27/10/11

As emoções do avesso

alfazema - lavanda - erva do amor

As emoções fazem parte da nossa vida e constituem o mundo complexo da nossa vida psicológica.
São padrões de resposta a certos estímulos como os instintos, outras emoções especialmente as mais primitivas e actividades cognitivas. (Pedro Luzes)
Há muitas emoções. Podemos dizer que há mais palavras para descrever as emoções do que emoções propriamente ditas. Muitas vezes trata-se de tonalidades que as emoções podem apresentar.
Há as emoções primárias que são inatas. Como o medo, amor, raiva ou ira, felicidade e tristeza.
Há ainda as emoções secundárias que se aprendem como resultado de processos individuais, sociais e culturais.
A nossa vida do dia a dia ou da vida dos outros a que de alguma forma assistimos pelos meios de comunicação social, fazem com que muitas dessas emoções negativas sejam vivenciadas com alguma preocupação.
Mas não precisamos de trazer exemplos do mundo para evidenciarmos que é assim. Cá por casa, as medidas violentas do governo despertam nas pessoas diversos sentimentos e emoções.
Saber lidar com as nossas emoções é sempre importante principalmente quando vivemos debaixo de stress como no tempo presente.
Desde logo saber distinguir aquilo que é a expressão legítima dessas emoções e aquilo que é a manipulação das nossas emoções.
Por isso, é importante conhecer onde nascem as emoções.
A raiva pode nascer da falta de atenção dos pais aos filhos, desinteressando-se dos problemas que os venham a atingir. Ao longo do desenvolvimento, a criança sente-se desamparada e passada para segundo plano.
Erramos quando damos preferência a um dos filhos. Não nos podemos admirar que surjam ciúmes, desinteresse da escola, falha na auto-estima e, por vezes, aparece a agressividade descontrolada no jardim de infância ou no 1º ciclo.
Pode ainda ter respostas mais desajustadas como o desejo de vingança. Desejamos que algo de mal aconteça a essa pessoas. E às vezes passamos à prática.
Ou invejamos aquilo que as outras pessoas possuem. Achamos devemos ter o que os outros têm.
Surgem sentimentos morais como a indignação que às vezes é apenas  imaturidade moral, porque não somos capazes de nos colocarmos na pele do outro mas apenas queremos ter o que os outros têm.
Descobrir e expressar os sentimentos é sem dúvida importante para a nossa vida. Mas garantir o equilíbrio das nossas emoções é crucial para a nossa saúde mental.
A raiva é a resposta aos desequilíbrios internos ou externos. Às vezes volta-se para dentro de nós ou pode voltar-se para os outros de forma violenta.
A manifestação da raiva não é boa ou má em si. No entanto, se for excessiva, a manifestação da raiva pode levar-nos ao descontrolo o que acontece frequentemente quando estamos em grupo, podendo levar a extremos que ultrapassam  todos os princípios éticos.
Se a raiva e as outras emoções negativas levam a evitar ou enfrentar a ameaça, as emoções positivas, como a alegria, satisfação, gratidão e amor aumentam a flexibilidade do pensamento e do comportamento.
O ideal, o “número mágico” da felicidade seria 75% de emoções positivas e 25% de emoções negativas. (Fredrickson).
O que acontece é que parece que a nossa vida emocional anda virada do avesso: tantas emoções negativas para tão poucas positivas…

14/10/11

Verdade

"As medidas são minhas mas o défice não é meu". As medidas são nuas e cruas, o défice  não devia deixar de o ser para não restarem dúvidas do estado em que deixaram o país. Porque a negação da responsabilidade se mantém e o reconhecimento dos erros  é coisa que não se vislumbra.

12/10/11

A coisa mais importante



A educação é "gente com gente na frente". A entrevista de Steve Jobs a Daniel Morrow, é de 1995 quando começou, neste país, o equívoco de não ser.
The Role of Computers in Education
SJ: I absolutely don't believe that. As you've pointed out I've helped with more computers in more schools than anybody else in the world and I absolutely convinced that is by no means the most important thing. The most important thing is a person. A person who incites your curiosity and feeds your curiosity; and machines cannot do that in the same way that people can. The elements of discovery are all around you. You don't need a computer. Here - why does that fall? You know why? Nobody in the entire world knows why that falls. We can describe it pretty accurately but no one knows why. I don't need a computer to get a kid interested in that, to spend a week playing with gravity and trying to understand that and come up with reasons why.
DM: But you do need a person.
SJ: You need a person. Especially with computers the way they are now. Computers are very reactive but they're not proactive; they are not agents, if you will. They are very reactive. What children need is something more proactive. They need a guide. They don't need an assistant. I think we have all the material in the world to solve this problem; it's just being deployed in other places. I've been a very strong believer in that what we need to do in education is to go to the full voucher system. I know this isn't what the interview was supposed to be about but it is what I care about a great deal.

As artes e a felicidade




Continuo hoje a defender a relevância que as artes devem ter no currículo escolar.
A poesia "felicidade", de Vinicius de Morais, tem um verso que diz "tristeza não tem fim, felicidade sim". No entanto, pode acontecer que seja cada vez menos real se soubermos distinguir o importante do essencial e se soubermos dar importância às artes na nossa vida. Dessa forma a felicidade será mais duradoura.
Investigações recentes vieram mostrar essa relevância para a aprendizagem e estrategicamente as artes são um contributo significativo para a felicidade das pessoas.
Conhecemos por experiência própria os efeitos que a música provoca na nossa personalidade. A música pode ajudar-nos a ultrapassar algumas situações desagradáveis: acalma-nos quando estamos nervosos e ansiosos, ajuda-nos a relaxar e a ficar mais tranquilos, a sentir alegria e prazer quando estamos tristes, ajuda-nos a ultrapassar os nossos lutos. Também pode provocar emoções: podemos sentir tristeza, alegria, angústia quando ouvimos determinadas músicas.
Na realidade temos algumas evidências de que é assim. Há fundamentos biológicos que nos ajudam a compreender o que se passa.
Investigações revelaram que a música ao actuar no SNC aumenta os níveis de endorfinas, assim como de outros neurotransmissores como a dopamina, a acetilcolina e oxitoxina. (1)
Como se sabe as endorfinas dão motivação, energia perante a vida e alegria e optimismo diminuem a dor e contribuem para a sensação de bem estar estimulam os sentimentos de gratidão e satisfação existencial.
Num estudo de A Goldstein, metade das pessoas estudadas experimentava euforia enquanto ouvia musica. (1)
Outro estudo de 1996 a estimulação da musica aumenta a libertação de endorfinas e diminui a necessidade de medicamentos e é também um meio para se abstrair da dor e aliviar a ansiedade.1
Na Universidade de Michigan (EUA), médicos pesquisadores descobriram que o som da harpa alivia os pacientes portadores de sintomas histéricos e que os solos de violino podem eliminar dores de cabeça e diminuir a enxaqueca.(1)
Num estudo de 2001, mostra-se que as respostas prazerosas à musica estão correlacionadas com a actividade das regiões do cérebro implicadas nos mecanismos de recompensa e emoção, entre os quais se encontra a amígdala, o córtex pré-frontal, o córtex orbifrontal e outras estruturas que também se activam em resposta a outros estímulos indutores de euforia como a comida o sexo e as drogas. (1)
Sabemos hoje que a música é um primeiro meio de expressão que serve para comunicar.
A musica precede a linguagem e era utilizada pelos grupos de hominídeos quando ainda não sabiam vocalizar (tese de Steven Mithen). (1)
Podemos verificar em qualquer criança de 8-9 meses que ao ouvir música a criança é capaz de reagir à música pois sabe que essa é uma forma de comunicar e, com o balanceamento do corpo, mostrar que identifica aquela situação que é também prazerosa.
Ao contrário do que pensávamos a música não teria a ver apenas com uma questão cultural mas também com uma questão genética e haveria uma predisposição para o gozo artístico situado nos genes.
Em tempos de dificuldades a música pode ser um bom calmante para prolongarmos a felicidade e o verso de Vinicius ser menos verdadeiro.

(1) Referido por Punset, E. - El viaje a la felicidad - Las nuevas claves cientificas.

07/10/11

Dia de Outono

Castelo Branco, 6-10-2011, 19H25 





Dia de Outono

                                        Senhor: é tempo. O Verão foi muito longo.
                                        Lança a tua sombra sobre os relógios de sol
                                        e solta os ventos sobre os campos.

                                        Ordena aos últimos frutos que amadureçam;
                                        dá-lhes ainda dois dias meridionais,
                                        apressa-os para a plenitude e verte
                                        a última doçura no vinho pesado.
                                        Quem agora não tem casa já não vai construí-la.
                                        Quem agora está só, assim ficará por muito tempo,
                                        velará, lerá, escreverá longas cartas
                                        e vagueará inquieto pelas alamedas acima e abaixo,
                                        quando caírem as folhas.
                                        R. M. Rilke, O livro das imagens, Relógio d' Água

04/10/11

As manigâncias * da espionagem


No livro referido, já tínhamos reparado que a espionagem interna é bastante velha e serve para favorecer os amigos. 
"As amizades cúmplices que a política faz nunca são estranhas; só parecem sê-lo a quem não conhece o meio. No caso de Richard Nixon, não obstante uma presença na politica norte-americana durante os últimos vinte e cinco anos, esse meio tem passado notavelmente despercebido, ou tem sido, quando alguém se debruça sobre ele, notavelmente incompreendido; por conseguinte, os amigos de Nixon têm ficado numa obscuridade invulgar tanto em relação ao público como aos pontífices da politica que geralmente se ocupam dessas questões..."
"As amizades nixonianas, as pessoas cujas convicções o presidente exprime e cujos interesses defende, são, de modo geral, os soberanos económicos, da orla meridional da América, a chamada «zona de sol», que vai, desde o Sul da Califórnia, passa pelo Arizona e pelo Texas e termina na Florida. São, na maioria, homens de dinheiro fresco, sem as fortunas familiares e os ascendentes próprios da riqueza dos estados do Este (Rockefellers, Du Ponts, etc.), homens que construíram a sua fortuna nas décadas do pós-guerra, especialmente nas novas indústrias ligadas à exploração espacial e à defesa, petróleo, gasolina e negócios afins, em geral mais no plano interno do que internacional e em operações de bens imobiliários no decorrer da explosão populacional na zona de sol, no pós-guerra." 
 (Kirkpatrick Sale, "Por trás de Watergate", pag 9 e 10)
"Há um aspecto da embrulhada de Watergate que tem sido objecto de maior atenção no estrangeiro do que nos Estados Unidos, e que foi resumido pelo «Observer» de Londres, cujo editorial dizia: «A maneira como este escândalo está actualmente a ser implacavelmente exposto, deveria [ ...] dar força à pretensão americana de ser a mais aberta de todas as sociedades. Têm acontecido manigâncias políticas em muitos países, mas em poucos desses países poderiam essas manigâncias ter sido expostas tão publicamente como está acontecendo nos Estados Unidos.»
O cíníco jornal humorístico francês «Le Canard Enchainé» conclui sarcasticamente: «Em França, este género de coisa não nos impressiona. Se tivesse de haver um escândalo de cada vez que os príncipes que nos governam encarregassem a polícia de escutar os telefonemas dos dirigentes da oposição, dos jornalistas, dos seus próprios aliados políticos e dos vários chefes dos serviços de polícia, nunca mais acabaríamos. ..
«Pobres e ingénuos americanos, que levam a tribunal um simples caso de espionagem electrónica! Em França, não caímos nessa. Um novo centro de registo de comunicações acaba justamente de ser inaugurado, ainda que discretamente, a despeito da sua quase completa ilegalidade. ..e isto, evidentemente, sem que um jornalista, um par1amentar ou  um magistrado (para só mencionar alguns dos possíveis interessados) tenha dito uma palavra sequer.
«É preciso ser-se americano para ficar escandalizado com ninharias destas.»
A verdade é que todas as democracias contemporâneas têm sido manchadas, de tempos a tempos, com práticas imorais..."

(C.L. Sulzberger - "Exceptuando todos os  outros", pag.55 e 56)
*manigância   s. f. - [Informal] Manha ou arte com que se fazem habilidades de mãos. [Figurado] Manobras ocultas com que se fazem bons negócios.