Avoir vingt ans, des lendemains pleins de promesses,
Quand l'amour sur nous se penche
Pour nous offrir ses nuits blanches,
Lorsque l'on voit loin devant soi rire, la vie,
Brodée d'espoir, riche de joies et de folies,
Il faut boire jusqu'à l'ivresse
Sa jeunesse!

Car tous les instants
De nos vingt ans
Nous sont comptés
Et jamais plus
Le temps perdu
Ne nous fait face,
Il passe!

Souvent en vain on tend les mains, et l'on regrette,
Il est trop tard, sur son chemin, rien ne l'arrête!
On ne peut garder sans cesse
Sa jeunesse.

Avant que ne sourire et nous quittons l'enfance,
Avant que ne savoir la jeunesse s'en fuit.
Cela semble si court que l'on est tout surpris qu'avant que ne comprendre
On quitte l'existence.

22/01/14

Indignação


Apenas um sobreviveu.

aqui escrevi sobre os rituais de iniciação e de integração.
A importância destes rituais para a integração das pessoas tem razão de ser e tem aspectos positivos que não se podem ignorar.
Porém, a praxe académica, e todas as outras, tem vindo a criar mais problemas do que seria de imaginar. Já perdi a esperança de poder pensar que a praxe académica pode ser encarada como perspectiva de acolhimento, criando mecanismos próprios de integração dos mais novos no grupo escolar.
Alguns acontecimentos trágicos vão-se encarregando de mostrar que não é isso que tem vindo a acontecer. A praxe tem sido cada vez mais uma prática autocrática, sem qualquer tipo de controlo e que atenta contra as liberdades individuais.
Não há limites nem critérios para quem aplica a praxe. Por isso, quando acontecem casos muito graves é tarde para corrigir e apontar então com (falsas) soluções.

Ferreira Fernandes chama-lhe o nojo que sai à rua impunemente e escreve que somos mais ou menos todos cúmplices deste nojo que é a praxe. 
É completamente intolerável que se continue a assistir silenciosamente a estes rocambolescos episódios.
É necessário distinguir praxe de tradição académica. As tradições académicas devem continuar a existir mas delas não podem fazer parte actividades que são completamente contra qualquer princípio dos direitos humanos. A praxe é um dos últimos redutos onde o poder discricionário está presente mesmo que travestido de brincadeira estúpida ou de indisfarçável sadismo. A praxe não pode ser o período de tempo em que há suspensão dos direitos e deveres constitucionais.

Philip Roth em Indignação mostra um jovem estudante irredutível a convenções hipócritas, como as que se vivem no campus universitário e nas fraternidades (residências de estudantes), nos Estados Unidos, nos anos 50.
Indignação demonstra como o ir contra essas tradições e em busca de seus próprios caminhos na vida, alguns dos quais poderão incitar a ira vingativa de uma sociedade conservadora gerida por mentes tacanhas.
Indignação descreve como, no campus universitário, tudo começou à mais pequena escala e do modo mais juvenilmente inocente: com uma batalha de bolas de neve no pátio vazio…Bolas de neve que não se consegue controlar mais. 
E o último parágrafo do livro refere: A forma terrível incompreensível como as opções de uma pessoa mesmo as mais banais, fortuitas e até cómicas têm o resultado mais desproporcionado.

Quantas mais tragédias serão necessárias, quantos mais alunos ficarão traumatizados para o resto da vida académica (ou da sua vida),  quantos mais vão interiorizar essa ideia terrível de que “a praxe prepara para a vida” ?
Mas há quem tenha maior responsabilidade: Não haverá um governante, um único deputado no parlamento que proponha legislação de forma a que a praxe seja banida das tradições académicas, das universidades e do regime democrático ?

19/01/14

A fábrica das lembranças

E. Punset entrevista Martin Conway 

Foram, no mínimo, divertidas algumas lembranças sobre Eusébio e o mundial 66. Provavelmente histórias falsas, inventadas ou parciais mas deliciosas...  Mais comovedora é a tentativa de nos garantirem que são verdadeiros os factos relatados. 

Ora acontece que nós fabricamos as nossas lembranças. 
"... a conservação da memória  não só depende do cérebro apesar das mudanças estruturais, mas de todo o corpo. Em termos moleculares, o leitor deste livro não é a mesma pessoa que quando o começou a ler, e, no entanto, vive com a impressão de ser o mesmo. É fascinante o problema que se coloca em termos biológicos ao manter um a unidade de estrutura modulada por um processo dinâmico, ainda que as moléculas estejam mudando constantemente...
Que sentido tem recuperar as lembranças de infância, por exemplo, na idade adulta, se praticamente somos outra pessoa ? Talvez o façamos simplesmente porque aquelas lembranças - inconscientes até aos três anos - não se apagam nunca." (E. Punset, El viaje a la felicidad, pag. 72).

"A memória biológica não coincide necessariamente com os factos históricos; o cérebro elucubra para sobreviver. Às vezes recordam-se coisas com  a certeza de que realmente aconteceram, mas se se comprovam com dados históricos, nem sempre são certas." (idem, pag. 74).

"Num ano, a mente sofre uma transformação considerável porque a memória não é igual à memória de um computador; não se armazenam bits de informação; a mente relaciona-se com o significado, não com a informação.. Quer dizer, damos um significado às nossas experiências." (idem, pag.75).

Com frequência, posso verificar este problema da memória. Os resultados no teste Figura Complexa de Rey, mostram até que ponto, em poucos minutos, perdemos uma quantidade enorme de informação. O mais interessante, é quando a pessoa acrescenta elementos que não fazem parte da figura inicial à reprodução da respectiva figura, que chega ao ponto de ser completamente alterada quando a experiência de vida da pessoa está profundamente perturbada.

Bom ano de paz



Todos os anos temos a possibilidade de assistir ao concerto de ano novo transmitido de Viena. Neste concerto são tocadas peças que nos transportam para um mundo do passado, um mundo que não foi de paz. 
A peça "Friedenspalmen", composta por Josef Strauss, baseia-se na sangrenta batalha de Koniggratz, entre a Prússia e o Império Austríaco em 1866, e pretende "assinalar os 100 anos desta catástrofe inicial do século XX".
O concerto termina habitualmente com a Marcha Radetzky, Op. 228, de Johann Strauss, que foi composta em 1848, em honra ao marechal-de-campo austríaco Joseph Radetzky von Radetz. Lembra toda uma época de repressão e de guerras. Radetzky viria a assinar o armistício com Vítor Emanuel II. 

Os votos de cada um celebram, no início do novo ano, um mundo de paz. O futuro vai ser melhor. 
Johann Strauss II viria a superar a criação e a criatividade do progenitor.
A beleza da música, hoje, pode inspirar um mundo de paz. Uma valsa (uma imagem de paz/de todos os tempos) vale mais do que todas as guerras.

(17-8-2014). Temos aqui a versão de Karajan

Se eu aqui vivo...


mateo arquitectura establishes cultural center in castelo branco



Exposição de obras de artistas latino-americanos, pertencentes à colecção Berardo.





Foto: (c)DDF/MFTPJ – Fotógrafo José Pessoa

Peça do mês | Janeiro 2014

Nesta secção, apresentamos peças do acervo do Museu Francisco Tavares Proença Júnior, às quais queremos dar um destaque especial.
Continuamos este mês com uma das magníficas peças originárias do acervo do antigo Paço Episcopal de Castelo Branco, edifício onde está instalado o Museu desde 1971.

História de Lot
Coleção: Arte / Têxteis
Autor: Desconhecido
Oficina/Fabricante: Bélgica / Bruxelas
Datação: Século XVI
Matéria: Lã e Seda
Técnica: Oito e sete fios de urdidura por cm
Dimensões: altura: 260 cm; largura: 350 cm
Incorporação: Doação do Estado Português
Proveniência: Acervo do antigo Paço Episcopal de Castelo Branco
Inventário:  15.22 MFTPJ

Descrição: Representação de um episódio do Antigo Testamento, do livro dos Génesis capítulo XIX: “A destruição de Sodoma”. 
Em primeiro plano estão os homens de Sodoma caídos no chão, ao ser enviada dos céus uma chuva de enxofre e de fogo. 
Num plano um pouco mais atrás, no lado direito da cena, vê-se Lot a receber o aviso dos dois Anjos, e atrás dele estão as suas duas filhas. 
Também em segundo plano, mas no centro da cena, podem ver-se Lot e as duas filhas a fugirem da cidade de Sodoma antes daquela ser destruída.
Ao fundo está representada a figura da estátua de sal, a mulher de Lot, que foi castigada ao ter olhado para trás enquanto fugia, desobedecendo às ordens dos Anjos. Do lado esquerdo, no plano posterior, numa clareira de árvores, estão Lot e as suas filhas, que embriagam o seu velho pai para o seduzirem. 
Fundo com uma decoração vegetalista. Cercadura larga com profusa decoração  também vegetalista e figuras alegóricas.
Museu Tavares Proença Júnior - Peça do mês - Janeiro 2014

17/01/14

Se eu aqui vivo...





Gostava de ter uma casa de algodão,
Lá bem no alto, onde não se vê o chão.
Gostava de morar num castelo branco,
Escadas de chuva e um vaso em cada canto.
Um campo de árvores e um belo jardim
Sementes de mel um mundo só pra mim.
Um tecto azul janelas por abrir
Mas quem te disse a ti, que eu ia fugir
Para quê!?
Se o sol nasce, continua a nascer,
A nascer...
Correr para onde!?
Se eu aqui vivo
Ou será sobreviver!?
(Fugir para quê - Alcoolémia)

10/01/14

Ano novo, vida nova

   Reprodução
Fontes: Schaie, K. W. & Zanjani, F. (2006). Intellectual development across adulthood, In c. Hoare (Ed.), Oxford handbook of adult development and learning. (pp. 99-122) New York: Oxford University Press

Envelhecer faz parte do ciclo de vida. Esta etapa é constituída por um grupo de pessoas cada vez mais numeroso e em algumas sociedades como a portuguesa ganhou enorme importância demográfica.
Por isso, o envelhecimento é cada vez mais preocupação das sociedades e das pessoas individualmente.
De facto, é nesta etapa da vida que começam alguns problemas de saúde a que não estávamos habituados. E realmente preocupa-nos o que está a acontecer ao nosso cérebro, quando aparecem os primeiros esquecimentos, os nomes das pessoas que nos esforçamos por lembrar ou não nos lembramos onde deixámos os óculos.
É verdade que, na meia-idade (40-70 anos), começam a existir algumas falhas e o nosso cérebro vai perdendo algumas capacidades.
Mas este é também um tempo em que o desenvolvimento pode ter mais ou menos qualidade. Ou seja, há uma forma “normal” de envelhecer e uma for patológica. Há esquecimentos normais e há a situações patológicas.
A investigação cientifica tem vindo a mostrar que o envelhecimento não é apenas o declínio das nossas faculdades mentais e físicas, mas, pelo contrário, vem dar-nos uma nova visão do envelhecimento e fazer alguma revelações sobre o nosso cérebro.
A ciência através das novas tecnologias como os scanners cerebrais e novas metodologias de investigação a longo prazo e com pessoas reais, tem mostrado que a visão que tínhamos do envelhecimento era "incompleta e enganosa“. 
Criaram-se alguns mitos que têm vindo a ser desmentidos pela investigação científica (Ver Barbara Strauch):
O mito de que perdemos 30 por cento das nossas células cerebrais à medida que envelhecemos.
O facto é que nós realmente mantemos a maioria das nossas células cerebrais durante o tempo que vivemos.
Outro mito é de que o nosso cérebro pára de se desenvolver aos 20 anos. Sabemos agora que o nosso cérebro continua a desenvolver-se, mudar e adaptar-se.
Ganhamos novas sinapses devido à nossa experiência que nos permitem reconhecer padrões mais rapidamente, fazer melhores julgamentos e encontrar soluções únicas para os problemas. Os cientistas chamam a essas características "especialização cognitiva" e atingem o seu pico na meia-idade.
Outro mito diz que os nossos cérebros funcionam melhor aos 20 anos. Mas na verdade, o nosso cérebro, na maioria das áreas importantes, atingem o seu auge na meia-idade. 
Somos melhores nas áreas do raciocínio indutivo, vocabulário, julgamento e a encontrar soluções. 
Podemos inclusive ser mais criativos.
"Se alguns neurónios podem ser danificados pelo tempo, há outros – até mesmo regiões inteiras do cérebro – que passam a funcionar melhor. O raciocínio complexo, usado para analisar uma situação e encontrar soluções, é aperfeiçoado”(Gary Small).
O mito de que a demência é inevitável. Sabemos que há um número cada vez maior de pessoas cujos cérebros permanecem em grande parte intactos até aos 90 anos.
Outro mito diz que não há nada que possamos fazer para melhorar o nosso cérebro.
Mas sabemos que há muitas coisas que podemos fazer para essa melhoria: a actividade física, a actividade intelectual, a alimentação, por exemplo, podem fazer a diferença. 
É, por isso, importante desenvolver hábitos saudáveis nestas áreas. São uma garantia para podermos envelhecer com qualidade de vida.
Faço votos para que 2014 seja o começo dessa diferença que depende das nossas atitudes e comportamentos.

04/01/14

Tróicas há muitas...


Procuro vislumbrar as alternativas para a austeridade e encontrar um programa que lhe ponha fim imediato. Procuro enxergar alternativas para a maldita palavra e para o orçamento inútil que a traduz. 

Não são certamente as tróicas perigosas que o farão:

Ao contrário, há outras tróicas "virtuosas" que têm a solução: a tróica Félix-Leite-Ferreira, Carlos-Nogueira-Avoila, Pereira (P)-Soares-Matias, Sócrates-Costa-Pereira (S)...
Há soluções mas não as dizem.. Cheguei a ter esperança quando, ontem, no habitual comentário (TVI), Ferreira Leite disse que havia uma solução ... mas, logo a seguir, acrescentou "que não ia dizer".

Pelo menos o autor de "austeridade - uma ideia perigosa", apresenta uma alternativa: 
"Como alternativa, o autor da investigação defende a "repressão financeira" assim como um esforço renovado na coleta de impostos "sobre os mais ganhadores", a nível mundial, assim como a procura de riqueza que se encontra "escondida em offshores" e que os Estados "sabem" onde está.
"Na verdade, um novo estudo da Tax Justice Network calcula que haja 32 mil biliões de dólares, que é mais duas vezes o total da dívida nacional dos Estados Unidos, escondidos em offshores, sem pagar impostos" (página 358), conclui Mark Blyth no livro "Austeridade - A história de uma ideia perigosa." 

A sério, vale a pena, talvez, regressar à encruzilhada do passado, para encontrarmos o caminho do futuro.
A questão é: poderá haver prosperidade sem crescimento ? Crescimento significa sempre prosperidade ? Para haver prosperidade tem que haver crescimento ?
"Depois do desastre não tem faltado quem pregue sobre ele. Mas há muito que vinham sendo lançados alertas sobre a (in)viabilidade do sistema económico e financeiro em que a nossa euforia assentava ... e não só económica e financeira, também ambiental e eco-social. É desses avisos antigos que convém tirar agora a lição tardia - uma lição que anda toda em redor da palavra 'sustentabilidade'.
O crédito de alto risco era insustentável. O sistema financeiro que dançou nesse arame era insustentável. A pressão crescente sobre os recursos naturais era insustentável. A omissão eterna da fome e da pobreza era insustentável. O modelo de consumo que todas estas insustentabilidades alimentavam era - e é- insustentável." (Luísa Schmidt, Prosperidade sem crescimento? Expresso,30 de Outubro de 2010).

A discussão sobre o crescimento sustentável e sobre o decrescimento sereno, não pode ser ignorada pelas tróicas de todos os quadrantes, principalmente pelas que se auto-avaliam como virtuosas.
(Ver também: Tim Jackson, Prosperity without growth? The transition to a sustainable economy; Less is more;  Harald Welzer ).

Não deixa de ser patético ouvir quem nos meteu no desastre pregar sobre a solução que, normalmente, passa pelo crescimento mas sem dizer como se faz de forma diferente da que está a ser feita.