Frequentemente, remetemos para a escola todas as responsabilidades do que está errado na sociedade: o problema da violência e criminalidade, o problema da sexualidade e da prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, da educação para a saúde e da aprendizagem de comportamentos saudáveis.
A escola educa para a protecção da natureza e ensina a ter comportamentos que se coadunem com a ecologia, a protecção civil, a prevenir os incêndios, os acidentes de viação e a protecção rodoviária, aprendizagem das regras cívicas, dos valores morais e éticos, da cidadania e da participação política, da educação parental, da resolução do absentismo e do abandono, da formação de segunda oportunidade e até profissional …
Remeter para a escola todas as responsabilidades da sociedade e, principalmente, o resultado dos erros dos homens está na ordem do dia, já que remeter para as famílias, mais rapidamente nos atinge também a nós. A escola está perto mas, simultaneamente, está longe de nós, não é responsabilidade nossa, é dos professores, é dos políticos.
Em última análise, a responsabilidade será da sociedade, das condições sociais objectivas … que estão ainda mais longe.
Claro que, se estivéssemos numa sociedade socialista nada seria assim, continuam a dizer alguns, que só por ingenuidade (?) pensam, actualmente, como Jorge Amado há mais de 50 anos que “sonhou" em Capitães da Areia que isso fosse possível.
Por cá tivemos responsáveis políticos, e cito apenas Ana Benavente, que sonhava com uma escola socialista nos anos 70, de que nos dá conta em A escola na sociedade de Classes.
Porém, se quisermos aprofundar o problema da educação, não nos poderemos ficar por estas certezas ou pelas indefinições de outros, os do relativismo moral e que acham que a escola serve para tudo e é o lugar onde tudo é possível.
Hoje a escola parece ser o sítio, onde os “pequenos tecnocratas da mochila”, como diz Eduardo Sá, vão aprender tudo, durante o dia inteiro.
A escola está ao serviço da sociedade. É um instrumento dessa sociedade. E se a sociedade é democrática podemos ter alguma esperança de que eduque cidadãos para se comportarem democraticamente.
A escola está ao serviço das famílias. Mas não pode substituir os contextos familiares nem tomar decisões que competem à família, e à aprendizagem dos mais importantes afectos da vida das crianças.
A escola está ao serviço do indivíduo. E, por isso, compete-lhe o papel de o desenvolver do ponto de vista humano, dando-lhe todas as oportunidades para que possa realizar-se individualmente como pessoa, integrado numa família e numa sociedade.
Esta tarefa é de sempre. Mesmo que se chegue a um modelo que satisfaça a maioria das pessoas é necessário consolidar esse modelo, alimentá-lo, fazê-lo crescer, como acontece com qualquer organismo, ou qualquer sistema.
Esta tarefa implica estabilidade e mudança, simultanea e paradoxalmente. Estabilidade e mudança são as características do desenvolvimento. As mudanças reais e as pseudo mudanças dos últimos anos não conduziram a uma educação para todos nem a um aumento da qualidade da educação em muito devido aos permanentes sobressaltos dos que quiseram e querem realizar mudanças em cima do joelho, obedecendo a lógicas meramente partidárias e esquecendo-se de que a educação é para todas as crianças qualquer que seja o seu contexto social e o seu contexto temporal.
Poderemos ter uma escola da tecnocracia, com computadores, quadros interactivos, programa skool e internet…
A questão é que não há escolas sem professores…
É por isso que a escola pode bem ser considerada como a instituição que, como diz uma velha canção da minha infância, “tem o destino da lua, a todos encanta e não é de ninguém”.
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