15/11/10

Medos e afectos

Casa-Museu Afonso Lopes Vieira
A. tem vindo a mostrar comportamentos pouco racionais na escola e em casa. Situando-se intelectualmente acima da média, tem vindo a sentir dificuldades no desempenho escolar. Mas o pior é quando está numa situação em que tem que se sujeitar aos comentários e às eventuais criticas dos outros. Acaba por falhar na realização e não é capaz do nível de desempenho que à partida deveria atingir.
O problema é tanto maior quanto esta situação é origem de comportamentos também desajustados na família revelando-se na sua incapacidade para ficar sozinho e dormir sozinho, atrapalhando a vida familiar.
Tem também conversões somáticas como vomitar.
Quando se aproxima a situação de ter que ficar sozinho, tudo aparece de novo reactivando estes comportamentos.
Pesquisando sobre o que se passa com os seus medos podemos verificar que eles se enquadram no âmbito do:
- medo do falhanço e da crítica
- medo do perigo, morte e ferimentos
e ainda medo do desconhecido.
Parece, assim, que estamos perante uma perturbação de ansiedade generalizada.
Nesta situação, ansiedade e preocupação estão associadas a alguns sintomas bastando estar um presente no caso das crianças.
Esses sintomas são os seguintes:
- Agitação, nervosismo ou tensão interior
- Fadiga fácil
- Dificuldade de concentração ou esquecimentos devidos a ansiedade
- Irritabilidade
- Tensão muscular
- Perturbação do sono (dificuldade em adormecer ou dormir).
Não podemos aligeirar esta situação não dando relevo a estes comportamentos.
O que acontece para além desses sintomas, é um verdadeiro sofrimento por parte das crianças que manifestam esta perturbação.
Embora os sintomas possam ser físicos a sua origem é psicológica. No entanto, é necessário saber se nada tem a ver com problemas físicos. Além disso, não se pode limitar a descartar o doente com um diagnóstico de “crise de ansiedade” como se isso não tivesse importância.
E muito menos de que se trata de um menino mimado ou que faça o próprio sentir-se pouco racional, desclassificando-o e pensando que é descontrolado dos nervos.
A intervenção psicológica é aqui fundamental e alguém deve conseguir explicar por que razões o seu sistema nervoso reagiu de forma exagerada.
Mas, então, como é que se explica «racionalmente» uma crise de ansiedade generalizada ?
O A. fez uma apreciação exagerada da situação. Por isso é necessário
- reconduzir a ansiedade da criança a uma situação mais real para reduzir a importância dos medos.
- perceber que está a chamar a atenção para a sua vida familiar.
- que há um sofrimento imenso que é preciso ajudar a ultrapassar.
- Compreender que o nosso tipo de vida, cheio de stresse e de raivas, produz dentro de nós medos, como aqueles que se escondem debaixo da cama do A..
Cortar o círculo vicioso do medo é difícil, mas fundamental. Não se consegue apenas com ansiolíticos. É necessária a ajuda de um psicoterapeuta que através do trabalho interior pode levar a uma vida normal, mesmo que o medo do medo não desapareça completamente.
Este trabalho interior passa pela família que novamente está no centro desta situação.
O medo de perder as pessoas do afecto pode ser o problema essencial.
E então estamos no campo da perturbação de ansiedade de separação.
Enfrentar os medos é o caminho de quem é mais forte do que o próprio medo e com a ajuda dos técnicos e da família é possível ultrapassar.

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