08/05/11

Responsabilidade e culpa

Por responsabilidade podemos entender a situação daquele que pode ser chamado a responder por um acontecimento.
A noção de responsabilidade supõe o compromisso pessoal, tácito ou explícito, de prestar contas a uma autoridade. A responsabilidade  exige duas condições essenciais: que se possua todas as faculdades mentais  e que se seja livre de praticar as acções (não se é responsável por um acto praticado sob ameaça física ou constrangimento moral).
No entanto, socialmente e moralmente somos responsáveis não só pelos actos desejados e praticados por nós próprios e pelos que aconteceram sem se desejar (acidente de automóvel, por ex.), mas também por aqueles que não se quiseram nem praticaram, mas que dependia de nós terem sido evitados. (Do Dicionário temático Larousse, Psicologia).
Vem isto a propósito do estado a que isto chegou. Afinal há responsáveis ou não ? E se há, são culpados ou não?
E podemos perguntar: todos somos responsáveis pela situação actual ? Qual a responsabilidade que me cabe  ?
A vida e a vida politica é feita de escolhas e há responsáveis por essas escolhas. Os políticos fazem escolhas e são responsáveis por elas. Ou não ?
Os que nos governam  acham que foram vítimas de um mundo  cruel, que os tramou, a eles que só tomaram medidas para bem do povo. "Se não fosse o chumbo do PEC não haveria crise".
A vitimização é uma forma de não assumir a responsabilidade das escolhas feitas. O individuo sente-se injustiçado. A culpa é do outro. A culpa é da crise internacional. "Vejam como estão os outros países"…

A vitimização é, ainda, uma forma de culpar o outro utilizando mecanismos de defesa como a negação (não fui eu) ou a racionalização (eu só fiz porque era para vosso bem...) o que significa, aliás, que a culpa existe mas não é assumida
Outra maneira de nos desfazermos da culpa é frequentemente através da diluição  ou generalização da culpa: todos temos culpa. 
Porém, acho que não somos todos culpados. Não temos que assumir os resultados das escolhas erradas feitas pelos que nos governam. Tanto mais que havia muitos sinais no caminho. Só que fizeram como na conhecida estória: ao verem-se sozinhos, em sentido contrário,   na auto-estrada, acharam que os outros é que iam em contra-mão.
Ou então nós os portugueses somos assim. A culpa é dos genes, se nós gostamos de sofrer, o que posso fazer?
Tudo pode ser tentado para desculpabilizar. Mas toda a gente sabe que a liderança política falhou. Mas não só. "Houve a cumplicidade de muita gente, nomeadamente das elites" (Vítor Bento).
O silêncio dos amigos é o que custa mais. Mas o silêncio é ainda mais pernicioso quando os amigos (pre)vêem o desastre e continuam silenciosos.
Quanto aos inocentes, há um aspecto de que não posso livrar-me: sou responsável pelo meu voto. Ele pode trazer a mudança ou a caminhada para a desgraça anunciada.

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