22/12/08

O Natal e as crianças

Alguns símbolos que hoje temos no Natal são universais.
Os presentes são uma característica simbólica do Natal e do Pai Natal.
Não é possível pensar no Pai Natal sem pensar nos presentes. E essa é a única maneira de compreender a situação de festa para as crianças.
Um presente é uma recompensa pelo bom comportamento da criança. Enquanto para os pais isso implica que a criança reconheça que se deve portar bem, a criança sabe que o Pai Natal não espera qualquer sentimento de gratidão. Assim pode aceitar presentes sem qualquer ambivalência. A criança, assim, nunca rejeita os presentes do Pai Natal
A prenda é presente, estar presente. E a presença é o mais importante.
E faz sentido acreditar no Pai Natal ?
O Pai Natal existe apenas para os pequeninos.
Nenhuma criança acredita que o Pai Natal traz presentes para dar aos pais.
Por isso as crianças vivem com alegria a festa do Natal e acreditam no Pai Natal como um momento de felicidade pessoal que por seu lado levam a que cresçam e sejam adultos com sentimentos antigos de felicidade e enriquecedores que serão benéficos para sua vida e para quando elas próprias também forem pais e mães.
À medida que a criança cresce, ela saberá quando o Pai Natal vai deixar de ter importância para ela.
Bettelheim refere o episódio de uns pais que quiseram dizer ao filho de 6 anos que o Pai Natal não passava de uma invenção e que era o tio que ali estava vestido de Pai Natal.
Então a criança quase a chorar exclamou: “porque é que o verdadeiro Pai Natal não veio ver a mim ?”
As explicações racionalistas dos adultos não têm em conta que a criança não tem idade para explicações abstractas acerca da verdade e do espírito de generosidade.
Porque é que o Pai Natal há-de descer pela chaminé quando tantas casas não têm chaminé?
E se o lume estiver aceso ? E se a lareira tiver cassete ?
E porque será que a magia do Pai Natal não pode superar estas dificuldades ? Para uma criança supera certamente.
Pelo que é pouco razoável querer uma festa infantil com as referências do adulto.
Piaget dá um excelente exemplo de como a criança desenvolve um conceito da realidade muito diferente do adulto.
Quando passeava com o seu filho pequeno no jardim, por detrás de sua casa perguntou-lhe: onde está o papá ?
A criança apontou o escritório onde o pai trabalhava.
O papá de carne e osso e o papá de espírito podem ter existências independentes.
É também por isso que há tantos pais natais na rua e nas lojas e isso não é problema para a criança.
É por isso também que o mesmo Pai Natal pode trazer tantos presentes para todas as crianças do mundo
È esta a força do mistério e da magia do Pai Natal.
Na separação que a criança faz entre a ideia abstracta do Pai Natal e da sua personificação física.
“As crianças a quem se disse demasiado cedo que não existe Pai Natal, que foram criadas não com histórias de fadas mas com histórias realistas, tornam-se na altura da universidade crentes na astrologia… ou estudam as cartas do Tarot, que predizem o futuro. Empenham-se assim numa forma de pensar mágica. Estes adolescentes tentam recuperar aquilo que perderam numa idade mais precoce” (B. Bettelheim).

14/12/08

Obras da Câmara Municipal de Castelo Branco...

Obras da Câmara... pior a emenda do que o soneto.
No cruzamento da R. Pedro da Fonseca com a Azinhaga do Barrocal...
Antes das obras, havia uma passadeira


Depois das obras, desapareceu a passadeira.

"Nada me pesa na consciência"

Temos vindo a assistir nos últimos tempos a declarações de várias pessoas, na comunicação social, de que nada lhes pesa na consciência.
Nas situações mais diversificadas que vão desde as relacionadas com a banca , às autarquias, aos deputados, ministros, ao cidadão comum que tem 20 minutos de glória em qualquer talk show da nossa comunicação social, sem excepção, tem a consciência tranquila, ou seja, nada lhes pesa na consciência.
Referem-se à consciência moral.
Esta minha crónica vem a propósito disto porque começo a ficar um pouco desconfiado de tanta consciência limpa.
Parece, aliás, que nunca os ditadores tiveram a consciência pesada. Será que alguma figura do regime deposto com o 25 de Abril teve alguma vez a consciência pesada?
Será que Hitler ou Estaline no século passado, Mugabe, Chavez, actualmente têm a consciência pesada ? O que será que lhes pode pesar na consciência?
Será que os criminosos de guerra têm a consciência pesada ? E todos os terroristas que matam pessoas, indiscriminadamente ou não, têm a consciência pesada ? E os que fazem reféns não têm uma consciência revolucionária e, portanto, limpa?
Não estarão eles como todos os ditadores de consciência tranquila, não dormirão todos os dias como dormem os justos?
Mas vamos a situações mais caseiras…
O que se passa com alguns chamados especuladores do sistema financeiro, o que se passa com a corrupção nas câmaras municipais, o que se passa com alguns pedófilos, o que se passa com os pais que maltratam os filhos e vice-versa.
O que se passa com os pais e os irmãos que esbulham os filhos e os irmãos dos seus direitos, não estão todos de consciência tranquila ?
Kohlberg estabeleceu três níveis de desenvolvimento moral.
Parece-me que todas estas pessoas não ultrapassam o nível pré-convencional (pré-moral): As normas sobre o que é bom ou mau são respeitadas atendendo às suas consequências (prémio ou castigo) e ao poder físico, ou simplesmente poder, dos que as estabelecem.
A consciência moral implica que o homem ultrapasse uma dimensão meramente egoísta na sua conduta.
Nos níveis mais elevados de consciência moral o outro deve ser tido sempre em conta.
Os princípios morais são normas que orientam e fundamentam a conduta do indivíduo, de forma a que tenham reflexo na harmonia global e na felicidade individual.
Um princípio moral como "não faças aos outros aquilo que não queres que te façam a ti" é muito avançado para estes indivíduos ditos de consciência limpa que nos incomodam todos os dias com esta frase batida “nada me pesa na consciência”.

03/12/08

A crise da educação

Há cerca de um ano, exactamente em 15-12-2007, o Sr. Presidente da República, Cavaco Silva, afirmou que “em democracia os agentes políticos têm que estar preparados para ouvir a voz do povo”, numa referência ao diálogo do governo com os professores.
E acrescentou “espero que o diálogo de todos os intervenientes no processo educativo se possa aprofundar”.
E ainda de que “a escola é a instituição inclusiva por excelência e nela os professores desempenham um papel decisivo”.
E frisou Cavaco Silva “que a sociedade portuguesa “tem de contar com a sua motivação, a sua dedicação e o seu entusiasmo” [1].
Já lá vai um ano e o que aconteceu ? Nada. As palavras do Presidente não foram ouvidas e o que se aprofundou, isso sim, foi a clivagem entre os professores e o ME.
A escola tem sido varrida por um conjunto de reformas ou pseudo reformas que chegou até este ponto…
Não é apenas a avaliação de desempenho que está em questão. É todo um conjunto de reformas feitas em cima do joelho.
O que acontece é que têm vindo a acumular-se medidas que não estão estabilizadas, nem pouco mais ou menos.
Algumas vêm de governos anteriores mas a maior parte vem do actual.
Vou elencar apenas algumas:
- As NAC (novas áreas curriculares) com o estudo acompanhado e a área de projecto, com dois professores por área, no 2º ciclo, aumentando a despesa com a educação muito substancialmente sem que isso se traduza em benefício para os alunos;
- A pedagogia diferenciada que se resume, praticamente, a saber se os meios blocos vão para a disciplina de matemática ou de português ou outra disciplina com mais sorte;
- As aulas de 90 minutos;
- As aulas de substituição;
- As AECS, ou seja a escola a tempo inteiro, com a entrega a empresas e câmaras municipais do recrutamento de pessoal;
- O estatuto da carreira docente e a divisão da carreira em professores titulares e não titulares em que se fez um concurso que contemplava para a avaliação apenas os últimos 7 anos de trabalho, entre outras críticas;
- A avaliação de desempenho, esta-e-mais-nenhuma;
- O diploma da educação especial e as escolas de referência que saiu em Janeiro e em Maio a Assembleia da República fez um alteração profunda ao decreto do Governo, não se sabendo se é a filosofia do Governo ou a da Assembleia da Republica que deve ser subentendida;
- Forçar as estatísticas até se encontrar o número mágico de 1,8 % de alunos com necessidades educativas especiais;
- A utilização da CIF como panaceia para a classificação das crianças com NEE;
- A nova gestão das escolas, designadamente a forma de eleição do director da escola por uma assembleia de representantes;
- O estatuto dos alunos, com essa “maravilha” legislativa que dá pelo nome de “prova de recuperação”;
- A educação sexual que pelos vistos nunca mais chega à escola;
- A passagem do pessoal auxiliar, de secretaria, técnico e técnico superior para as câmaras municipais sem perguntarem nada a ninguém…
Isto tudo num caldo de cultura lastimável que é o de fazer crer que os trabalhadores são maus trabalhadores, que não podem ser todos bons, que são os responsáveis pelos problemas do sistema.
Poderíamos aprofundar cada um destes temas.
Hoje quero apenas que me expliquem a imperiosa necessidade de haver diferença entre professores titulares e não titulares, e ao mesmo tempo se acaba com a carreira de técnico superior passando todos a ser técnicos superiores ? Alguém que me explique a coerência, se fazem favor…

[1] Lusa, 15/12/2007 – 13H23

01/12/08

Vénus encontra Júpiter

Castelo Branco,1/12/2008,19H39


Castelo Branco, 1/12/2008,19H38

Esta noite os três astros mais brilhantes do céu nocturno irão brindar-nos com um grande espectáculo visível após o pôr-do-sol.
...
A última vez que este fenómeno astronómico ocorreu foi a 7 de Outubro de 1961 e só virá a acontecer a 18 de Novembro de 2052.
...
A Lua estará a 402 mil quilómetros da Terra; Vénus a 150 milhões de quilómetros e Júpiter a 870 milhões de quilómetros. (Correio da Manhã)

23/11/08

Mobbing ou ... emprateleirar

Sabem com certeza o que é o mobbing
É uma palavra bonita por fora, em inglês e tudo, mas é também uma palavra muito feia por dentro.
Traduzido em português quer dizer, mais ou menos, uma grande sacanice que o chefe do serviço ou o superior hierárquico faz ao subordinado.
As vezes o fracasso não existe de modo nenhum mas pode ser fabricado por algumas pessoas para outro e atribuem-lhe o fracasso como se fosse uma característica sua.
Também se chama assédio psicológico no trabalho e tem vindo a ser investigado desde os anos 80.
Mas em que consiste o mobbing ?
Consiste em destruir moralmente um trabalhador dentro do próprio âmbito laboral.
Trata-se de criar à volta do trabalhador um clima de vazio e desprezo que vai gerando um desgaste psicológico que por sua vez, vai conduzindo à auto-exclusão, que é o objectivo pretendido.
Todos os comportamentos que são exercidos mesmo que aparentemente neutros são perversos e dirigem-se à devastação psicológica , moral e laboral da vítima.
As principais actividades são:
- Alterar a comunicação da vítima com os outros
- Curto-circuitar os seus contactos sociais instrumentais
- Desacreditar a vítima
- Reduzir ao máximo a sua ocupação laboral
- Atentar contra a sua saúde física e psíquica…
Quem pode ser vítima de mobbing ?
Qualquer trabalhador que provoque inveja. São mesmo pessoas que podem ter qualidades que são invejadas:
- Pessoas éticas
- Independentes
- Muito trabalhadoras
- Queridas pelos outros
- Cooperantes
- Com uma vida familiar e pessoal satisfatória.
E quem são os assediadores ?
Costuma ser uma pessoa cobarde, mentiroso, sentido grandioso dos seus próprios méritos, sem remorsos e cruel.
O mobbing costuma fazer grandes estragos na personalidade do trabalhador, tais como: depressão, irritabilidade, somatizações, fadiga, insónia, ansiedade, stress pós-traumático, etc…
Enquanto esta situação não for penalizada legalmente, e provavelmente não o será tão cedo dado que interessa ao sistema político, na medida em que sempre pode emprateleirar, como se diz em bom português, os trabalhadores do partido que acabou de perder as eleições, que por sua vez, já tinham substituído ou emprateleirado os que as tinham perdido anteriormente. Mas nestes fluxos e refluxos, são apanhados excelentes trabalhadores que pouco têm a ver com estas marés.
Se é um desses trabalhadores e, enquanto não houver alterações legislativas que levem a penalizar o mobbing, pode fazer o seguinte:
- Manter-se em boa forma física e psicológica
- Reforçar a confiança em si próprio
- Não cair em provocações
- Procurar apoio efectivo junto da família e amigos
- Realizar actividades fora do trabalho…
Não nos podemos deixar vencer pelo mobbing e, principalmente, não nos podemos esquecer que a adversidade é sempre uma oportunidade para mudar, ter êxito, dar valor ao que realmente importa, etc. . [1]

[1] Texto baseado em Pilar Varela - Ansiosa-mente, A Esfera dos Livros

12/11/08

Especuladores

A crise financeira e económica actual parece que se deve, segundo a comunicação social e especialistas nesta área, aos especuladores.
O cidadão comum, em que me incluo, fica perplexo com esta informação.
Os especuladores ? O que são os especuladores ? Quem são estes indivíduos ?
Será um novo grupo social ?
Parece até que se trata de uma coisa nova.
Será que na crise de 29 e em todas as crises não havia especuladores ?
Não sei.
O que sei é que não é uma coisa nova e que sempre houve especuladores, com este ou outro nome.
Lembrei-me de um autor anónimo do século XVII que escreveu sobre a arte de furtar um texto a que chamou: “A ladroeira dos ministros”.
Já naquele tempo, em que ainda andava no ar o cheiro a canela e a pimenta, o autor só podia ser anónimo.
E... Não me venham dizer que isto é demagogia. A situação actual pode provar que não é.

Dizia então esse autor anónimo:

“Olhem para mim todos os ministros de el-rei, que ontem andavam a pé e hoje a cavalo;
Estejam atentos a duas perguntas que lhes faço e respondam-me a elas, se souberem:
- Se os ofícios de vossas mercês dão de si até poderem andar em um macho ou em uma faca, quando muito, e suas mulheres em uma cadeira, como andam vossas mercês em liteiras e elas em coche ? Se a sua mesa se servia muito bem com pratos, saleiro e jarro de louça pintada de Lisboa, como se serve agora em baixelas de prata, salvas de bastiões, confeiteiras de relevo ?
Não me dirão donde vieram tantas colgaduras de damasco e tela, tantos bufetes guarnecidos, escritórios marchetados e com pontas de abada em cima ?
Já que lhes não dá do que dirá a gente, não me dirão onde acharam estes tesouros sem irem à Índia, ou que arte tiveram para medrarem tanto em tão pouco tempo, para que os desculpemos ao menos com a vizinhança ?
Já o sei, sem que mo digam: houveram-se como a raposa no galinheiro em que entraram. Levaram-se não só no necessário senão também no supérfluo. Não se contentam com se verem fartos e cheios como esponjas, querem engordar com acepipes; e por isso lançam o pé além da mão e estendem a mão até o céu e as unhas até o inferno, e metem tudo a saco, quando o ensacam, e são como o fogo que a nada diz – basta!” [1]

Os especuladores não são nem capitalistas nem socialistas, são ladrões.
A diferença é que não têm rosto, não vêm nas listas negras nem vão parar à prisão.
São apenas especuladores.

[1] Antologia do Humor Português

10/11/08

Modelagem

Uma das melhores formas de aprender é através da modelagem.
Os grandes países têm na sua história homens que são verdadeiras lendas e servem de exemplo a muitos cidadãos.
Hoje os EEUU são um país que segue à frente em muitas áreas que vão do conhecimento e investigação, à economia, etc...
Um dos homens que contribuiu para que os EEUU tenham atingido esta situação é, sem dúvida , John Rockkefeller.
Como sabem, Rockefeller foi um self-made-man, fundador da primeira companhia petrolífera norte americana, a Standard Oil.
Não herdou fortunas e a sua origem familiar era modesta. O pai teve pouco dinheiro para vestir os quatro filhos e duas filhas. Na escola, John Rockefeller e os irmãos não aparecem na fotografia da classe. Foi bom aluno em matemática. De resto, as suas notas na escola foram normais. Concluiu a escola secundária e procurou um emprego.
Em Cleveland, para onde se tinha mudado com a família, Rockefeller começa o seu primeiro emprego.
A partir daqui vai festejar todos os anos o aniversário do seu primeiro emprego: o seu "Jobday".
Era contabilista num grande armazém de retalho. Como ele diz, o trabalho "deu-lhe uma nova identidade". Às seis e meia da manhã começava o seu dia, trabalhando por vezes até à noite, apesar de não receber pagamento pelas horas extraordinárias.
O negócio prosperou e... no início de 1880, a Standard Oil e suas dependentes controlavam cerca de 90% das refinarias americanas.
Para além de grande empresário, Rockeffeler foi também um grande filantropo contribuindo para muitas instituições, como a Universidade de Chicago, o Instituto de pesquisas médicas, entre outras.
Funda também o Instituto Rockefeller de pesquisa médicas, o Rockefeller Center…
Doou o terreno onde se ergue o prédio das Nações Unidas.
O seu filho John Rockefeller Jr. continuou esta preocupação filantrópica do pai.
É deste Rockefeller Jr. a incrição que se encontra no Centro Rockeffeler em Nova Iorque.
As suas ideias deviam apaixonar qualquer político ou empresário de qualquer país do mundo:
Vou apenas referir, livremente, algumas delas:

Eu acredito no supremo valor do indivíduo, no direito à vida, à liberdade e a atingir a felicidade.
Eu acredito que cada direito implica uma responsabilidade; cada oportunidade: uma obrigação; cada posse um dever.
Eu acredito que a lei foi feita para o homem e não o homem para a lei; o governo é o empregado dos povos e não o seu mestre.

Eu acredito que a verdade e a justiça são fundamentais para a ordem social.

Eu acredito que o amor é a maior coisa do mundo. Só ele pode ultrapassar o ódio.
Que o direito pode ultrapassa o poder.

Agora que Obama venceu as eleições, estas ideias, estes ideais, mantêm toda a sua actualidade.

29/10/08

A creche é tão boa como uma mãe ?

É preferível que um bebé fique em casa com a mãe, nos primeiros 2 anos de vida, em vez de ir para uma creche logo aos 5/6 meses ?
Não é preferível para o desenvolvimento físico, psicológico, social, psicomotor, etc. que o bebé permaneça com um dos pais em casa durante esse período da vida ?
É possível que a creche seja como uma boa mãe para a criança e que a substitua cabalmente ?
Mais do que encontrar uma resposta única, consideramos que o passo mais importante é que a situação escolhida crie conforto a todos: pais e criança. Isto é, que a resposta encontrada seja a mais propícia ao desenvolvimento da criança.
A maioria das crianças dos centros urbanos entra para as creches aos 6 meses de idade aproximadamente, por não terem outra alternativa.
Esta solução permite aos pais continuar na sua carreira profissional, principalmente à mãe.
Muitos pensam mesmo que é a resposta desejável por permitir essa vida profissional.
No entanto, é desejável que a criança possa ficar com a mãe (ou o pai) em casa.
Claro que partimos do princípio de que é fundamental que existam estímulos que promovam o seu desenvolvimento.
Ficar em casa, brincando sozinha e com pouca interacção não é uma boa solução.
Jerome Kagan, em Harvard, investigou o desenvolvimento de crianças cujos pais optaram pela creche em relação a um grupo de crianças que optaram por ficar exclusivamente em casa, procurando saber se havia problemas para o desenvolvimento de um dos grupos em relação ao outro ou, dito de outra forma, se as crianças do grupo da creche não se ressentiam da ausência da mãe.
O resultado dessa investigação veio demonstrar que é possível que a creche dê respostas adequadas desde que o número de técnicos que trabalham com as crianças seja adequado. Isto é, seja em número suficiente, tenha experiência e esteja habilitado técnica e profissionalmente.
Assim, cada empregada era responsável por 3 bebés até aos 15 meses de idade ou responsável por 5 bebés dos 15 meses aos dois anos de idade.
Assim, podemos concluir que não é o simples aumento do número de creches, aumentado o número de vagas que vem resolver o problema.
É preciso que essas respostas sejam de qualidade.
Ora nós sabemos que nem sempre isso acontece.
E por outro lado, não é o facto de haver uma cobertura total que significa que estamos perante uma sociedade desenvolvida e os bebés estão a ser bem tratados.
Diria mesmo que temos que conjugar vários factores para se poder fazer essa avaliação.
Em primeiro lugar, a possibilidade de os pais poderem optar entre a colocação do filho na creche ou poderem ficar com o filho em casa.
Depois, quer num caso quer no outro poderem continuar a ter emprego e a desenvolverem a sua carreira profissional sem ficarem prejudicados pelo facto de serem mães e pais e ficarem com os filhos em casa.
Assim, uma sociedade será tanto mais desenvolvida quanto mais os pais tiverem a possibilidade de poderem optar por ficarem com os filhos em casa mas sem perderem o direito ao emprego e à carreira.
Não basta criar mais creches. É necessário alargar o período de licença de maternidade da mãe para que possamos falar de promoção, protecção e desenvolvimento da criança, num país desenvolvido.

25/10/08

As tácticas dos novos poderes

Vivemos na era da informação e do conhecimento. No entanto, não damos a importância devida aos mecanismos que estão envolvidos nesse processo.
Nos tempos que correm de insegurança, instabilidade, de desconfiança… não será demais percebermos que a informação pode ser manipulada quer na origem, no emissor, no destinatário ou na mensagem.
Também assistimos a grandes campanhas de propaganda política para vender uma imagem que interessa vender.
Não vale a pena fazer grandes juízos sobre se há poderes melhores e piores.
Temos tendência a justificar atitudes e comportamentos das pessoas que são do mesmo partido, a justificar, desvalorizar e mesmo a anular os comportamentos comprometedores do ponto vista moral, dos dirigentes e militantes do mesmo partido.
A comunicação social está alinhada com as campanhas dos partidos políticos de modo mal disfarçada ou de forma completamente empenhada. Basta conferir com o que se passa nos EEUU na actual campanha, onde os mais importantes órgãos de comunicação social apoiam um ou outro candidato.

O poder funciona assim, deita mão a todos os instrumentos que estão ao seu alcance e nunca como hoje a informação e o conhecimento tiveram tanta importância para o poder.
Daí que não seja de estranhar que a manipulação se faça sobretudo no campo da informação e da detenção do conhecimento.

É por isso que o debate da educação passa pela questão do conhecimento e da informação.
A formação da personalidade das crianças e dos jovens passa pela família, pela escola e certamente pelos media. Depois toda a nossa vida é influenciada pelos media. E… Por isso parece que o assunto da informação merece uma especial atenção.
Alvin Toffler, em Os novos poderes, (1991, orig. de 1990), para além de ter alertado para a possibilidade de uma crise financeira como a que estamos a viver, alerta-nos também para a manipulação da informação quer no emissor e no destinatário quer na mensagem.
É sobre técnicas e tácticas de manipulação da mensagem que quero referir em particular:
A táctica de omissão
Não jogar com o baralho todo, deixar enormes lacunas, retirar factos relevantes da informação...
A táctica das generalidades
Os pormenores são atenuados através de abstracções ligeiras: tal politico é corrupto mas são todos somos assim não é ?
A táctica do timing
Os discursos dos políticos são apresentados no último momento para não se poderem fazer grandes alterações. Veja-se o tempo para discussão publica…
A táctica do drible
Distribuir a informação a conta gotas tipo telenovela com mil episódios
A táctica do tsunami
Inundar o sujeito de informação a ponto de o submergir e não ser capaz de encontrar os factos essenciais.
A táctica da nebulosa
Lança-se uma grande quantidade de boatos nebulosos…. Do género: eu sei que você sabe que eu sei…
A táctica do volta para trás
Por exemplo espalhar uma história falsa em qualquer lado, no estrangeiro, que depois virá a ser tomada como verdadeira no local que interessa
A táctica da grande mentira
A pequena mentira dificilmente é acreditada. Hoje é necessário mentir … mas em grande.
A táctica da inversão
Virar simplesmente uma mensagem do avesso.
Algumas destas tácticas são de antologia, mas continuamos distraidamente a acreditar na mensagem de quem controla a informação…

16/10/08

Todos iguais todos diferentes

Se bem me lembro já houve em Portugal um Ministério para a igualdade. [1]
Isto significa que pela primeira vez neste país, e talvez pela última, existiu um Ministério para a igualdade.
O que acontece é que a democracia devia ser o respeito pelas diferenças.
Esta coisa da igualdade é um retorno fora de prazo de validade à revolução francesa ou a Marx, ou talvez também a Skinner: se proporcionarmos um ambiente idêntico para todos, teremos então possibilidade de atingir a igualdade, quem sabe se às incubadoras de Huxley ou então podermos seguir o caminho da clonagem humana para a pior das suas possibilidades.
E já estão a ver porque é que a diferença é afinal tão importante: porque somos todos diferentes uns dos outros.
Eu sou eu porque sou diferente. Eu não seria eu se fosse igual a ti, se fosse igual a outro.
Era assim uma espécie de fotocópia e a reprodução era sempre igual.
Até a reprodução biológica é diferente porque o indivíduo recebe metade dos cromossomas da célula masculina e metade da célula feminina: então a reprodução é fazer diferente.
E é por sermos diferentes que somos ricos. Porque assim temos muito mais coisas: podemos gostar da música de Mozart, da pintura de Chagal, da poesia concreta de Melo e Castro, da poesia de Camões, e assim por diante.
É por sermos diferentes que podemos ter profissões diferentes e fazer coisas diferentes: pintar quadros diferentes, escrever livros diferentes sobre tantas coisas diferentes.
Quer dizer temos coisas muito diferentes de que podemos gostar e de que podemos beneficiar dado que “se sou diferente de ti, longe de te prejudicar, aumento-te” (Saint-Éxupéry).
Mas há sempre alguém que pensa que somos todos iguais … e é por exemplo o que acontece no mimetismo [2] que é característica daquele indivíduo que é igual aos outros todos, é português com os portugueses, é regionalista com os regionalistas…
Dizem: somos todos iguais mas é necessária uma vanguarda…
O que quer dizer que muitos outros são a retaguarda … Ou seja, é o que se chama a igualdade escondida com o rabo de fora. O que levou depois a dizer que somos todos iguais mas uns são mais iguais do que os outros…[3]
O que acontece, portanto, é que somos todos diferentes.
Mas se o Ministério da igualdade foi uma miragem, e ninguém quererá criar um das diferenças, por que não levarmos a sério a inclusão, a educação inclusiva ?
Tentativas não têm faltado. E cada novo ministro tenta executar as medidas que vão salvar a educação.
Por isso, na educação tem havido um corrupio de reformas à velocidade de substituição dos ministros nos lugares.
No entanto, não deixa de ser interessante ver como as vanguardas se assumem como defensoras das causas fracturantes.
Quando, porque somos diferentes, do que precisamos é de “construtores de pontes”, de lideres consensuais e não de líderes fracturantes.

[1] Ministério para a igualdade no II Governo do Engº Guterres.[2] Alberto Pimenta - “Discurso sobre o filho-da-puta”.[3] Orwell – “O triunfo dos porcos”

08/10/08

O destino da lua

Frequentemente, remetemos para a escola todas as responsabilidades do que está errado na sociedade: o problema da violência e criminalidade, o problema da sexualidade e da prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, da educação para a saúde e da aprendizagem de comportamentos saudáveis.
A escola educa para a protecção da natureza e ensina a ter comportamentos que se coadunem com a ecologia, a protecção civil, a prevenir os incêndios, os acidentes de viação e a protecção rodoviária, aprendizagem das regras cívicas, dos valores morais e éticos, da cidadania e da participação política, da educação parental, da resolução do absentismo e do abandono, da formação de segunda oportunidade e até profissional …
Remeter para a escola todas as responsabilidades da sociedade e, principalmente, o resultado dos erros dos homens está na ordem do dia, já que remeter para as famílias, mais rapidamente nos atinge também a nós. A escola está perto mas, simultaneamente, está longe de nós, não é responsabilidade nossa, é dos professores, é dos políticos.
Em última análise, a responsabilidade será da sociedade, das condições sociais objectivas … que estão ainda mais longe.
Claro que, se estivéssemos numa sociedade socialista nada seria assim, continuam a dizer alguns, que só por ingenuidade (?) pensam, actualmente, como Jorge Amado há mais de 50 anos que “sonhou" em Capitães da Areia que isso fosse possível.
Por cá tivemos responsáveis políticos, e cito apenas Ana Benavente, que sonhava com uma escola socialista nos anos 70, de que nos dá conta em A escola na sociedade de Classes.
Porém, se quisermos aprofundar o problema da educação, não nos poderemos ficar por estas certezas ou pelas indefinições de outros, os do relativismo moral e que acham que a escola serve para tudo e é o lugar onde tudo é possível.
Hoje a escola parece ser o sítio, onde os “pequenos tecnocratas da mochila”, como diz Eduardo Sá, vão aprender tudo, durante o dia inteiro.
A escola está ao serviço da sociedade. É um instrumento dessa sociedade. E se a sociedade é democrática podemos ter alguma esperança de que eduque cidadãos para se comportarem democraticamente.
A escola está ao serviço das famílias. Mas não pode substituir os contextos familiares nem tomar decisões que competem à família, e à aprendizagem dos mais importantes afectos da vida das crianças.
A escola está ao serviço do indivíduo. E, por isso, compete-lhe o papel de o desenvolver do ponto de vista humano, dando-lhe todas as oportunidades para que possa realizar-se individualmente como pessoa, integrado numa família e numa sociedade.
Esta tarefa é de sempre. Mesmo que se chegue a um modelo que satisfaça a maioria das pessoas é necessário consolidar esse modelo, alimentá-lo, fazê-lo crescer, como acontece com qualquer organismo, ou qualquer sistema.
Esta tarefa implica estabilidade e mudança, simultanea e paradoxalmente. Estabilidade e mudança são as características do desenvolvimento. As mudanças reais e as pseudo mudanças dos últimos anos não conduziram a uma educação para todos nem a um aumento da qualidade da educação em muito devido aos permanentes sobressaltos dos que quiseram e querem realizar mudanças em cima do joelho, obedecendo a lógicas meramente partidárias e esquecendo-se de que a educação é para todas as crianças qualquer que seja o seu contexto social e o seu contexto temporal.
Poderemos ter uma escola da tecnocracia, com computadores, quadros interactivos, programa skool e internet…
A questão é que não há escolas sem professores…
É por isso que a escola pode bem ser considerada como a instituição que, como diz uma velha canção da minha infância, “tem o destino da lua, a todos encanta e não é de ninguém”.

02/10/08

Pensamento mágico

Vivemos no sec. XXI. Orientamos a nossa vida pelas descobertas da ciência ou parece que é assim para muitos de nós.
A descoberta do genoma e, em consequência, de muitas doenças veio provar que era de origem biológica, genética, o que antes era de origem desconhecida ou relacional.
Estamos ainda no começo da compreensão do proteoma, isto é, do papel que os aminoácidos, as proteínas desempenham no nosso organismo
Todos os dias sabemos coisas novas sobre o desenvolvimento humano, o comportamento e a personalidade no campo da psicologia.
As descobertas de Freud e Piaget foram sem dúvida surpreendentes para o seu tempo e ainda hoje explicam muito da nossa realidade consciente e inconsciente.
Mas, na nossa vida do dia a dia, muitas dessas descobertas estão muito distantes e temos comportamentos pouco consentâneos com os dados da ciência..
Como sabemos o desenvolvimento do ser humano passa por diversas etapas ou períodos.
Um desses períodos, o do desenvolvimento pré-operatório é muito interessante porque explica o comportamento das crianças dos 2 aos 7 anos mas explica também o comportamentos de muitos adultos.
De facto embora possamos evoluir para as operações formais, mantemos comportamentos de estádios anteriores.
Vejamos alguns exemplos de comportamentos pré operatórios:
Tomar importantes decisões na vida com base nos horóscopos, acreditar no conto do vigário, acreditar que o jogo de futebol me corre bem se fizer algumas rotinas que vão da crendice popular até às rotinas e rituais mais insólitos, acreditar que é possível ler o pensamento dos outros…
No campo da política temos imensos exemplos. O mais recente é acreditar que tudo vai mudar porque "nós queremos" (we can), é acreditar que basta estalar os dedos e …magia…. o problema fica resolvido.
Esta é mesmo uma situação em que os políticos nos querem fazer acreditar.
Mas será que os próprios líderes políticos têm pensamento mágico ?
Vejamos, por exemplo, o caso da educação.
Os resultados foram divulgados. Basta legislar e estamos como na Europa avançada.
Pouco importa se isso significa desemprego, precariedade, desmotivação, perda de dignidade, falta de perspectivas e expectativas, perda de direitos sociais, os tão famosos direitos adquiridos que alguns não querem entender que são direitos sociais, adquiridos ou não.
“Nós podemos”… pensamento mágico, e, já está ... aí temos o admirável mundo novo !

29/09/08

Sete vidas



                                                          Na rua da minha infância
                                                          Há casas velhas e fechadas
                                                          Desertas
                                                          Cada vez mais

                                                          Há velhos cada vez mais velhos
                                                          Poucos e mais sós
                                                          Cada vez menos

                                                          Apenas os gatos renascem
                                                          Nos telhados velhos
                                                          Enquanto houver telhados

25/09/08

SINAlizações de crianças com NEE

A palavra sinalização significa pôr um sinal como acontece na regulação do trânsito. Porém, às vezes, parece que significa ter uma SINA.
No caso de que quero falar hoje ou é sina ou coincidência…ou algo de mais estruturado…
Periodicamente, assistimos a reduções umas vezes do número de professores de educação especial outras vezes do número de alunos com Necessidades Educativas Especiais (NEE).
É sempre bom lembrar… que em Outubro de 2001 foi feita uma redução (corte) de 46% dos professores de Educação Especial.(correspondente a 2.596 profissionais) 1.
Passou-se depois pela redução dos professores efectivos com a criação do Quadro de Educação Especial.
Este ano, acontece que não são os professores que não são colocados, são os alunos que são excluídos da Educação Especial.
A notícia do Público de 10-9-2008 que cita a Lusa (http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1342311&idCanal=58) vem dar-nos conta de que para o Ministério da educação todos os alunos com necessidades especiais estão sinalizados considerando "absurdo" um estudo da Universidade do Minho, recentemente divulgado.
Para o Ministério da Educação as crianças com necessidades especiais "rondam os 1,8 por cento"2. E quantificou em 55 mil os alunos que estão sinalizados e que precisam de necessidades especiais, de apoio especializado ou de apoio educativo. "É um absurdo estar-se a falar em 100 mil, é um número atirado para o ar", diz o Ministério da Educação.
O professor catedrático que coordena a Área de Educação Especial da Universidade do Minho, Miranda Correia, disse que mais de 100 mil alunos com necessidades especiais estão sem qualquer apoio pedagógico, situação que em muitos casos se transforma em "graves problemas de insucesso escolar".
O número do Ministério da Educação "É um número totalmente abaixo de qualquer estudo internacional", sustenta Miranda Correia que defende situarem-se entre os oito e os 12 por cento os alunos que têm dificuldades de aprendizagem específicas.
Esta divergência vem do facto de se saber se devem ser apoiadas apenas problemáticas de alta-intensidade e baixa-frequência ou também as problemáticas de baixa-intensidade e alta-frequência.
Já aqui dissemos que alta frequência era o novo nome da exclusão. As crianças deste grupo, segundo a actual visão do Ministério da Educação, vão ficar excluídas da Educação Especial.
Como podemos dizer que as dificuldades de aprendizagem não são Necessidades Especiais de Educação? Ou pelo menos algumas Dificuldades de Aprendizagem como as alexias ou dislexias
O mais estranho é que até as crianças com deficiência mental devidamente comprovada ficaram, em muitos casos, excluídas ou para reavaliação. Que adianta explicar o que significa um QI <70 para a aprendizagem?

Se não ouvem as crianças,
Se não querem ouvir os pais das crianças,
Se não ouvem quem está no terreno, professores e técnicos.
Não querem ouvir professores universitários como Miranda Correia, David Rodrigues, médicos pediatras como Luís Borges etc. …
… Só pode ser SINA a situação das crianças com NEE e dos seus pais que nunca mais vêem estabilizada uma área de educação onde as instabilidades são provavelmente mais angustiantes.

Carlos Teixeira

1. Redução de professores no Ensino Especial (2001-10-22)
Este ano lectivo o número de professores colocados no Ensino Especial foi reduzido em 2.596 profissionais.
No corrente ano lectivo foram colocados menos 46% professores de Ensino Especial.
Segundo a Federação Nacional de Professores (FENPROF) foram colocados no apoio educativo 3.412 professores sem formação específica na área do Ensino Especial; por isso, as necessidades nessa área vão ficar por preencher.
Ainda segundo a FENPROF, os professores colocados são destinados a apoiar as crianças deficientes, com permanentes necessidades educativas especiais, ficando as restantes situações de fora.
No passado recente, Teresa Palha, representante da FENPROF, realçou a importância do acompanhamento de alunos com necessidades especiais, com problemas de integração (jovens hemofílicos, seropositivos ou que pertencem a grupos étnicos minoritários) e que necessitam de acompanhamento especializado.


2. “Os alunos com necessidades educativas especiais podem ser distinguidos, levando ainda mais à frente o princípio da diferenciação positiva, entre os que apresentam problemáticas de baixa-intensidade e alta-frequência e os que apresentam problemáticas de alta-intensidade e baixa-frequência.
Se para os primeiros deve ser suficiente uma maior qualidade nas respostas educativas e escolares, no sentido de uma maior flexibilização e diferenciação pedagógica, associadas a medidas como os percursos alternativos e os apoios individualizados, para os outros requerem-se recursos humanos e logísticos mais sofisticados e especializados.
Neste sentido, o actual diploma prevê, além de outras medidas, o desenvolvimento de respostas diferenciadas, levando à criação de escolas de referência nas áreas da cegueira e baixa visão e da surdez, bem como a criação de unidades de apoio especializado para a educação de alunos com perturbações do espectro do autismo ou alunos com multideficiência.
Tal implica um esforço adicional de entidades diversas, que vão das escolas e serviços da educação até às autarquias, à segurança social e às famílias, que em breve deverá produzir um salto qualitativo de grande alcance na resposta a estas problemáticas mais específicas, aquelas que tradicionalmente tendiam a ficar para trás”.
Luís Capucha, Educação Especial, Manual de apoio à Prática, DGIDC, ME, Lisboa, 2008

17/09/08

Construir

Castelo Branco: Homenagem aos combatentes
                                                                   

 Morro do Aragão
                                                            “...Passarão anos, nascerão filhos
                                                            Muito antes que eu esqueça
                                                             ...”
Fernando Assis Pacheco, Catalabanza, Quilolo e volta, Centelha, Coimbra, 1976

11/09/08

Filhos preferidos, leis iníquas e comportamentos imorais

1. A igualdade dos filhos face à lei, decorre de Declarações e Convenções internacionais e da Constituição: “Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei”. [1]
Assim, as pessoas são iguais face à lei e, nas mesmas circunstâncias, têm os mesmos direitos. No entanto, assim não acontece no que diz respeito a heranças. [2]
Os pais podem dispor de uma parte da herança (parte disponível) e fazer dela doação a um filho preferido. Na prática, se existirem dois filhos um pode herdar 2/3 e o outro 1/3.
Portanto, de facto, os filhos não são iguais face à lei quando os pais se comportam como verdadeiros discriminadores dos direitos fundamentais dos filhos.
Mas, dir-me-ão, que a lei está bem quando prevê a possibilidade de, por exemplo, num gesto filantrópico, uma pessoa poder deixar os seus bens a uma instituição de caridade ou outra que beneficie igualmente a sociedade…. Neste caso estamos de acordo.
O que se passa é que a lei também pode ser usada pelos pais para esbulharem os filhos de que não gostam, influenciados ou não pelos filhos preferidos.
2. Não se exige a ninguém que tenha padrões elevados de desenvolvimento e comportamento moral.
E, de facto, no dia a dia da nossa vida, não é o que acontece com uma grande maioria de pessoas que se situa, moralmente, pelo menos ao nível do contrato social.
O problema é que há muita gente que se coloca num nível bastante baixo da moralidade.
Essa gente pode até exercer profissões de destaque na sociedade e pensaríamos nós que elas próprios se orientariam por esses padrões elevados de moralidade. Mero engano. Pautam a sua vida pela dimensão dos seus interesses.
3. São, por isso, os primeiros a dar a “facada nas costas” dos irmãos e dos amigos, quando os seus interesses estão em jogo.
A história de Jacob e Esaú que conhecemos da Bíblia, devia estar sempre presente na compreensão do ser humano e das suas velhas manhas.
Jacob enganou duas vezes o irmão mais velho, Esaú. Numa das vezes incentivado pela própria mãe que sugeriu a melhor forma de enganar o pai, Isaac, que se encontrava cego. E assim aconteceu. Obteve a benção (e a fortuna) do pai com a artimanha de se fazer passar pelo irmão.
4. A família devia ser o melhor meio para cada um de nós. Mas esta visão é enganosa e paradoxal.
É paradoxal porque é aí que deveria residir a ideia de igualdade dos próprios filhos. E onde devíamos esperar amor encontramos discriminação, interesses, ódio…
Podemos ter a melhor impressão dos nossos progenitores. Mesmo quando algum é assassino, ladrão, etc. Mas como compreender que aqueles que nos devem proteger e promover a igualdade entre os filhos têm as mãos livres para os discriminarem ?
Esta situação é também um problema de maus tratos e de abuso: aqueles de quem se espera protecção, tratamento igual, são os abusadores, os que roubam os direitos dos filhos a um tratamento igual, os mentirosos que dizem que são iguais aqueles que, na prática, discriminam.
Por isso, a família pode ser o pior micro-meio que podemos ter na nossa vida. Que o digam os filhos abusados, violados, roubados, discriminados…
5. A discriminação dos filhos apenas serve aos seres moralmente rasteiros, invejosos, gananciosos, ladrões de secretaria, ascensoristas sociais, entre outros…
Quando a leis iníquas se somam comportamentos imorais, temos a fórmula para estilhaçar qualquer relação afectiva que possa existir numa família. Os afectos terminam onde começam os seus interesses. E a família é apenas o meio onde esperam poder meter a mão manipuladora que concretize os seus interesses.
6. Mas, pelo menos, por fim, e é aqui que a história de Esaú e Jacob é diferente, Jacob pediu perdão ao irmão que ele próprio tinha enganado e roubado.
Se queremos que a afectividade esteja no centro das relações familiares, podemos começar por acabar com os filhos preferidos, acabar com as leis iníquas e subirmos um pouco os nossos padrões de comportamento moral.

Carlos Teixeira

[1] Artº 13º Constituição da República Portuguesa.[2] Código Civil, Artº 2156 e seguintes.

05/09/08

Casamento, Família e Sexo

A família é uma “Instituição social fundada sobre a sexualidade e as tendências maternais e paternais, cuja forma varia consoante as culturas (monogâmica, poligâmica, poliândrica, etc.).
A sexualidade é, segundo esta definição, um elemento fundamental da família. (1)
No comportamento sexual existem actividades reprodutivas e actividades não reprodutivas.
A distinção nem sempre é fácil. E, esse facto, tem dado origem a discussões intermináveis sobre o assunto.
Desmond Morris, no seu livro O Zoo Humano (2), diz que o sexo se tornou “ a mais elaborada das nossas actividades apesar de todos os riscos, e não conta menos de dez categorias principais”:
1. Sexo procriador
2. Sexo acasalador
3. Sexo sustentador do par
4. Sexo fisiológico
5. Sexo exploratório
6. Sexo autogratificante
7. Sexo ocupacional
8. Sexo tranquilizante
9. Sexo comercial
10. Sexo de situação
Remeto os ouvintes para a (re)leitura do livro de Desmond Morris.
Mas vejamos, seguindo o autor, ainda que muito resumidamente, cada uma destas categorias sexuais.
1. Sexo procriador
Para Desmond Morris “não há dúvida de que esta é a função mais básica do comportamento sexual”. Mas também refere que “por vezes tem-se pretendido, erradamente, que é a única função natural e por conseguinte apropriada.” (3)
2. Sexo acasalador
O animal humano é básica e biologicamente uma espécie acasaladora. À medida que se desenvolvem relações emocionais entre um par de companheiros potenciais, elas são favorecidas e fortificadas pelas actividades sexuais.
3. Sexo sustentador do par
Quando um acasalamento se estabeleceu com sucesso, as actividades sexuais ainda funcionam para manter e reforçar os laços
Estas três primeiras categorias constituem, em conjunto, as funções reprodutivas primárias do comportamento sexual humano.
4. Sexo fisiológico
Os adultos saudáveis, machos e fêmeas, têm necessidade fisiológica básica de consumo sexual repetido…
5. Sexo exploratório
Uma vasta gama de variações do tema sexual e … nesta como noutras matérias é grande o poder inventivo do homem.
6. Sexo autogratificante
É diferente do anterior porque aquele tinha uma função exploratória e aqui repetem-se os moldes em que o casal faz “sexo pelo sexo”.
7. Sexo ocupacional
Este é o sexo que funciona como terapêutica ocupacional, como dispositivo contra o tédio…
8. Sexo tranquilizante
Funciona ao contrario do anterior, é um remédio contra o alvoroço, contra o stress…
9. Sexo comercial
Trata-se de uma transacção comercial: um dos comparsas não faz mais do que fornecer ao outro serviço copulatório, em troca de dinheiro ou abrigo….
10. Sexo de situação
Trata-se de aspectos mais complexos da nossa sexualidade, tem a ver com o estatuto e com os papéis da fêmea sexual e do macho sexual…
Desmond Morris dá-nos uma perspectiva biológica das funções sexuais. E segundo esta perspectiva, qualquer pessoa, macho ou fêmea, pode ter vários destes comportamentos sexuais durante a sua vida. E sempre foi assim. Não são comportamentos pré-modernos ou pós-modernos. Existiram desde sempre e partilhamos com outras espécies estas funções do sexo.
Não vale a pena negar que o casamento e a família têm uma função procriadora como também não vale a pena pensar que têm apenas essa função.

[1] Dicionário Temático Larousse, Psicologia, “Família”, Círculo de Leitores, pag. 112
[1] Morris , Desmond – O Zoo Humano, Europa América, pp.91-140
[1] idem , pag. 93


17/08/08

Construir


A Casa da Cultura de S. Miguel d'Acha tem actualmente aberta à população a exposição de fotografia - Gentes e Locais - de José Pedro Torres.

Esta iniciativa, como outras referidas abaixo, são verdadeiros contributos culturais locais que, com esforço, são periodicamente concretizados numa pequena aldeia que tenta resistir à desertificação humana e cultural ...

São de referir as exposições de:
- Lopo Salgueiro - Aguarelas
- Maria d' Acha - Pintura e Jóias
- Paulo Lopo Esteves - Pintura
 



14/08/08

Construir

Cargaleiro (Mata dos Loureiros – Castelo Branco)

“Quando um artista encontra o seu caminho, é a grande felicidade” - Cargaleiro (Entrevista à RTP)

20/07/08

Sem comentário....


O estado em que ficou o balcão... após o roubo das escadas.
CulturAche - Boletim Informativo da Associação de Defesa do Património Cultural de S. Miguel d’Acha, Ano 3, nº. 36, Junho de 2008

Educação escolar em casa e socialização

O problema das escolas que fecham vai novamente colocar-se. Algumas crianças deixarão de ficar perto das famílias, nas escolas da sua residência, para se deslocarem algumas dezenas de quilómetros para poderem frequentar a escola, noutra freguesia ou na sede do concelho.
A nossa opinião é a de que nem todas as escolas com menos de 10 alunos deviam fechar. Bem sei que estou a ir contra a corrente… mas não deixa de ser confrangedor assistir ao fecho de tantas escolas sem que se possa enveredar por soluções alternativas…
O que é interessante, é que em 1999, Ana Benavente então Secretária de Estado da Educação, duvidava também desta solução e referia nas Jornadas Pedagógicas do Pinhal “ que o fecho de escolas com menos de 10 alunos nem sempre é uma boa solução. Não é um bom princípio porque terra que perca a escola, nunca mais lá fixa nenhum casal jovem…Há aqui uma articulação necessária entre o desenvolvimento local e todas as questões do desenvolvimento”. [1]

Mas o que se fez? Nada. Continuou a vertigem do encerramento de escolas.

Estou convicto de que pelo menos se impõe fazer algumas perguntas, tendo como pano de fundo o bem-estar das crianças e o seu direito à educação.
- Não poderá haver alternativas ao fecho destas escolas ?
- Não será altura de se pôr em questão este conceito único de escola ?
- Não poderá haver alguma criatividade e inovação por parte dos pais e autarquias, por exemplo, para se encontrarem soluções que beneficiem as crianças ?

A argumentação para o encerramento das escolas não nos satisfaz. Insisto, mais uma vez, neste ponto. Para além de todas as preocupações que os pais levantam, e das respostas que ouvimos, pouco satisfatórias, há uma que merecia uma reflexão. Dizem: a questão é o problema da socialização das crianças.
Mas qual é o número de crianças necessário numa escola para que o processo de socialização das crianças não seja afectado?
É que não é verdade que estas crianças não se socializem.
E também não é verdade que estas crianças tenham piores resultados que as outras. E quando são piores, isso deve-se ao facto de a escola ter poucos alunos?

Estando em causa o processo de socialização, é preciso dizer que estudos, nos Estados Unidos, com adultos que tiveram Educação Escolar em Casa, mostraram:
· Com relação à capacidade dos estudantes universitários de pensar de modo crítico, os pesquisadores não constataram nenhuma diferença importante entre os que se formaram em escolas particulares, escolas públicas e educação escolar no lar.
· Um estudo envolvendo adultos que foram educados em casa constatou que nenhum estava desempregado e nenhum estava vivendo à custa dos serviços sociais do governo, 94% disseram que a educação em casa os preparou para serem pessoas independentes, 79% disseram que os ajudou a se relacionar com indivíduos de diferentes níveis da sociedade, e eles apoiaram fortemente o método de educação no lar.[2]

Hoje, o ensino em casa, ou ensino doméstico, começa a ter expressão em alguns países.
O ensino doméstico também é possível em Portugal, embora seja praticamente desconhecido
Não é, provavelmente, a resposta com mais condições para se desenvolver dado o nível de escolaridade dos pais nas aldeias com estes problemas.
Mas não poderá haver soluções que se enquadrem numa perspectiva comunitária envolvendo os serviços de educação, as autarquias e os pais?
Eu sei que este tema não está na ordem do dia. Mas este é um assunto que é necessário debater na sociedade portuguesa.

Carlos Teixeira


[2] http://www.nheri.org/Facts-on-Homeschooling.html
[1] Reconquista, 7 de Maio de 1999

02/07/08

Porquê a CIF...

Porquê a CIF, se a investigação, os especialistas e os pais não a aconselham?Luís de Miranda Correia 2007-07-24


O professor James Kauffman diz que "A minha opinião é a de que o uso da CIF na educação especial constituirá um erro sério, mesmo trágico. As definições clínicas/de saúde e as educacionais não são de forma alguma apropriadas para os mesmos processos e profissões". "Penso que as pessoas deste país (Estados Unidos), de um modo geral, concordariam que as definições clínicas/de saúde não são apropriadas para a educação especial. Isto não quer dizer que elas sejam totalmente irrelevantes, mas são em si insuficientes para definir as condições sob as quais a educação especial é necessária."

O professor Daniel Hallahan afirma "Penso que as discapacidades são condições intra-individuais, e que qualquer definição estará incompleta quando não reconhece os efeitos dessas discapacidades na realização educacional."

O professor William Heward diz "Na minha opinião, seria prematuro, no melhor dos sentidos, usar a CIF como base para determinar a elegibilidade para serviços de educação especial, sem que os resultados da investigação demonstrassem que tal mudança poderia afectar os alunos que actualmente estão, ou não, a ser atendidos. Neste momento, não vejo como o seu uso poderá ajudar quer na clarificação do processo de identificação de metas e objectivos para os alunos com NEE quer na solidificação dos serviços de que esses alunos são alvo."

No que respeita aos especialistas envolvidos na adaptação da CIF para crianças e adolescentes, a professora Judith Hollenweger, representante da área de educação na "Rehabilition International" e uma das promotoras do uso da CIF, acha de momento prematura a sua utilização, uma vez que refere que "A CIF não foi criada para substituir outros processos de categorização, como por exemplo o "autismo", mas sim para providenciar informação adicional... Como é usada esta informação adicional e como devem ser elaborados instrumentos práticos que a possam tornar real e aplicável são questões ainda por responder. Se o seu governo está a planear a substituição dos processos actuais de conceitualização das necessidades especiais (discapacidades) no sistema educativo, aconselhá-lo-ia, peremptoriamente, a que se opusesse ".

A professora Barbara LeRoy, vice-presidente da "Rehabilitation International", afirma que "a CIF é na verdade dirigida para a vivência comunitária e categorizações de saúde e não (para) a educação".

O professor Rune Simeonsson, destacado investigador e cientista, bem conhecido no nosso país, diz com alguma estupefacção: "Estou surpreendido por nem eu nem qualquer um dos meus colegas do grupo de trabalho da OMS CIF-CA ter sido convidado para dar sugestões sobre este assunto, mesmo sabendo-se que eu apresentei várias vezes a CIF/CIF-CA em Portugal, incluindo num organismo governamental... Estou muito decepcionado pelo facto de Portugal ser talvez o primeiro país a usar a CIF de uma forma compreensiva, embora ela não tenha sido usada de uma forma correcta."Por último, o professor Peter Evans, responsável pela área da educação especial na OCDE, diz que, "embora tenha acompanhado algum do debate que respeita à CIF, não possuo um conhecimento profundo sobre o que exactamente será proposto na versão destinada às crianças e adolescentes que, penso, será anunciada no final deste ano. Pese embora este constrangimento, não estou seguro de qual o valor que a CIF-CA terá para as crianças. Será com certeza muito orientada para a saúde."
....

*Professor Catedrático
Instituto de Estudos da Criança/Universidade do Minho

O texto integral pode ser consultado aqui.

CIF - a mistificação

A minha intervenção de hoje dirige-se em particular a todos os pais que têm filhos na educação especial.
CIF provavelmente não lhe diz nada ou não é, certamente, o que está a pensar, não é um produto para a higiene do lar. É um acrónimo, ou sigla, que significa Classificação Internacional de Funcionalidade que a Organização Mundial de Saúde aprovou, em 2001, sustentada num paradigma conceptual para a definição, avaliação e formulação de políticas para a saúde e incapacidade.
O Decreto Lei 3/2008 prevê o uso da CIF no processo de elegibilidade das Necessidades Educativas Especiais de carácter prolongado.
Podemos pensar que a CIF pode ter inúmeras vantagens:
- estabelece uma linguagem comum entre profissionais de Educação, Saúde e de Intervenção Social.
- como ferramenta estatística, na recolha e registo de dados
- como ferramenta de investigação - para medir resultados, qualidade de vida ou factores ambientais;
-como ferramenta clínica, na valoração de necessidades, para homogeneizar tratamentos com condições específicas de saúde, na reabilitação e na avaliação de resultados;
- como instrumento de política social, no planeamento de sistemas de segurança social, sistemas de compensação, e para conceber e implementar políticas;
- como instrumento educativo, para estruturar o "currículo" e de forma a aumentar a consciencialização da sociedade e desenvolver actividades sociais.
Comecei por ter grandes expectativas em relação à mudança na Educação Especial, quando analisei o Guia orientador de apoio ao processo de elegibilidade para efeitos de aplicação de medidas especiais de educação - por referência à CIF (2001) parecia que podíamos ter aquele instrumento como um precioso apoio na selecção das crianças que deviam ser apoiadas pela educação especial.
A CIF pode ser sem dúvida um instrumento aglutinador dos vários saberes sobre as necessidades educativas especiais e integrador das várias intervenções a fazer.
Mas por si só não é esse instrumento. São necessárias, como até agora, instrumentos de avaliação intermédios: testes, escalas, questionários, etc. no domínio pedagógico, psicológico e médico sem os quais a avaliação pela CIF cai no campo da total subjectividade.
Diga-se a este propósito que entre a check-list original (1) e a tradução para português, essa subjectividade aumentou porque nem sequer foi definido o primeiro qualificador.
Refira-se também que a CIF ainda não está a ser aplicada na maioria dos casos e que nem sequer existe tradução de parte da CIF – crianças e jovens, funções e estrutura do corpo.
Mas à CIF o que é da CIF: as crianças com Necessidades Educativas Especiais (NEE) estão a ser excluídas com base noutros critérios que não os da CIF, isto é, estão a ser excluídas, entre outros critérios, por falta de relatório médico que ateste a deficiência da criança.
Assim, de uma forma pouco cientifica mas muito arrogante vão ser excluídas crianças da educação especial.

Por isso, temo que esta maneira de ver a CIF não seja mais que uma mistificação ou seja mais um logro ou engano.
A confirmar-se que sejam excluídas da educação especial 26.877 crianças com Necessidades educativas especiais (2) , a CIF pode não ser um produto para limpeza doméstica mas em termos de necessidades educativas especiais, mal usada ou não usada, como parece que está a ser o caso, limpa melhor que qualquer outro produto de limpeza.
[1] 0 No impairment means the person has no problem
1 Mild impairment means a problem that is present less than 25% of the time, with an intensity a person can tolerate and which happens rarely over the last 30 days.
2 Moderate impairment means that a problem that is present less than 50% of the time, with an intensity, which is interfering in the persons day to day life and which happens occasionally over the last 30 days.
3 Severe impairment means that a problem that is present more than 50% of the time, with an intensity, which is partially disrupting the persons day to day life and which happens frequently over the last 30 days.
4 Complete impairment means that a problem that is present more than 95% of the time, with an intensity, which is totally disrupting
the persons day to day life and which happens every day over the last 30 days.
8 Not specified means there is insufficient information to specify the severity of the impairment.
9 Not applicable means it is inappropriate to apply a particular code.

[2] Diferença entre os alunos apoiados este ano e os que serão apoiados no próximo ano lectivo, correspondendo a 1,8 % da população escolar.

26/06/08

Hiperactividade, proactividade, vivacidade

Em 1975, João dos Santos dizia o seguinte no livro A Higiene Mental na Escola [1]:
" No campo da Saúde Escolar devemos combater:
... O uso da droga propagada de forma abusiva pelas empresas de produtos farmacêuticos com vista à resolução dos mais variados problemas escolares: de aprendizagem, comportamento, memória, atenção e inteligência".
É um tema de absoluta actualidade.
Relativamente a esta situação, não só não foram ouvidas as palavras de João dos Santos, como tomou proporções alarmantes no dizer de Eduardo Sá.
Eduardo Sá defendeu recentemente [2] que actualmente se vive uma progressiva medicação das crianças que são supostamente hiperactivas. As crianças excessivamente medicadas estão em perigo e deveriam ser protegidas pelas Comissões de Protecção tal como as outras.
Confundir vivacidade com hiperactividade é cada vez mais um hábito na sociedade actual. É necessário estudar este assunto porque o número de crianças que está a ser medicado com ritalina [3]começa a ser alarmante.
Alertou ainda para os possíveis problemas psicológicos que uma criança que tome este medicamento possa vir futuramente a sofrer. Uma criança que tome em doses excessivas Ritalina pode no futuro vir a transformar-se num psicopata.

Temos chamado a atenção para o risco da subjectividade, no diagnóstico de uma perturbação de hiperactividade com défice de atenção (PHDA) ainda que baseado no questionário de Conners. Além disso, temos defendido as estratégias educativas e a psicoterapia em detrimento da medicação.

Se as palavras de João dos Santos não foram ouvidas, hoje, não podemos ignorar as consequências para a saúde física e mental do uso a curto e longo prazo de medicamentos como a ritalina. A lista de problemas é suficientemente grande e assustadora para pensarmos duas vezes antes de nos decidirmos pela medicação.
Se assim não for, há que pensar se não deverá ser considerado um mau trato essa excessiva medicação, como defende Eduardo Sá.

Mas as medidas que têm sido tomadas pela educação também não vieram contribuir para que a situação mude. A este propósito podemos referir as aulas de 90 minutos, o tempo excessivo de permanência na escola e na sala de aula com a chamada escola a tempo inteiro, em que a preocupação foi arranjar às crianças um currículo que os ocupe todo o dia com mais disciplinas, mais tempos de concentração, mesmo que se chamem actividades de enriquecimento curricular (AECs).

A chamada escola a tempo inteiro vista supostamente como uma conquista social, veio introduzir factores perversos, em nosso entender, de que a pouco e pouco vamos percebendo melhor as consequências negativas.

[1] Berge, André e Santos, João dos (1976) – A Higiene Mental na Escola, Livros Horizonte.[2] Jornal do Fundão, 12/6/2008[3] metilfenidato

CIF

Cotinuo a transcrever do Blog Incluso http://inclusaoaquilino.blogspot.com/
Quinta-feira, 26 de Junho de 2008

UTILIZAÇÃO DA C.I.F. PARA A ELEGIBILIDADE DE N.E.E. SERÁ FACTOR DE DISCRIMINAÇÃO, PONDO EM CAUSA A ESCOLA INCLUSIVA

Dr. Luís Borges Presidente da Sociedade Portuguesa Neuropediatria e do Colégio de Neuropediatria – ex-Director do Centro de Desenvolvimento da Criança do Hospital Pediátrico de Coimbra
"Esta Classificação é aplicada com intuito economicista"
"A classificação CIF é abusiva porque é para adultos e com intuitos de saúde e funcionalidade, mas não de Educação"
"É uma classificação que os técnicos não conhecem e que os médicos não utilizam"
"É tão complexa que não vejo como é que alguma vez possa ser utilizada em Educação"
"Só se vai usar para reduzir o número de apoios, para poupar"
"Há crianças que tiveram apoio durante 6 - 7 anos e que agora vão perdê-lo"
"Quando se esperava uma melhoria, acompanhando o que há de melhor no mundo, faz-se uma alteração sem ouvir ninguém, sem consultar ninguém, passando a utilizar-se outra classificação que, ainda por cima, não serve"
"As crianças vão deixar de ser apoiadas nas suas avenidas de aprendizagem, para serem apoiadas nas suas incapacidades. É uma mudança sem senso!"

Dr. Boavida
Centro de Desenvolvimento da Criança do Hospital Pediátrico de Coimbra
"Quem trabalha num Centro de Desenvolvimento da Criança, como eu, sente o desespero dos pais e vive atolado em relatórios e numa imensidão de check lists"
"Esta classificação não tem qualquer relevância para fins educativos, pois não foi construída para esse fim"
"Para que esta intenção do Governo pudesse vir a ser de alguma forma utilizada, para a prática da Educação, só poderia acontecer depois de um longo e aprofundado processo de discussão."
"A aplicação da CIF, neste contexto, é de duvidosa dimensão ética"

Matos de AlmeidaMembro da Direcção da Associação Portuguesa de Deficientes
"Não prescindimos de uma educação inclusiva nas áreas de residência das crianças e jovens alunos"
"As escolas de referência vão ser guetos educativos, com turmas de cegos, com turmas de surdos… etc"
"Com a aplicação desta classificação pretende-se regressar atrás, a um conceito médico de deficiência e não aprofundar aquele era um avanço civilizacional — o conceito social de deficiência"
"Tudo vai contra a Declaração de Salamanca e a Convenção das Nações Unidas para a Igualdade e a Pessoa com Deficiência"

18/06/08

CIF

Transcrevo do Blog INCLUSO que pode consultar em http://inclusaoaquilino.blogspot.com/
Quinta-feira, 5 de Junho de 2008

A Sociedade Portuguesa de Neuropediatria e o Colégio de Neuropediatria já tomaram posição conjunta de rejeição da utilização do instrumento Classificação Internacional de Funcionalidade para fins educativos; o Centro de Desenvolvimento da Criança do Centro Hospitalar de Coimbra, sedeado no Hospital Pediátrico de Coimbra, considerou também inadequado e um equívoco o uso da CIF para fins educativos; médicos neuropediatras recusam a responsabilidade de decidir quem ficará excluído dos serviços de educação especial, considerando que a CIF "não foi criada com o objectivo de definir critérios de elegibilidade para fins educativos".
Mas o Ministério da Educação não hesita e, na sua ânsia de reduzir para 1.8% a taxa de incidência de alunos considerados com NEE, impõe a utilização da CIF, pressiona as escolas e prepara-se para deixar milhares de crianças com NEE sem os apoios adequados. A política de educação especial do ME tem sido uma trapalhada e uma confusão, deixando milhares de pais à beira de um ataque de nervos por verem faltar os apoios especializados aos filhos. Foi mesmo necessário que a Assembleia da República emendasse um decreto-lei (decreto-lei n.º 3/2008) mal feito. A escola inclusiva não é "meter todos os alunos na mesma turma e sujeitá-los ao mesmo programa educativo". É muito mais exigente: pressupõe que o ME coloque nas escolas professores e técnicos especializados nas diversas disfunções, sejam elas de natureza cognitiva, sensorial ou física. E para além dos técnicos, é preciso que as escolas tenham o equipamento e os materiais necessários ao apoio à aprendizagem das crianças com NEE.