Por uma cultura de paz e de não violência
M. Filomena Mónica (1) escreveu um artigo "deixem os professores em paz" que pode ser extensivo a toda a escola.
"Há 30 anos ... O ambiente que ali se respirava reflectia a cultura que as crianças traziam de casa: mesmo quando não livresco, o ethos era hierárquico".
A escola, hoje, é diferente da escola de há alguns anos. O papel do professor também é diferente. Mas dentro das diferenças o que deve permanecer? Creio que no fundamental a escola deveria continuar a respirar cultura e hierarquia.
Infelizmente não é o que está a acontecer nas escolas concretas, no terreno.
Algumas estatísticas não traduzem a profundidade do fenómeno da indisciplina, da falta de respeito e da violência.
Alguns profissionais, principalmente os professores já não ligam, não respondem ao questionários sobre indisciplina e violência, não falam sobre o assunto, vão vivendo e vivenciando, às vezes sozinhos, o drama de terem que suportar situações de grande stress e esgotamento.
Fragilizados, alguns são maltratados verbalmente outros chegam a ser batidos por alunos e por encarregados de educação.
O professor é apenas uma parte do sistema mas por isso mesmo o ambiente escolar deve ser sensível às necessidades dos profissionais que ali trabalham. É por eles que começa a humanização da escola. Se forem tratados com violência todo o sistema se ressente.
O que se percebe é que as leis não são de molde a por travão à violência escolar mas ao contrário têm servido para que a acção dos professores seja neutralizada, deixando-os em situações de conflito e às vezes situações humilhantes.
Por exemplo, sabemos que muita da indisciplina acontece nas áreas de enriquecimento curricular (aec's) e provavelmente ela contamina todo o ambiente da escola e da parte lectiva propriamente dita.
Sabemos que muita da indisciplina acontece nos intervalos, no refeitório, sem que se tomem medidas para melhorar esta situação.
E o que se faz com alunos entre os 15 e os 20 anos ou mais que não concluíram o ensino básico ?
É legitimo reter uma criança na escola quando os pais acham que pela sua cultura uma criança não deve ficar na escola quando entra na adolescência ? Se é, que medidas se tomam ?
Além disso, o que choca é que, actualmente, são, ou pelo menos parece que são, os alunos e os encarregados de educação quem dita as regras mesmo nos níveis mais baixos de escolaridade.
Sabemos que as regras devem ser discutidas com os alunos pelo menos com os mais velhos e com os encarregados de educação e uma vez aprovadas devem ser aceites e cumpridas.
O que pensar quando se chega ao ponto em que os encarregados de educação querem que os professores usem determinadas pedagogias e métodos de ensino porque acham que os seus educandos assim é que aprendem.
A escola é reflexo da cultura que se traz de casa. Se há trinta anos era assim, hoje também o é. Muitas destas situações reflectem uma cultura menos letrada, muitos pais têm níveis de literacia muito baixos, e, o que é mais relevante e preocupante, aparentam níveis de moralidade abaixo do desejável.
Não podemos confundir valores morais com regras convencionais. Estas podem ser alteradas mas os valores nunca o poderão ser, sejam os pais de uma ou outra cultura, letrados ou não.
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