16/10/08

Todos iguais todos diferentes

Se bem me lembro já houve em Portugal um Ministério para a igualdade. [1]
Isto significa que pela primeira vez neste país, e talvez pela última, existiu um Ministério para a igualdade.
O que acontece é que a democracia devia ser o respeito pelas diferenças.
Esta coisa da igualdade é um retorno fora de prazo de validade à revolução francesa ou a Marx, ou talvez também a Skinner: se proporcionarmos um ambiente idêntico para todos, teremos então possibilidade de atingir a igualdade, quem sabe se às incubadoras de Huxley ou então podermos seguir o caminho da clonagem humana para a pior das suas possibilidades.
E já estão a ver porque é que a diferença é afinal tão importante: porque somos todos diferentes uns dos outros.
Eu sou eu porque sou diferente. Eu não seria eu se fosse igual a ti, se fosse igual a outro.
Era assim uma espécie de fotocópia e a reprodução era sempre igual.
Até a reprodução biológica é diferente porque o indivíduo recebe metade dos cromossomas da célula masculina e metade da célula feminina: então a reprodução é fazer diferente.
E é por sermos diferentes que somos ricos. Porque assim temos muito mais coisas: podemos gostar da música de Mozart, da pintura de Chagal, da poesia concreta de Melo e Castro, da poesia de Camões, e assim por diante.
É por sermos diferentes que podemos ter profissões diferentes e fazer coisas diferentes: pintar quadros diferentes, escrever livros diferentes sobre tantas coisas diferentes.
Quer dizer temos coisas muito diferentes de que podemos gostar e de que podemos beneficiar dado que “se sou diferente de ti, longe de te prejudicar, aumento-te” (Saint-Éxupéry).
Mas há sempre alguém que pensa que somos todos iguais … e é por exemplo o que acontece no mimetismo [2] que é característica daquele indivíduo que é igual aos outros todos, é português com os portugueses, é regionalista com os regionalistas…
Dizem: somos todos iguais mas é necessária uma vanguarda…
O que quer dizer que muitos outros são a retaguarda … Ou seja, é o que se chama a igualdade escondida com o rabo de fora. O que levou depois a dizer que somos todos iguais mas uns são mais iguais do que os outros…[3]
O que acontece, portanto, é que somos todos diferentes.
Mas se o Ministério da igualdade foi uma miragem, e ninguém quererá criar um das diferenças, por que não levarmos a sério a inclusão, a educação inclusiva ?
Tentativas não têm faltado. E cada novo ministro tenta executar as medidas que vão salvar a educação.
Por isso, na educação tem havido um corrupio de reformas à velocidade de substituição dos ministros nos lugares.
No entanto, não deixa de ser interessante ver como as vanguardas se assumem como defensoras das causas fracturantes.
Quando, porque somos diferentes, do que precisamos é de “construtores de pontes”, de lideres consensuais e não de líderes fracturantes.

[1] Ministério para a igualdade no II Governo do Engº Guterres.[2] Alberto Pimenta - “Discurso sobre o filho-da-puta”.[3] Orwell – “O triunfo dos porcos”

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