10/06/21

"Não somos o que pensamos"





Costumamos dizer que “somos o que comemos”. Será que também podemos dizer que “somos o que pensamos”?
Por vezes, os pensamentos dominam a nossa mente sem sermos capazes de nos libertar deles. Ou pelo menos não sabemos como nos libertar deles principalmente quando são obsessivos, baseados em crenças ou aprendidos por modelagem.
Sem dúvida que há uma grande relação entre os pensamentos e o que nós somos. Os pensamentos influenciam muito a nossa vida psicológica, podem mudar o nosso comportamento, as nossas decisões, os sentimentos e emoções. 
Assim, há pensamentos que beneficiam mas também há pensamentos que prejudicam a nossa saúde mental.
As diferentes abordagens cognitivo-comportamentais, entre as quais: a terapia cognitiva (mudança cognitiva), a terapia comportamental (mudança do comportamento), ou terapias como a baseada na atenção plena (mindfulness), etc. têm como objetivo ajudar os doentes a alcançar a mudança desejada na forma de pensar, sentir e comportar-se.

Jon Kabat-Zinn, psicólogo americano, desenvolveu a técnica da redução do stress baseada na atenção plena que integra a meditação na estrutura da terapia cognitiva. “Deste modo aprendemos a observar os pensamentos com serenidade, sem nos identificarmos com eles, e a entender que a mente tem vida própria. Assim, um pensamento de fracasso é considerado uma actividade mental e não um trampolim para a conclusão: “sou um fracassado”. Com a prática aprendemos a ver que a mente e corpo são uma unidade. K-Z afirma que somos mais do que um corpo e mais do que os pensamentos que sucedem na mente.” (O Livro da Psicologia, pag. 210)

Em educação, é muito importante ter em conta estes conceitos porque, muitas vezes, o insucesso e a desmotivação têm relação com os pensamentos automáticos que influenciam a aprendizagem. *
B. Zimmerman (2000), deu relevo à aprendizagem autorregulada. Para ele "a aprendizagem autorregulada refere pensamentos, sentimentos e ações autogeradas que são planeadas e ciclicamente adaptadas para realização de metas pessoais".**
É um processo com três fases: Fase prévia, onde é analisada a tarefa, os objectivos, estratégias de realização, associadas à análise de crenças motivacionais, ou seja, crenças de autoeficácia, expectativas de resultados, meta de realização e motivação intrínseca. 
A fase de realização. **
A terceira fase, de autorreflexão, autoavaliação, autorreações, reações adaptativas e defensivas.

Perante pensamentos depressivos, obsessivos, de falta de auto-estima, pensamentos de ansiedade, de que "sou muito nervoso", "a vida para mim não tem sentido", "esforço-me e não consigo", "ando muito stressado e não consigo dormir"... podemos também pensar que são pensamentos que podem ser ultrapassados com auto-ajuda, através da prática da meditação, da prática da atenção plena, da prática de terapia da natureza, ou com terapia psicológica, cognitivo-comportamental, quando se tem dificuldades em trabalhar individualmente algum destes problemas
Felizmente, podemos dizer que "não somos o que pensamos". Se "somos o que comemos", "não somos o que pensamos".


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P. S. L. Rosário,  J. C. Núñez, J. González-Pienda, Sarilhos do amarelo, Porto Editora, 2007.

** "A fase de realização inclui os processos de autocontrole do desempenho e da motivação, bem como a auto-observação. O primeiro processo refere-se à focalização da atenção, auto-instrução e imagens mentais. E o outro, à realização de autorregistros e autoexperimentação. A terceira fase, de autorreflexão, envolve o julgamento pessoal como a autoavaliação e as atribuições causais, e as reações ou autorreações, realizadas por meio dos subprocessos de satisfação/insatisfação, reações adaptativas e defensivas. Dado que o modelo é cíclico, como já exposto, a fase de autorreflexão influi na fase prévia seguinte." Soely A. J. Polydoro; Roberta G. Azzi - "Autorregulação da aprendizagem na perspectiva da teoria sociocognitiva: introduzindo modelos de investigação e intervenção", Psicologia da educação, nº 29, São Paulo, Dez. 2009.



 
 

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