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21/11/22

“É preciso acabar com os professores com a casa às costas”

Quem faz o favor de ler algumas coisas que escrevo neste blogue sabe o que penso de António Costa. O primeiro-ministro era para mim um assunto arrumado. E não pensava  perder mais tempo com um caso arrumado.  
Porém, surge esta notícia. E não é que uma coisa que ando a dizer há tantos anos, de repente, parece que vai merecer alguma atenção da parte do poder? Finalmente, uma reforma estrutural? Já era tempo. A esperança é a última a morrer.
"Apesar do realismo destas medidas nada há a esperar em matéria de reformismo  do actual Ministério da educação, ou deste governo, durante o resto do mandato mas a esperança é a árvore frágil que tenta sobreviver a tudo, é "essa menina, que arrasta tudo consigo". (Péguy)
Transcrevo apenas um dos aspectos (Reformar e investir em educação 2da intervenção que considero necessária em matéria de educação. Uma reforma do sector da educação seria muito mais extensa. Mas já é alguma coisa face à escassez de medidas positivas neste sector.
3. Estabilização dos recursos humanos
Negociar com os sindicatos de professores o tempo de serviço de  9 A 4 M 2 D: as formas possíveis de gestão deste tempo efectuado pelos professores e que de forma nenhuma lhes pode ser sonegado.
Alterar o sistema de recrutamento e selecção de professores: terminar com a centralização dos concursos, com benefício para a redução da deslocação de professores, contra o centralismo educativo saloio e provinciano do ministério da educação: concursos de professores, parque escolar...
Número limite de turmas/professor. Não faz sentido que um professor possa leccionar 500 alunos, como um professor de TIC, por exemplo, uma vez por semana...
Técnicos especializados: psicólogos, terapeutas da fala, intérpretes de LGP, formadores/prof de LGP - eliminação da precariedade e entrada no quadro após 3 anos de serviço efectivo.
A gestão estratégica dos recursos humanos da educação passa por um "Programa de rejuvenescimento do corpo docente", proposto  por António Costa Silva, com o qual estou de acordo (Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030)

 Aqui fica a notícia da Lusa/ Público com foto e tudo...



“Não há nenhuma razão para que isto aconteça”, frisou António Costa a propósito de os professores nunca saberem se vão ficar perto ou longe de casa.
Lusa, 19 de Novembro de 2022, 15:27
 
Foto - António Costa falou dos professores num congresso regional do PS (LUSA/Miguel Pereira da Silva)



"O secretário-geral do PS, António Costa, defendeu este sábado que é preciso acabar com a situação dos professores com a “casa às costas” e mostrou-se confiante num acordo com os sindicatos do sector.

“Esperamos chegar a acordo com os sindicatos para que seja possível acabar, de uma vez por todas, com os professores com a ‘casa às costas’ e que possam, assim que sejam contratados, vincular-se na escola onde estão e só saírem de lá se um dia o desejarem”, disse.

António Costa falava na Covilhã, no XX Congresso Federativo do PS Castelo Branco, numa intervenção que foi acompanhada online nos congressos federativos socialistas de outras regiões, que também estão a decorrer neste sábado.

Durante a sessão, o líder socialista e primeiro-ministro reiterou o compromisso com a execução de “reformas estruturais”, destacando a situação dos professores e a necessidade de mudar o modelo de vinculação.

Costa lembrou que já foi aberto um processo de negociação sindical para alteração do modelo de vinculação dos professores e assumiu que “não há nenhuma razão” para que esta seja “a única carreira em todo o Estado” que tem de se apresentar a concurso de quatro em quatro anos.

António Costa reconheceu o problema que representa para os professores não saberem se vão ficar perto ou longe de casa e se vão ter de andar com a “casa às costas”, “sem saber onde é que se podem vincular”. “Não há nenhuma razão para que isto aconteça”, vincou.

Apontando que a estabilidade do corpo docente reforça a qualidade da educação, destacou que este é um ganho fundamental que tem de se conseguir."





29/09/22

A primeira vez: a entrada na escola (2)



  

A entrada na escola bem sucedida depende essencialmente de dois factores: os pais e os professores. Comecei por falar do impacto que a entrada dos filhos na escola tem para as famílias. Não se pode deixar de reconhecer o outro lado fundamental deste processo inicial: os professores.
Obviamente, as diversas estruturas da escola e o sistema educativo têm impacto na vivência desta crise de forma adaptativa ou não.

A escola é um mundo real onde convivem pessoas concretas, adultos e crianças, professores e alunos, cada uma com a sua visão, diferente da escola real, cada uma com a sua escola imaginária. A nossa escola ideal é, também, um processo inconsciente, faz parte dos desejos e das expectativas, das esperanças e dos sonhos dos pais, das crianças e dos professores.
Umas vezes a escola responde de forma adaptativa a este processo outras vezes nem por isso (1) e esbarra com a realidade concreta de cada criança e a realidade concreta de cada professor.
De facto, a escola forma para os valores humanos como é expresso no projecto educativo de qualquer escola ou agrupamento de escolas. Mas também pode ser ou é um lugar de aprendizagens outras que não conduzem ao caminho previsto pela sociedade para o processo educativo e ou ser origem de problemas e de stress para a criança e sua família.
O futuro educativo ou simplesmente o futuro de uma criança depende muito da forma como este momento crítico é assumido pelos professores. 

Da minha experiência no Serviço de Psicologia e Orientação (SPO), em inúmeras reuniões com professores ou de Conselho de Turma, concluí que a turma (1º ciclo) e o conselho de turma constitui o core de todo o sistema educativo e, portanto, o papel exercido pelos professores é decisivo no processo educativo de cada aluno.
É, por isso, que a gestão da turma é um trabalho árduo, personalizado, principalmente em momentos críticos como a análise da primeira abordagem dos alunos da turma ou em momentos de avaliação qualitativa (compreensiva).
O trabalho da maioria dos professores é sem dúvida intenso e de grande responsabilidade, exige competência técnica, empenho, motivação, capacidade de liderança, cooperação, inteligência emocional, honestidade (2) ... (Claro que, como em todas as organizações, há professores desmotivados e em burnout).

No início do ano lectivo, a inclusão de cada aluno na escola exige estar atento às diferenças que uma vez identificadas e valorizadas permitam a prática de metodologias e estratégias como a necessidade de educação especial, definição das capacidades e fragilidades, da maturidade e precocidade excepcional. 
Desta forma serão ultrapassadas as dificuldades e adquiridas competências comuns a todos os alunos, ou específicas, desenvolvendo-as até onde for possível quando adaptativas.
Para crianças diferentes poderão ser necessários métodos e estratégias diferentes e aqui ganha relevo a metodologia UDL (Desenho Universal para a Aprendizagem). (3)
Como já aqui escrevi “a educação é o professor. É a mudança que falta fazer."
Volto hoje a dizer: investir nos professores é o melhor seguro para o futuro de uma criança, o mesmo é dizer de um país.


Até para a semana.


_________________________

(1) Pennac, Daniel, (2009), Mágoas da Escola, Porto Editora

(2) McCourt, Frank, (2005), O Professor, Ed. Presença

(3) Rose, David e Meyer, Anne, (2002), Teaching Every Student in the Digital Age, Universal Design for Learning, ASCD




11/07/22

Wokismo na educação


A novela da "disciplina" "cidadania e desenvolvimento" - na realidade não é uma disciplina mas uma listagem de assuntos que poderiam ser os que lá estão ou outros -  vai tendo novos episódios mais infelizes do que os anteriores. Para pensar, deixo aqui estas referências:

“Le wokisme c'est ça, prenez l'histoire, vous l’inversez, vous lui faites dire le contraire. Les bons sont les méchants, les méchants sont les bons. Donc c'est la fin de l’histoire, c'est la fin de la raison, c'est l'avènement des raisons le wokisme, et la gauche a dit prenons cette idéologie clé en main, c'est formidable, on va appeler ça être progressiste.” 
"Il y a cette espèce de délire qui consiste à dire: tout est bon dans la sexualité, et puis ce qui est formidable, ce que il faut qu’à 5, 6 ans, dès qu’on scolarise les enfants, on leur parle de sexe, et on leur parle surtout pas d’hétérosexualité.”

Em 1984, já tínhamos lido: "guerra é paz, liberdade é escravidão, ignorância é força"...


Os inquisidores em Famalicão. O MP deseja exibir no pelourinho as consequências de se ter princípios. Não é só a desobediência que perturba o poder: a chatice maior é recusar a ideologia reles que dissimula a natureza desse poder.






02/06/22

Saúde mental na escola - o lugar da compaixão

O sofrimento, e o sofrimento psicológico, faz parte da vida, mas muito do sofrimento é evitável ou pode ser minimizado. Para isso devemos investir no bem-estar como o modo normal de viver em sociedade *. 

É desolador que tenha acontecido mais um massacre numa escola primária dos EEUU em que um jovem de 18 anos assassinou 19 crianças, entre sete e dez anos, e 2 professoras.
Durante um tempo, voltamos à discussão sobre a questão das armas nos EEUU  e sobre a compreensão deste fenómeno como sintoma de mal-estar na sociedade. Depois cai no esquecimento e somos despertados para o problema quando outro terrível massacre acontecer.

Já sabemos que há um padrão de actuação nestas situações (Viviane Cubas). Assim sendo, podemos prever os factores de risco e perigo.
- A maioria dos casos violentos que resultam em mortes ocorreram durante períodos de transição como o início ou final das aulas ou durante o período de intervalo; ou início e fim do semestre;
- quase 50% dos agressores homicidas deram algum sinal de perigo antes do evento, através de bilhetes ou ameaças;
- Entre as crianças e os jovens que foram agressores, 20% haviam sido vítimas de bullying e 12% tinham expressado ideias ou comportamentos suicidas;
- A facilidade com que os jovens adquiriam as armas usadas nos massacres;
- A cultura norte americana: intensa competição nas relações interpessoais, onde prevalece a valorização da cultura do forte e ridicularização do fraco parece ser também um traço marcante em muitas escolas;
- Não se pode refutar a possibilidade de envolvimento de pessoas com perturbações mentais; 
- O processo de socialização, os padrões de comportamento, valores e crenças... 

Apesar de já se saber isto, mais uma vez se repetiu o padrão: A compra de armas, a informação nas redes sociais, uma vítima de bullying...
Se já se conhece o modus operandi, porque não temos capacidade social para travar o acting out de um jovem que o leve a desistir do seu comportamento, da sua compulsão de levar por diante um massacre?
Neste caso parece que tudo falhou. Não será apenas a velha questão da venda de armas de guerra a qualquer pessoa, coisa, aliás, que para nós na Europa seria impensável. Em qualquer sociedade, é necessário agir na prevenção, na qualidade de vida, no bem-estar, numa vida familiar efectiva, seja qual for a sua estrutrura... 

Em suma, é necessário desenvolver a compaixão das pessoas para podermos criar uma sociedade que se diga civilizada.
“... quanto mais cultivarmos a bondade, tanto menos teremos de lidar com a ira e o ódio. É como termos um sistema imunitário forte...”
É muito importante o trabalho feito nas escolas sobre bullying e ciberbullying... mas também devíamos estar a aprender a compaixão, que é “diametralmente oposta à crueldade”, sermos felizes com a felicidade dos outros, sermos capazes de nos colocarmos no lugar dos outros.
Desta forma, este poderá ser o acompanhamento de que um jovem necessita para poder inibir o acting out e passar a “já posso imaginar que faço”.

Até para a semana.

_____________________________

 

* Tento compreender os comportamentos e, para isso, volto a: Crescer vazioInteriores, Preciso de ti  (Pedro Strecht), A bondade e o perdão (Amaral Dias)Eu já posso imaginar que faço (Amaral Dias/J. Sousa Monteiro) e Emoções destrutivas e como dominá-las - Um diálogo científico com o Dalai Lama (Daniel Goleman).




08/10/21

Reformar e investir em educação 3


Voltamos, hoje, à “ Opinião” de 5ª feira. Obrigado a todos os que me ouvem. Vamos continuar a falar de psicologia e de educação ou melhor dos comportamentos das pessoas, da psicologia na escola e nas famílias, dos problemas do quotidiano, da política educativa e de tudo o que faz parte da vida. Sem restrições mas com responsabilidade...

No último programa, em Julho, falámos da necessidade de realizar reformas no sector de educação.
Propusemos uma reforma a partir de autores como Martin Seligman, Benjamin Spock ou David Rose...

Mas podemos encontrar os fundamentos para uma reforma educativa nos poetas, como eu penso que encontrei em Walt Whitman que nos dá uma visão muito precisa da escola para a América do seu tempo e do trabalho árduo dos professores e eu penso que é ajustada para o nosso tempo, aqui neste país.


Walt Whitman fala-nos dos alunos, e da escola (no poema Pensamentos de um velho sobre a escola", Folhas de erva, p. 354-355)

"Um velho reúne recordações da juventude e flores que a juventude,
ela mesma, não consegue reunir.
 
Hoje só eu vos conheço,
Ó belos céus da aurora, ó orvalho da manhã na erva! 
E são estes que vejo, estes olhos cintilantes,
Cheios de um significado místico, estas vidas jovens,
Que constroem, que se equipam como uma frota de navios, navios imortais,
Que em breve navegarão pelos mares sem limites,
Na viagem das almas. 
Apenas um grupo de rapazes e raparigas?
Apenas as enfadonhas lições de leitura, escrita e cálculo?
Apenas uma escola primária?
Ah, mais, muito mais.
...
E tu, América,
Fizeste uma avaliação real do teu presente?
Das luzes e das sombras do teu futuro, bom ou mau?
Presta atenção às tuas raparigas e rapazes, ao professor e à escola."
Sobre o  trabalho dos professores, WW fala-nos da grandeza e ao mesmo tempo da dureza de ensinar:

“És tu quem pretende um lugar para ensinar ou ser aqui poeta, nos Estados?

A missão é digna de respeito, as condições duras. 

Quem pretende ensinar aqui bem pode preparar-se de corpo e alma,

Bem pode explorar, ponderar, armar-se, fortificar-se, endurecer e tornar-se ágil,

Antes será certamente interrogado por mim com muitas e sérias perguntas. 

Quem és tu na verdade que queres falar ou cantar para a América?

Estudaste bem o país, os seus idiomas e os seus homens?

Aprendeste a fisiologia, a frenologia, a política, a geografia, o orgulho, a liberdade e a amizade do país? Os seus fundamentos e objectivos?

...

Conheces a fundo a Constituição federal?

Vês quem deixou todos os poemas e processos feudais para trás e adoptou os poemas e processos da Democracia?

És fiel às coisas? ensinas o que a terra e o mar, os corpos viris, a feminilidade, o instinto amoroso, os furores heroicos ensinam?

Passaste depressa pelos costumes efémeros e pelo que só é popular?

Consegues opor-te às seduções, loucuras, vertigens, lutas ferozes? és muito forte? és, na verdade de todo o  Povo?"

....  

("Na margem do azul Ontário", 12, Folhas de erva, p. 311) 

Sem dúvida, todo um programa para quem ama o seu país e tem a noção de que a educação é o cimento que faz os alicerces de um povo.

 

 

Até para a semana.









 

28/09/21

Reformar e investir em educação 2

Esperança - a árvore frágil...


Alguns autores inspiradores para a nossa vida podem também iluminar um programa de educação estruturante para o futuro. Ajudam-nos a estabelecer um rumo, a ser vento e não andar ao sabor dele, ou seja, de modas atrabiliárias resultantes das agendas políticas e ideológicas dos governos actuais e dos que aí vêm, ou de facções modistas curriculares que não reflectem o que a sociedade precisa para os seus cidadãos: uns dias é área-escola, outros educação sexual, outros ainda cidadania e desenvolvimento, outros AEC e escola a tempo inteiro... um dia são objectivos e, no outro, competências...

Como aqui referi, uma reflexão possível, a partir da psicologia e pediatria, e de muitos modelos pedagógicos ou psicopedagógicos - convém conhecer Montessori, Freinet, Makarenko, Fröbel, Rogers, Piaget, Kohlberg, D. Rose... - integra três perspectivas: aprender numa escola inclusiva que educa para o bem-estar e para um mundo melhor, baseada numa cultura de educação diversa e plural, democrática e livre, igual e justa.

A escolarização continua a ser o processo mais comum de educação das crianças. Não ignorando formas alternativas que podem existir (ou mesmo a desescolarização), a maioria das famílias continua a querer os seus filhos na escola. E de facto, na escola reside a grande diferença em relação ao futuro pessoal de cada aluno e ao futuro da sociedade. Não podemos esperar uma sociedade desenvolvida sem o trabalho educativo de excelência desenvolvido nas escolas, não podemos esperar cidadãos responsáveis sem as aprendizagens humanísticas, técnicas e científicas efectuadas nas escolas. A escolarização continua a ser responsável pela definição do futuro.
É por isso que se ainda há lugares sagrados neste mundo, a escola devia ser um desses lugares, como ouvia dizer ao Prof. António Frade (Cousas e Lousas). A escola devia ser poupada à violência, ao bullying, mas também devíamos poupar os alunos e as famílias aos caprichos curriculares e à intrusão nas competências das famílias.

O que aconteceu para que a escola, principalmente nas sociedades democráticas, seja o lugar que é hoje? Se a escola é o centro da esperança no futuro também, ao mesmo tempo, é o sítio das desilusões de quem trabalha na educação, desmotivado e em burnout, o sítio das "mágoas da escola" (Pennac) de quem a frequenta.
Esta difícil situação deve ter em conta que os pais devem ter um papel na educação dos filhos, é uma questão fundamental em qualquer projecto educativo. Porém, isto não significa que os pais sejam intrusivos ou possam invadir a escola com a violência que conhecemos em algumas situações chegando à agressão física de professores. 
Outra coisa é o papel dos pais que desde logo devem ter a possibilidade de escolher o projecto educativo (currículo) mais adequado para os filhos. Com raras excepções, a educação é uma prioridade das famílias e muitos pais sabem qual é o seu papel na educação e instrução dos filhos, em colaboração com a escola e professores.
Para atingir estes objectivos, uma reforma concreta, uma reforma das pequenas coisas, teria em conta a realização dos seguintes aspectos críticos.

1. Consolidação do sistema educativo
Há legislação a mais sobre a educação e a escola. Por isso, uma das medidas fundamentais é  legislar apenas o essencial para o sistema. Isto significa legislar menos e nos timings certos de forma a não criar disfuncionamentos e dificuldades de adaptação dos professores, pais e alunos, em cada ano lectivo que se inicia...
Aplicar a legislação em vigor e avaliar periodicamente, a longo termo, a sua eficácia.
Avaliar os projectos educativos, curriculares ou outros de cada escola.
O estado deve limitar-se, o que é muito, ao papel de gerir o sector educativo estatal e regular todo o sistema educativo.

2. Articulação do sistema educativo 
Necessidade de um sistema coerente entre os vários sectores ou subsistemas: estatal, privado, cooperativo e social e entre várias modalidades de repostas/valências educativas e terapêuticas...
Repor, na medida do possível, e alargar, os contratos de associação nas localidades onde se justificam.
Regular a articulação com o sector privado, social e cooperativo, de forma a que os resultados sejam idênticos ou melhores que no sector estatal, como têm sido, basta ver os rankings dos exames, e  sejam menos dispendiosos para o estado. 
Esta rede educativa pode ter as vantagens que apenas um sector não tem: a liberdade de ensinar e de aprender. 
A concorrência entre projectos educativos das escolas estatais  e privadas, pode criar opções de escolha às famílias e aos alunos, pode desempenhar um papel importante na redução de despesa do estado quer através de contratos de associação quer através de encargos das famílias que o estado deixa de ter com a educação.
No sector estatal, promover o desenvolvimento dos projectos de autonomia das escolas.

3. Estabilização dos recursos humanos
Negociar com os sindicatos de professores o tempo de serviço de  9 A 4 M 2 D: as formas possíveis de gestão deste tempo efectuado pelos professores e que de forma nenhuma lhes pode ser sonegado.
Alterar o sistema de recrutamento e selecção de professores: terminar com a centralização dos concursos, com benefício para a redução da deslocação de professores, contra o centralismo educativo saloio e provinciano do ministério da educação: concursos de professores, parque escolar...
Número limite de turmas/professor. Não faz sentido que um professor possa leccionar 500 alunos, como um professor de TIC, por exemplo, uma vez por semana...
Técnicos especializados: psicólogos, terapeutas da fala, intérpretes de LGP, formadores/prof de LGP - eliminação da precariedade e entrada no quadro após 3 anos de serviço efectivo.
A gestão estratégica dos recursos humanos da educação passa por um "Programa de rejuvenescimento do corpo docente", proposto  por António Costa Silva, com o qual estou de acordo (Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030)

4. Avaliação das aprendizagens
Terminar com a actual periodização da avaliação, passando de três períodos de avaliação sumativa, para dois períodos, correspondentes a dois semestres, como acontece no ensino superior.
Repor a avaliação sumativa externa no final do 4º ano e 6º ano e acabar com a avaliação aferida no 3º e no 5º.
Definir o peso efectivo dessa avaliação externa no conjunto da avaliação contínua e interna.
Realizar uma prova aferida externa no final do 2º ano lectivo que terá como objectivo a avaliação das dificuldades individuais dos alunos na leitura, escrita e cálculo. Face aos resultados, cada escola deve desencadear o processo de apoios educativos e outros de que o aluno necessita para poder ultrapassar dificuldades detectadas.

5. Estabilização e autonomia do Currículo 
O currículo nacional deve merecer uma atenção especial como, aliás, tem sido dada a língua portuguesa e matemática. 
Do currículo nacional deve fazer parte uma disciplina de música para todos os alunos do ensino básico.
Além disso, os alunos terão ainda a possibilidade de optar por clubes ou projectos artísticos ou desportivos.
Com esta opção termina a obrigatoriedade da frequência da "disciplina" de "cidadania e desenvolvimento". E as actividades circum-escolares estarão organizadas em clubes e ou projectos, de iniciativa da escola, e de acordo com os interesses dos alunos, no campo do desporto, artes e cultura, de acordo com os grupos disciplinares e tendo em conta o contexto cultural em que a escola se insere, substituindo as actuais AEC. 
As  alterações curriculares devem sempre ser sujeitas a um processo de avaliação do currículo em vigor e dos projectos desenvolvidos
Reposição da "educação vocacional". Avaliar a experiência efectuada (Ramiro Marques). Manter com alterações, se necessário, resultantes dessa avaliação. Seria preferível designar esta modalidade de educação de "Preparação para a formação profissional".
Definir a idade mínima de 13/14 anos para a integração nestes cursos. Isto significa que  seriam abrangidos alunos com duas ou mais retenções no 2º ciclo.
Estes alunos devem antecipadamente participar em projectos de OEP.
O projecto deverá ser alargado progressivamente a todo o país.

6. Redefinição da intervenção da ASE  
Os livros escolares serão gratuitos para todos os alunos. Não se compreende porque ficaram excluídos os alunos das escolas com contrato de associação  e escolas profissionais para além do ensino privado.
Os livros escolares ficam na escola acabando com o transporte quotidiano de peso exagerado nas mochilas, preservando a saúde dos alunos e ao mesmo tempo a preservação dos livros.
Gratuitidade das refeições terminando com os actuais escalões. Esta medida iria beneficiar todos os alunos e suas famílias.
Poderá haver um período de transição, até a despesa poder ser acomodada no orçamento do estado, em que tanto num caso como no outro se deve ter  em conta a situação de recursos, segundo os escalões do abono de família, por ex., em relação a todos os alunos.

7. Inclusão
Adoptar uma metodologia UDL (Universal Design for Learning) preconizada, aliás, no DL 54/2018, que sem dúvida será a melhor forma de inclusão de todas as crianças de acordo com as suas necessidades educativas.
As crianças consideradas com dificuldades de aprendizagem e com PHDA devem ter alternativas activas evitando a sua medicação - principalmente actividades curriculares e extracurriculares activas como o desporto, as artes, a música e a dança. 
Não nos podemos esquecer que milhares de crianças entre os 4 anos e a adolescência consomem milhões de anfetaminas. (Eduardo Sá)
Uma das fontes de indisciplina é o telemóvel. Cada escola deve determinar com as Associações de pais e com as Associações de estudantes as regras de utilização dos telemóveis na sala de aula.
Outra fonte de indisciplina é a duração dos tempos lectivos. Por isso, a referência temporal de uma aula deve ser a de uma tempo lectivo correspondente a 50 minutos. Deverá também haver flexibilidade para blocos de 2 tempos lectivos quando devidamente justificada.

8.  Planeamento da educação a longo prazo
Sabemos que a natalidade está a baixar enquanto o número de pessoas idosas cresce todos os anos.
Os vários sistemas da sociedade começam a ressentir-se desta realidade. Na educação os impactos vão ser enormes. Redução do número de alunos implica redução de escolas, de pessoal docente e não docente para assegurar o funcionamento das escolas. É agora que é oportuno planear o que vamos fazer para responder a estes problemas num tempo já bem próximo de nós.
Uma das consequências tem a ver com o fecho de escolas rurais e escolas de pequena dimensão. Apenas fecharão obrigatoriamente as escolas com menos de 5 alunos ou com mais alunos desde que essa seja a vontade dos encarregados de educação e pais e das autarquias.
Estas escolas ficarão como escolas anexas a escolas mais próximas e poderão ter parte do currículo preenchido com  actividades sociais e culturais em conjunto, em calendário previamente previsto.

9. Definição e estabilização do papel dos municípios na educação
A gestão das escolas e dos agrupamentos de escolas deverá ser o mais autónoma possível. Assim, os contratos de autonomia devem alargar-se a todas as escolas e agrupamentos. 
A gestão dos recursos humanos devem igualmente ser da competência dos agrupamentos.
Os júris devem ser independentes, designados pelas escolas mas com nomeação pelo ME.
Para 2020, previa-se que dos 278 concelhos do continente, 84 municípios iam  assumir todas as áreas da educação excepto a colocação de professores. 
A mudança é urgente. Sabemos que a posição dos sindicatos a este propósito contraria este aspecto e que também não é popular entre os professores. Mas são os professores as principais vítimas.

Com estas propostas, não quero "reinventar a escola", não proponho uma "escola ideal", não é sequer a "escola dos meus sonhos" nem a "educação dos meus sonhos", não é a escola progressista nem último grito vindo da Finlândia, Japão, Suécia ou seja de onde for, não é a "escola da doutrinação pública", não é a escola dos oprimidos ou privilegiados (aliás, o problema da "Pedagogia do oprimido" é antes um problema de Oprimidos da pedagogia), não é a escola tradicional ou a escola dita democrática, nada disso... É apenas o resultado de uma reflexão de experiência feita que poderá melhorar as escolas  actuais. Um simples plano de melhoria para uma escola mais eficiente e mais eficaz. São propostas para uma escola em que as crianças são todas iguais, todas diferentes, mas em que cada uma delas merece o melhor que a sociedade dos adultos lhe pode oferecer.

Apesar do realismo destas medidas nada há a esperar em matéria de reformismo  do actual Ministério da educação, ou deste governo, durante o resto do mandato mas a esperança é a árvore frágil que tenta sobreviver a tudo, é "essa menina, que arrasta tudo consigo". (Péguy)




10/06/21

"Não somos o que pensamos"





Costumamos dizer que “somos o que comemos”. Será que também podemos dizer que “somos o que pensamos”?
Por vezes, os pensamentos dominam a nossa mente sem sermos capazes de nos libertar deles. Ou pelo menos não sabemos como nos libertar deles principalmente quando são obsessivos, baseados em crenças ou aprendidos por modelagem.
Sem dúvida que há uma grande relação entre os pensamentos e o que nós somos. Os pensamentos influenciam muito a nossa vida psicológica, podem mudar o nosso comportamento, as nossas decisões, os sentimentos e emoções. 
Assim, há pensamentos que beneficiam mas também há pensamentos que prejudicam a nossa saúde mental.
As diferentes abordagens cognitivo-comportamentais, entre as quais: a terapia cognitiva (mudança cognitiva), a terapia comportamental (mudança do comportamento), ou terapias como a baseada na atenção plena (mindfulness), etc. têm como objetivo ajudar os doentes a alcançar a mudança desejada na forma de pensar, sentir e comportar-se.

Jon Kabat-Zinn, psicólogo americano, desenvolveu a técnica da redução do stress baseada na atenção plena que integra a meditação na estrutura da terapia cognitiva. “Deste modo aprendemos a observar os pensamentos com serenidade, sem nos identificarmos com eles, e a entender que a mente tem vida própria. Assim, um pensamento de fracasso é considerado uma actividade mental e não um trampolim para a conclusão: “sou um fracassado”. Com a prática aprendemos a ver que a mente e corpo são uma unidade. K-Z afirma que somos mais do que um corpo e mais do que os pensamentos que sucedem na mente.” (O Livro da Psicologia, pag. 210)

Em educação, é muito importante ter em conta estes conceitos porque, muitas vezes, o insucesso e a desmotivação têm relação com os pensamentos automáticos que influenciam a aprendizagem. *
B. Zimmerman (2000), deu relevo à aprendizagem autorregulada. Para ele "a aprendizagem autorregulada refere pensamentos, sentimentos e ações autogeradas que são planeadas e ciclicamente adaptadas para realização de metas pessoais".**
É um processo com três fases: Fase prévia, onde é analisada a tarefa, os objectivos, estratégias de realização, associadas à análise de crenças motivacionais, ou seja, crenças de autoeficácia, expectativas de resultados, meta de realização e motivação intrínseca. 
A fase de realização. **
A terceira fase, de autorreflexão, autoavaliação, autorreações, reações adaptativas e defensivas.

Perante pensamentos depressivos, obsessivos, de falta de auto-estima, pensamentos de ansiedade, de que "sou muito nervoso", "a vida para mim não tem sentido", "esforço-me e não consigo", "ando muito stressado e não consigo dormir"... podemos também pensar que são pensamentos que podem ser ultrapassados com auto-ajuda, através da prática da meditação, da prática da atenção plena, da prática de terapia da natureza, ou com terapia psicológica, cognitivo-comportamental, quando se tem dificuldades em trabalhar individualmente algum destes problemas
Felizmente, podemos dizer que "não somos o que pensamos". Se "somos o que comemos", "não somos o que pensamos".


__________________

P. S. L. Rosário,  J. C. Núñez, J. González-Pienda, Sarilhos do amarelo, Porto Editora, 2007.

** "A fase de realização inclui os processos de autocontrole do desempenho e da motivação, bem como a auto-observação. O primeiro processo refere-se à focalização da atenção, auto-instrução e imagens mentais. E o outro, à realização de autorregistros e autoexperimentação. A terceira fase, de autorreflexão, envolve o julgamento pessoal como a autoavaliação e as atribuições causais, e as reações ou autorreações, realizadas por meio dos subprocessos de satisfação/insatisfação, reações adaptativas e defensivas. Dado que o modelo é cíclico, como já exposto, a fase de autorreflexão influi na fase prévia seguinte." Soely A. J. Polydoro; Roberta G. Azzi - "Autorregulação da aprendizagem na perspectiva da teoria sociocognitiva: introduzindo modelos de investigação e intervenção", Psicologia da educação, nº 29, São Paulo, Dez. 2009.



 
 

27/05/21

O ranking das escolas à espera do Super-homem




Na semana passada, foi publicada pelo Ministéro da Educação, a lista de classificação das escolas, ou ranking das escolas, baseada nos resultados dos exames dos alunos do ensino secundário.
Esta classificação tem um valor relativo mas não deixa de ser o retrato, mesmo que imperfeito, do que se passa na educação. Serve ou devia servir como bússola e como aviso para se pensar o rumo da educação nas escolas e no país.
É fundamental para o diagnóstico mas também para o prognóstico educativo. É um instrumento de trabalho importante para o planeamento educativo, para a elaboração de planos de melhoria, para procurar soluções, para aprender com os melhores.
Em vez disso, tem gerado a contestação dos que não gostam de avaliações, e preferem desconhecer a realidade, os "negacionistas" do ranking das escolas.
Como os resultados colocam as escolas privadas nas primeiras posições da lista, de forma consistente ao longo de vinte anos, justificam esta situação pela baixa origem sócio-económica dos alunos que frequentam as escolas estatais e origem elevada os alunos das escolas privadas.
Mas estes resultados não são a mera constatação daquilo que todos já sabem e que não querem ver: a indisciplina, violência, que reina em muitas escolas estatais?

O documentário Waiting for Superman (à espera do Super-Homem), do realizador Davis Guggenheim (que a tvi passou há alguns dias), é um bom ponto de partida para ajudar a compreensão do ranking dos exames do ensino secundário.
O documentário trata da luta dos alunos e das suas famílias por uma boa escola para os filhos, das dificuldades que é entrar numa dessas escolas e da esperança que a lotaria das vagas pode trazer quando se é sorteado para entrar numa charter school, escola com contrato com o estado. 
Os números do ranking tal como os números do documentário significam pessoas com nomes e com famílias. As famílias do Anthony, Francisco, Bianca, Daisy e Emily.
São pessoas concretas, crianças e pais, trabalhadores, às vezes com problemas de emprego, que têm dificuldade em dar aos seus filhos a educação que desejam, ou seja, colocá-los numa escola um pouco melhor. São pais que valorizam a educação e que sentem que a educação dos filhos é mais importante do que tudo o resto das suas vidas.
Por isso, o importante é tirá-los de escolas que são fábricas de desistentes, como em Pittsburg, onde os alunos, empurradas pelo sistema, andam na escola mas sem qualquer interesse na vida
Como se diz no documentário, bairros fracassados dependem do fracasso na escola e o fracasso na escola leva ao insucesso na vida. 

O futuro dos cidadãos e dos países joga-se na sala de aula. Como não se investe na educação, teremos no futuro os custos sociais e económicos de muitas famílias, problemas sociais, problemas com a policia e justiça, problemas dentro das próprias famílias. *
É sintomático deste insucesso que o governo actual tenha fechado 24 colégios num ano e a quase eliminação dos contratos de associação. 
Não, o super-homem não nos vem salvar.


Até para a semana.

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* Como se constatou com o programa Head Start.







09/04/21

Inclusão 2


Símbolo de acessibilidade proposto pela ONU



1. Felizmente, neste tempo que levo de vida, vi acontecer muitas mudanças inclusivas na sociedade: na escola, na segurança social, nas acessibilidades, nos comportamentos das pessoas. Participei em algumas dessas mudanças.

Então, desde há muito aprendi que a inclusão não é uma obra acabada mas um processo em construção a cada momento. 

A inclusão é uma atitude necessária da vida, como a liberdade, a democracia e a justiça. Faz parte de qualquer organização social democrática decente. 

 

Esta mudança social tem vindo a fazer-se com a evolução da inclusão concreta na educação com a metodologia "desenho universal de aprendizagem" (UDL),   no trabalho, na melhoria das acessibilidades, na linguagem que respeita as diferenças, não seja estigmatizante, adequada à vida das pessoas.

Esta mudança social diz respeito a todos. Sim, todos precisamos de inclusão e todos precisamos de linguagem inclusiva.


2. Sou do tempo em que a educação escolar era feita em escolas separadas para  rapazes e raparigas. Foi por isso que a coeducação teve importância na eliminação de muitos dos fenómenos que podiam dar vantagens a uns ou a outros.  Os mundos separados da educação, porém, eram compensados pela convivência extra escolar, nas famílias, nos jogos, no tempo de brincadeira que era todo o tempo em que não estávamos na escola. Qualquer défice que pudesse existir na educação formal seria ultrapassado na educação informal.

Ou seja, para quem tinha a ilusão de que a coeducação podia resolver o problema dos  estereótipos, do bullying, da violência doméstica ou outra, percebeu, como prova a realidade diária das nossas escolas, que  não é assim tão simples...

Muitos comportamentos têm a ver com o desenvolvimento psicológico como, por exemplo, quando raparigas e rapazes têm tendência a criar grupos do mesmo sexo. O contrário é que seria estranho.

 

3. Sou do tempo do livro único*, que podia ter aspectos vantajosos como o económico para o estado e para as famílias, mas muitas desvantagens. Hoje não teria grande sentido haver manuais escolares aprovados centralmente que divulgassem estereótipos, estatutos e papéis sexuais baseados na diferenciação sexual. 

Mas pelos vistos também este não é um factor que, isoladamente, vai resolver o problema do respeito pelas diferenças.


4. Sou do tempo em que havia no Ministério da Qualidade de vida, a Direcção de Serviços de Orientação de Consumos, o Gabinete do Consumidor, onde ficámos a perceber que o perigo vinha dessa "orientação" e do papel que a psicologia e em particular o condicionamento operante (A manipulação dos espíritos) tem nos nossos comportamentos. Tenho a agradecer a Ernesto Melo e Castro, ter alertado para isso. Tudo o que se podia fazer era estudar e apresentar dados objectivos sobre comportamentos de consumo e dar a possibilidade a cada um de pensar e tirar as suas conclusões. Foi assim que se tratou, por exemplo, o alcoolismo, o tabagismo, a publicidade, o consumo... com Beja Santos, Manuel Barão da Cunha. 

5. Sou do tempo em que na Direcção-geral da segurança social/acção social se procurava a integração e a inclusão das pessoas com deficiências e doenças mentais e criar respostas mais humanizadas para os diversos níveis etários, com base em critérios vindos das várias disciplinas que podiam favorecer aquela perspectiva: psicologia, pedagogia, geriatria, arquitectura... Passei grande parte da minha vida profissional a defender a inclusão educativa das pessoas com deficiência ou doença, ou dificuldades de aprendizagem, as necessidades educativas especiais. 
Na equipa de Maria Helena Cadete, participei no estudo e na criação de legislação que permitiu à pessoa com deficiência ter respostas organizadas, ou seja, legislação que lhes possibilitou essa inclusão desde as deficiências mais ligeiras às mais profundas, como a criação dos CAO (Centro de apoio ocupacional), ou em trabalhos sobre as acessibilidades e equipamentos para crianças com deficiências sensoriais e mentais. 
Todo este trabalho ficou bem evidenciado no Ano internacional das pessoas com deficiência, onde colaborei no estudo do apoio ao deficiente mental profundo.
Com Fernanda Infante, colaborei no estudo das famílias monoparentais (até então, a segurança social interessava-se principalmente com as designadas "mães solteiras") e no estudo de "Famílias reconstituídas" (antes nem designação havia para os casos de recasamentos em que havia filhos, etc.)...

6.  Sou do tempo em que a inclusão foi e é um trabalho diário nas escolas ainda mais após a Declaração de Salamanca (10 de Junho de 1994), sobre princípios, políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais.

 

7. Faz sentido, por outro lado, que sejam introduzidas alterações na abordagem de assuntos que dizem respeito a essas diferenças, como acontece com as revisões do DSM (Manual de diagnóstico e estatística das perturbações mentais) como por exemplo  com a classificação das deficiências ou das "perturbações" mentais que para muita gente e em algumas traduções continuam a ser designadas como "transtornos" ou "distúrbios".

8. E tudo isto era e é positivo, inclusivo. As diferenças eram vistas como um enriquecimento, como espelho de nós próprios, como nossas, que cada um de nós é diferente de todos os outros mas a sua referência porque como dizia Amaral Dias "quanto mais me vejo menos me conheço", e em qualquer altura, com mais ou menos idade, faria parte de um dos grupos com esta ou aquela necessidade especial.

 

9.  Então é necessário trabalhar pela inclusão:

- para não continuarmos a construir casas e equipamentos sociais sem acessibilidades mesmo que a lei obrigue a fazê-lo;

- criar cidades para todas as pessoas, mais importante do que novos símbolos para acessibilidades;

-  mudar os métodos de ensino/aprendizagem dando oportunidades educativas aos alunos  de acordo com as necessidades de cada um;

- criar acessibilidades a nível do currículo; 

- utilizar a informática como instrumento importante no processo ensino/ prendizagem;

- Utilizar uma linguagem inclusiva o que não quer dizer neutra porque a inclusão não é neutra nem a linguagem é neutra. Nunca o foi nem será. E não será uma qualquer geringonça gramatical que tornará a linguagem neutra. 

A linguagem não é neutra, felizmente, e a inclusão é outra coisa.

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* Sobre os  manuais escolares e livro único.