25/11/10

E agora ?

Enquanto Hitler  invadia a Rússia, a Alemanha continuava a receber carregamentos de minerais vindos da Rússia porque Estaline apesar de ter sido informado do plano de Hitler não acreditou nessa informação. Esses carregamentos de minerais destinavam-se a fabricar as armas que seriam enviadas para a Rússia que iam servir para matar o seu próprio povo.
Mutatis mutandis, tivemos a oportunidade de perceber o que se passava com o governo de Guterres quando falou no "pântano". Mas ninguém acreditou.
Houve um 1° ministro, Durão Barroso, que disse que o país estava "de tanga", e um senhor presidente que o contradisse porque havia "mais vida para além do défice". Não acreditou.
M. Ferreira Leite, avisou e continua ainda a avisar como a voz que clama no deserto. Mas ninguém acreditou. ..
O orçamento de Bagão Félix não dava magalhães  nem SCUTS. Mas ninguém acreditou.
A Assembleia foi dissolvida por trapalhadas que ninguém soube, ou sabe hoje, verdadeiramente, quais eram, e que comparadas com as trapalhadas actuais ficam nos primórdios da trapalhice.
Assistimos à maior falta de solidariedade política em relação a Santana Lopes e ao seu governo, não só dos adversários políticos, que desses nada seria de esperar, contrariamente aquilo que se passa com Passos Coelho em relação a Sócrates, mas dos correligionários e próximos do seu partido.
Nada disto era importante se não tivéssemos chegado a este ponto.
O golpe funcionou:  Por duas vezes se votou na voz embaladora e mentirosa da sereia da ostentação.
Continuam a querer vender-nos um estado social que simplesmente não existe e as sondagens estão aí para mostrar que, estando o país empobrecido, havemos de viajar para Madrid de TGV.
Os magalhães estão, provavelmente, quase todos inutilizados mas foi bonito ver os estudantes de computador na pasta que para pouco mais serviram, com raras excepções...
Mesmo quando  se fornecem refeições gratuitas aos alunos, se abrem as cantinas nos fins de semana e durante as férias para as crianças não passarem fome.
Este atavismo não é actual. Sempre gostámos de ostentação.
No dia seguinte à greve geral cabe perguntar: E agora?
Para que vai servir o meu voto, a única arma consequente, nas próximas eleições? Para quem fala verdade, mesmo que seja difícil escutá-la, ou para os que prometem tudo a todos sem esperarem nunca cumprir as promessas feitas? Com toda a informação que temos, continuamos a acreditar apenas no que queremos. 
Para além do protesto que fica da greve geral é necessário fazer alguma coisa: votar contra as falsas promessas e contra a mentira.
A única arma de que um cidadão, como eu, dispõe, realmente, e  pode causar efeitos concretos é uma arma democrática: um voto.

24/11/10

personalidade-base


«A maior desgraça da nossa história, a infeliz campanha de Alcácer Quibir, em que desapareceu D. Sebastião, com a élite militar do seu tempo, não passou de um grande sonho vivido, de trágicas consequências. Mas a história está cheia de curiosos episódios, como o do Magriço e os Doze de Inglaterra, que vão defender em torneio umas damas ultrajadas por cavaleiros ingleses, a comprovar o fundo de sonhador activo do Português. Além disso, o desprezo pelo pelo interesse mesquinho e o gosto pela ostentação e pelo luxo nunca nos permitiram o aproveitamento eficaz das grandes fontes de riqueza exploradas. Os tesouros passavam pelas nossas mãos e iam-se acumular nos povos mais práticos e bem dotados para capitalizar, como os Holandeses e os Ingleses. Soubemos traficar, mas faltou-nos sempre o sentido capitalista. No século XVI, quando Lisboa era o grande empório do Mundo, sob o brilho do luxo já se ocultava a miséria. Gil Vicente descreve os fidalgos cobertos de rendas e brocados, com a sua corte de lacaios, mas sem dinheiro para comer. Ao contrário dos povos burgueses do Norte e Centro da Europa, o nosso luxo não é um requinte que resulte do conforto, é-lhe quase oposto; é mero produto da imaginação, e não dos sentidos. Ainda hoje temos as camas mais duras da Europa e as ruas estão repletas de automóveis de luxo. São poucas as casas ricas com aquecimento e muitas delas não têm uma sala de estar. Mas essas mesmas casas têm salas de visitas ou até salões de baile cheios de porcelanas da Índia e da China. As pessoas modestas, cujas casas são despidas do mínimo conforto, andam nas ruas vestidas com elegância ou com luxo. Um pequeno empregado de comércio, de pouco ilustração e educação, faz mais figura na rua do que um intelectual alemão ou suíço de boa família e com recursos. Da mesma maneira, qualquer empregadita, que mal ganha para se alimentar, anda vestida impecavelmente e pela última moda.» (pg.31-33)

17/11/10

Deixar de fumar

O problema da mudança de comportamento no caso do tabagismo tem vindo a merecer importância na nossa sociedade. Até há um dia do não fumador .
Este progresso deve-se à intervenção de várias pessoas e instituições que a partir dos anos 80 lutaram para que houvesse uma mudança substancial no consumo de tabaco como Fernando de Pádua e Manuel Barão da Cunha.
Fizeram-se progressos extraordinários e as estratégias que então definíamos para estas situações no campo da modificação dos comportamentos de risco para a saúde não estão ultrapassadas.
As medidas legislativas têm necessariamente quatro vertentes: medidas legislativas educativas/formativas, informativas, proibitivas, punitivas. Estas medidas devem estar em interligação com a investigação e com a avaliação.
Esta parece-me ser ainda hoje a metodologia para qualquer projecto de alteração de comportamentos prejudiciais à saúde.
A legislação proibitiva e punitiva sofreu grande alteração. Mas verificamos que às vezes ficamos apenas nas medidas legislativas proibitivas e punitivas.
Continuo a estar preocupado com o que acontece nas escolas. Apesar de ser proibido fumar nas escolas, isso não tem tradução directa no comportamento dos alunos. O consumo de tabaco pelos pré-adolescentes e adolescentes não abrandou. A medida proibitiva do consumo de tabaco na escola não reduziu drasticamente o comportamento tabágico.
A grande maioria dos consumidores inicia-se na escola, ou do outro lado do portão da escola. O que não é novidade uma vez que é na escola que passam o dia e é na escola que está um dos factores de pressão mais importantes para começar e continuar a fumar: os pares.
Sabemos também que a educação para a saúde, após tanto estudo realizado, continua a ter pouco significado e pouco impacto na modificação dos comportamentos.
É que mudar comportamentos é a tarefa mais difícil da educação. E não é apenas com medidas legislativas proibitivas e punitivas que isso se resolve.
O que fazer nas escolas ? O que fazer com os alunos ?
Foi positivo terem acabado as salas de fumo para os trabalhadores. Mas fumar ao portão da escola não é a melhor modelagem que podemos ter .
Se para alguns pais é sempre uma surpresa serem informados destes comportamentos dos seus filhos, noutros casos poderão, eventualmente, até ser incentivados em casa.
Há alguns pais que dão dinheiro para a compra de tabaco. Ou, o que é o mesmo, dão dinheiro para o lanche que, sabem ou desconfiam, terá outros fins, dado que não há qualquer controlo em relação a isso.
Há pais que não exercem a modelagem em casa em relação ao tabaco como em relação a outros comportamentos. ...
Então como mudar os comportamentos? Será que queremos mesmo mudar?

15/11/10

Medos e afectos

Casa-Museu Afonso Lopes Vieira
A. tem vindo a mostrar comportamentos pouco racionais na escola e em casa. Situando-se intelectualmente acima da média, tem vindo a sentir dificuldades no desempenho escolar. Mas o pior é quando está numa situação em que tem que se sujeitar aos comentários e às eventuais criticas dos outros. Acaba por falhar na realização e não é capaz do nível de desempenho que à partida deveria atingir.
O problema é tanto maior quanto esta situação é origem de comportamentos também desajustados na família revelando-se na sua incapacidade para ficar sozinho e dormir sozinho, atrapalhando a vida familiar.
Tem também conversões somáticas como vomitar.
Quando se aproxima a situação de ter que ficar sozinho, tudo aparece de novo reactivando estes comportamentos.
Pesquisando sobre o que se passa com os seus medos podemos verificar que eles se enquadram no âmbito do:
- medo do falhanço e da crítica
- medo do perigo, morte e ferimentos
e ainda medo do desconhecido.
Parece, assim, que estamos perante uma perturbação de ansiedade generalizada.
Nesta situação, ansiedade e preocupação estão associadas a alguns sintomas bastando estar um presente no caso das crianças.
Esses sintomas são os seguintes:
- Agitação, nervosismo ou tensão interior
- Fadiga fácil
- Dificuldade de concentração ou esquecimentos devidos a ansiedade
- Irritabilidade
- Tensão muscular
- Perturbação do sono (dificuldade em adormecer ou dormir).
Não podemos aligeirar esta situação não dando relevo a estes comportamentos.
O que acontece para além desses sintomas, é um verdadeiro sofrimento por parte das crianças que manifestam esta perturbação.
Embora os sintomas possam ser físicos a sua origem é psicológica. No entanto, é necessário saber se nada tem a ver com problemas físicos. Além disso, não se pode limitar a descartar o doente com um diagnóstico de “crise de ansiedade” como se isso não tivesse importância.
E muito menos de que se trata de um menino mimado ou que faça o próprio sentir-se pouco racional, desclassificando-o e pensando que é descontrolado dos nervos.
A intervenção psicológica é aqui fundamental e alguém deve conseguir explicar por que razões o seu sistema nervoso reagiu de forma exagerada.
Mas, então, como é que se explica «racionalmente» uma crise de ansiedade generalizada ?
O A. fez uma apreciação exagerada da situação. Por isso é necessário
- reconduzir a ansiedade da criança a uma situação mais real para reduzir a importância dos medos.
- perceber que está a chamar a atenção para a sua vida familiar.
- que há um sofrimento imenso que é preciso ajudar a ultrapassar.
- Compreender que o nosso tipo de vida, cheio de stresse e de raivas, produz dentro de nós medos, como aqueles que se escondem debaixo da cama do A..
Cortar o círculo vicioso do medo é difícil, mas fundamental. Não se consegue apenas com ansiolíticos. É necessária a ajuda de um psicoterapeuta que através do trabalho interior pode levar a uma vida normal, mesmo que o medo do medo não desapareça completamente.
Este trabalho interior passa pela família que novamente está no centro desta situação.
O medo de perder as pessoas do afecto pode ser o problema essencial.
E então estamos no campo da perturbação de ansiedade de separação.
Enfrentar os medos é o caminho de quem é mais forte do que o próprio medo e com a ajuda dos técnicos e da família é possível ultrapassar.

12/11/10

Nem direitos adquiridos nem compromissos assumidos?

Parece que não ficará pedra sobre pedra no final desta tristíssima governação.
O “estarmos de tanga”, de Barroso e o “estarmos no pântano”, de Guterres, verdades como punhos que nos doeram e doem mas que são honestas, correctas e realistas, virou farsa completa. Um fim de ciclo arrepiante para quem ainda tem valores.
Os valores dos compromissos assumidos.
Os direitos adquiridos já não existem. E a qualquer momento cada cidadão espera (o) pior.
Houve tempos em que a palavra bastava. Hoje, o compromisso pode estar escrito, timbrado, selado e avalizado que pode ir para o lixo quando a parte mais forte, o estado, isto é, o governo, assim o entende.
Transferiram serviços para as autarquias como o serviço não docente da educação.
Assinaram acordos. Assumiram compromissos.
Para quê? Acusam-se mutuamente de que um deve ao outro e outro diz que está tudo pago.
O que se passa com a gestão de pessoal é um pesadelo.
Agora é a ADSE. O trabalhador fica dependurado com os recibos dos médicos porque a autarquia diz que não é com ela. E a ADSE diz que o trabalhador é da autarquia.
Os resultados da avaliação de desempenho são letra morta.
Os recursos humanos da educação são cada vez mais escassos...
Este povo trabalhador, ordeiro, respeitador, com valores, perdeu os direitos adquiridos e, pelos vistos, também já não merece os compromissos assumidos.

A queda

"Julgando que seguiam uma raiz até lá ao fundo, Curvaldo e Ferdibunda foram dar à ponta de um ramo.
- Mas isto não é uma passagem subterrânea... Estamos no vazio... O ramo está a ceder, vou cair, socorro!"

Italo Calvino, Um mistério no labirinto.

10/11/10

Dislexia


Um dos problema escolares que mais preocupa os educadores, pais e professores, é, no início da escolaridade, a aprendizagem da leitura e escrita.
Os pais são confrontados pela primeira vez com as dificuldades que os filhos apresentam na escola. Uma dessas dificuldades diz respeito à dislexia
Ao contrário do que parece, porque com alguma facilidade se fala de dislexia em relação a um aluno que encontra dificuldades de leitura, convém dizer que não há consenso sobre este assunto da dislexia. Nem quanto à sua etiologia nem quanto ao seu tratamento.
É um problema grave que atinge percentagens de 5 a 10% na população escolar.
Alguns consensos no entanto têm sido encontrados. Trata-se de uma questão genética.
Os pais de crianças disléxicas sempre tiveram consciência de que, ao aprender a ler, os filhos passam pelas mesmas dificuldades que eles próprios experimentaram na sua fase escolar.
Há estudos que indicaram o cromossoma 6 e o cromossoma 15 como o foco do problema.
Por outro lado, sabemos que, nos vários estudos realizados há uma grande desproporção entre rapazes e raparigas disléxicas, 70 a 80% dos sujeitos diagnosticados com perturbação da leitura são do sexo masculino, ou seja, uma proporção de 8 a 9 rapazes para uma rapariga.
A dislexia é «uma dificuldade específica de aprendizagem de origem neurobiológica. É caracterizada por dificuldades na correcção e/ou fluência na leitura de palavras e por baixa competência leitora e ortográfica. Estas dificuldades resultam de um défice fonológico, inesperado, em relação às outras capacidades cognitivas e às condições educativas. Secundariamente podem surgir dificuldades de compreensão leitora, experiência de leitura reduzida que pode impedir o desenvolvimento do vocabulário e dos conhecimentos gerais»(Associação Internacional de Dislexia, 2003).
tendo em conta esta , ou outra, definição, deve ser feita a avaliação da dislexia com base num protocolo rigoroso.
A criança deve apresentar determinadas características e sintomas de que destaco os mais importantes:
- A criança deve ter oito anos ou mais.
- Ter atraso na leitura de dois ou mais anos em relação às crianças da mesma idade.
- Velocidade na leitura ser inferior a 50/60 palavras por minuto.
- Cometer erros frequentes na leitura (omissões, substituições, inversões de fonemas).
- Compreensão do texto muito pobre
- Ter uma inteligência normal (ou superior).
- Não apresentar perturbação sensorial (problemas de audição ou de visão).
Perante um aluno que apresenta uma situação destas, a primeira coisa a fazer é que a família estabeleça relações com a escola de forma transparente, no sentido em que os pais devem fornecer à escola elementos sobre o desenvolvimento dos filhos.
As dificuldades só podem ser compreendidas, tratadas e se, for possível, ultrapassadas se a informação entre escola e família funcionar.
Se no 4º ano de escolaridade identificar é muito tarde para identificar uma dislexia,  não devemos entrar em ansiedade quando, no início da escolaridade, encontramos alunos que têm dificuldade em se adaptar à escola e a essa grande tarefa que é aprender a ler.

04/11/10

“Deixem a escola em paz”

Por uma cultura de paz e de não violência

 
M. Filomena Mónica (1) escreveu um artigo "deixem os professores em paz" que pode ser extensivo a toda a escola.
"Há 30 anos ... O ambiente que ali se respirava reflectia a cultura que as crianças traziam de casa: mesmo quando não livresco, o ethos era hierárquico".
A escola, hoje, é diferente da escola de há alguns anos. O papel do professor também é diferente. Mas dentro das diferenças o que deve permanecer? Creio que no fundamental a escola deveria continuar a respirar cultura e hierarquia.
Infelizmente não é o que está a acontecer nas escolas concretas, no terreno.
Algumas estatísticas não traduzem a profundidade do fenómeno da indisciplina, da falta de respeito e da violência.
Alguns profissionais, principalmente os professores já não ligam, não respondem ao questionários sobre indisciplina e violência, não falam sobre o assunto, vão vivendo e vivenciando, às vezes sozinhos, o drama de terem que suportar situações de grande stress e esgotamento.
Fragilizados, alguns são maltratados verbalmente outros chegam a ser batidos por alunos e por encarregados de educação.
O professor é apenas uma parte do sistema mas por isso mesmo o ambiente escolar deve ser sensível às necessidades dos profissionais que ali trabalham. É por eles que começa a humanização da escola. Se forem tratados com violência todo o sistema se ressente.
O que se percebe é que as leis não são de molde a por travão à violência escolar mas ao contrário têm servido para que a acção dos professores seja neutralizada, deixando-os em situações de conflito e às vezes situações humilhantes.
Por exemplo, sabemos que muita da indisciplina acontece nas áreas de enriquecimento curricular (aec's) e provavelmente ela contamina todo o ambiente da escola e da parte lectiva propriamente dita.
Sabemos que muita da indisciplina acontece nos intervalos, no refeitório, sem que se tomem medidas para melhorar esta situação.
E o que se faz com alunos entre os 15 e os 20 anos ou mais que não concluíram o ensino básico ?
É legitimo reter uma criança na escola quando os pais acham que pela sua cultura uma criança não deve ficar na escola quando entra na adolescência ? Se é, que medidas se tomam ?
Além disso, o que choca é que, actualmente, são, ou pelo menos parece que são, os alunos e os encarregados de educação quem dita as regras mesmo nos níveis mais baixos de escolaridade.
Sabemos que as regras devem ser discutidas com os alunos pelo menos com os mais velhos e com os encarregados de educação e uma vez aprovadas devem ser aceites e cumpridas.
O que pensar quando se chega ao ponto em que os encarregados de educação querem que os professores  usem determinadas pedagogias e métodos de ensino porque acham que os seus educandos assim é que aprendem.
A escola é reflexo da cultura que se traz de casa. Se há trinta anos era assim, hoje também o é. Muitas destas situações reflectem uma cultura menos letrada, muitos pais têm níveis de literacia muito baixos, e, o que é mais relevante e preocupante, aparentam níveis de moralidade abaixo do desejável.
Não podemos confundir valores morais com regras convencionais. Estas podem ser alteradas mas os valores nunca o poderão ser, sejam os pais de uma ou outra cultura, letrados ou não.

 (1) Mónica, M. F. (2008). Vale a pena mandar os filhos à escola ? , Lisboa: Relógio d'Água.