04/10/11

As manigâncias * da espionagem


No livro referido, já tínhamos reparado que a espionagem interna é bastante velha e serve para favorecer os amigos. 
"As amizades cúmplices que a política faz nunca são estranhas; só parecem sê-lo a quem não conhece o meio. No caso de Richard Nixon, não obstante uma presença na politica norte-americana durante os últimos vinte e cinco anos, esse meio tem passado notavelmente despercebido, ou tem sido, quando alguém se debruça sobre ele, notavelmente incompreendido; por conseguinte, os amigos de Nixon têm ficado numa obscuridade invulgar tanto em relação ao público como aos pontífices da politica que geralmente se ocupam dessas questões..."
"As amizades nixonianas, as pessoas cujas convicções o presidente exprime e cujos interesses defende, são, de modo geral, os soberanos económicos, da orla meridional da América, a chamada «zona de sol», que vai, desde o Sul da Califórnia, passa pelo Arizona e pelo Texas e termina na Florida. São, na maioria, homens de dinheiro fresco, sem as fortunas familiares e os ascendentes próprios da riqueza dos estados do Este (Rockefellers, Du Ponts, etc.), homens que construíram a sua fortuna nas décadas do pós-guerra, especialmente nas novas indústrias ligadas à exploração espacial e à defesa, petróleo, gasolina e negócios afins, em geral mais no plano interno do que internacional e em operações de bens imobiliários no decorrer da explosão populacional na zona de sol, no pós-guerra." 
 (Kirkpatrick Sale, "Por trás de Watergate", pag 9 e 10)
"Há um aspecto da embrulhada de Watergate que tem sido objecto de maior atenção no estrangeiro do que nos Estados Unidos, e que foi resumido pelo «Observer» de Londres, cujo editorial dizia: «A maneira como este escândalo está actualmente a ser implacavelmente exposto, deveria [ ...] dar força à pretensão americana de ser a mais aberta de todas as sociedades. Têm acontecido manigâncias políticas em muitos países, mas em poucos desses países poderiam essas manigâncias ter sido expostas tão publicamente como está acontecendo nos Estados Unidos.»
O cíníco jornal humorístico francês «Le Canard Enchainé» conclui sarcasticamente: «Em França, este género de coisa não nos impressiona. Se tivesse de haver um escândalo de cada vez que os príncipes que nos governam encarregassem a polícia de escutar os telefonemas dos dirigentes da oposição, dos jornalistas, dos seus próprios aliados políticos e dos vários chefes dos serviços de polícia, nunca mais acabaríamos. ..
«Pobres e ingénuos americanos, que levam a tribunal um simples caso de espionagem electrónica! Em França, não caímos nessa. Um novo centro de registo de comunicações acaba justamente de ser inaugurado, ainda que discretamente, a despeito da sua quase completa ilegalidade. ..e isto, evidentemente, sem que um jornalista, um par1amentar ou  um magistrado (para só mencionar alguns dos possíveis interessados) tenha dito uma palavra sequer.
«É preciso ser-se americano para ficar escandalizado com ninharias destas.»
A verdade é que todas as democracias contemporâneas têm sido manchadas, de tempos a tempos, com práticas imorais..."

(C.L. Sulzberger - "Exceptuando todos os  outros", pag.55 e 56)
*manigância   s. f. - [Informal] Manha ou arte com que se fazem habilidades de mãos. [Figurado] Manobras ocultas com que se fazem bons negócios.

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