28/04/09

Educar crianças para serem felizes

O trabalho tem uma função social de grande importância nas nossas vidas.
No entanto, o trabalho também nos põe doentes. Já vai longe o tempo em que Maria Velho da Costa escreveu Português, trabalhador, doente mental. Mas o quotidiano mostra que continua a ser assim.
Se o emprego não dá só por si felicidade, também sabemos que há correlação negativa entre desemprego e felicidade. Isto é, quem está desempregado também não é feliz por causa disso.
Por outro lado, pessoas infelizes não são bons funcionários e, por isso, estão mais frequentemente desempregados. As pessoas felizes estão mais interessadas no seu trabalho e por isso têm menos hipóteses de serem despedidas.
Uma notícia curiosa dos últimos dias pode fazer reflectir sobre o assunto: Dois namorados estão em tribunal depois de terem ganho o euromilhões devido ao desentendimento resultante de terem ficado ricos.
Então o que é que pode fazer as pessoas felizes?
Eu podia ser mais feliz se fosse mais rico, se fosse magro, casado ou divorciado, empregado ou reformado?
As investigações do psicólogo Martin Seligman, vieram dar resposta a algumas dessas questões.
É evidente que uma situação financeira confortável ajuda. Mas é um erro pensar que, quanto mais dinheiro, mais satisfação. Especialmente se, para consegui-lo, se sacrificam outros aspectos.
A riqueza tem uma correlação muito baixa com o nível de felicidade. Os ricos são, em geral, só um pouco mais felizes do que os pobres. Nos Estados Unidos, enquanto o rendimento aumentou 16% nos últimos trinta anos, o número de indivíduos que se consideram muito felizes caiu de 36% para 29%.
Segundo Daniel Gilbert, o melhor prognóstico para a felicidade são as relações humanas e quanto tempo uma pessoa passa com a família e os amigos. Isso é mais importante do que dinheiro e até a saúde.
A felicidade momentânea pode existir e ser aumentada por meio de artifícios como um chocolate, um bom filme, uma roupa nova, um ramo de flores, uma viagem.
Quanto à beleza física certamente traz vantagens adicionais. Mas o facto é que a boa aparência exerce um efeito muito pequeno sobre a felicidade. Marilyn Monroe era bela e profundamente infeliz.
Até à década de 60, acreditava-se que a felicidade estava associada à juventude e também a um bom nível de instrução. Essa ideia foi negada pela experiência. Velhos que tiveram uma boa vida dificilmente encontram motivos para serem infelizes e pessoas menos cultas podem achar a felicidade dentro dos seus interesses culturais e das suas possibilidades.
É possível ensinar as pessoas a serem felizes.
Os pais podem desenvolver as características positivas dos seus filhos e não apenas corrigir as características negativas. A educação pode, assim, ser uma tarefa agradável apesar das dificuldades que sempre acontecem no percurso do desenvolvimento. Este registo afectivo é certamente um seguro para o futuro da criança tornando-a responsável, equilibrada e feliz.
Mas para ensinar as crianças a serem felizes é necessário que os adultos sejam também eles acarinhados.

Educar crianças para serem felizes

Um estudo britânico de 2006 revela que as crianças mais felizes dos 29 Estados europeus vivem na Holanda e nos países escandinavos. Portugal está no 21º lugar da lista. [1]
A informação recolhida diz respeito a crianças e jovens com menos de 19 anos, tendo em conta 43 critérios, como mortalidade infantil, obesidade, recursos materiais - pobreza e habitação.
Os sete critérios principais foram: Saúde, Bem-estar, Relações interpessoais, Recursos materiais, Comportamentos de risco, Educação e Habitação e Ambiente.
O 21º lugar de Portugal resulta de maus resultados em quatro das sete categorias principais: Saúde, Bem-estar, Recursos materiais e Educação
Podemos identificar a infelicidade por uma série de sinais de alarme que devem ser detectados precocemente, de forma a que as situações de risco não se transformem em situações de perigo e, finalmente, de forma a evitar que se transformem em tragédias.
A violência na escola traduz-se numa grande diversidade de comportamentos anti-sociais que podem ser desencadeados quer pelos alunos quer por outros elementos da comunidade escolar.,
O trabalho dos professores e técnicos deve centrar-se na prevenção destes comportamentos anti-sociais.
Embora não seja fácil avaliar quando uma situação disruptiva leva a uma situação de grande violência, podemos, no entanto, considerar que existem alguns factores de risco tais como, os hereditários, acontecimentos "desencadeadores" e problemas psicopatológicos.
É por isso importante procurar a intervenção quando algumas atitudes e comportamentos são verdadeiramente excessivos, isto é, quando ultrapassam aquilo que é característico do período de desenvolvimento em que a criança ou adolescente se encontra.
Comportamentos tais como: o isolamento no quarto de forma permanente, comunicação praticamente inexistente, grupo de amigos estranho, conversa desadequada e bizarra, exigências desproporcionadas, pouca resistência à frustração...
São comportamentos que evidenciam alguma perturbação.
É preciso estar alerta e em ligação permanente com a escola: em primeiro lugar o director de turma e depois a equipa de técnicos da escola ou de outros serviços.
Nem todas as escolas têm recursos suficientes para dar conta das diversas situações problemáticas, na medida em que não existem psicólogos suficientes para despistar situações de risco e intervir atempadamente.
Mas o que nos falta é organização: é necessário articular as respostas existentes nos diversos sectores institucionais: saúde, hospitais e centros de saúde, serviços de psicologia e orientação (SPO) da educação, serviços de juventude, serviços de formação e emprego, serviços de segurança social e reinserção social…
Assim, talvez, os serviços pudessem trabalhar de uma forma mais eficaz, evitando que duplicação de avaliações e de intervenções, com o prejuízo que daí resulta para os pais, com as listas de espera, com as consultas muito espaçadas e sem a intervenção atempada que as crianças e adolescentes necessitam.

[1] O estudo é da responsabilidade da Universidade de York e os dados foram compilados em 2006 para o Child Poverty Action Group (CPAG - uma organização britânica que combate a pobreza infantil).

Educar crianças para serem felizes

Tenho andado a digerir a conferência que o prof Eduardo Sá fez na Primeira conferência internacional de psicologia e educação da Universidade da Beira Interior (UBI), em 26 de Março.
O tema era aliciante e sugestivo: “como educar crianças para serem felizes”
Afirmou que “a escola é a invenção mais bonita da humanidade. O ensino mais prolongado é a verdadeira revolução tranquila”.
Eduardo Sá, refere os seguintes aspectos para que as crianças possam ser felizes:
- Mais colo
- Quanto baste de autoridade
- O mais possível de autonomia
- Agressividade
- Estatuto do professor.
Então algumas consequências são óbvias
- Ao contrário do que ouvimos, de vez em quando, às teorias do regresso à palmatória, as crianças devem ser mais amadas.
Mas se as crianças precisam de colo, são os pais que dele precisam, em primeiro lugar. É preciso ter em conta a relação amorosa dos pais para que possam amar os seus filhos.
Quando se fala dos pais ou é para lhes atribuir mais responsabilização, como se, a que têm, já não fosse suficiente, ou para os colocar contra os professores como fez a Confederação das Associações de Pais (CONFAP), recentemente, ao escolher um dos lados do conflito com o Ministério da Educação.
Além disso as crianças devem brincar mais.
As brincadeiras não podem ser apenas uma actividade de fim de semana.
Aulas de 90 minutos com 10 minutos para brincar são um absurdo.
As crianças portuguesas têm o mais alto nível de sedentarismo.
- Quanto baste de autoridade
As leis devem ser para todos, quer se trate de maiorias ou de minorias.
Determinados comportamentos só são tolerados porque as leis não são eficazes.
Mas não se pode confundir autoridade com autoritarismo.
Democracia não é despotismo
Admiração por um professor é diferente de ter medo do professor.
- Quanto à autonomia, não se deve fazer o que as crianças são capazes de fazer. As crianças se são capazes de brincar com a Play-station também são capazes de fazer os TPC.
Dar erros é aprender. Ter uma negativa não é nenhum drama.
Estamos a criar crianças imuno-deprimidas em relação à dor: “não dêem erros, tenham sempre boas notas”.
- A agressividade faz bem à saúde. É um anti-depressivo e um ansiolítico.
Mas não deve ser confundida com violência.
Os pais devem estar presentes na escola. Pais e professores não podem andar zangados.
- O estatuto do professor deve ter em conta que o professor é uma pessoa que pode ser fundamental na vida da criança. O Director de Turma é uma espécie de tutor, não deveria dar aulas para além da sua turma.
Não há regras para a felicidade. Refundar a ideia de escola na base de que a felicidade é uma comunhão entre as pessoas pode ser fundamental para educar crianças para serem felizes.

25/04/09

O SIADAP é um desastre

Muito se tem falado ultimamente em avaliação de desempenho.
Não vale a pena começar por dizer que o que os trabalhadores querem é que não haja avaliação.
O Siadap – Sistema Integrado de Gestão e Avaliação do Desempenho na Administração Pública (lei nº 66-B/2007) visa:
•A melhoria do desempenho e qualidade de serviço na Administração Pública,
•A coerência e harmonia na acção dos serviços,
•A promoção da motivação e desenvolvimento de competências.
Todos estamos de acordo com estes objectivos mas é isto que está a acontecer?
Todos sabemos que não é isto que está a acontecer na generalidade dos serviços que, na melhor das hipóteses, se afadigam em arranjar uns objectivos e recolher umas competências para concretizar a avaliação dos trabalhadores, com as malfadadas quotas que se irão reflectir na redução dos acessos.
Um estudo promovido pelo Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (STE) através de “inquérito” a que responderam 6546 trabalhadores apontou para o seguinte:
- Os serviços não têm um sistema de informação transparente que possibilite, suporte, a sua avaliação, a dos dirigentes e a dos trabalhadores.
-Não há uma efectiva avaliação dos serviços.
- A avaliação dos trabalhadores ou não existe ou acaba por ser só uma formalidade.
- Quer a avaliação exista quer não exista ou seja só uma formalidade, redunda sempre em penalização dos trabalhadores, isto é, a generalizada atribuição de um ponto!
- Mesmo em 2007, para um SIADAP que vem desde 2004, 75% dos trabalhadores não participaram na definição dos objectivos dos serviços;
- Em 80% das situações os objectivos não reflectem a actividade desenvolvida;
- Em 90% dos casos os Conselhos Coordenadores da Avaliação não fixaram as directrizes e os critérios a ter em conta na avaliação antes desta se concretizar;
- 90% dos trabalhadores dizem que a monitorização não funcionou e… pior ainda… os trabalhadores não questionaram a hierarquia porque o clima é de medo.
É receber a avaliação nas condições em que a quiserem atribuir porque senão pode ser bem pior!
A conclusão, face ao mero enunciado das variáveis, só pode ser a de que estamos face a um DESASTRE, diz o Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado.
Só que a avaliação do desempenho, como técnica de gestão mobilizadora e motivadora dos trabalhadores, está a anos-luz de distância disto.
A avaliação de desempenho é única e simplesmente uma arma contra os trabalhadores. É uma arma que está a ser utilizada para incutir medo.
A avaliação de desempenho não é mais do que um instrumento que, para além do medo, aposta na redução do peso orçamental das remunerações dos trabalhadores.
Temos visto, recentemente, para onde vai esse dinheiro.
Já quanto aos efeitos do medo que assim se instala nos Serviços Públicos e aos seus efeitos futuros, quer na qualidade e independência, quer na corrupção tentacular que se potencia, temos de esperar para ver, embora cada um de nós possa desde já perspectivar os caminhos que toda esta actuação abre.
O SIADAP É UM DESASTRE e os funcionários públicos merecem uma avaliação de desempenho justa, independente, coerente e que promova o mérito.

20/04/09

Liberdade

Estamos a comemorar Abril.
Podemos, felizmente, não ter a mesma opinião de Mário Soares.
Podemos mesmo ser contra a opinião de Mário Soares.
Por isso

SIGAMOS O CHERNE

Sigamos o cherne, minha Amiga!
Desçamos ao fundo do desejo
Atrás de muito mais que a fantasia
E aceitemos, até, do cherne um beijo,
Senão já com amor, com alegria...
Em cada um de nós circula o cherne,
Quase sempre mentido e olvidado.
Em água silenciosa de passado
Circula o cherne: traído
Peixe recalcado...
Sigamos, pois, o cherne, antes que venha,
Já morto, boiar ao lume de água,
Nos olhos rasos de água,
Quando, mentido o cherne a vida inteira,
Não somos mais que solidão e mágoa...

Alexandre O'Neill, in Jorge de Sena, Líricas Portuguesas, vol. I, Edições 70, 1983

Liberdade



 Antes do 25-4-74. Artigo censurado que devia ter saído no Jornal do Fundão.

O Chefe

Circulava antes do 25 de Abril 74 como anedota. Voltamos a isto ? Quem não pensa assim tem falta de carácter ?

Quintonine

Publicidade . Quintonine... na volta à França e nas capas dos cadernos...






09/04/09

Escola: responsabilização de todos

Foi entregue na Assembleia da República uma petição [1] com cerca de quinze mil assinaturas a pedir alterações legislativas que responsabilizem os pais pela vida escolar dos filhos.
O autor é presidente do Conselho Executivo de um Agrupamento de Escolas de Viana do Castelo.
Em primeiro lugar podemos fazer algumas constatações:
1. A petição vem do terreno e de alguém que conhece a realidade
2. Não se pode negar a realidade das escolas: absentismo, abandono, indisciplina, desrespeito pelos professores…
2. Os instrumentos legais que temos não são suficientes e não são eficazes para resolverem o problema do absentismo e abandono e ainda menos dos comportamentos de indisciplina escolar.
3. É necessário criar legislação que por seu lado tem de “criar mecanismos administrativos e judiciais, desburocratizados, efectivos e atempados de responsabilização dos pais e encarregados de educação em casos de indisciplina escolar, absentismo e abandono, modificando a lei que consagra o Estatuto do aluno e outras leis conexas".
4. Os encarregados de educação devem ser responsabilizados pela "educação ou não educação dos alunos", devolvendo aos pais a responsabilidade pela escolarização dos filhos.
Mas será assim tão simples pensar que se resolve o problema com “medidas sancionatórias às famílias negligentes, como multas, retirada de prestações sociais e, no limite, efeitos sobre o exercício das responsabilidades parentais, como é próprio de uma situação que afecta direitos fundamentais de pessoas dependentes…" ?
Vejamos algumas dificuldades:
1. A visão da petição parece-se mais com um remendo do que com uma visão sistémica dos problemas da escola e do esforço que deve ser feito para a sua resolução a começar pela responsabilização de todos.
2. Só se pode conjugar o direito à educação com deveres e responsabilidades desde que haja o princípio do contraditório e as garantias constitucionais estejam asseguradas.
3. Como pode ser viável multar os pais que vivem na pobreza ou no limiar das suas possibilidades financeiras, desempregados, toxicodependentes, etc. ?
4. Como responsabilizar os encarregados de educação de crianças institucionalizadas? Será a instituição a pagar a multa ?
5. Como modificar a cultura de determinados grupos sociais ?
6. Como modificar os valores relativos à escola tendo em conta o esforço que o aluno tem que fazer e o respeito que é devido aos vários interventores ?
Como ouvia dizer ao professor António Frade, a escola devia ser um dos últimos lugares sagrados que a sociedade devia respeitar. Também aqui se coloca um problema de valores.
7. A legislação do ME tem favorecido a disciplina e o desenvolvimento da eficácia das escolas ? Não é verdade que uma das fontes da indisciplina e da ineficácia é o próprio ME que “ao longo dos anos se revelou incapaz de publicar uma lei razoável para lidar com os jovens rebeldes”, como diz Maria Filomena Mónica [2]
O que me incomoda nestas propostas é que, apesar da sua óbvia sinceridade, boa intenção e querer resolver um problema, no fundo, defendem sempre o regresso à punição mas a diferença é que, desta vez, a punição é para os pais.

[1] http://www.peticao.com.pt/responsabilizacao
[2] Mónica, Maria Filomena (2008), Vale a pena mandar os filhos à escola ?, Lisboa: Relógio d’ Água